Dólar tem leve alta e renova maior patamar desde 2021, após falas de Haddad sobre fiscal; Ibovespa cai

A moeda norte-americana teve alta de 0,04%, cotada a R$ 5,7634. Já o principal índice de ações da bolsa de valores encerrou em queda de 0,07%, aos 130.639 pontos.

Por g1


Dólar — Foto: Karolina Grabowska/Pexels

O dólar perdeu boa parte do ímpeto que mostrou ao longo da sessão e fechou em leve alta nesta quarta-feira (30), conforme investidores repercutiam novas falas do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, sobre o cenário fiscal.

O ministro afirmou entender a "inquietação" do mercado sobre o chamado "risco fiscal", de descontrole das contas e acrescentou que a equipe econômica vai apresentar propostas de cortes de gastos obrigatórios para manter o arcabouço fiscal operante. (Entenda mais abaixo)

Além disso, investidores também repercutiram alguns dados econômicos importantes, com destaque para o Produto Interno Bruto (PIB) dos Estados Unidos, que veio abaixo do esperado.

O Ibovespa, principal índice acionário da bolsa de valores brasileira, a B3, encerrou em queda.

Veja abaixo o resumo dos mercados.

Dólar

Ao final da sessão, o dólar subiu 0,04%, cotado a R$ 5,7634, no maior patamar desde 29 de março de 2021, quando fechou a R$ 5,7668. Na máxima do dia, chegou a R$ 5,7928. Veja mais cotações.

Com o resultado, acumulou:

  • alta de 1,03% na semana;
  • avanço de 5,81% no mês;
  • ganho de 18,77% no ano.

No dia anterior, a moeda avançou 0,92%, cotada a R$ 5,7610.

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Ibovespa

Já o Ibovespa encerrou em queda de 0,07%, aos 130.639 pontos.

Com o resultado, acumulou:

  • alta de 0,57% na semana;
  • perdas de 0,89% no mês;
  • recuo de 2,64% no ano.

Na véspera, o índice encerrou em baixa de 0,37%, aos 130.730 pontos.

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Entenda o que faz o preço do dólar subir ou cair

O que está mexendo com os mercados?

As novas falas do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, sobre o cenário fiscal, acalmaram os mercados na segunda metade do pregão desta quarta-feira.

O ministro afirmou entender a "inquietação" do mercado sobre o chamado "risco fiscal", de descontrole das contas e disse que a equipe econômica vai apresentar propostas de cortes de gastos obrigatórios para manter o arcabouço fiscal operante.

Ele não antecipou quais serão as medidas, mas indicou que elas poderão ser apresentadas nas próximas semanas por meio de Proposta de Emenda à Constituição (PEC).

"Até entendo a inquietação, mas é que tem gente especulando em torno de coisas. [...]. O meu trabalho é tentar entregar a melhor redação possível para que haja a compreensão do Congresso da situação do mundo, e do Brasil", declarou o ministro.

Haddad ainda destacou que houve uma "convergência importante" com a Casa Civil sobre quais medidas serão apresentadas.

"A dinâmica das despesas obrigatórias tem que caber dentro do arcabouço. A ideia é fazer com que as partes não comprometam o todo que o arcabouço tem, a sustentabilidade de médio e longo prazo", disse.

Segundo o blog do Valdo Cruz, agentes financeiros disseram que, para ter credibilidade, esse pacote precisaria indicar cortes entre R$ 50 bilhões e R$ 60 bilhões nos gastos públicos. A ideia é que o tamanho do ajuste fiscal fique em torno de 0,5% do Produto Interno Bruto (PIB).

Nas últimas semanas, a equipe econômica vem sendo pressionada a adotar iniciativas do lado das despesas. O tema também tem sido abordado frequentemente pelo Banco Central do Brasil (BC) como fator de influência na política monetária.

Na segunda-feira, por exemplo, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, voltou a afirmar que se o Brasil quiser ter juros estruturalmente mais baixos, precisará apresentar medidas que sejam interpretadas como um choque fiscal positivo.

Já ontem, Campos Neto também falou sobre a desancoragem das expectativas — quando as projeções para a inflação estão distantes da meta do BC. O banqueiro central disse que esse cenário "preocupa muito" a instituição.

"A gente tem uma economia que está acelerando, uma mão de obra muito apertada, uma expectativa de inflação que tem desancorado, então o Banco Central iniciou um processo de ajuste para corrigir esse movimento", afirmou.

As falas vêm apenas uma semana antes da próxima decisão do Comitê de Política Monetária (Copom), prevista para 6 de novembro. A estimativa do mercado é que o colegiado anuncie mais uma alta de 0,50 ponto percentual da taxa básica de juros (Selic).

Cenário Internacional

No exterior, o cenário de juros e atividade econômica dos Estados Unidos também foi pauta do mercado nesta quarta-feira.

Por lá, dados do Departamento do Comércio indicaram que a economia dos Estados Unidos manteve um ritmo sólido de crescimento no 3º trimestre deste ano, uma vez que a inflação em queda e os ganhos salariais fortes impulsionaram os gastos dos consumidores no país.

Na mesma toada, o relatório ADP mostrou que o país gerou 233 mil novas vagas de emprego privado em outubro, mais do que as 159 mil registradas em setembro e muito acima das expectativas do mercado financeiro, de 110 mil.

Um mercado de trabalho aquecido pode ser um fator de pressão inflacionária, justamente em um momento em que o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) iniciou um ciclo de cortes nos juros depois da inflação mostrar certo alívio.

No entanto, com a atividade econômica ainda forte, investidores acreditam que o BC americano possa reduzir a magnitude dos cortes, derrubando os juros de forma mais lenta.

Em sua última reunião, em setembro, o Fed cortou as taxas em 0,5 ponto percentual, para um patamar entre 4,75% e 5,00% ao ano. Agora, o mercado acredita que os novos cortes devam ser de 0,25 ponto percentual.

Uma queda de juros menos intenda nos Estados Unidos pode manter o preço do dólar elevado no Brasil, principalmente em um momento em que as atenções se voltam para as contas públicas e o risco fiscal do país.

*Com informações da agência de notícias Reuters