Saiba quem são os investigados em operação na Secretaria de Saúde de Goiânia
A operação da Polícia Civil que investiga um suposto desvio de R$ 10 milhões na Secretaria de Saúde de Goiânia cumpriu mandados de prisão e de busca e apreensão nesta terça-feira (17). Entre os alvos está Wilson Pollara, ex-secretário da pasta, que foi preso anteriormente em outra fase da investigação e, agora, está foragido.
Segundo a Polícia Civil, foram presos: Marcus Vinícius Brasil Lourenço, presidente do União Mais Saúde; Wander de Almeida Lourenço Filho, procurador do União Mais Saúde; e Veriddany Abrantes de Pina, sócia-administradora da empresa de fornecimento de materiais hospitalares Mult Hosp Soluções Hospitalares.
O delegado Francisco Lipari explicou que a operação também envolveu o sequestro de bens, o afastamento de sigilos bancários e fiscais, além da proibição e suspensão do exercício de atividades econômicas e funções públicas dos investigados.
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O g1 solicitou um posicionamento à União Mais Saúde sobre os investigados, mas não obteve respostas até a última atualização desta reportagem. Já a Secretaria Municipal de Saúde de Goiânia, informou que cumprirá com todas as determinações judiciais e que colabora com o fornecimento de informações e documentos necessários para garantir que os fatos sejam esclarecidos.
Goiânia enfrenta uma crise há quase dois meses, com denúncias de pacientes que morreram à espera de UTI e falta de atendimentos em unidades de saúde. A Justiça ordenou que um interventor assuma a pasta.
Mandados de prisão
Ao todo, foram expedidos cinco mandados de prisão e 17 de busca e apreensão na capital e em Anápolis. Além de Pollara, também é considerado foragido da Justiça Quesede Ayres Henrique, ex-secretário executivo da pasta.
Ao g1, o advogado Thiago Peres, que representa Pollara, disse que ele está em São Paulo desde a semana passada para fazer consultas médicas e iniciar o tratamento para um câncer no rim, diagnosticado no início deste mês. Disse ainda que não teve acesso aos autos e que irá se manifestar logo que acessar a íntegra do processo.
Márcio Cunha, que representa Quesede, também disse que a defesa se manifestará oportunamente nos autos, tão logo tenha acesso a íntegra do processo. A reportagem não conseguiu contato com a defesa dos demais investigados.
Investigação
Operação investiga corrupção na Secretaria de Saúde de Goiânia
A polícia detalhou que a investigação apura os crimes de peculato e associação criminosa que teriam sido praticados em um convênio de 2024 feito entre a Secretaria Municipal de Saúde e uma associação privada sem fins lucrativos.
Este contrato seria voltado à aquisição de equipamentos para serviços de saúde móvel, palestras e pesquisas sobre acessibilidade e avaliação do microbioma intestinal em pacientes com Doença de Crohn grave submetidos ao transplante não mieloablativo de células-tronco hematopoéticas.
A investigação ainda revelou que os R$ 10 milhões que foram transferidos da secretaria para a associação durante o convênio foi gasto muito rapidamente, em apenas 17 dias, entre 20 de agosto e 5 de setembro. Esse gasto teria sido por meio de transferências via PIX, TED e TEV, além de saques em dinheiro. A velocidade do desvio deu origem ao nome Operação Speedy Cash, indicando o uso indevido dos recursos públicos.
Dinheiro apreendido em operação da Polícia Civil — Foto: Divulgação/Polícia Civil
Entenda o esquema
Durante a investigação, a polícia identificou que o grupo atuava por meio de dois núcleos criminosos:
intraneus: composto por agentes públicos que teriam agido no âmbito da Secretaria Municipal de Saúde viabilizando a celebração do convênio e o suposto desvio de R$ 10 milhões de recursos públicos;
extraneus: composto por pessoas vinculadas à associação privada e à empresa envolvidas, que supostamente seriam responsáveis pela apropriação de mais de R$ 9 milhões que foram repassados a partir desse convênio.
