Por Gustavo Cruz, g1 Goiás


Saiba quem são os investigados em operação na Secretaria de Saúde de Goiânia

Saiba quem são os investigados em operação na Secretaria de Saúde de Goiânia

A operação da Polícia Civil que investiga um suposto desvio de R$ 10 milhões na Secretaria de Saúde de Goiânia cumpriu mandados de prisão e de busca e apreensão nesta terça-feira (17). Entre os alvos está Wilson Pollara, ex-secretário da pasta, que foi preso anteriormente em outra fase da investigação e, agora, está foragido.

Segundo a Polícia Civil, foram presos: Marcus Vinícius Brasil Lourenço, presidente do União Mais Saúde; Wander de Almeida Lourenço Filho, procurador do União Mais Saúde; e Veriddany Abrantes de Pina, sócia-administradora da empresa de fornecimento de materiais hospitalares Mult Hosp Soluções Hospitalares.

O delegado Francisco Lipari explicou que a operação também envolveu o sequestro de bens, o afastamento de sigilos bancários e fiscais, além da proibição e suspensão do exercício de atividades econômicas e funções públicas dos investigados.

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O g1 solicitou um posicionamento à União Mais Saúde sobre os investigados, mas não obteve respostas até a última atualização desta reportagem. Já a Secretaria Municipal de Saúde de Goiânia, informou que cumprirá com todas as determinações judiciais e que colabora com o fornecimento de informações e documentos necessários para garantir que os fatos sejam esclarecidos.

Goiânia enfrenta uma crise há quase dois meses, com denúncias de pacientes que morreram à espera de UTI e falta de atendimentos em unidades de saúde. A Justiça ordenou que um interventor assuma a pasta.

Mandados de prisão

Ao todo, foram expedidos cinco mandados de prisão e 17 de busca e apreensão na capital e em Anápolis. Além de Pollara, também é considerado foragido da Justiça Quesede Ayres Henrique, ex-secretário executivo da pasta.

Ao g1, o advogado Thiago Peres, que representa Pollara, disse que ele está em São Paulo desde a semana passada para fazer consultas médicas e iniciar o tratamento para um câncer no rim, diagnosticado no início deste mês. Disse ainda que não teve acesso aos autos e que irá se manifestar logo que acessar a íntegra do processo.

Márcio Cunha, que representa Quesede, também disse que a defesa se manifestará oportunamente nos autos, tão logo tenha acesso a íntegra do processo. A reportagem não conseguiu contato com a defesa dos demais investigados.

Investigação

Operação investiga corrupção na Secretaria de Saúde de Goiânia

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A polícia detalhou que a investigação apura os crimes de peculato e associação criminosa que teriam sido praticados em um convênio de 2024 feito entre a Secretaria Municipal de Saúde e uma associação privada sem fins lucrativos.

Este contrato seria voltado à aquisição de equipamentos para serviços de saúde móvel, palestras e pesquisas sobre acessibilidade e avaliação do microbioma intestinal em pacientes com Doença de Crohn grave submetidos ao transplante não mieloablativo de células-tronco hematopoéticas.

A investigação ainda revelou que os R$ 10 milhões que foram transferidos da secretaria para a associação durante o convênio foi gasto muito rapidamente, em apenas 17 dias, entre 20 de agosto e 5 de setembro. Esse gasto teria sido por meio de transferências via PIX, TED e TEV, além de saques em dinheiro. A velocidade do desvio deu origem ao nome Operação Speedy Cash, indicando o uso indevido dos recursos públicos.

Dinheiro apreendido em operação da Polícia Civil — Foto: Divulgação/Polícia Civil

Entenda o esquema

Durante a investigação, a polícia identificou que o grupo atuava por meio de dois núcleos criminosos:

intraneus: composto por agentes públicos que teriam agido no âmbito da Secretaria Municipal de Saúde viabilizando a celebração do convênio e o suposto desvio de R$ 10 milhões de recursos públicos;

extraneus: composto por pessoas vinculadas à associação privada e à empresa envolvidas, que supostamente seriam responsáveis pela apropriação de mais de R$ 9 milhões que foram repassados a partir desse convênio.

