Formulário de Busca

O tempo para as notícias

qua, 30/04/14
por Equipe Milênio |

 

 

Sou fã de Alain de Botton há muitos anos, desde o primeiro livro dele, Como Proust Pode Mudar Sua Vida. Eu tinha lido Proust, mas a leitura do filósofo foi mais profunda e me ajudou muito numa fase de depressão. Outro livro essencial dele é As Consolações da Filosofia. Ele tem efeito terapêutico, é melhor que antidepressivo e sem efeitos colaterais. Os cínicos o comparam a Paulo Coelho. Mas eu, que sou fã, tenho muita gratidão pela popularização da filosofia que ele faz com tanta inteligência e delicadeza.

O último livro, The News, a User’s Manual, veio para mim na hora certa. Por vício profissional me tornei um dependente da notícia, ligado 24 horas. Cheguei ao extremo de, à cata de notícia, checar as redes sociais da Internet a cada minuto. Aí encontrei a reflexão de de Botton sobre essa praga, pandemia mesmo, que atacou a humanidade: o excesso de notícia, de informação, e a falta de conhecimento e sabedoria. Foi um bálsamo. Parei de acessar as redes sociais (por enquanto até julho, 90 dias). E segui a sugestão dele: quando estou de folga no fim de semana não entro mais na Internet, nem leio jornal ou vejo TV. Nem sei o que fazer com tanto tempo livre, que maravilha.

Eu não sabia qual era a origem de Alain de Botton. Ele me contou que é de família sefaradim, judeus que sairam da Espanha na expulsão de 1492 e se radicaram no Egito, de onde foram novamente expulsos na onda anti-judaica do nacionalismo árabe. A família se estabeleceu em Londres, onde o filósofo vive, com a mulher e dois filhos pequenos, e onde fundou a Escola da Vida (School of LIfe), que oferece cursos populares sobre aplicações práticas da Filosofia. Um dos professores, David Baker, mudou-se para o Brasil, onde abriu com uma prima de Alain, Jackie de Botton, a sucursal brasileira da escola, numa casa em Ipanema. Vale a pena frequentar as aulas, para pensar na vida com um pouco mais de sabedoria – e de vez em quando desligar as notícias.

por Jorge Pontual

A desconstrução dos mitos da Internet

qua, 19/03/14
por rodrigo.bodstein |

 

Eu sempre tenho uma queda pelos “contrarians“. Daí me encantei pelo Jaron Lanier, que em dois ótimos livros, You are not a gadget (mal traduzido para Você não é um aplicativo) e Who owns the future, demoliu o oba-oba em torno da Web 2.0, as redes sociais e outros modismos. Achava que a crítica do Jaron era a mais radical que se poderia fazer ao atual modelo de exploração da rede pelos Barões da Nuvem.

Mas meu queixo caiu quando descobri os livros do Evgeny Morozov. Primeiro, The Net Delulsion, the dark side of Internet Freedom, onde ele mostra que, ao contrário de ser automaticamente um instrumento de libertação, a Internet é usada por regimes autoritários para se fortalecer. No segundo, To save everything click here, the folly of technological solutionism, Morozov vai muito mais fundo. Fundamentado nos trabalhos do filósofo da tecnologia Bruno Latour (com quem fiz há muitos anos um ótimo Milênio, infelizmente não disponível na globo.com), Morozov faz com muito humor e análise aguda uma desconstrução dos mitos e lugares-comuns em torno da Internet e seus usos.

Não cabe aqui resumir o livro: recomendo a leitura atenta – é denso e altamente satisfatório. Leitura em inglês, claro, pois, que eu saiba, os livros do Morozov não foram publicados no Brasil – incrível! Pessoalmente ele é intenso, engajado, bem humorado e pronto para entrar numa bate-papo sobre ideias. Um craque. Nascido na Bielorússia, emigrou para a Alemanha e depois para os Estados Unidos. Foi pesquisador em Stanford e agora está em Harvard. E ainda não tem 30 anos!

A entrevista foi gravada na Science House, a agradável casa em Murray Hill mantida por James Jorasch e Rita King, numa townhouse tombada que foi de um dos filhos de Abraham Lincoln. No fundo, atrás de Morozov, um mapa-múndi onde estão assinaladas as cidades (inclusive no Brasil) onde escolas públicas receberam microscópios e kits de estudo de Ciência enviados pela Science House. Um fundo apropriado para a amplidão das ideias do jovem pensador.