De acordo com a polícia, a atuação dos suspeitos dentro da Secretaria de Saúde de Goiânia seguiu a seguinte ordem:
19 de julho de 2024: Quesede exercia o cargo de Secretário Municipal de Saúde de forma interina e, naquela ocasião, recebeu a solicitação do presidente da associação privada para fazer um convênio e a liberação de R$ 10 milhões;
Quesede teria impulsionado o referido processo administrativo de forma totalmente irregular, sem publicidade, cotação de preços, exigência de atestado de capacidade técnica ou observância das orientações expedidas pela Procuradoria-Geral do Município para regularização desse instrumento contratual;
25 de julho: Apenas seis dias depois de iniciar o processo administrativo de contratação, Quesede efetuou ordenação de despesa e emitiu uma nota de empenho no valor R$ 10 milhões em favor da associação privada;
16 de agosto: Após reassumir o cargo de secretário de Saúde, Wilson Pollara assinou o termo de convênio sem seguir as recomendações técnicas exigidas pela Procuradoria do Município quanto a regularização do instrumento contratual.
19 de agosto: Pollara ordenou o pagamento antecipado de R$ 5 milhões à associação privada, ainda que tenha sido fixado que o convênio teria o prazo de vigência de 12 meses. Nesse mesmo dia, a SMS transferiu o valor para a conta da associação privada.
20 de agosto: Foi repassado à associação privada, por ordem de Wilson Modesto Pollara, mais R$ 3,2 milhões;
22 de agosto: Foi repassado mais R$ 1,7 milhão à associação, totalizando os R$ 10 milhões.
Após a transferência, segundo a Polícia Civil, o presidente da associação que recebeu os R$ 10 milhões antecipados teria se apropriado de mais de R$ 2,6 milhões por meio de transferências para uma conta bancária de mesma titularidade da associação, mas que era diferente da que foi criada para a movimentação dos recursos do convênio.
Além disso, a investigação disse que ele teria desviado R$ 6,4 milhões para uma terceira empresa, que supostamente seria fornecedora de materiais hospitalares. A polícia detalhou que, ao receber o valor da associação, a sócia-administradora da empresa teria transferido parte desses valores para sua conta pessoal e iniciado uma sequência de transferência de saques de valores em espécie que ultrapassaram R$ 1 milhão.
Ainda não se sabe qual foi o destino final desse dinheiro, de acordo com a operação. No entanto, foi explicado que há indícios de que parte desses valores possam ter retornado aos demais.
Crise na Saúde
Secretário Municipal de Saúde em Goiânia, Wilson Pollara — Foto: Diomício Gomes/O Popular
O então secretário de Saúde de Goiânia, Wilson Pollara, foi preso em 27 de novembro deste ano, em uma operação do Ministério Público de Goiás (MP-GO). Além dele, o então secretário executivo, Quesede Ayres Henrique, e o diretor financeiro da Secretária Municipal de Saúde de Goiânia, Bruno Vianna Primo, também foram presos durante o cumprimento de três mandados de prisão temporária e oito de busca e apreensão. A ação investigava pagamentos irregulares em contratos administrativos e supostas associações criminosas na pasta.
Wilson e os demais investigados foram soltos no último dia 7 de dezembro. Sobre a prisão, a defesa de Pollara informou na época que iria se manifestar formalmente após ter acesso ao processo (leia a nota na íntegra ao final do texto).
Ao realizar a operação, o Ministério Público de Goiás ressaltou que a rede pública de Saúde de Goiânia enfrenta uma crise de assistência hospitalar, com restrição ao acesso a leitos de enfermaria e Unidade de Terapia Intensivas (UTIs), além do descumprimento pela prefeitura de decisões judiciais.
Em novembro, pelo menos cinco pessoas morreram à espera de leitos de UTI em Goiânia. As vítimas são Severino Santos, Katiane Silva, Janaína de Jesus, Luiz Felipe Figueiredo da Silva e João Batista Ferreira. As famílias contaram que procuraram auxílio do MP-GO e da Justiça para conseguir atendimento, mas o serviço de saúde pública não chegou a tempo.
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