Juro médio cobrado por bancos aumenta em fevereiro e chega a 44,2% ao ano, diz Banco Central

É a maior taxa média em mais de cinco anos. Volume total do crédito bancário no mercado recuou 0,1% em fevereiro. Taxa média de inadimplência é a maior em cinco anos.

Por Alexandro Martello, g1 — Brasília


A taxa média de juros cobrada pelos bancos em operações com pessoas físicas e empresas saltou de 43,5% para 44,2% na comparação entre os meses de fevereiro e janeiro de 2023 – um aumento de 0,7 ponto percentual.

Os dados foram divulgados nesta quarta-feira (29) pelo Banco Central.

Esse é o maior patamar desde agosto de 2017, quando a taxa média alcançou 45,6% ao ano. Ou seja, trata-se do maior índice em cerca de cinco anos e meio. A série histórica do BC tem início em março de 2011.

JUROS BANCÁRIOS
em % ao ano
Fonte: BANCO CENTRAL

O juro médio, nesse caso, foi calculado com base em recursos livres – ou seja, não inclui os setores habitacional, rural e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

  • De acordo com o BC, a taxa média de juros cobrada nas operações com empresas recuou de 25,3% ao ano, em janeiro, para 24,2% ao ano em fevereiro de 2023.
  • Já nas operações com pessoas físicas, os juros subiram de 56,6% ao ano, em janeiro, para 58,3% ao ano em fevereiro.

O comportamento das taxas de juros, e dos empréstimos dos bancos, acontece um um momento de manutenção da taxa Selic em 13,75% ao ano.

Crédito bancário

O volume total do crédito bancário no mercado, segundo o Banco Central, recuou 0,1%, para R$ 5,31 trilhões em fevereiro. Em janeiro deste ano, somava R$ 5,32 trilhões.

"O volume de crédito para o segmento empresarial diminuiu 0,7% no mês, para R$2,1 trilhões, enquanto para o segmento de pessoas físicas houve incremento mensal de 0,4%, somando R$3,2 trilhões", informou o BC.

Para as pessoas físicas, houve destaque para o cartão de crédito rotativo, para crédito pessoal consignado para trabalhadores do setor público e para aposentados e pensionistas do INSS. Essas modalidades apresentaram crescimentos de 4,6%, 1% e 1,1%, respectivamente.

Segundo o BC, também houve recuo de 2,2% nas novas concessões de empréstimos no mês passado, período em que somaram R$ 499,9 bilhões. Em janeiro, haviam totalizado R$511,2 bilhões.

O cálculo foi feito após ajuste sazonal (uma espécie de "compensação" para comparar períodos diferentes).

Nesta terça-feira (28), o diretor de Política Monetária do BC, Diogo Guillen, afirmou que desaceleração do crédito é esperada com a subida dos juros. Segundo ele, isso "faz parte do processo de condução da política monetária [elevação da Selic para conter a inflação] ao longo desse ano".

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tem informado que a área econômica do governo, em conjunto com o Banco Central, está concluindo medidas para melhorar o ambiente do crédito na economia. A expectativa é que as propostas sejam anunciadas em abril.

Crédito no Brasil
desempenho mensal das novas concessões, em %
Fonte: Banco Central

Cheque especial e cartão de crédito

  • No cheque especial das pessoas físicas, a taxa subiu de 132% ao ano, em janeiro, para 137,4% ao ano em janeiro de 2023. Trata-se do maior patamar desde janeiro de 2020 (140,8% ao ano).
  • A taxa média de juros cobrada pelos bancos nas operações com cartão de crédito rotativo, por sua vez, avançou de 411,4% ao ano em janeiro para 417,4% ao ano em fevereiro. É o maior nível desde agosto de 2017 (428% ao ano).

O crédito rotativo do cartão de crédito pode ser acionado por quem não pode pagar o valor total da fatura na data do vencimento, mas não quer ficar inadimplente.

Mesmo com a queda em setembro, o patamar da taxa rotativa de juros segue proibitivo. Essa é a linha de crédito mais cara do mercado e, segundo analistas, deve ser evitada. A recomendação é que os clientes bancários paguem todo o valor da fatura mensalmente.

Endividamento das famílias e inadimplência

Segundo o BC, o endividamento somou 48,8% da renda acumulada nos doze meses até fevereiro desse ano. A série histórica do BC para este indicador tem início em janeiro de 2005.

Com isso, registrou queda marginal na comparação com janeiro, quando estava em 49%.

Em fevereiro de 2020, antes da pandemia da Covid-19, o endividamento das famílias somava 41,8%.

Ao mesmo tempo, a taxa de inadimplência média registrada pelos bancos nas operações de crédito subiu de 3,2%, em janeiro, para 3,3% em fevereiro deste ano. É a maior desde fevereiro de 2018 (3,4%)

  • Nas operações com pessoas físicas, a inadimplência subiu de 4%, em janeiro, para 4,1% em fevereiro. Com isso, atingiu o maior patamar desde outubro de 2016 (4,2%).
  • Já a inadimplência das empresas ficou subiu de 1,9%, em janeiro desse ano, para 2,1% em fevereiro. É o nível mais elevado desde maio de 2020 (2,2%).