Irani Frutuoso de Assis desapareceu aos 76 anos, em Jataí, Goiás — Foto: Arquivo pessoal/Kerly Frutuoso de Assis
Irani Frutuoso de Assis desapareceu aos 76 anos enquanto caminhava de volta para casa, em 20 de junho de 2022, após deixar a confecção da esposa, em Jataí, no sudoeste goiano. Diagnosticado com Alzheimer, o aposentado estava agitado naquele dia, com pressa de ir para casa buscar a caminhonete, ainda que estivesse proibido pela família de dirigir. O trajeto a pé, que deveria levar 30 minutos, nunca foi concluído, e a família sofre há quase 2 anos sem nenhuma informação do idoso.
O g1 Goiás publica nesta semana uma série de reportagens que contam histórias de pessoas que desapareceram no estado e a luta de suas famílias por informações.
“Minha mãe tem uma confecção e ele estava na porta, queria a caminhonete dele que estava em casa. Era hábito, né? Mas minha mãe toda hora ia lá fora, via se ele estava bem e entrava para conversar com alguém. Numa dessas ele saiu andando. Logo minha mãe percebeu e foi de carro atrás. Só que eles se desencontraram no caminho. Meu pai é muito bom para caminhar”, lembra uma das quatro filhas de Irani, Kerly Frutuoso de Assis.
3,3 mil pessoas desapareceram em Goiás no mesmo ano em que Irani, segundo o Ministério da Justiça e Segurança Pública. Porém, não se sabe quantas delas eram portadoras de alguma doença ou transtorno mental.
Irani foi diagnosticado com Alzheimer no final de 2018 e tomava medicamentos para controlar a doença. Segundo Kerly, até então, o pai tinha uma vida normal, apesar de apresentar alguns sintomas comuns, como contar a mesma história várias vezes. Continuou trabalhando normalmente até a chegada da pandemia de Covid-19, em 2020, quando foi obrigado a ficar em casa por integrar o grupo de risco. Pouco tempo depois, a aposentadoria saiu e, na opinião da filha, as mudanças aconteceram muito depressa, fazendo com que Irani não encerrasse ciclos, acelerando o avanço da demência.
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Kerly conta que o pai se perdeu sozinho outras duas vezes, sendo uma delas cerca de um mês antes de desaparecer de fato. Ele estava dirigindo e acabou se esquecendo de onde estava, ficou confuso e estacionou no acostamento de uma estrada. Por sorte, a família conseguiu encontrá-lo por conta da caminhonete, mas a situação deixou todos assustados e, depois disso, Irani foi proibido de dirigir.
“Acho que isso também agravou o quadro dele, porque ele adorava dirigir”, reflete.
Apesar desse episódio, Kerly diz que a família não percebeu que a doença do pai estava se agravando com tanta rapidez.
“Uma semana antes de desaparecer, ele estava reunido com a família jogando truco. Jogou várias vezes, tudo certinho”, conta Kerly em tom incrédulo.
Segundo ela, hoje em dia ninguém mais na família se anima a tocar no baralho desde que Irani sumiu. Almoços de domingo, celebrações de aniversários e feriados desapareceram junto com o pai.
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Não é difícil encontrar histórias de pessoas com Alzheimer que desaparecem. Uma pesquisa da Alzheimer 's Association, feita em 2022, revelou que seis em cada 10 pessoas que vivem com demência vão perambular sem saber onde estão pelo menos uma vez; muitos vão fazer isso repetidas vezes. Tudo porque a doença faz com que as pessoas percam a capacidade de reconhecer lugares e rostos familiares, sendo comum que vagueie, fique perdida ou confusa sobre a sua localização, podendo acontecer em qualquer fase da doença.
Buscas
Depois de muito procurar por Irani naquele dia, a família ligou para a Guarda Civil de Jataí. Segundo Kerly, a equipe ajudou a procurar pelo pai durante toda a noite. No dia seguinte, os parentes procuraram a delegacia para registrar um boletim de ocorrência. Esse passo, segundo estudiosos e a própria Polícia Civil, deve ser a primeira coisa a se fazer caso alguém desapareça, independente de quanto tempo o desaparecimento tenha ocorrido.
