Vender fotos dos pés dá dinheiro? Tire dúvidas sobre o fetiche que pode render, mas não é garantia de lucro

Pessoas que vendem 'packs do pezinho' em plataformas como o OnlyFans e Privacy explicaram sobre o mercado no Brasil, que está atrelado à comercialização de conteúdo sexual.

Por g1


  • Os “packs do pezinho” são pacotes de vídeos e fotos de pés que são comercializados na internet por valores diversos.

  • Não existe uma regulamentação legal sobre a prática no Brasil, mas a venda desse tipo de conteúdo exige alguns cuidados e pode até ser considerada crime se feita sem consentimento da pessoa registrada.

  • O ex-BBB Wagner Santiago afirma que já ganhou R$ 7 mil em um dia vendendo "packs do pé".

  • Já outra criadora de conteúdo afirma que "muitas meninas entram nesse ramo com o sonho de ganhar dinheiro fácil e rápido, mas o mercado está difícil”.

'Pack do pezinho': entenda fetiche por pés

É fato: pessoas têm ganhado dinheiro vendendo fotos e vídeos dos pés na internet, em plataformas como OnlyFans e Privacy. Mas, muito ou pouco? Comercializar esse tipo de conteúdo é realmente um jeito fácil de gerar renda?

E o que leva alguém a comprar os chamados “packs do pezinho”? Será que vender ou compartilhar essas imagens é crime?

👣 Os “packs do pezinho” são pacotes de vídeos e fotos de pés que são comercializados na internet por valores diversos.

Atualmente, não existe uma regulamentação legal sobre a prática no Brasil, mas a venda desse tipo de conteúdo exige alguns cuidados e pode até ser considerada crime se feita sem consentimento da pessoa registrada (entenda mais abaixo).

Nesta reportagem, o g1 conversou com quatro pessoas, incluindo um ex-BBB, que trabalham vendendo os “packs do pé”, além de outros conteúdos, para entender um pouco mais sobre esse mercado no Brasil.

Além disso, o educador sexual Breno Rosostolato explica o que leva as pessoas a pagarem por essas imagens. Você vai ver a seguir:

'Pack do pé' realmente dá dinheiro?

Quem pode ajudar a responder essa pergunta é o ex-BBB Wagner Santiago que, no auge da pandemia, sem muitas propostas de emprego, decidiu aceitar um convite do OnlyFans para potencializar a plataforma no Brasil.

📱 O OnlyFans é uma plataforma de assinatura para maiores de 18 anos que permite ao dono do perfil cobrar pelo acesso aos seus posts. Funciona para qualquer conteúdo exclusivo, de músicas a aulas, mas basta entrar e ver que a maioria está ali para vender nudes.

SAIBA MAIS:

“Comecei no OnlyFans com um ensaio sensual, mas um seguidor me procurou porque queria o tema específico que era a podolatria" — um tipo de fetiche que se caracteriza pela atração sexual por pés (leia mais abaixo).

"Aí vendi um pack pra ele e ele divulgou num grupo desse interesse e isso perdeu o controle. No primeiro dia, vendi quase 50 packs do pé”, conta o ex-BBB, que diz ter ganhado R$ 7 mil na época.

Ele conta que não paga para utilizar o OnlyFans, mas precisa ceder 20% de seus lucros para o site.

Ex-BBB Wagner Santiago vende fotos dos pés na internet — Foto: Arquivo pessoal

Hoje, Santiago trabalha em várias plataformas, vendendo conteúdo adulto, e essa é a principal fonte de renda dele. "Eu já cheguei a faturar algo em torno de R$ 100 mil em um mês”, diz.

No entanto, as fotos e vídeos vão além de mostrar os pés: “durante muito tempo, eu fiz conteúdo com uma companheira, mas a gente terminou a relação e hoje em dia eu faço conteúdo solo. É possível rentabilizar para quem já tem um público cativo.”

No caso de muitos vendedores, no entanto, já ter um grupo de fãs não é uma realidade. Uma internauta que não quis se identificar tem tentado vender packs do pé desde agosto no Instagram e no X (ex-Twitter), mas não conseguiu um centavo sequer.

“Muitas meninas entram nesse ramo com o sonho de ganhar dinheiro fácil e rápido, mas o mercado está difícil”, afirma.

Outras duas mulheres conversaram com o g1 por meio da assessoria da Privacy, uma plataforma brasileira de monetização de conteúdo on-line que atua como uma rede social por assinatura, para criadores venderem materiais exclusivos.

Para fazer vendas no site, os usuários precisam pagar mensalidades que vão de R$ 5 a R$ 200, e a plataforma retém 20% dos lucros.

