Fomento à piscicultura faz produção aumentar 1500% em três anos, em Muniz Freire
Uma região privilegiada pela abundância de água, com lagoas e represas espalhadas em propriedades rurais, o município de Muniz Freire, no Sul do Espírito Santo, resolveu aproveitar essa característica para investir na criação de peixes, especialmente a tilápia.
A aposta deu certo, tem gerado lucros e transformado a economia local. Em três anos, a produção de pescado saltou de 25 para quase 400 toneladas, e os produtores estão otimistas para expandir ainda mais o setor.
O dentista e produtor rural, Marcelo Sgrancio, iniciou na piscicultura inspirado em uma paixão por aquários, mas tornou a sua propriedade referência do programa municipal “Mais Peixes”, com a reativação de um sistema de tanque escavado.
“Tem sido ótimo o contato com o ar puro, o banho de cachoeira, o contato com os animais, é muito prazeroso. Mas a piscicultura comercial veio como uma possibilidade a partir do programa de apoio oferecido pela prefeitura, com máquinas, logística e transporte para facilitar o trabalho nos viveiros e o manejo dos alevinos”, explicou Marcelo.
A capacidade de produção na propriedade do Marcelo é de 70 mil peixes por ciclo, com despesas mensais em torno de R$ 6 mil. Apesar dos custos, o lucro médio é de 30%. A rotina inclui o monitoramento constante dos tanques e a alimentação dos peixes, que varia conforme o tamanho.
Outro que apostou na piscicultura foi o agricultor e professor Paulo Eduardo Frinhani que iniciou a atividade há cerca de dois anos.
“No começo, a produção era pequena, só para a comunidade. Hoje, com 20 tanques e 10 mil peixes, temos planos de ampliar para até 50 toneladas por ano”, disse ele.
Paulo utiliza tanques-rede, um sistema que funciona como aquário dentro da lagoa da propriedade. A estrutura, que ocupa uma lâmina d'água de mais de 7 mil metros quadrados, ainda tem capacidade para expansão.
“Começamos ali, eu e o meu pai, a gente tinha uma produção, só que era de pouco peixe para vender para fora, em torno de uma, duas toneladas por ano. Em 2009, nós construímos esse açude, era um sonho meu desde criança, e veio a expectativa de produzir tilápia para um comércio maior, e nos últimos anos conseguimos implementar a atividade”, lembrou.
Programa municipal fomentou produção
Além do Marcelo e do Paulo, outros 23 produtores agregaram a piscicultura na propriedade e entraram para o programa “Mais Peixes”, da Prefeitura de Muniz Freire, com o apoio técnico do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper).
O objetivo do programa é reativar a cadeia produtiva do pescado em Muniz Freire, principalmente nas propriedades da agricultura familiar, garantindo uma alternativa de renda e o fomento à profissionalização dos piscicultores municipais.
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O ciclo de criação da tilápia é de seis a dez meses. Os peixes chegam às propriedades pesando apenas um grama e saem com um quilo, em média.
O secretário municipal de desenvolvimento agropecuário, Renato Lopes, celebrou os bons resultados.
“Para se ter uma ideia, em 2021, a gente produzia 25 toneladas, aqui, agora em 2024, são quase 400 toneladas de pescado produzido. Então, para nós, esse número é bastante expressivo. O nosso objetivo é tornar Muniz Freire um polo dessa cultura no Espírito Santo”, falou.
Trabalho é fortalecido por cooperativa
Com mais gente produzindo e a necessidade de ampliação o comércio para além do consumo local, os produtores miraram na união e expansão do trabalho para fazer também o beneficiamento do peixe.
Ao invés de disputar clientes, os criadores se uniram em uma cooperativa que garante a compra da produção dos associados.
“Já temos o trabalho em Domingos Martins, com mais de 70 produtores, e, agora, estamos fazendo essa experiência em Muniz Freire, agregando valor ao produto do cooperado”, avaliou o presidente da cooperativa, Darli Jose Schaefer.
Dez mulheres trabalham na cooperativa e são responsáveis pelo beneficiamento do produto. Além dos tradicionais filés, as tilápias servem de base para outras receitas, como salgados, bolinhos e hambúrgueres, que são vendidos localmente e disponibilizados para o Programa Nacional de Alimentação Escolar.
“A gente fornece para as escolas estaduais, municipais, até de fora do estado, como unidades em São Paulo e Rio de Janeiro. Ainda estamos no início, mas já colhemos o resultado, tanto a cooperativa, como o município, e também, o mais importante, os cooperados estão começando a receber os resultados de volta”, disse Schaefer.