O g1 procurou a Prefeitura de Jataí para saber se existe alguma recomendação à Guarda Civil de como orientar famílias em casos de desaparecimento ou de como a equipe deve agir nessas situações, mas não obteve retorno até a última atualização da reportagem.
A Polícia Civil declarou que, para tentar encontrar Irani, já foram realizadas buscas com cães farejadores, drones, mergulhadores, embarcações do Corpo de Bombeiros e até um helicóptero da Polícia Militar. Além disso, pouco mais de 20 dias depois do desaparecimento de Irani, familiares entraram em contato com o g1, que também fez uma reportagem informando sobre o desaparecimento do idoso.
Família de Jataí procura por idoso desaparecido há nove meses
O delegado Agnaldo Coelho era quem estava à frente da investigação pela Delegacia de Jataí à época em que a reportagem foi publicada. Ele revelou que Irani desapareceu sem nenhum tipo de objeto possível de ser rastreado, como um veículo, celular ou cartão de banco. Por isso, foi preciso tentar identificar os locais pelos quais ele passou.
Última vez em que foi visto
Na época, Agnaldo também disse que Irani foi filmado por câmeras de segurança passando em frente a um comércio. O g1 e nem a família conseguiram acesso às imagens. No dia seguinte, foi visto passando por um posto de combustíveis e, depois, parou em uma chácara, às margens da BR-364, no perímetro urbano de Jataí.
O caseiro da chácara contou à polícia que Irani pediu água e comida para ele, por volta das 2h da madrugada. Apesar de desconfiado e com medo do aposentado, o homem deu comida a Irani e também ofereceu que ele dormisse no local até que o dia amanhecesse.
“Falei: ‘Tem um quarto ali, dorme ali, tem uma coberta lá, mas não pode ficar aqui muito tempo não que meu cunhado (dono da chácara) é meio sistemático'”, diz o homem em um vídeo feito durante as investigações.
Caseiro de chácara conta sobre visita de Irani
Segundo o caseiro, Irani ficou na chácara por algumas horas, mas às 5h da manhã se apressou para ir embora, dizendo que precisava buscar uma caminhonete em Rio Verde. Quando soube disso, a Polícia Civil foi até o local para colher o depoimento do caseiro. A família também foi à chácara, pediu permissão para fazer buscas no local e acabou encontrando um boné do idoso.
“A polícia fez umas buscas, tomou o depoimento do caseiro e saiu. Após a polícia sair, eu cheguei no local e eu achei um boné do meu pai lá. Foi quando a polícia retornou e fizeram uma série de buscas”, lembra a filha.
A Polícia Civil fez buscas na chácara para afastar as dúvidas de que algum crime tivesse acontecido no local, e também, para tentar encontrar vestígios que comprovassem a presença de Irani. O boné foi encaminhado para perícia, que confirmou que a peça pertencia ao aposentado, mas nenhum indício de crime foi encontrado.
Segundo Agnaldo, essa era (e continua sendo) a pista mais consistente do paradeiro de Irani. Por conta dela, buscas foram redobradas na região e também em Mineiros, a 100 km de distância, devido à quantidade de pessoas que ligaram e mandaram mensagens para a polícia dizendo ter visto um homem com características similares às de Irani perambulando pela cidade. Porém, essas informações e novas buscas nunca renderam nenhuma nova pista.
Kerly conta que a família dela também se desdobrou para acompanhar as buscas policiais e fazer outras por conta própria durante esse período. Tios, sobrinhos e irmãos passaram quase 6 meses indo quase todos os dias para a cidade de Rio Verde, já que o pai teria dito ao caseiro que iria para lá.
“Se a gente recebia informação: ‘Ah, tem um senhor que me pediu dinheiro em Montividiu’. A gente ia para lá, andava a cidade toda, fazia rádio, procurava em hospitais e nada. Como somos quatro irmãos, a gente se dividia e ficava vários dias viajando. E como meu pai falou que ia para Rio Verde buscar uma caminhonete, a gente se concentrou lá”, lembra Kerly.
