Pode até parecer estranho, mas frutas, como a banana, apesar de já terem a cara do Brasil, não surgiram aqui. As nativas, muitas vezes, acabam sendo consumidas apenas regionalmente, caso do umbu, predominante na Bahia.
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Ainda assim, o país possui uma grande diversidade desses alimentos e está entre os principais fruticultores do mundo, ocupando o 3° lugar. A maior parte dessa colheita fica no Brasil, tendo uma exportação ainda fraca deste setor.
Um dos motivos para isso é que o consumo de frutas em todos os continentes ainda está abaixo do que seria recomendado para uma dieta balanceada, aponta Francisco Laranjeira, chefe-adjunto de Pesquisa e Desenvolvimento da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Mandioca e Fruticultura.
Para tentar mudar um pouco deste cenário, 2021 foi eleito o Ano Internacional das Frutas e Vegetais pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (Fao). O objetivo era estruturar a divulgação sobre a importância do consumo de frutas e hortaliças para uma dieta saudável.
(Correção: o g1 errou ao informar que 35% das frutas são exportadas. A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), que forneceu a informação, revisou o dado, que estava desatualizado, segundo o órgão. A informação foi corrigida no dia 13 de janeiro, às 19h07)
Deixadas de lado
Feijoa: rica em cálcio, zinco, magnésio, proteínas e vitaminas do complexo B e C, reforça o sistema imunológico e cognitivo e o combate à depressão, afirma a nutricionista Adriane Marcom.
Biribá: nativa da Floresta Amazônica, tem um sabor adocicado. É fonte de antioxidantes, fibras, ferro e vitaminas do complexo B e C, reforçando o sistema imunológico.
Cajá: é cultivada, principalmente, no Norte e no Nordeste. Se trata de uma fruta rica em carotenoides, um poderoso antioxidante que pode se converter em vitamina A, ajudando também a prevenir câncer e doenças cardiovasculares, aponta Adriane.
Juá: natural da Caatinga, contém propriedades diuréticas, anti-inflamatórias, analgésicas e, por isso, é muito usada como uma planta medicinal.
Camu-camu: fruta azeda, é plantada na Amazônia. Considerada rica em vitamina C e antioxidantes que ajudam a combater os radicais livres, tem ação anti-inflamatória, gera energia e alivia o humor.
Por que são deixadas de lado?
Entre as frutas mais consumidas do país, a maioria não é nativa do Brasil. Considerando as 5 primeiras (banana, laranja, melancia, maçã e mamão), nenhuma é.
Muitas das frutas nativas acabam sendo conhecidas apenas regionalmente, como o umbu, descrito por Laranjeira como uma ameixa mais azeda. Ele é tradicional da Bahia e sua árvore é um símbolo do estado, mas, fora dele, ele não é tão divulgado.
Cada uma tem o seu motivo por não ser tão popular nacionalmente, diz o chefe-adjunto de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa. No caso do umbu, é que a sua colheita acontece apenas durante um mês por ano, sendo insuficiente para atender uma demanda de parâmetro nacional.
Além disso, existe uma questão de falta de hábito, aponta Guilherme Coelho, presidente da Associação Brasileira dos Produtores Exportadores de Frutas e Derivados (Abrafrutas). Por serem desconhecidas em outras regiões, acabam não tendo demanda para a sua comercialização fora da esfera local.
Mas nem todas as nativas são anônimas, algumas são bem famosas, como o maracujá, o abacaxi e o açaí. Elas, inclusive, também se tornaram populares em outros países. O caju, por exemplo, é brasileiro, mas muito plantado na Índia, diz o pesquisador.
Para ele, as frutas importadas que se tornaram demasiadamente cultivadas e populares são como “naturalizadas” brasileiras, “por já estarem intrínsecas ao nosso jeito de ser. O limão, a banana, não são do Brasil, mas quem hoje em dia conseguiria dizer que essas frutas não estão naturalizadas no Brasil?”, diz.
“O Brasil tem frutas fantásticas, mas outros países também têm. O que eu acho muito relevante é a diversificação. Ter essa diversidade de frutas é muito importante do ponto de vista de sustentabilidade do setor, de diversidade cultural, gastronômica e nutricional”, afirma Laranjeira.
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Mantendo em casa
Apesar da posição vantajosa na produção das frutas, o Brasil não é um grande exportador, ocupando o 23° lugar no ranking mundial, segundo Coelho, presidente da Abrafrutas.
Uma das razões para isso é que a demanda do mercado interno é bastante forte, monopolizando a produção brasileira, sendo o destino de 97,5% dela.
Além disso, existem pontos específicos de cada fruta, por exemplo, se a sua conservação pós-colheita é boa o suficiente para chegar até o destino sem prejuízos, explica Francisco Laranjeira da Embrapa.
Há também a questão de algumas frutas não atenderem ao padrão de determinados países, afirma Laranjeira. É o caso da tangerina, que deve ser bem colorida e sem sementes, mas, em algumas das ofertas brasileiras, como a da Bahia, ela é mais esverdeada por causa do calor.
Para Coelho, o Brasil tem um grande potencial para exportação a ser explorado. Uma dessas oportunidades é o Nordeste que, com a agricultura irrigada, tem cada vez mais capacidade de produzir frutas o ano inteiro, ficando disponível para as demandas externas.
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Precisa de gente
A fruticultura ainda é um setor muito manual devido a sensibilidade das frutas, por isso, no agro, é uma das áreas que mais emprega, diz Coelho.
“Um trabalhador de soja não pega no grão nem para plantar, nem para colher. É uma área enorme e tudo mecanizado com alta tecnologia”, exemplifica.
“(Na fruticultura) tem muitas tarefas para fazer uma fruta. Não é só você plantar e ela aparece. Muitas vezes tem que fazer uma limpeza, raleio, alguma atividade que exige mão de obra”, completa.
Ele afirma que boa parte dos empregos são disponibilizados a mulheres, que acabam tendo mais agilidade e cuidado ao tratar das frutas, principalmente no momento de colocá-las nas embalagens.
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Desafios
O plantio de frutas ocorre, em maioria, a céu aberto, deixando as lavouras expostas às intempéries do clima, como chuvas fortes e períodos de seca.
Mas esse não é o único desafio enfrentado por quem decide seguir com esse cultivo. Coelho afirma que os produtores tiveram que lidar com 3 grandes aumentos de preços que acabaram dificultando a comercialização:
- o crescimento do frete de navios;
- a elevação do preço dos insumos, como os fertilizantes, e a escassez destes produtos no mercado;
- a alta do custo das embalagens, principalmente das caixas de papelão.
Além disso, Laranjeiras afirma que o setor ainda precisa se digitalizar mais, desenvolver variedades de plantas resistentes a pragas e operar de forma sustentável, não somente no sentido ambiental - de modo a mitigar efeitos das mudanças climáticas - como também no econômico, gerando retorno financeiro e social.
Fruticultura é um dos setores da agricultura que mais emprega
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