Dólar avança e fecha em R$ 6,18, com avaliação final do pacote de corte de gastos; Ibovespa cai

A moeda norte-americana teve alta de 1,87% e fechou aos R$ 6,1855. Já o principal índice acionário da bolsa de valores brasileira encerrou em queda de 1,09%, aos 120.767 pontos.

Por Redação g1 — São Paulo


Notas de dólar — Foto: Gary Cameron/Reuters

O dólar fechou a sessão desta segunda-feira (23) em forte alta, na casa de R$ 6,18, conforme investidores continuavam a avaliar o pacote de corte de gastos do governo, que terminou sua tramitação no Congresso Nacional na última semana. Na máxima do dia, a moeda chegou à cotação de R$ 6,2003.

O mercado tem acompanhado de perto o desenrolar das propostas de corte. Há um temor de que as medidas anunciadas não sejam suficientes para equilibrar as contas públicas e conter o avanço das despesas do governo.

Houve uma "desidratação" de algumas medidas — ou seja, pontos foram alterados e podem conter as despesas públicas em patamar menor que o esperado.

Na última sexta, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, minimizou as mudanças no pacote. Segundo ele, o Congresso Nacional atendeu, dentro das suas possibilidades e "em um prazo curto de tempo", um resultado preliminar "muito interessante".

O titular da Fazenda também acenou ao mercado falando em novas medidas de redução de despesas no decorrer de 2025, sem detalhá-las.

Na semana passada, a moeda norte-americana passou por uma sequência de altas. O Banco Central (BC) colocou mais US$ 28 bilhões em leilão para aumentar a oferta de dólares no mercado e conter o aumento.

O presidente do órgão, Roberto Campos Neto, avaliou que houve uma saída extraordinária de recursos do país neste fim de ano e, por isso, a instituição resolveu intervir. No ano, o dólar tem alta de mais de 27%.

Na agenda, dados da prévia da inflação de dezembro e os dados de desemprego do país em novembro estão previstos para esta semana, bem como novas falas de dirigentes do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos).

O Ibovespa, principal índice acionário da bolsa de valores brasileira, encerrou em queda.

Veja abaixo o resumo dos mercados.

'Temos que corrigir essa escorregada que o dólar deu aqui', diz Haddad

Dólar

Ao final da sessão, o dólar fechou em alta de 1,87%, cotado a R$ 6,1855. Na máxima do dia, chegou a R$ 6,2003. Veja mais cotações.

Com o resultado, acumulou:

  • ganhos de 1,87% na semana;
  • alta de 3,08% no mês;
  • avanço de 27,47% no ano.

Na sexta-feira, a moeda norte-americana teve queda de 0,81%, cotado a R$ 6,0719.

Veja mais

Ibovespa

Já o Ibovespa encerrou em queda de 1,09%, aos 120.767 pontos.

Com o resultado, acumulou:

  • queda de 1,09% na semana;
  • perda de 3,90% no mês;
  • recuo de 10% no ano.

Na sexta-feira, o índice teve alta de 0,75%, aos 122.102 pontos.

Veja mais

'A gente sabe que há um problema fiscal', diz Daniel Sousa sobre alta do dólar

O que está mexendo com os mercados?

As preocupações com o quadro fiscal do país continuaram a fazer preço nos mercados nesta segunda-feira, após o Congresso ter concluído, na semana passada, a tramitação do pacote de cortes de gastos proposto pelo governo federal.

A ideia inicial era economizar R$ 71,9 bilhões nos próximos dois anos, e um total de R$ 375 bilhões até 2030. Segundo cálculos do Ministério da Fazenda, no entanto, as mudanças feitas pelo Congresso devem ter um impacto de R$ 2,1 bilhões, reduzindo a economia para R$ 69,8 bilhões.

No café da manhã com jornalistas, na sexta-feira, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que as mudanças feitas pelos parlamentares não comprometem a conta final feita pelo governo.

"Fala-se em 'desidratação', mas havia expectativa de parte dos analistas que poderia haver 'hidratação' [aumento da potência dos cortes de gastos]. Os ajustes feitos na redação não afetam o resultado final. Mantém na mesma ordem de grandeza os valores encaminhados pelo Executivo", afirmou Haddad.