De acordo com a polícia, a atuação dos suspeitos dentro da Secretaria de Saúde de Goiânia seguiu a seguinte ordem:

19 de julho de 2024: Quesede exercia o cargo de Secretário Municipal de Saúde de forma interina e, naquela ocasião, recebeu a solicitação do presidente da associação privada para fazer um convênio e a liberação de R$ 10 milhões;

Quesede teria impulsionado o referido processo administrativo de forma totalmente irregular, sem publicidade, cotação de preços, exigência de atestado de capacidade técnica ou observância das orientações expedidas pela Procuradoria-Geral do Município para regularização desse instrumento contratual;

25 de julho: Apenas seis dias depois de iniciar o processo administrativo de contratação, Quesede efetuou ordenação de despesa e emitiu uma nota de empenho no valor R$ 10 milhões em favor da associação privada;

16 de agosto: Após reassumir o cargo de secretário de Saúde, Wilson Pollara assinou o termo de convênio sem seguir as recomendações técnicas exigidas pela Procuradoria do Município quanto a regularização do instrumento contratual.

19 de agosto: Pollara ordenou o pagamento antecipado de R$ 5 milhões à associação privada, ainda que tenha sido fixado que o convênio teria o prazo de vigência de 12 meses. Nesse mesmo dia, a SMS transferiu o valor para a conta da associação privada.

20 de agosto: Foi repassado à associação privada, por ordem de Wilson Modesto Pollara, mais R$ 3,2 milhões;

22 de agosto: Foi repassado mais R$ 1,7 milhão à associação, totalizando os R$ 10 milhões.

Após a transferência, segundo a Polícia Civil, o presidente da associação que recebeu os R$ 10 milhões antecipados teria se apropriado de mais de R$ 2,6 milhões por meio de transferências para uma conta bancária de mesma titularidade da associação, mas que era diferente da que foi criada para a movimentação dos recursos do convênio.

Além disso, a investigação disse que ele teria desviado R$ 6,4 milhões para uma terceira empresa, que supostamente seria fornecedora de materiais hospitalares. A polícia detalhou que, ao receber o valor da associação, a sócia-administradora da empresa teria transferido parte desses valores para sua conta pessoal e iniciado uma sequência de transferência de saques de valores em espécie que ultrapassaram R$ 1 milhão.

Ainda não se sabe qual foi o destino final desse dinheiro, de acordo com a operação. No entanto, foi explicado que há indícios de que parte desses valores possam ter retornado aos demais.

Crise na Saúde

Secretário Municipal de Saúde em Goiânia, Wilson Pollara — Foto: Diomício Gomes/O Popular

O então secretário de Saúde de Goiânia, Wilson Pollara, foi preso em 27 de novembro deste ano, em uma operação do Ministério Público de Goiás (MP-GO). Além dele, o então secretário executivo, Quesede Ayres Henrique, e o diretor financeiro da Secretária Municipal de Saúde de Goiânia, Bruno Vianna Primo, também foram presos durante o cumprimento de três mandados de prisão temporária e oito de busca e apreensão. A ação investigava pagamentos irregulares em contratos administrativos e supostas associações criminosas na pasta.

Wilson e os demais investigados foram soltos no último dia 7 de dezembro. Sobre a prisão, a defesa de Pollara informou na época que iria se manifestar formalmente após ter acesso ao processo (leia a nota na íntegra ao final do texto).

Ao realizar a operação, o Ministério Público de Goiás ressaltou que a rede pública de Saúde de Goiânia enfrenta uma crise de assistência hospitalar, com restrição ao acesso a leitos de enfermaria e Unidade de Terapia Intensivas (UTIs), além do descumprimento pela prefeitura de decisões judiciais.

Em novembro, pelo menos cinco pessoas morreram à espera de leitos de UTI em Goiânia. As vítimas são Severino Santos, Katiane Silva, Janaína de Jesus, Luiz Felipe Figueiredo da Silva e João Batista Ferreira. As famílias contaram que procuraram auxílio do MP-GO e da Justiça para conseguir atendimento, mas o serviço de saúde pública não chegou a tempo.

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