Família diz que adolescente desapareceu há três anos após ação da PM e cobra respostas
A família do estudante João Vitor Mateus de Oliveira denuncia que o adolescente desapareceu há três anos após uma ação da Polícia Militar e cobra respostas sobre o caso. Na ocasião, três pessoas suspeitas de envolvimento com roubo de carro morreram em confronto, em Goiânia. A mãe do garoto, que na época tinha 14 anos, diz que ele estava na casa em que houve o tiroteio. Já a PM nega. A Polícia Civil investiga o caso.
A mãe, uma costureira de 39 anos que não quis ter o nome divulgado, contou que no dia 23 de abril de 2018, o filho saiu da residência da família para ir à casa de um amigo jogar videogame, como costumava fazer quase diariamente. Naquele dia, segundo ela, um colega do dono da casa pediu para deixar guardado um carro que, depois, foi descoberto que era roubado.
Por volta das 19h30, policiais militares entraram na casa e, segundo o relato dos agentes, houve um confronto que terminou com a morte de três pessoas, entre 17 e 19 anos.
“A PM fala que meu filho não estava na casa, mas ele estava. Eu acho que eles acabaram matando meu filho e quando viram que ele nunca teve passagem, não fez nada errado, desfizeram do corpo”, contou.
A mulher contou que, desde o dia da ação policial, não espera por justiça ou punição, mas por notícias que possam levar a encontrar algum vestígio do adolescente.
“Eles [PMs] destruíram nossa família inteira. Tem três anos que acordo todo dia de madrugada pensando no meu filho”, lamentou.
João Vitor Mateus de Oliveira desapareceu após ação da PM, segundo a família — Foto: Arquivo Pessoal
Testemunhas
A costureira contou que testemunhas confirmaram que João Vitor estava na casa onde houve o confronto. Ela não acredita que eles estivessem armados.
“A polícia colocou a viatura dentro da casa e, antes de a perícia chegar, eles lavaram algumas marcas de sangue. Depois disso, eles saíram com o carro. Pessoas de uma região de mata a 2 km da casa viram dois carros parando e depois ouviram tiros”, contou.
Dias depois, na mesma mata, foi achado um par de chinelos. A mulher os reconheceu sendo os que o filho usava quando saiu de casa pela última vez.
Investigação
O delegado Ernani Oliveira Cazer, responsável pelo caso, disse que o inquérito que investiga a morte dos três rapazes dentro da casa foi concluído e encaminhado ao Poder Judiciário. “Sobre o desaparecimento do adolescente, existe outro inquérito que ainda não concluído”, explicou.
O delegado informou que o caso é tratado como homicídio, e não desaparecimento. “Pelo decurso do tempo, estamos tratando como homicídio, mas sem autoria determinada”, completou o delegado.
João Vitor Mateus de Oliveira tinha 14 anos quando desapareceu — Foto: Arquivo Pessoal
O G1 tenta um posicionamento com a Polícia Militar por e-mail desde quarta-feira (2), mas ainda não teve retorno sobre a ação que terminou na morte dos três rapazes nem sobre a denúncia da mãe de João Vitor, que acusa os militares de matarem o adolescente e sumirem com o corpo.
Um inquérito militar chegou a ser instaurado para apurar a situação. O documento foi encaminhado ao Ministério Público, que o repassou à Polícia Civil para que fosse juntado à investigação.
O Ministério Público disse que, assim que tiver acesso aos autos, que não estão disponíveis para o órgão no momento, poderá se manifestar sobre o tema.
Angústia
A costureira lamenta a morte dos outros três rapazes durante a ação policial. “Em conversa com as outras mães, eu digo que pelo menos elas têm onde ir, têm um cemitério para visitar. E eu?”, disse, entristecida.
No dia em que João desapareceu, João Vitor tinha voltado do trabalho em uma fábrica de sofá. Ele trocou de roupa e disse que iria na casa de um amigo para jogar videogame. Em conversa com o G1, a mãe dele relembrou os últimos momentos com o filho.
“Eu falei que ele podia ficar um tempo a mais comigo. Ele disse que ia ficar fora só um pouco, me abraçou e disse: ‘Eu te amo’. Depois que ele saiu, eu ainda fiquei angustiada por 30 minutos. Depois disso, chegou um vizinho dizendo o que tinha acontecido”, disse.
Depois de tanto tempo à espera de resposta, a costureira diz que não acredita mais em punição aos envolvidos. “A justiça quem vai fazer é Deus. Não tenho raiva nem mágoa, mas espero ter alguma resposta de onde está o corpo do meu filho”, disse.
Por conta de sua insistência com o caso, ela conta estar sendo ameaçada e que outros familiares chegam a ser seguidos. Por esse motivo, já se mudou sete vezes em um único ano.
A costureira contou que mensalmente vai à Delegacia de Investigação de Homicídios para saber como está o andamento do caso e se há alguma novidade, mas não tem respostas concretas.
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