Arquitetura de Paraty foi preservada, em parte, pela decadência da cidade no século XIX, diz historiador
O centro histórico é o cartão postal mais conhecido de Paraty, cidade que foi tema do Globo Repórter desta sexta-feira (9). Quem visita a cidade observa os detalhes das igrejas e dos casarões, que foram erguidos com o trabalho dos negros cativos. A história de Paraty se reflete na arquitetura. O historiador paratiense Diuner Mello conta que o centro histórico foi construído em dois momentos principais.
“Paraty surgiu como a cidade colonial. Existem ciclos econômicos, como o do ouro, depois vem o ciclo do café, quando há um enriquecimento de novo da cidade. Grande parte das construções simples e pobres coloniais do século XVIII são substituídas por construções mais modernas no século XIX. O que sobrou de construções do século XVIII, exceto as igrejas, são alguns poucos sobrados e poucas casas baixas. Acredito que, na verdade, 70% do centro histórico seja do século XIX. Paraty, para mim, é uma cidade muito mais imperial do que colonial”, diz o historiador.
Diuner Mello explica que a arquitetura de Paraty foi preservada, em parte, pela decadência da cidade após o ciclo do café.
“Com a construção da estrada de ferro, ligando Rio a São Paulo por volta de 1870, Paraty começa um processo de decadência, porque toda exportação de café passa a ser feita pelo Vale do Paraíba. É um paradoxo, mas é a grande verdade. Se tivéssemos continuado com estradas nos ligando a outras cidades, íamos nos modernizando. Paraty conseguiu manter a arquitetura, o calçamento e a malha urbana, e inclusive manter as suas tradições”.
A história deixou suas marcas nas construções de Paraty. Como em um prédio que, originalmente, era um armazém e hoje abriga a Câmara Municipal.
“Se nota pela parte debaixo que só tem portas, que é nitidamente um armazém no século XVIII. No século XIX, a família enriqueceu e subiu um segundo andar, que já é bem típico do século XIX, com varandado, gradeado de ferro, vidraçaria bem mais nova. Ganhava-se dinheiro com armazém embaixo e vivia-se mais confortavelmente na parte de cima”, conta.