Recompensa
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A família de Irani também se mobilizou nas redes sociais, fazendo postagens em grupos e pedindo ajuda. Numa dessas tentativas, ofereceram uma recompensa de R$ 1,5 mil para quem ajudasse a localizar o aposentado. Com isso, a polícia começou a receber vários trotes e informações falsas, que atrapalharam as buscas. O delegado, então, pediu para que a família retirasse o anúncio da internet.
Seis meses depois, a família continuava sem nenhuma pista sobre Irani. Numa ação desesperada, Kerly e os outros parentes decidiram anunciar de novo uma nova recompensa em dinheiro, desta vez de R$ 20 mil. Assim como a primeira, essa também fracassou, deixando a família ainda mais frustrada com a situação.
“Muita gente procurou querendo o dinheiro, só que mesmo assim a gente não teve sucesso. A gente fica tentando buscar alternativas para localizá-lo. É um misto de sentimentos, porque a vida tem que continuar. Eu sou mãe de três filhos, minha irmã também, meu irmão é pai também. Só que você não continua. Cada vez que você passa num lugar você está procurando, seu coração nunca está tranquilo, sempre terá aquela ausência, aquela falta”, desabafa Kerly.
Investigação aberta
Das histórias de desaparecimento contadas por essa série de reportagens, a de Irani é a mais recente - ainda que o aposentado esteja desaparecido há quase 2 anos. Talvez por conta disso, é também o caso que o g1 mais recebeu retorno das autoridades sobre o que foi e o que está sendo feito para que ele seja encontrado.
A Polícia Civil, por exemplo, diz que, desde que o desaparecimento de Irani foi registrado, fez tudo que podia para tentar localizar o aposentado, mas não obteve sucesso. Mesmo assim, a investigação continua aberta. O atual delegado responsável pelo caso, Bruno Bertoncini, diz que ela só será encerrada quando tiver um desfecho.
“Não existe tempo máximo, se aparecer alguma notícia nova, a gente usa aquela notícia nova como linha de investigação para ir em busca do paradeiro da pessoa. Mas a gente não arquiva nada. Mesmo um caso antigo assim, de uma pessoa que desapareceu já faz algum tempo. O caso sempre fica em aberto. A gente só finaliza quando realmente a pessoa aparece ou for encontrada morta”, afirma Bertoncini.
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O delegado conta que chegou a Jataí no final de fevereiro deste ano, mas que “já pediu uma ordem de missão para os agentes continuarem as buscas” por Irani. Tais buscas acontecem de maneira estratégica, principalmente, em lugares onde o idoso comprovadamente passou, como nas proximidades da chácara e outros comércios de Jataí.
Bertoncini diz que também mantém contato com os Institutos Médicos Legais (IMLs) para saber se algum corpo com as impressões digitais de Irani chegaram ao local. Além disso, conversa com possíveis testemunhas do desaparecimento, a fim de saber se novas informações chegaram até eles.
Todas essas ações são recomendações do Procedimento Operacional Padrão (POP) da Polícia Civil de Goiás para casos de desaparecimento. O documento funciona como um guia para as autoridades saberem como conduzir as investigações e orientar adequadamente as famílias sobre o assunto.
Porém, em Goiás, o material só foi expedido em 1º de setembro de 2022, três meses depois do desaparecimento de Irani. Ou seja, antes disso, cabia a cada agente ou delegado o entendimento de como orientar as famílias e agir em investigações desse tipo. Por isso, são comuns histórias de famílias que dizem que foram instruídas a registrarem um boletim de ocorrência somente 24 ou 72 horas depois que uma pessoa sumiu.
Irani Frutuoso de Assis desapareceu aos 76 anos, em Jataí, Goiás — Foto: Arquivo pessoal/Kerly Frutuoso de Assis
Apesar do progresso de se ter um POP, o documento atual usado em Goiás tem poucas e superficiais recomendações sobre o que as autoridades devem fazer em casos específicos de desaparecimentos de idosos e/ou de pessoas portadoras de alguma doença, como o Alzheimer.