Assim como o ex-BBB, as duas mulheres não lucram somente com a venda de fotos dos pés, mas também de outros conteúdos sexuais.

“O conteúdo é quase sempre focado nos meus pés, faço também com nudez, masturbação, gosto muito de produzir com outras garotas também, algo sensual envolvendo os pés”, conta uma delas.

“Por cada vídeo já produzido, eu cobro a partir de R$ 100. Vídeo customizado é a partir de R$ 200. Consigo tirar em torno de R$ 15 mil por mês com a venda de conteúdo, incluindo as assinaturas que eu tenho na Privacy”, continua.

Já a outra usuária diz que vende “conteúdo dos pés e um pouco mais”. A assinatura dela na Privacy custa R$ 40, e ela afirma que consegue faturar de R$ 3 mil a R$ 4 mil por mês.

Por que as pessoas compram?

Assim como algumas pessoas se sentem atraídas por determinadas roupas e fantasias, gostam de ser submissas no sexo ou de serem gravadas, por exemplo, outras têm fetiches por pés, o que pode incluir vê-los, tocá-los e incluí-los na prática sexual. É a chamada podolatria.

“Comprar as fotos dos pés é uma forma de realizar esse fetiche, porque você tem nas fotos o registro fixo, a imagem fixa daqueles pés e que você pode recorrer a essas fotos para se masturbar”, explica o psicólogo e educador sexual Breno Rosostolato.

De acordo com o especialista, as fotos também podem servir para criar uma fantasia e imaginar quem seria o dono dos pés, caso a imagem não exiba o rosto. Além disso, segundo ele, “o ato de pagar também é muito simbólico”.

“Se estou comprando as fotos dos teus pés, eu quero ele para mim, eu tenho ele para mim. Acho que essa questão do dinheiro traz um pouco desse elemento do poder de comprar e também, ao mesmo tempo, essa submissão, de ter pago pelos teus pés.”

Vender fotos dos pés é crime?

No geral, não. Mesmo que as fotos de pés tenham um teor sexual, a venda de conteúdo erótico próprio na internet não é proibida no Brasil, afirma o advogado Luiz Augusto D’Urso, professor de direito digital na Fundação Getúlio Vargas (FGV).

Mas, atenção: conteúdo próprio. No caso de compartilhamento ou venda de conteúdo sexual sem consentimento da pessoa registrada, é crime sim.

“Você oferecer, trocar, disponibilizar, transmitir ou vender, publicar qualquer tipo de conteúdo que contenha cena de sexo, nudez ou pornografia de alguém sem autorização é crime de divulgação de conteúdo sexual. A pena é de 1 a 5 anos de reclusão”, afirma D’Urso.

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Nesse sentido, vender as fotos dos pés de alguém sem consentimento pode ser considerado crime dependendo da situação e da interpretação da lei, comenta a advogada Rebeca Servaes, especialista em violência contra a mulher.

“A gente teria que olhar para o contexto em que essa foto está inserida para poder dizer se com certeza existe ou não um crime. Justamente porque não existe uma legislação relativa a isso”, afirma Servaes.

“Primeiro: a gente consegue identificar de quem é essa parte desse corpo, quem é o dono desse corpo? Segundo: a gente consegue provar que isso está inserido em um contexto sexual? Terceiro: vai depender de quem está julgando”, completa.

A situação se agrava quando as fotos envolvem menores de idade, afirma a advogada, pois vender conteúdo pornográfico envolvendo criança ou adolescente é crime previsto no Estatuto da Criança e do Adolescente.

No caso de imagens de pés, novamente, não existe regulamentação específica, mas, para Servaes, “existe, por trás da divulgação, uma satisfação do próprio desejo e a gente fazer isso envolvendo uma pessoa que é menor de idade, configura ainda mais fortemente o crime de pedofilia”, diz.

E como é a regulamentação das plataformas de vendas?

Não existe uma regulamentação no Brasil em relação a sites pornográficos, nem mesmo incidência de impostos, explica a advogada Servaes.

Mesmo assim, o professor Luiz Augusto D’Urso destaca que grande parte desses sites que vendem conteúdo adulto, ou disponibilizam espaço para que as pessoas vendam, não estão hospedados no país.

“Então mesmo que tenha uma criminalização da conduta aqui, por parte dessas plataformas, como elas estão fora, elas continuarão a vender o conteúdo", diz.

"A grande questão é que a gente precisa sempre acompanhar para ver se o conteúdo é próprio e não vazamento ou venda de conteúdo de terceiro. Isso seria gravíssimo e pode haver, inclusive, responsabilidade da plataforma se permitir esse tipo de ação.”

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