 

por Jorge Pontual

O lado humano do vício

qui, 27/02/14
por rodrigo.bodstein |
categoria debate, Extras, Programas

 

O neuropsiquiatra norteamericano Carl Hart defendeu, em entrevista ao Milênio, a importância de se considerar a dimensão humana do vício e uma transformação na política contra as drogas: descriminalizar sem legalizar.

A razão que leva ao vício é uma questão que ainda não foi completamente explorada. Há um gene escondido em algum trecho do nosso DNA que indica que nos renderemos às drogas? É o contexto social ou a condição psicológica? Independente da resposta, as drogas estão presentes na sociedade e são parte da vida de milhares de pessoas direta ou indiretamente. É um tema que afeta a saúde, a segurança pública e, até mesmo, a política externa dos países.

A proposta da legalização ganhou força nos últimos meses, muito por causa do debate sobre a maconha, mas o assunto acompanha a política desde o início do século. Os Estados Unidos enfrentaram esse desafio com a proibição do álcool na década de 1920. As gangues tomaram conta do pais, a corrupção aumentou e os custos da proibição foram sentidos naquela sociedade. Pouco mais de uma década depois, a lei foi revogada. A máfia se enfraqueceu, a violência foi reduzida, mas continuaram os problemas de abuso e dos efeitos adversos que o consumo do álcool produzem.

Carl Hart, neuropsiquiatra, lembra, em entrevista a Jorge Pontual para o Milênio, que “a relação entre drogas, violência e crime sempre serviu a um objetivo político maior.” Enquanto o álcool foi uma decisão de política doméstica dos Estados Unidos, o ópio, desde o início, foi uma questão internacional. No século XIX, o ópio trazido da Índia pela Companhia Britânica das Índias Orientais começou a ameaçar a economia e a estabilidade do império chinês. O volume de importação estava tão grande que, em 1839, o Imperador determinou o fim do comércio. O Reino Unido não demorou a decretar guerra e duas Guerras do Ópio se seguiram, terminando em 1860. 15 anos depois, os Estados Unidos começaram a ter um problema com a droga. Uma lei surgiu para proibir o fumo do ópio, mas foi dirigida especialmente para os chineses que moravam no país. No início do século XX, ligaram a cocaína aos negros, que ao consumirem a substância supostamente estrupariam as mulheres brancas. Nesse meio-tempo, como Carl Hart cita na entrevista, começou um embargo informal de comerciantes chineses aos produtos norteamericanos. Em uma tentativa de responder a essa questão, os Estados Unidos buscaram realizar um tratado internacional, a Convenção Internacional do Ópio, mas precisavam ter uma lei interna que reforçasse a iniciativa. A conexão entre entorpecentes e crimes hediondos foi feita e foram lançadas as bases para a atual guerra contra as drogas.

Nesse sentido, uma pergunta feita por Inge Fryklund, ex-promotora de Chicago que trabalhou no Afeganistão, no Iraque, na Cisjordânia, no Tadjiquistão e no Kosovo, em artigo para a publicação Foreign Policy in Focus, torna-se essencial: “Qual é o problema que estamos tentando resolver ao tornarmos as drogas ilegais?” e, ainda nesse contexto, o dinheiro que está financiando guerras ao redor do mundo está diminuindo efetivamente o consumo?

As questões ainda estão em aberto, mas, para haver um debate mais profundo sobre o tema, é necessário ir além da polarização entre legalizar ou não. Carl Hart faz uma contribuição importante ao trazer a dimensão humana do vício. O neuropsiquiatra defende que há muitos níveis na relação que as pessoas têm com as drogas – incluindo as possíveis psicopatias presentes já antes do consumo – e coloca uma outra opção na mesa: descriminalizar as drogas sem legalizá-las. Isso significa que a venda continuaria proibida, mas quem estivesse em posse de entorpecentes – o usuário – poderia ser encaminhado para algum tipo de ajuda ou orientação em vez de ser fichado criminalmente, aumentando as possibilidades destas pessoas contribuírem para a sociedade em que vivem.

por Rodrigo Bodstein

 

 

 

 

 

O comportamento humano e a oxitocina

qua, 15/01/14
por Equipe Milênio |

 

 

 

Paul Zak tem a mania de abraçar todo mundo. Alguns até se assustam com a aproximação dele, sobretudo no Brasil. Primeiro, porque brasileiro não espera que estrangeiro inicie contato físico, mas também devido aos quase dois metros de altura de Zak. Fica até cômico vê-lo abraçando alguns baixinhos desconfiados desse gringo efusivo.

