No século passado, São Paulo ganhou fama como a cidade mais urbanizada do Brasil. Um gigantesco emaranhado de prédios e avenidas. Mas neste século o cinza do concreto passou a ser salpicado de pontos verdes. No centro nervoso da cidade, na avenida mais famosa de São Paulo, tem uma horta comunitária. Em plena Avenida Paulista, é uma semente germinando ideias, cultivando a resistência. É um chamado de volta para algo que fomos esquecendo.
“A minha família veio do interior. Os meus pais trabalharam em fazenda, trabalharam na terra. Depois o tempo passa, você vem morar em apartamento e acaba abandonando isso. Então isso é como retomar uma história da vida onde você tem essa relação com a terra”, conta o advogado Luciano Santos.
Essa volta não é só do Luciano. É de milhões de pessoas no Brasil e no mundo. E tem uma ligação muito forte com uma maior preocupação com o que comemos. Em São Paulo, essa revolução brota no concreto mesmo. Em postes, calçadas, vitrines de lojas, praças.
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No horizonte de prédios, a varanda da arquiteta Luciana Cury virou um micro-oásis orgânico por causa de uma rúcula.
“Comprei sementes de rúcula porque senti um cheiro estranho nas rúculas de supermercado, isso era no comecinho dos anos 2000, final da década de 90. Falei, nossa é estranho porque eu sinto um cheiro que parece um veneno”, lembra.
E por causa de uma rúcula, um vasinho de plantas na varanda, um monte de sentimentos, de lembranças invadiram a vida da Luciana.
“Eu lembro da minha avó plantando, pegando hortelã fresca para pôr na comida. Eles eram libaneses, então tem toda uma tradição de tempero em família libanesa”, conta.
E quando a Luciana abriu os olhos, não tinha mais varanda.
“Eu me lembro que eu plantei salsa, e a salsa bombou. Eu falei: ‘uau, que delicia, eu vou comer salsa fresca e tal’. E aí a partir da salsa eu comecei a experimentar um monte de outras coisas”, diz.