O mercado, mais uma vez, contesta os números. Para a XP Investimentos, o potencial de economia fiscal recuou de R$ 52 bilhões para R$ 44 bilhões.

"Apesar da direção correta, vemos o pacote como insuficiente para garantir o atingimento das metas de resultado primário e, principalmente, a manutenção do limite de despesas do arcabouço fiscal nos próximos anos", diz um relatório da empresa.

O governo precisa reduzir os gastos porque tem uma meta de zerar o déficit público pelos próximos dois anos — ou seja, gastar o mesmo tanto que arrecada em 2024 e 2025. O arcabouço também estipula que o governo deve começar a arrecadar mais do que gasta a partir de 2026, para controlar o endividamento público.

Mas os agentes financeiros já não esperam grande eficácia das medidas para controlar o endividamento público, e declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao Fantástico consolidaram a percepção de que o governo não pretende avançar muito na contenção de despesas.

O mercado tinha a expectativa de que o governo mexesse em gastos estruturais nesse pacote de corte de gastos — como a Previdência, benefícios reajustados pelo salário mínimo e os pisos de investimento em saúde e educação. Mas isso não aconteceu.

Segundo os analistas, essas despesas tendem a subir em velocidade acelerada e têm potencial de anular esse esforço do pacote em pouco tempo. O governo, contudo, é avesso às medidas, que mexeriam com políticas públicas e com promessas de campanha do presidente Lula.

Segundo o blog do Valdo Cruz, interlocutores do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, avaliam que o governo precisa dar uma sinalização mais forte na área fiscal, incluindo o anúncio de medidas adicionais às já anunciadas, para reverter de vez o cenário negativo que reina no mercado neste fim de ano.

Fora isso, o mercado ainda esperam dados importantes nos próximos dias, apesar de a semana ser mais lenta por conta do feriado de Natal.

Na sexta, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulga os números do desemprego em novembro e a prévia da inflação de dezembro (IPCA-15). Ambos saem às 9h.

Na agenda desta segunda, o que houve de mais importante foi o reajuste de expectativas do mercado vistos no boletim Focus. A sondagem com mais de 100 instituições financeiras mostra o que os especialistas esperam para o futuro da economia.

Para este ano, a projeção do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) avançou de 4,89% para 4,91%. Com isso, segue acima do teto da meta de inflação para este ano, que é de 4,50%.

Segundo analistas, o aumento de gastos públicos é um fator que tem pesado para o aumento das projeções de inflação. Para 2025, a estimativa de inflação teve forte aumento na semana passada, avançando de 4,60% para 4,84%.

Sobre a taxa básica de juros, a projeção do mercado para o fechamento de 2025 subiu de 14% para 14,75% ao ano. Para o fim de 2026, o mercado financeiro elevou a projeção de 11,25% para 11,75% ao ano.

Já no exterior, os investidores ainda repercutem a mais recente série de reuniões de bancos centrais. Na semana passada, o Fed, banco central norte-americano, surpreendeu os mercados ao projetar um ritmo moderado de cortes nas taxas de juros do país, fazendo com que os rendimentos dos Treasuries subissem e dando um fôlego ainda maior para a valorização do dólar pelo mundo.

Entre os indicadores internacionais, destaque para as vendas de casas novas nos EUA, que se recuperaram em novembro após os prejuízos trazidos pelos furacões que atingiram o país. No mês, as vendas saltaram 5,9%, para uma taxa anual ajustada de 664 mil unidades.

Já a confiança do consumidor dos EUA, por sua vez, enfraqueceu inesperadamente em dezembro, à medida que a euforia pós-eleição presidencial diminuiu e surgiram preocupações sobre as condições futuras dos negócios. O indicador caiu para 104,7 neste mês, de 112,8 (número revisado) em novembro.

Po fim, as novas encomendas de bens de capital manufaturados dos Estados Unidos aumentaram 0,4% em novembro em relação ao mês anterior, em meio à forte demanda por maquinário.

*Com informações da agência de notícias Reuters

Entenda o que faz o preço do dólar subir ou cair