O abraço, que ele prega em livros, artigos e palestras, tem a ver com a importância que Zak atribui a um hormônio produzido pelo corpo humano, a oxitocina, para ele uma fórmula mágica de bem-estar, em oposição a substâncias perturbadoras como a testosterona ou a adrenalina. Zak acha que o comportamento humano, inclusive nossa atuação como agente econômico, amigo, amante, profissional, depende muito da ação da oxitocina no corpo.

Seus críticos denunciam um exagero na importância que ele dá a uma droga no organismo como explicação para tantas atividades humanas. Reclamam mais ainda da popularização de suas teorias, a ponto de inspirar títulos de artigos em jornais e revistas com referências a uma “molécula do amor”, terminologia pouco apropriada para quem tem pretensões de oferecer uma base científica para suas teorias. Zak não se importa.

Outros céticos preferem se divertir com uma “tendência de vampiro” em Zak, por causa das repetidas investidas dele em recolher sangue das pessoas, a fim de medir o grau de oxitocina em diferentes momentos, desde um casamento na Inglaterra a uma cerimônia de nativos em Papua Nova Guiné.

Zak aceita que fatores sociais e econômicos, bem como a forma de educação que as pessoas recebem, influenciam o comportamento delas, mas ele defende que esses fatores se traduzem em reações químicas no organismo. É neste ponto que a oxitocina adquire para ele uma importância fundamental, a ponto de ter se tornado seu principal foco de pesquisas, artigos, palestras e entrevistas. A do Milênio foi conduzida com o devido grau de ceticismo mas com abertura para que Zak explicasse suas teses.

por Silio Boccanera

Uma ponte entre as religiões

qua, 31/07/13
por Equipe Milênio |

 

 

Karen Armstrong recebeu a equipe do Milênio em seu apartamento de Londres, às vésperas de embarcar para o Brasil, onde faria palestras em Porto Alegre e São Paulo, a convite da organização Fronteiras do Pensamento. Para quem não compartilha de fé religiosa e ia ao encontro de uma ex-freira, autora de uma dúzia de livros sobre religião, a expectativa era de encontrar uma sisuda senhora de meia-idade, pregando ideias conservadoras e tradicionais. Quem sabe até não iríamos ter de aturar uma carola.

Nada disso. Esbarramos em alguém que embora apóie o lado espiritual e transcendental da experiência religiosa, rejeita e critica muito do que considera tradicional e retrógrado nas várias formas de religião organizada. E nas várias interpretações sectárias de livros sagrados. Sobre o novo Papa argentino, por exemplo, que só iria ao Brasil bem depois, nos contou de bom humor mas também com convicção que Francisco I deveria tirar a sede da Igreja Católica de Roma e transferi-la para Buenos Aires. “Estaria assim mais perto dos pobres que Jesus Cristo apoiava do que dos privilegiados instalados nesta má imitação do Império Romano que é o Vaticano.”

Karen repudia o comportamento dos “ativistas religiosos”, com suas interpretações rígidas e literais de textos na Bíblia, no Corão, no Torá. Considera, por exemplo, “um absurdo” a alegação de extremistas judeus ao tomar terras dos palestinos de que, segundo a Bíblia, Deus presenteou aquelas terras somente aos judeus e, portanto, os árabes não teriam direito a elas, mesmo se suas famílias ali estavam há várias gerações. “A Bíblia não pode ser lida como um documento de posse emitido pela prefeitura”—diz ela. “Sua mensagem é simbólica”.

