Obesidade infantil: veja como criar ambientes saudáveis para as crianças e como identificar o excesso de peso

Levantamento do Ministério da Saúde, feito em 2020, aponta que uma em cada três crianças com idade entre 5 a 9 anos estava acima do peso no Brasil. Se nada for feito, país pode estar na 5ª posição no ranking da obesidade infantil em 2030.

Por Mariana Garcia, g1


Aumento da obesidade infantil é apontado como um importante fator para o avanço da diabetes — Foto: PA Media

A obesidade é uma ameaça para a saúde pública global e é lembrada nesta segunda-feira (11), Dia Nacional de Prevenção da Obesidade.

Além dos problemas de saúde, a obesidade também está relacionada com a vida social e o bem-estar das crianças e adolescentes. Como criar crianças mais saudáveis? Quais os riscos do excesso de peso na infância? Veja 8 pontos sobre a obesidade:

  1. Quais as causas?
  2. Qual o cenário da obesidade no mundo?
  3. O que fazer para melhorar o ambiente para a criança?
  4. Como identificar a obesidade infantil?
  5. Como criar hábitos saudáveis?
  6. Quais os riscos da obesidade infantil?
  7. Obesidade também afeta a saúde mental
  8. Como é feito o tratamento?

10 Passos: combate a obesidade infantil começa na primeira infância

1. As causas da obesidade

Se engana quem pensa quem a obesidade está ligada apenas à falta de exercício. Primeiramente, precisamos entender que é uma doença, não um desleixo.

A decisão de comer menos não está relacionada à força de vontade. "Existe uma região no nosso cérebro que regula essa nossa capacidade de tomar decisões, de dizer o 'não, obrigado'. Estudos já demonstraram que pessoas com obesidade têm uma diminuição do metabolismo cerebral nessa região. Mostra que elas têm um menor controle inibitório", explica a endocrinologista Cintia Cercato, presidente da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso).

A obesidade é uma doença multifatorial - o estilo de vida e fatores genéticos que influenciam a composição corporal. Falta de exercício físico, hábitos alimentares pouco saudáveis, sono insuficiente, estresse e aumento do tempo de tela podem aumentar o Índice de Massa Corpórea (IMC). Além disso, muitas crianças não têm acesso à alimentos mais saudáveis e são mais expostas.

"Não é só o ambiente e nem só a genética. É a junção dos dois. Há a predisposição genética, mas se a criança não estivesse em um ambiente que não fosse tão obesogênico, não ia crescer tanto os índices de obesidade infantil", pontua a endocrinologista.

A endocrinologista alerta que, em 40 anos, a obesidade infantil cresceu 1000% no mundo.

"Mas o que contribuiu para esse crescimento tão alarmante? Existem crianças que são geneticamente suscetíveis e o ambiente cada vez mais obesogênico, rico em alimentos ultraprocessados, uma redução da atividade física de um modo geral, isso vem fazendo com que a gente tenha esse crescimento", completa.

2. Qual o cenário da obesidade no mundo?

Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) apontam que a prevalência de obesidade no mundo triplicou entre 1975 e 2016. Sobre os jovens, a organização diz que o número de crianças com excesso de gordura corporal pode chegar a 75 milhões até 2025.

Segundo o Atlas Mundial da Obesidade, o Brasil estará na 5ª posição no ranking de países com o maior número de crianças e adolescentes com obesidade em 2030, com apenas 2% de chance de reverter essa situação se nada for feito.

Já um levantamento de 2020 do Sisvan/Ministério da Saúde mostra que, no país, uma em cada três crianças com idade entre 5 e 9 anos estava acima do peso, sendo que 9% delas com obesidade e 5%, com obesidade grave.

3. Como melhorar o ambiente para a criança?

Melhorar a alimentação não depende só dos pais e da escola. É necessário investir também em ambientes mais saudáveis e políticas públicas de prevenção.

"Precisamos ter promoção de ambientes mais saudáveis para a população. Uma cidade mais segura para que as pessoas possam fazer mais atividades físicas. Precisamos de uma rotulagem adequada dos alimentos. Merendas escolares e cantinas precisam ter opções mais adequadas. E dentro de casa ter o hábito de cozinhar a 'comida de verdade'", sugere a presidente da Abeso.

Em 40 anos, obesidade infantil cresceu 1000% no mundo — Foto: depositphotos

4. Como identificar a obesidade infantil?

O cálculo mais usado para identificar a obesidade é o do IMC, que divide o peso do paciente pela sua altura elevada ao quadrado. Entretanto, muitas vezes ele é falho para crianças e adolescentes, já que eles estão em fase de crescimento.

Pesquisas mostram que os pais só identificam a obesidade nos filhos depois que eles já estão com excesso de peso.

"Na criança, como a altura muda a cada idade, você não tem ponto de corte. Às vezes, é mais difícil para os pais identificarem que a criança está com um sobrepeso ou risco de obesidade", diz Cercato.

5. Como criar hábitos saudáveis?

O trabalho começa desde a primeira infância. Os pais devem oferecer alimentos mais saudáveis desde a primeira refeição da criança e não devem desistir no primeiro 'não gosto'.

"A alimentação é um hábito aprendido. Os pais precisam apresentar os alimentos e oferecer desde cedo verduras e legumes. Caso a criança diga 'não gosto', eles devem oferecer de outras formas, seja no preparo".

Outro ponto importante é: criar rotinas. O comer deve ter hora e lugar, sem distrações como televisão, celular, tablet, videogame. E a refeição deve ser feita em família.

E tente sempre incluir a criança nas tarefas. Leve a criança para a cozinha, para ajudar a preparar a refeição, deixe a criança escolher os alimentos (saudáveis!) na feira ou no mercado.

6. Quais os riscos da obesidade infantil?

Crianças e adolescentes que vivem com obesidade têm maiores chances de desenvolver doenças como diabetes tipo 2 na vida adulta, AVC, hipertensão, câncer colorretal e doença cardíaca coronária.

Pessoas que vivem com obesidade têm 80-85% mais probabilidade de desenvolver diabetes tipo 2.

Além disso, segundo Cercato, 84% dos adolescentes que vivem com obesidade têm probabilidade de se tornarem adultos obesos.

7. Obesidade também afeta a saúde mental

Obesidade também está relacionada com a vida social/emocional, com bem-estar e autoestima.

"A criança tem obesidade. Por conta da doença ela sofre bullying. Isso afeta a autoestima da criança e provoca um isolamento. E tem uma repercussão inclusive no comportamento alimentar. Aumenta a ansiedade, gera um estresse na criança que desencadeia no mecanismo do comer emocional, da compulsão, que acaba agravando mais a obesidade", alerta Cercato.

8. Como é feito o tratamento?

O tratamento inicial para crianças consiste em mudar os hábitos e estilo de vida: alimentação mais saudável e atividade física. Alguns medicamentos são aprovados para os adolescentes a partir dos 12 anos.

"Em casos muito extremos, pode-se fazer o uso de algum medicamento, mas a criança passa por uma avaliação adequada", explica a endocrinologista.

A cirurgia bariátrica é indicada para adolescentes com mais de 16 anos. "Em idades menores, somente em centros especializados e com uma avaliação multidisciplinar", alerta Cintia Cercato.

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