Entre as instruções estão: incluir desaparecidos portadores de alguma doença em buscas das instituições de atenção à saúde mental; e consultar órgãos estatais e instituições de atenção e assistência social caso a pessoa seja idosa, criança ou adolescente. Caso a pessoa continue desaparecida, a única recomendação é “repetir de tempos em tempos a busca em instituições de saúde”. Mas não é especificado nenhum período para que isso seja cumprido.
A Polícia Civil também mantém contato frequente e direto com a Polícia Científica, que é responsável pela identificação de cadáveres e, especificamente no caso de desaparecidos, também coleta material genético dos familiares para comparação. A identificação dos corpos acontece, principalmente, através da coleta de DNA ou impressões digitais.
O material é adicionado a um banco de dados estadual e comparado com outros já coletados anteriormente no estado. Mas, no caso de Irani, nenhum corpo ou ossada com genes compatíveis deu entrada nos IMLs goianos.
Outra divisão da Polícia Civil que atua no caso de desaparecidos (e no caso de Irani) é a Coordenação de Investigação dos Desaparecidos da Superintendência de Identificação Humana. A equipe é declarada Autoridade Central Estadual pelo Governo Federal e tem atuação parecida com a da Polícia Científica.
À reportagem, o papiloscopista e atual coordenador da equipe Antônio Maciel Aguiar Filho explica que a atuação deles visa identificar pessoas desaparecidas, indocumentadas e seus familiares. Eles visitam hospitais, mantêm contato com IMLs e até agilizam a documentação de pessoas em situação de rua que não tem documentos.
Kerly reclama que, embora as autoridades afirmem manter contato com abrigos e casas de assistência social em Goiás, na prática, não se tem controle nenhum sobre quem chega a esses lugares em outros estados do Brasil. A filha acredita que o pai tenha conseguido uma carona e foi acolhido em algum lugar e não consegue se identificar.
“Não tem um site estadual ou nacional que eu, como filha de um desaparecido, possa colocar informações para saber as últimas notícias sobre ele. O estado é gigante, o país muito mais, e não tem nada integrado. Se meu pai foi encontrado lá no estado de São Paulo, a digital dele só fica em Goiás, se São Paulo não se comunica com Goiás, não acha ele através da digital e assim por diante”, reclama.
A Polícia Científica nega, diz que as amostras ficam em um banco de dados estadual, mas que também é conectado com um banco administrado pela Polícia Federal. Isso significa que os dados de todos os Estados, Distrito Federal e Polícia Federal são comparados entre si, permitindo a identificação de pessoas fora do nosso Estado.
Se a comparação não der nenhum resultado num primeiro momento, as amostras continuarão cadastrados no banco para confronto com os novos dados que vão sendo constantemente inseridos. Os perfis só saem do banco após encontrada a pessoa desaparecida.
‘Invisível’
Irani Frutuoso de Assis desapareceu aos 76 anos, em Jataí, Goiás — Foto: Arquivo pessoal/Kerly Frutuoso de Assis
Goiás não tem uma delegacia estadual especializada em investigação de desaparecimentos. A existência do Grupo de Investigação de Desaparecidos (GID) representa um progresso na visão de estudiosos, mas ele tem atuação limitada, ficando a cargo somente de casos de desaparecidos adultos e que aconteceram em Goiânia, na maioria das vezes.
A filha de Irani disse que tentou por muito tempo que o GID ficasse responsável pelo caso do pai dela, na expectativa de que o caso fosse tratado de forma mais especializada, mas que nunca conseguiu, pois o grupo sempre argumentava que o caso foi feito em Jataí e, portanto, era de responsabilidade da delegacia distrital de lá.
“Em tudo a gente esbarra em alguma burocracia. Acho que as forças policiais, o governo, deveriam olhar mais para o nosso lado. Ele é uma pessoa que sumiu, está invisível por aí. Ele está invisível. E eu não tenho forças para estar em todos os lugares ao mesmo tempo fazendo essa busca”, desabafa Kerly.
Ajuda do Ministério Público
O Ministério Público de Goiás recebe informações de boletins de ocorrências feitos nas delegacias e analisa os dados de cada um deles. Cada estado alimenta a própria base de informações e, por fim, elas são adicionadas ao Sistema Nacional de Localização e Identificação de Desaparecidos (Sinalid). Com isso, os dados ficam à disposição dos Ministérios Públicos de todo Brasil.