Karen critica também os evangélicos que lêm a Bíblia como se fosse um relato de historiadores e cientistas, com afirmações sobre a criação do universo em uma semana, de uma vez só, com as formas de vida e geologia que têm até hoje, o que nos obrigaria a aceitar, por exemplo, que o ser humano e os dinossauros viveram na mesma época. “Isso é uma banalidade, que a ciência desmente sem muito esforço – diz ela – “e não leva em conta que as histórias na Bíblia são alegorias, parábolas, para serem lidas pelo seu valor simbólico e não pelo significado literal.”

Mesma coisa para o Corão, lembra ela, criticando os fundamentalistas que extraem trechos isolados que mais lhes convêm no livro sagrado muçulmano, enquanto ignoram outras partes que contradizem as mesmas afirmações, como o tratamento às mulheres ou o uso de violência. “Eles se esquecem também do contexto histórico em que surgiu o texto do Corão, século VII, quando o combate ao Islã foi intenso e seus adeptos tinham de se defender, muitas vezes à força. Aplicar as mesmas recomendações em pleno século XXI não faz o menor sentido”.

Uma das histórias curiosas envolvendo Karen ocorreu quando ela dava uma palestra nos Estados Unidos, pouco tempo depois dos ataques terroristas de 2001, e foi abordada pela polícia. Detetives pediam sua ajuda para decifrar o caso de um jovem local que tinha matado a família e se suicidado. Ao lado do corpo do rapaz, havia um livro escrito por ela, informou a polícia, sem maiores detalhes.  No contexto da época, a reação de Karen foi imaginar duas possibilidades de fanatismo religioso associado com atos de violência mais recentes: talvez um extremista cristão de direita lendo uma obra dela sobre a Bíblia ou quem sabe um fundamentalista islâmico que estivesse folheando e distorcendo o que ela escreveu sobre o Islã.

Na verdade, o livro dela que o rapaz lia era sobre budismo, tido como uma religião de paz e tranquilidade, nada a ver com fanatismo. O episódio serviu para ela como mais uma demonstração de que um indivíduo mentalmente desequilibrado pode encontrar justificativa para a violência até em textos religiosos que só pregam paz. Karen Armstrong procura explicar e não converter. A não ser para promover o que chama de regra de ouro da compaixão: tratar os outros como gostaria de ser tratado..

por Silio Boccanera

O que une primatas e humanos?

qua, 17/07/13
por Equipe Milênio |

 

 

Como é que você imagina o paraíso? Para alguns: anjos, cada um na sua nuvem. Outros: 72 virgens para cada mártir! Pra quase todos, um lugar branco, diáfano, meio entendiante e eterno… Mas eu cresci com uma ideia diferente do paraíso, tirada do Jardim das Delícias do pintor holandês Hyeronimus Bosch, que vi no Prado em Madri e em reproduções. Tinha um poster dele ao pé da cama. No paraíso de Bosch, passarinhos gigantes brincam com homens e mulheres nus, casais se beijam dentro de frutas, grupos alegres fazem amor montados em unicórnios. Todos os sexos e raças se cruzam, tudo é permitido e infinitamente prazeiroso. Não há pecado nem violência. Nem virgens. Todos são felizes.

O primatólogo holandês Frans de Waal nasceu na mesma cidade do pintor, ‘s-Hertogenbosch. Não me perguntem como se pronuncia. É uma semana mais velho que eu, nascido em Belo Horizonte. Temos em comum a paixão pelo Jardim das Delícias. De Waal dedicou sua vida ao estudo dos “great apes”, os grandes primatas, nossos primos mais próximos na árvore da Evolução das Espécies. Há 32 anos mudou-se para os Estados Unidos, onde dirige um centro de estudos de primatas perto de Atlanta. Conquistou o público americano com uma série de livros onde mostra o que temos em comum com chimpanzés e outros parentes nossos, como os pequenos bonobos do Congo.

Seu último livro, O Bonobo e o Ateu (de Waal é o ateu), começa e termina com uma meditação sobre o Jardim das Delícias de Bosch. O dia-a-dia dos bonobos, que vivem para o prazer numa sociedade matriarcal, onde todo mundo transa com todo mundo, lembra muito o paraíso de Bosch. Não é o nosso mundo, nem o dos chimpanzés — patriarcais e hierárquicos, violentos e traiçoeiros, como nós.

