Com a popularização dos smartwatches e das pulseiras fitness também se difundiu a ideia de que dar cerca de 10 mil passos diários é a medida necessária para se tornar uma pessoa mais saudável, priorizando assim a quantidade em vez do tempo de exercício físico.
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Apesar de os contadores de passos serem onipresentes nos novos relógios ou pulseiras digitais, não há consenso sobre a quantidade necessária de passos para cuidar da saúde, mas especialistas são unanimes ao apontar que saúde depende de movimento e cada gesto conta.
Se depender das orientações da a Organização Mundial da Saúde (OMS), o contador de passos não será atualmente o principal instrumento para medir o sucesso de uma atividade física.
Em novembro de 2020, a OMS divulgou novas diretrizes globais sobre atividade física e comportamento sedentário. Para combater o risco de morte precoce associado ao sedentarismo, a indicação da organização é de 300 minutos de atividade física semanal de intensidade moderada (até uma hora de exercícios por cinco dias ou 40 minutos por sete dias) ou 150 minutos de atividade física intensa por semana, quando não tiver contraindicação.
Mas nem tudo está perdido para os fãs dos contadores de passos.
Meta controversa
Se a OMS adota o tempo de atividade como referência, de onde veio a métrica dos passos? E ela ainda pode ser útil?
A origem da meta de 10 mil passos por dia não é clara, mas pode estar relacionada a uma propaganda. Pesquisadores de Harvard apontaram em um estudo que a meta teve origem provavelmente a partir de um pedômetro vendido em 1965 pela marca Yamasa Clock and Instrument Company, no Japão. O aparelho se chamava Manpo-kei, que se traduz em “10 mil metros de passos” em japonês.
“Essa meta de 10 mil passos pode ser interessante para algumas pessoas, mas não obrigatória. A partir de 4 mil passos o indivíduo já começa a ter benefícios, mas esses benefícios variam de pessoa para pessoa”, explica Ricardo Eid, especialista em Medicina do Esporte e Exercício do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, em São Paulo.
A opinião do Ricardo está de acordo com o que dizem os estudos mais recentes sobre o tema.
Segundo um estudo publicado na revista científica Jama Network por pesquisadores da Universidade de Massachusetts, nos Estados Unidos, andar pelo menos 7 mil passos por dia reduz de 50% a 70% a mortalidade para todas as causas.
Basta caminhar e tudo certo? Infelizmente não, segundo o cardiologista Marco Aurelio Gomes, membro da diretoria da Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte (SBMEE).
“A prática regular de atividade física deve estar associada a cuidados nutricionais, perda de peso, cessação do tabagismo, controle de níveis de açúcar, lipídios e pressão arterial, além de redução de estresse”, afirma. “A prescrição da atividade deverá respeitar riscos e características pessoais”, aconselha o médico, que sugere a ida a um profissional para avaliação clínica e estabelecimento de metas individuais.
Além da pesquisa recente, outro estudo americano feito entre 2011 e 2015 para avaliar a prevenção de doenças cardíacas, câncer e outras doenças de longo prazo revelou que a associação entre maior número de passos e redução na taxa de mortalidade foi crescente até os participantes chegarem à marca de 7.500 passos diários, quando as chances de mortalidade se estabilizaram.
A pesquisa, feita pela Universidade de Harvard e publicada em maio de 2019, contou com a participação de mais de 16 mil mulheres com idade média de 72 anos.
Tendo isso em vista, a meta de 10 mil passos diários - possivelmente criada por algum departamento de marketing - pode ser exagerada. Por outro lado, os pesquisadores de Harvard observaram que o nível de intensidade da atividade física está associado a um maior número de benefícios para a saúde, independentemente do número de passos dados por dia.
Menos é mais também vale para atividade física
Contador: o empurrãozinho necessário
Para Ricardo Eid, o grande benefício das pulseiras fitness e seus contadores de passos é estimular a atividade física a partir do momento que revela que seus usuários não se movimentam o tanto que gostariam ou imaginavam.
“Normalmente, as pessoas que não são muito ativas e começam a usar esses aparelhos tomam um choque no início ao ver que não estão se movendo e passam a criar metas diárias”, diz o especialista.
Começar a se movimentar, ainda que seja a partir da contagem de passos diários, é necessário para a manutenção do bem-estar e redução das taxas de mortalidade. De acordo com um estudo realizado em 2018, nos Estados Unidos pela respeitada Cleveland Clinic, a inatividade pode trazer consequências negativas ao corpo comparáveis as do tabagismo.
Também podemos caracterizar como inatividade o hábito de ficar sentado por muitas horas, como é imposto pela rotina na grande maioria dos trabalhos atuais.
“Atualmente, de modo geral, nossos empregos são atividades que levam ou favorecem o sedentarismo. Muitas vezes, ficamos muito tempo sentados em frente ao computador e não levantamos nem para tomar água porque deixamos tudo na mesa. Queremos otimizar o tempo e acabamos favorecendo o sedentarismo”, afirma Eid.
E esse comportamento se agravou durante a pandemia de Covid-19. Sem a necessidade de se deslocar ao trabalho, algumas pessoas reduziram drasticamente o nível de atividade física durante o dia e passaram os últimos meses quase que integralmente divididos entre o computador, o sofá ou o colchão.
“Ficar sentado não é ruim em si. O problema é a inatividade por muitas horas”, explica Eid.
Aprenda como incorporar o hábito de praticar atividade física à rotina