Nova política de distribuição de lucro deve fazer FGTS render mais que a poupança

Decisão do governo de repassar a totalidade do lucro do FGTS para os trabalhadores deve elevar rendimento do fundo para 6% e superar o que é oferecido pela caderneta.

Por Luiz Guilherme Gerbelli, G1


O ministro da economia, Paulo Guedes, durante cerimônia de lançamento do novo FGTS — Foto: FáTIMA MEIRA/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO

A decisão do governo de ampliar a fatia do lucro do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) que chega ao trabalhador tornou a rentabilidade do fundo mais interessante quando comparada com outras aplicações de perfil conservador.

Ao anunciar a liberação dos saques do FGTS, o governo determinou a distribuição de 100% do lucro do FGTS para os trabalhadores a partir deste ano. Com a mudança, a rentabilidade do fundo deve subir para próximo de 6%, segundo cálculos do professor de finanças do Insper Michael Viriato. Se esse rendimento se materializar, ele será maior do que o da poupança, por exemplo, que deve trazer um ganho de cerca de 4% em 2019.

A mudança na remuneração deve começar a partir de agosto, quando os R$ 12 bilhões de lucro do FGTS, em 2018, serão distribuídos integralmente aos trabalhadores.

Antes da mudança anunciada pela equipe econômica, apenas 50% do lucro era distribuído para os trabalhadores. Além desse lucro, as contas do FGTS rendem 3% ao ano mais a Taxa Referencial (TR), que é calculada pelo Banco Central e hoje está próxima de zero.

As mudanças na remuneração do FGTS:

  • O FGTS sempre tem um rendimento garantido de 3% mais a variação da TR;
  • Com a decisão de repassar todo o lucro para o trabalhador, o FGTS deve ter um rendimento próximo de 6% este ano;
  • Se essa rentabilidade se confirmar, deve ser superior ao que é oferecido pela poupança. Produto mais popular do país, a caderneta deve pagar cerca de 4% este ano.

Rendimento FGTS X poupança com distribuição de 100% do lucro — Foto: Apresentação - Ministério da Economia

"O FGTS rende mais do que a poupança, mas é um instrumento financeiro diferente. Ele não deveria ser comparado com a poupança", diz Viriato.

Se o FGTS fosse um produto comercializado pela iniciativa privada, ele teria de oferecer um rendimento muito superior por ter um portfólio de perfil mais arriscado, explica Viriato. Boa parte dos recursos do fundo é destinada para investimento do setor imobiliário e de infraestrutura, o que sempre torna o risco de calote elevado.

No mercado financeiro, se um produto tem risco elevado, espera-se que a rentabilidade do produto seja maior. "(Aplicar no FGTS) Seria a mesma coisa se o investidor aplicasse num fundo de crédito arriscado", diz Viriato. "Os recursos do FGTS vão, normalmente, para créditos habitacionais de baixa renda e para operações de infraestrutura e saneamento."

Um produto de perfil similar ao portfólio do FGTS, segundo Viriato, costuma oferecer 12% ao ano.

Além da mudança na distribuição do lucro, há um outro fator que torna a rentabilidade do FGTS interessante. A queda da taxa de juros - para 6% ao ano - deixou as aplicações de renda fixa com um rendimento menor. A inflação controlada dos últimos anos também permitiu que o fundo tivesse um ganho real.