Edição do dia 06/11/2015

07/11/2015 00h00 - Atualizado em 07/11/2015 00h58

Lenda da Ilha dos Lençóis diz que rei português vive embaixo das dunas

Segundo a crença dos moradores, Dom Sebastião fixou residência nas profundezas da duna mais alta. Monarca ganhou até memorial na cidade.

Um transporte raríssimo hoje em dia, talvez único no mundo. Mas no Brasil, ainda resiste em algumas regiões. Em Cururupu, nas reentrâncias maranhenses, o carro de boi ainda circula pelas estradas.

Veja também:
Repórter José Raimundo escreve sobre o litoral do Maranhão
Veja os bastidores do programa 'reentrâncias maranhenses'

Aprenda a receita de pescada amarela e arroz de cuxá
Ilha do MA constrói casas 'móveis' para driblar movimento de dunas
Globo Repórter revela porque a plumagem dos guarás fica vermelha
População de ilha isolada no MA vive apenas das riquezas da natureza


A fabricação é bem artesanal e vem atravessando gerações. A montagem é como a de um quebra-cabeça de várias peças, encaixadas uma a uma – primeiro as rodas com o eixo, depois a carroceria. Os produtores levam 15 dias. Atualmente, um carro de boi custa em torno de R$ 3 mil – sem os bois.

O carro Seu Francisco precisava de uma renovação nas rodas – uma espécie de recauchutagem nos pneus. E lá foi ele pelo acostamento do asfalto. Três, quatro km/h, no máximo é a velocidade média de um carro de boi. Seu Francisco mora perto da cidade e leva umas três horas pra chegar em casa. “Eu prefiro mais o carro de boi, porque é mais tranquilo”, diz o agricultor Francisco Carvalho.

No Maranhão o boi também é o rei da festa, tratado com respeito. Símbolo da tradição que ocupa um grupo de mulheres o ano inteiro, bordando as fantasias do boi. Elas sustentam as famílias com o trabalho.

Enquanto as mulheres bordam as fantasias na varanda, os homens vão ensaiando o ritmo no quintal e ritmo aqui no maranhão tem outro nome: sotaque. E o boi tem vários sotaques. É uma herança dos escravos. Nas festas, eram obrigados a batucar a noite inteira. E como a palma da mão não aguentava, de tanto trabalhar, o jeito era usar o outro lado. Por isso o ritmo é chamado costa de mão.

Dona Helena acredita que há uma encantaria embaixo das dunas da Ilha dos Lençóis. Encantaria é uma figura encantada. A figura de um rei português que, segundo a lenda, fixou residência na Ilha dos Lençóis, embaixo das dunas.

Ele ganhou até um memorial: é Dom Sebastião. Reinou pouco tempo na corte portuguesa. Morreu jovem, misteriosamente, durante batalhas por conquistas de territórios africanos. Segundo a crença dos moradores, vive nas profundezas da areia na duna mais alta da ilha.