Brasileiro cria spray que economiza água da descarga do xixi e conquista prêmios internacionais

Segundo Ezequiel Vedana da Rosa, 7 bilhões de pessoas acionam a descarga todos os dias sem pensar no desperdício de água que esse ato representa.

Por RFI


Segundo o empreendedor, 7 bilhões de pessoas acionam a descarga todos os dias — Foto: gpointstudio/Freepik

O empreendedor brasileiro Ezequiel Vedana da Rosa, criador do produto inovador “Piipee”, foi um dos 13 vencedores do programa internacional “Líderes do Futuro”, promovido este ano pela Fundação Príncipe Albert II de Mônaco.

Em entrevista à RFI, Ezequiel compartilhou sua trajetória e destacou como sua invenção, um spray que substitui a descarga do vaso sanitário, pode economizar milhões de litros de água potável e conscientizar sobre a importância de preservar recursos hídricos.

A ideia do “Piipee” surgiu como um insight. Em 2010, o empreendedor brasileiro, hoje com 36 anos, acordou se perguntando “por que gastamos tanta água para eliminar urina no vaso sanitário?”. Ele lembra que cada pessoa gasta em média de 8 a 12 litros por descarga. No Brasil, isso representa cerca de 40 litros por dia e por pessoa. Ezequiel Vedana da Rosa, que não é químico de formação, levou cinco anos e meio de pesquisa e desenvolvimento para transformar essa ideia em produto e lançar sua startup. A comercialização começou em 2015.

O “Piipee” funciona como uma alternativa à descarga do xixi, responsável por 80% do consumo de água nos vasos sanitários. Segundo Ezequiel, o spray neutraliza os componentes da urina, composta de 95% de água e 5% de sais e minerais, entre eles a ureia. Ele garante que o produto não faz mal à saúde nem ao meio ambiente.

“É como trazer uma estação de tratamento para dentro do sanitário da sua casa”, disse, destacando que, além de economizar água, a inovação higieniza, altera a coloração e perfuma. Concretamente, o usuário pulverizaria o vaso a cada ida ao banheiro. Mas, como o nome indica, o spray só substitui a descarga do xixi.

O “Piipee” funciona como uma alternativa à descarga do xixi — Foto: Reprodução

Sustentabilidade

Ezequiel, claro, visa vender seu produto, mas seu foco também é a sustentabilidade, tentando influenciar hábitos para proteger um recurso que é finito e que cujo acesso está cada vez mais difícil.

Atualmente, os principais clientes do Piipee são grandes empresas e indústrias, que conseguem reduzir em até 40% os custos mensais com água. O produto também é adotado por particulares que, em alguns casos, reduzem pela metade suas contas. “Não é só economia financeira; é um processo de reeducação sobre nosso impacto no planeta”, diz.

Um dos principais desafios para a aceitação do Piipee é cultural. O hábito de acionar a descarga está fortemente associado à higiene e à saúde pública. “Independentemente da cultura, as pessoas não refletem sobre esse ato diário”. Em todo o mundo, ele indica que “7 bilhões de pessoas acionam a descarga todos os dias” sem pensar no desperdício de água que esse ato representa.

Ezequiel Vedana ressalta que temos “a falsa sensação” de que só porque acionamos a descarga, limpamos o vaso sanitário. “A gente toma banho, lava nossas roupas, nossas louças, só com água?”, questiona.

Crises hídricas

Cenários de crise hídrica, como o que está previsto em Barcelona novamente em 2025, “ajudam a quebrar essas barreiras e abrir portas para soluções como a nossa”, afirmou. Diante do racionamento de água inevitável, sem água para fazer comida, para tomar banho, para limpar pelo menos uma vez por semana a casa, a população veria a inovação como uma boa alternativa, defende o empresário.

Apesar de o Brasil possuir grande disponibilidade de água, Ezequiel alerta para os riscos das mudanças climáticas. Ele mencionou as secas históricas recentes na Amazônia como um indicativo de que situações semelhantes se repetirão.

“A temperatura global está subindo além do esperado, e muitas metas para 2030 não serão alcançadas. Precisamos criar métodos que prolonguem nossa sobrevivência no planeta”, destacou.

O reconhecimento internacional não é novidade para o empreendedor. Além do prêmio da Fundação Príncipe Albert II de Mônaco, o Piipee já recebeu mais de 35 premiações, incluindo um selo da ONU como uma das soluções mais inovadoras para combater as mudanças climáticas até 2030. Para ele, esses prêmios são essenciais para legitimar a proposta. “Não é só um maluco do Brasil com uma ideia mirabolante. Quando organizações como a ONU e prefeituras de grandes cidades apoiam, isso valida nosso trabalho.”

Atualmente, Ezequiel busca expandir a atuação do Piipee na Europa, e principalmente na França, onde reside atualmente a convite da Prefeitura de Paris. Para ele, a consciência ambiental e os desafios hídricos são mais evidentes no velho continente. Ele concluiu a entrevista reafirmando que sua inovação busca não apenas revolucionar a gestão de águas residuais, mas também promover um debate urgente sobre o uso consciente dos recursos naturais e a preservação do planeta.

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