Óculos com IA ajudam alunos com deficiência visual a ler e identificar pessoas no ES

Com um dispositivo acoplado, a tecnologia permite a leitura de textos em voz alta, o reconhecimento de até 150 rostos diferentes, entre outras funcionadades.

Por Kaíque Dias, g1 ES


Óculos com IA ajudam alunos com deficiência visual a ler e identificar pessoas no ES

A voz da mãe e os toques nos pontinhos do braile eram as únicas formas de a estudante Evelyn de Araújo Penha, 16 anos, adquirir conhecimento por meio de livros. No entanto, desde o dia 1° de agosto, essa realidade mudou para ela e outras dezenas de estudantes da rede pública do Espírito Santo que foram contemplados com óculos com inteligência e visão artificiais capazes de ler e identificar até 150 pessoas diferentes.

'Eu gosto, mas eu tenho que praticar mais', disse a estudante.

O equipamento moderno tem um dispositivo acoplado em uma das hastes do óculos que permite fazer a leitura em voz alta de textos capturados por uma espécia de câmera, identificar rostos, produtos, cores e cédulas, isso tudo sem a necessidade de uma conexão com a internet.

O óculos inteligente, que tem o nome oficial de OrCam MyEye, tem armação e lentes comuns, que, inclusive, podem ser trocados. Ao todo, são apenas 22,5 gramas e 7,6 cm por 2,1 cm.

Equipamento foi desenvolvido para promover inclusão de pessoas com deficiência — Foto: Reprodução/TV Gazeta

Mais autonomia

Outro aluno beneficiado foi o Izumi Teztner Peixoto, de 16 anos. Com apenas 15% da visão por causa de doença degenerativa, o jovem precisava aproximar os olhos muito perto das páginas ou das telas para conseguir ler. As atividades da escola também eram adaptadas para o estudante

"Eu tenho que ler tudo de muito perto. Geralmente, eu leio com uma fonte bem ampliada, tudo em negrito, tudo com letra ampliada, em caixa alta, em letra bastão. Eu não consigo escrever e nem escrever letra cursiva. Eu cheguei a aprender, mas não consigo. A minha escrita também é bem grandona", comentou.

Izumi Teztner Peixoto, de 16 anos, precisava colocar telas ou livros muito próximo aos olhos para enxergar. — Foto: Reprodução/TV Gazeta

Agora, com o auxílio dos óculos, é como se os livros falassem e o estudante consegue manter uma distância segura para fazer a leitura.

A mãe do estudante, Viviane Brito Teztner, disse que tem uma expectativa positiva para o aprendizado do filho.

"Já era um instrumento que a gente conhecia e que já fazia parte de um futuro que a gente pretendia alcançar para realmente auxiliar e dar mais autonomia ao estudante. Nós acreditamos que vai ser de extrema ajuda e estamos muito felizes", enfatizou.

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O óculos

A tecnologia foi desenvolvida com o objetivo de promover a inclusão e uma melhor qualidade de vida para alunos com deficiência visual e dificuldades de leitura

Segundo Doron Sadka, diretor da Mais Autonomia Tecnologia Assistiva, representante exclusiva do dispositivo no Brasil, o óculos permite que pessoas com deficiência visual acessem informações de maneira mais independente e eficaz.

“Cerca de 80% das atividades diárias envolvem leitura. O óculos possibilita que pessoas com deficiência visual realizem essas atividades com mais autonomia e sem depender de internet”, explicou.

Tecnologia do óculos consegue identificar até 150 pessoas diferentes — Foto: Reprodução/TV Gazeta

O secretário de Educação do Espírito Santo (Sedu), Vitor de Angelo, ponderou que os professores foram preparados para o uso da iniciativa e que, assim, ela alcance a eficiência do equipamento.

"A formação teve como objetivo repassar informações acerca dessa tecnologia para que os professores soubessem todo o potencial pedagógico que essa tecnologia assistida tem".

Cada óculos custou R$ 17,1 mil, totalizando um investimento de R$ 924 mil do governo do estado. Os equipamentos são de graça e ficarão com cada aluno.

Cada óculos custou R$17,1 mil, mas foram entregues gratuitamente para alunos da rede pública do Espírito Santo — Foto: Reprodução/TV Gazeta

"O equipamento permite ao estudante a fazer coisas que, pela suas limitações impostas pela cegueira, ele não consegue. Dentre as coisas mais evidentes, ler. Ler coisas escritas à mão, sobretudo. Porque as coisas que são digitalizadas, até temos tecnologia, mas as coisas escritas a mão é mais difícil", explicou.

Ao todo, 54 aparelhos foram entregues a alunos com deficiência visual rede pública estadual e também alocados nos Centros Estaduais de Educação Técnica (CEETs) e 14 unidades do Centros de Referência das Juventudes (CRJs) em diversos municípios do estado.

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