11% dos cursos de graduação têm conceito abaixo da média, diz MEC

Dados do Conceito Preliminar de Curso (CPC) mostram que, em 2015, só 1,2% dos cursos tiveram notas máximas. MEC divulgou ainda Conceito Enade e IGC.

Por Vanessa Fajardo e Graziele Frederico, G1


Ministério da Educação divulga relatório sobre qualidade do Ensino Superior

Um novo retrato dos cursos de graduação no Brasil mostra que somente uma minoria dos avaliados pelo Ministério da Educação (MEC) em 2015 alcançou as notas máximas. Além disso, nos últimos quatro anos, se manteve estável o total de cursos com resultados insatisfatórios. De acordo com um dos cenários, 11,3% dos cursos ficaram com as notas mais baixas (1 e 2) e somente 1,2% alcançaram nota 5, a máxima possível.

Evolução do CPC desde 2012, último ano em que as mesmas áreas de graduação foram avaliadas, de acordo com dados do MEC — Foto: Arte/G1

A presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), Maria Inês Fini, diz que avaliação mostra que "temos uma grande maioria de universidades que está num patamar bom." Segundo ela, a concentração de nota 3 "não indica uma mediocridade, mas um patamar bom".

Os dados divulgados pelo MEC nesta quarta-feira (8) tomam por base as provas do Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade) de 2015, a mais recente da série, e também outros dados coletados pelo governo federal. Ao todo, o ministério divulgou nesta manhã três indicadores, todos baseados de alguma forma no Enade. São eles:

  • Conceito Enade (CE) - baseado exclusivamente no resultado da prova que avalia o rendimento dos concluintes dos cursos de graduação, em relação aos conteúdos programáticos, habilidades e competências adquiridas em sua formação.
  • Conceito Preliminar do Curso (CPC) - Considera o desempenho dos estudantes no Enade, além de corpo docente, infraestrutura, recursos didático-pedagógicos e demais itens.
  • Índice Geral de Cursos (IGC) - Considera uma média ponderada das notas dos cursos de graduação no CPC e da avaliação dos cursos pós-graduação de cada instituição junto a Capes.

De acordo com cada caso, cursos com notas insatisfatórias podem receber sanções do MEC. Uma delas é o impedimento da abertura de novas vagas ou de fechamento de parcerias com Prouni ou Fies.

O Secretário da Educação Superior, Paulo Barone, disse nesta quarta-feira, durante coletiva em Brasília, que estão mantidas as suspensões na participação de programas do governo federal para essas instituições com indicadores insuficientes.

Sobre as instituições com conceitos 1 e 2, considerados insuficientes, o chefe de gabinete da Secretaria de Regulação e Supervisão de Educação Superior (Seres), Rubens de Oliveira Martins, diz que as medidas variam de acordo com os casos.

"Se houve repetição, se houve uma tendência de melhorar o indicador, para cada uma dessas situações temos uma normativa. Com dois anos consecutivos com notas abaixo do suficiente, as instituições entram em medidas cautelares. O MEC irá verificar, dá um prazo para essa instituição melhorar, mas fica suspensa autonomia universitária até avaliação melhorar. Pode haver suspensão de processos seletivos, por exemplo. No pior dos mundos, a universidade pode ser descredenciada."

"A lógica da nossa avaliação não é punitiva. Todas as medidas são, no fundo, em defesa do ensino que é ofertado para o aluno", afirma a presidente do Inep, Maria Inês Fini.

Em 2015, o MEC avaliou 8.121 cursos de 26 áreas (veja lista abaixo) em 2.109 instituições de ensino superior públicas e privadas. Participaram 447.056 universitários. A cada ano, o Enade é obrigatório para estudantes de determinados cursos de graduação.

Conceito Preliminar do Curso

No Conceito Preliminar de Curso (CPC), que avalia exclusivamente o nível dos graduandos e a estrutura da instituição, as notas possíveis variam entre 1 e 5. O MEC considera insuficiente qualquer conceito com notas 1 e 2.