O gestor do Programa de Localização e Identificação de Desaparecidos Estadual (Plid Goiás), Lucas Moreira, revela que em Goiás os boletins de ocorrência são enviados automaticamente para o Plid, ficando sob responsabilidade da equipe analisar a ocorrência, ligar para a família para saber se a pessoa já foi encontrada e, depois, instaurar uma sindicância. Por meio dessa sindicância, dados são gerados e analisados, a fim de que sejam elaboradas políticas públicas para melhorar a ação das autoridades com relação ao assunto.
Em Goiás e alguns outros estados, o órgão ainda se coloca à disposição para fortalecer as buscas pela pessoa desaparecida caso as famílias peçam apoio. A família de Irani, por exemplo, pediu para que eles ajudassem. Lucas afirma que mais de 100 e-mails foram trocados com abrigos, asilos e casas de apoio (públicos e privados) para saber se alguém com características semelhantes às de Irani apareceu em algum lugar de Goiás, mas a resposta é sempre que não.
O gestor do Plid Goiás também explica que a chance de que Irani esteja em algum lugar como esses é bastante pequena, porque as instituições são orientadas a reportar, o mais rápido possível, situações de pessoas que aparecem desorientadas e perdidas. Fora isso, no caso dos locais privados, é pouco provável que aceitem alguém que não tem condições de pagar para ficar abrigado ali.
“Meu pai tem Alzheimer, então, ele não vai se identificar como Irani, porque se ele conseguisse, não estava perdido. Eu acredito muito que meu pai esteja em um abrigo. Meu pai não está mais nas ruas, ele esteve nas ruas. Os relatos que a gente teve é que meu pai fez um trajeto completo, coerente, pegou carona em Jataí, chegou no posto, esteve em vários bairros da cidade, até desaparecerem as informações”, reclama a filha do aposentado.
Luto não reconhecido
Irani é casado há quase 50 anos. Com a esposa, teve quatro filhos e sete netos. Uma família unida e feliz. Há 6 meses, um dos filhos morreu sem conseguir reencontrar o pai. Kerly se emociona ao dizer que cada um da família desenvolveu algum tipo de problema de saúde diante de tantas perdas.
“A gente passou a trabalhar muito mais e cada um desencadeou um certo problema. Eu tomo antidepressivo, minha irmã também, minha mãe. Meu irmão que faleceu também já estava com depressão, queda de cabelo. A gente desenvolve muita insônia e aí no outro dia tem que trabalhar e já não consegue render como antes. São muitos problemas”, lamenta.
A psicóloga Juliane Pazzanese tem um grupo de escuta que visa dar apoio emocional às famílias com entes queridos desaparecidos. Ela explica que essas pessoas vivem um luto não reconhecido e, a grande maioria, acaba desenvolvendo depressão, síndrome do pânico e ansiedade. Outras, como no caso da família de Irani, também acabam trabalhando mais do que o necessário para não precisarem lidar com a falta do parente.
Pazzanese diz que o luto não reconhecido é qualquer quebra de vínculo não reconhecida socialmente como perda, como um aborto espontâneo, a morte de um cachorro ou mesmo a situação vivida por milhões de famílias durante a pandemia de Covid-19, em que as pessoas não podiam enterrar seus familiares.
“O caso dos desaparecidos é também um luto não reconhecido, porque você não pode falar do seu filho como se ele estivesse morto, por exemplo. Você não sabe se ele está morto. E como é que essa pessoa fala? Como que ela fala dessa ausência? Como ela lida com essa ausência? É uma dor que não é reconhecida. Elas ficam presas, não conseguem sair dali. Você não consegue elaborar, ir para frente, encontrar um espaço para essa dor, porque você não enterrou, mas também tem esperança”, explica a psicóloga.
Ajude a encontrar
Quem tiver informações sobre o paradeiro de Irani ou qualquer outra pessoa desaparecida pode ajudar ligando para a Polícia Civil pelos números 197, (62) 3201-4826 ou (62) 3201-4834. Sua ajuda faz diferença.
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