Mercado financeiro está bem cauteloso em relação ao aumento do gasto público e pelo teto de gastos, diz economista
O dólar fechou em forte alta nesta quinta-feira (10), com os investidores reagindo às incertezas em relação ao controle das contas públicas no governo do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva. Também pesou contra o real neste pregão a divulgação da inflação de outubro, que subiu acima das expectativas do mercado.
A moeda norte-americana encerrou o dia em alta de 4,10%, cotada a R$ 5,3942 – a maior cotação de fechamento desde 29 de setembro, quando encerrou a R$ 5,3950, e maior alta diária desde 16 de março de 2020, quando subiu 5,16%, durante o início da crise provocada pela Covid-19. Na máxima do dia, chegou a R$ 5,4129. Veja mais cotações.
Com o resultado, a moeda acumula alta de 6,63% na semana, e de 4,43% no mês. No entanto, no ano, o dólar ainda apresenta queda de 3,24% frente ao real.
Já o Ibovespa, por sua vez, fechou a sessão desta quinta-feira com uma queda de 3,35%, aos 109.775 pontos, na maior queda diária em quase um ano.
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O que está mexendo com os mercados?
No começo da manhã o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (IPCA), que representa a inflação oficial do país. Em outubro, o indicador teve avanço de 0,59%, após três meses consecutivos de deflação.
O mercado já esperava uma alta na inflação brasileira, mas o avanço nos preços foi superior às expectativas de especialistas, que projetavam uma alta média de 0,50%.
A maior influência no índice geral veio do grupo "Alimentação e bebidas", com crescimento de 0,72% e impacto de 0,16 ponto percentual no índice geral.
Na sequência das maiores influências estão os grupos de "Saúde e cuidados pessoais" (1,16% e 0,15 p.p.) e "Transportes" (0,58% e 0,12 p.p.). Já o grupo "Vestuário" teve a alta mais intensa, de 1,22%.
A nova alta dos preços no Brasil ocorre em um momento em que investidores estão cautelosos com os gastos do novo governo a partir de 2023.
"O mercado está preocupado com a dinâmica dos gastos públicos. Tem que ser uma dinâmica sustentável", afirmou Alessandra Ribeiro, economista e sócia da Tendências Consultoria, em entrevista a GloboNews.
Além disso, Alessandra Ribeiro pontua, também, que ainda não há definição sobre quem estará na equipe econômica de Lula a partir do próximo ano, o que adiciona incertezas e volatilidade ao mercado.
Investidores esperam a nomeação de uma pessoa mais alinhada ao centro do que a esquerda para as pastas da economia.
Para cumprir com as principais promessas de campanha de Lula – com destaque para a continuidade do Auxílio Brasil de R$ 600, um auxílio extra de R$ 150 para crianças pequenas e reajuste do salário mínimo –, o governo de transição planeja criar a PEC da Transição, que liberaria cerca de R$ 175 bilhões no Orçamento de 2023 além do teto de gastos.
Para o assessor de investimentos na Phi Investimentos Gabriel Cordeiro, o discurso adotado pelo presidente eleito vai na contramão dos desejos do mercado e impactou diretamente a desvalorização do real frente ao dólar nesta quinta-feira.
"Caso essas ideias que apoiam o furo do teto de gastos e criticam a estabilidade fiscal sejam colocadas em prática, esse cenário afetará negativamente qualquer investidor que tenha o 'risco Brasil' em seu patrimônio. Isso porque o país tende a se endividar com esse tipo de política, trazendo uma inflação maior, forçando o Banco Central a manter as taxas de juros elevadas e desvalorizando os ativos brasileiros", disse o assessor.
Exterior
Já no cenário externo, o destaque do dia também fica por conta da inflação, desta vez nos Estados Unidos. O Índice de Preços ao Consumidor (CPI, na sigla em inglês) de outubro subiu 0,4%, segundo o Departamento do Trabalho do país. O resultado veio um pouco abaixo das expectativas do mercado, de alta de 0,6%.
Uma inflação muito elevada na maior economia do mundo pesa contra a valorização do real frente ao dólar. Quando os preços disparam, a estratégia dos bancos centrais é elevar as taxas de juros.
Nos EUA, os juros já subiram até um patamar entre 3,75% e 4,00% ao ano, e o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) sinalizou que novas altas devem ocorrer nos próximos meses.
Juros mais altos impactam positivamente a rentabilidade dos títulos públicos de um país, que passam a entregar retornos maiores e mais atrativos.
Como os títulos americanos são considerados os mais seguros do mundo, se a rentabilidade deles sobe, há uma tendência global de migração dos investidores para esses investimentos, em detrimento dos ativos de risco. Nesse sentido, o dólar ganha força ante a moeda nacional.
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