Quinze pessoas foram presas pela Polícia Federal, na terça-feira (10), na Bahia, em São Paulo e em Goiás, durante uma operação contra uma organização criminosa suspeita de atuar em fraudes licitatórias, desvio de recursos públicos, corrupção e lavagem de dinheiro.
Segundo a Receita Federal, a organização criminosa usava um esquema estruturado para direcionar recursos públicos de emendas parlamentares e convênios para empresas e indivíduos ligados a administrações municipais.
A organização criminosa é suspeita de ter movimentado cerca de R$ 1,4 bilhão, incluindo R$ 825 milhões em contratos firmados com órgãos públicos apenas em 2024. Dois alvos não foram encontrados e são considerados foragidos.
Em um dos cumprimentos dos mandados de prisões, Francisco Nascimento, eleito vereador para o mandato 2025-2028 em Campo Formoso, cidade do norte da Bahia, e primo do deputado Elmar Nascimento (União-BA), jogou uma sacola com R$ 220 mil pela janela, para se livrar do dinheiro que mantinha em casa.
A Justiça Federal também determinou o sequestro de R$ 162.379.373,30, referentes ao valor obtido pela organização criminosa por meio dos crimes investigados, três aeronaves, imóveis de alto padrão (casas, lotes e apartamentos), três barcos e dezenas veículos de luxo, além do afastamento de oito servidores públicos.
Entenda abaixo o esquema de desvios milionários em recursos públicos:
1. Como funcionava o esquema criminoso?
As investigações apontaram que o desvio ocorria por meio de contratos superfaturados firmados com o Departamento Nacional de Obras Contra as Secas. Os crimes apurados incluem corrupção ativa e passiva, peculato, fraude em licitações e contratos e lavagem de dinheiro.
Os investigadores da Receita Federal descobriram que uma organização criminosa utilizava um esquema estruturado para desviar recursos públicos. Esses recursos, provenientes de emendas parlamentares e convênios, eram direcionados para empresas e indivíduos ligados a administrações municipais.
As investigações constataram a prática de superfaturamento em obras e desvios de recursos com o apoio de interlocutores que facilitavam a liberação de verbas destinadas a projetos previamente selecionados pela organização criminosa.
Relatórios elaborados pela Receita Federal, em cumprimento à ordem judicial, apontaram inconsistências fiscais, movimentações financeiras incompatíveis, omissão de receitas, utilização de interpostas pessoas e indícios de variação patrimonial a descoberto.
2. Qual o modus operandi do grupo?
O grupo atuava por meio de operadores centrais e regionais, que cooptavam servidores públicos para obter vantagens indevidas, tanto no direcionamento quanto na execução de contratos. Após garantir a celebração dos contratos fraudulentos, as empresas envolvidas superfaturavam valores e aplicavam preços acima dos preços referenciais de mercado.
Os pagamentos de propinas eram realizados por meio de empresas de fachada ou métodos que dificultavam a identificação da origem dos valores.
A Receita Federal informou ainda que as investigações apontaram também que a lavagem de dinheiro era realizada de forma "altamente sofisticada", incluindo o uso de:
- Empresas de fachada controladas por “laranjas”, que movimentavam os recursos ilícitos;
- Empresas com grande fluxo financeiro em espécie, utilizadas para dissimular a origem dos valores desviados.
3. Desde quando a organização atuava?
Segundo a PF, a organização "atua de forma sistemática e coordenada pelo menos desde 2021". A decisão assinada pelo juiz federal Fábio Moreira Ramiro, da 2ª Vara Federal de Salvador, mostra que a investigação nasceu para apurar infrações penais no pregão eletrônico 3/2021, do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS).
O anúncio em questão foi divulgado para contratar serviços comuns de engenharia para obras em estradas vicinais. Embora a investigação tenha surgido no DNOCS, os investigadores concluíram que as fraudes não se restringiam ao departamento de obras.
4. Quem são as pessoas que chefiavam o grupo?
O relatório feito pela Polícia Federal aponta que a organização criminosa era dirigida pelos irmãos Alex Rezende Parente e Fábio Rezende Parente, além de José Marcos de Moura e Lucas Maciel Lobão Vieira. Os quatro formam o "núcleo central da organização".
👉Alex é descrito como o grande coordenador do esquema, suspeito de negociar diretamente com servidores públicos.
👉 Fábio seria o executor financeiro da organização.
👉 Lucas é suspeito de financiar as atividades ilícitas, já que atuava no DNOCS e favorecia as empresas nos bastidores — ele foi destituído do cargo de coordenador estadual no órgão, em setembro de 2021, após um relatório da Controladoria-Geral da União (CGU) apontar sobrepreço estimado em R$ 192.309.097,16 na compra de 470 mil reservatórios de água de polietileno.
👉 José Marcos Moura, o "Rei do Lixo", é suspeito de prospectar contratos, "com a cooptação de servidores mediante pagamento de propina".
5. Quem são os suspeitos foragidos?
Itallo Moreira de Almeida também foi alvo de mandados de prisão, mas está foragido. Ele é servidor da Secretaria de Educação do Tocantins, suspeito de favorecer empresas nas licitações.
6. Quais são as penas previstas?
Os crimes apurados incluem corrupção ativa e passiva, com penas de 2 a 12 anos de reclusão, peculato, fraude em licitações e contratos e lavagem de dinheiro. As penas somadas podem ultrapassar 50 anos de prisão, além das multas previstas na legislação.
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