Segundo o MEC, o desempenho insatisfatório, com notas abaixo de 3, foi verificado em 893 cursos de graduação, o equivalente a 11% do universo avaliado em 2015.

Os dados de 2015 mostram ainda que só 27,7% dos cursos tiveram notas acima da média (4 e 5). Os considerados excelentes, com nota máxima (5), representam apenas 1,2% do total.

O restante – 26,5% dos cursos – recebeu conceito 4. A maioria dos cursos avaliados, no entanto, (57,7%) ficou com nota 3, considerada como a média. Outros, 0,3% dos cursos tiveram conceito 1, e 3,2% ficaram sem conceito.

A lista de cursos avaliados muda a cada ano, por isso, as avaliações não podem ser comparadas. Ela só foi possível, entre os anos de 2012 e 2015 (conforme tabela acima), pois se tratava do mesmo grupo de cursos avaliados.

"Nós gostaríamos de frisar que considerando que o CPC, por exemplo, advém 55% das provas dos estudantes, não é possível, portanto, comparar os indicadores com os anos anteriores", diz Mariângela Abraão, coordenadora geral de controle de qualidade do MEC.

Índice Geral de Cursos (IGC)

O MEC também divulgou o resultado do Índice Geral de Cursos (IGC), que considera em conjunto o desempenho da pós-graduação e da graduação. A maior concentração de notas acima da média (4 e 5) foi observada nas instituições públicas. Um total de 28% das instituições públicas receberam nota 4, contra 15% das particulares. Na faixa da nota máxima (5), estão 4,9% das instituições públicas; contra 0,6% das privadas.

— Foto: Arte/G1

Do total de instituições de ensino superior avaliadas, 85% tiveram desempenho satisfatório (com notas igual ou acima de 3) e 15% foram classificadas como "insatisfatórias" (notas inferior a 3).

As instituições privadas lideram a concentração das notas 3, que estão na média, com 68,9%; contra 53,7% das públicas. No conceito 2, considerado abaixo da média, a maior concentração também é da rede particular: 14,7% das privadas receberam esta nota; contra 12,3% da rede pública.

O índice também varia entre 1 e 5. O MEC considera insuficiente qualquer conceito abaixo de 3.

Conceito Enade

O levantamento de qualidade do ensino superior realizado pelo MEC apresenta ainda um recorte específico somente a partir do desempenho na prova do Enade (sem considerar avaliação de estrutura, como no CPC, ou nota da pós-graduação, como no IDG). No Conceito Enade, em 2015 somente 5% dos cursos alcançaram nota 5, a máxima possível. Notas 1 e 2 foram obtidas por 30,3% dos cursos.

Conceito Enade: comparativo 2012 e 2015 — Foto: Arte/G1

Áreas avaliadas no Enade 2015

  1. Administração
  2. Administração Pública
  3. Ciências Contábeis
  4. Ciências Econômicas
  5. Comunicação Social - Jornalismo
  6. Comunicação Social - Publicidade e Propaganda
  7. Design
  8. Direito
  9. Psicologia
  10. Relações Internacionais
  11. Secretariado Executivo
  12. Teologia
  13. Turismo
  14. Comércio Exterior
  15. Design de Interiores
  16. Design de Moda
  17. Design Gráfico
  18. Gastronomia
  19. Gestão Comercial
  20. Gestão da Qualidade
  21. Gestão de Recursos Humanos
  22. Gestão Financeira
  23. Gestão Pública
  24. Logística
  25. Marketing
  26. Processos Gerenciais

Em 2016, a prova avaliou estudantes de agronomia, biomedicina, educação física, enfermagem, farmácia, fisioterapia, fonoaudiologia, medicina, medicina veterinária, nutrição, odontologia, serviço social e zootecnia. Também estão na lista aqueles que estudam em cursos que conferem diploma de tecnólogo nas áreas de agronegócio, estética e cosmética, gestão ambiental, gestão hospitalar e radiologia.

No ano passado, o MEC criou critérios para apurar irregularidades praticadas pelas instituições de ensino no Enade. A medida visa a evitar fraudes que acabavam interferindo na nota obtida pelas faculdades.