Mas temos em comum, com chimpanzés e bonobos, a concepção do que é certo e errado, o comportamento ético, noções de altruísmo, coletividade, respeito ao próximo. O ateu (o autor) argumenta que não são as religiões, não é Deus, quem instila esses valores no ser humano. São resultado necessário da evolução de mamíferos altamente sociáveis que dependem do grupo para sobreviver. Concordando ou não, é certamente uma delícia seguir o raciocínio e as histórias contadas por de Waal, que vai fundo no conhecimento dos primatas para entender melhor o ser humano.

por Jorge Pontual

O local e a globalização

qui, 25/04/13
por Equipe Milênio |

 

Quando Saskia Sassen nasceu, num janeiro provavelmente gelado de 1949, na cidade holandesa de Haia, conceitos como “globalização” e “cidades globais” ainda não faziam parte do vocabulário corrente das ciências sociais. Mas, para aquela “baby boomer”, que se mudaria ainda criança para a Argentina e mais tarde se radicaria em Nova York, o mundo, literalmente, viria a se tornar algo menor e com fronteiras mais fluidas.

Saskia é uma personagem da dimensão global que a existência tomou e também uma especialista no assunto. Mas não se comporta como autoridade no que quer que seja. Antes de gravarmos, me convidou para um café. Queria saber do que falaríamos. Simpática, comentou sobre a oportunidade que entrevistas “in depth” (aprofundadas), a exemplo do Milênio, representam para pesquisadores (como ela) exporem suas ideias.

Na gravação propriamente dita, a prosa fluiu – e não fosse o fato de ela ter outros compromissos em seguida e um “jet lag” na bagagem (havia chegado dos EUA naquela manhã; o tal café tinha sido a primeira “refeição” em solo brasileiro), talvez tivéssemos registrado horas de conversa (dando ainda mais trabalho que o habitual ao editor do programa, Rodrigo Bodstein).

Casada com o também sociólogo Richard Sennet, Saskia faz parte da chamada intelligenzia. Confesso que fiquei imaginando o nível dos diálogos entre o casal e seus pares, na cena nova-iorquina. E deu vontade de testemunhar, num ambiente sem os salamaleques do meio acadêmico, a construção das ideias contemporâneas. Talvez de forma tão natural quanto durante nosso cafezinho.

por Leila Sterenberg

A dimensão humana do conflito

sex, 08/02/13
por rodrigo.bodstein |

 

Na próxima segunda-feira, Marcelo Lins entrevista o cineasta israelense Eran Riklis que, em seus filmes, promove um olhar que estimula a reflexão e o diálogo sem perder a profundidade da dimensão humana das tensões políticas no Oriente Médio. Dia 11 de fevereiro, às 23h30, na Globo News.

 

As notícias que chegam do Oriente Médio, em geral, mostram uma região dividida e, quase sempre, a um fio de um conflito. Pouco antes de ser reeleito, em janeiro, Benjamin Netanyahu determinou a retomada da construção dos assentamentos em Jerusalém Oriental  e na Cisjordânia. Essa medida compromete o estabelecimento de um Estado Palestino contíguo e veio acompanhada de um corte nas transferências de recursos à Autoridade Palestina e de um protesto das Nações Unidas.

Esse foi apenas mais um capítulo da difícil convivência entre israelenses e palestinos em um território do tamanho do estado de Sergipe. As dimensões pequenas e a proximidade com países que não necessariamente querem a existência de Israel foram argumentos usados para a postura de constante defesa e militarização da relação com os vizinhos. A sobrevivência, normalmente, é um argumento aceito e útil na política.

Pouco tempo depois de retomar os assentamentos, um ataque aéreo preemptivo israelense contra um centro de pesquisa militar no território Sírio, levou a ameaças de retaliação por parte do Irã e da Síria, o que torna ainda mais presente o risco do conflito se alastrar pela região. E, após três anos de pesquisa, foi divulgado esta semana um estudo mostrando que a divisão chega até mesmo aos livros escolares. Israelenses e Palestinos são educados para reconhecer o outro como inimigo.

Teorias políticas, discursos religiosos, ideologias, tudo isso funciona como óculos para enxergar a realidade. O mesmo fato pode ser contado e interpretado de acordo com a lente que se usa, que, por sua vez, é escolhida com um interesse específico e traz conseqüências distintas. Da mesma forma, no cinema, é possível filmar a mesma cena ou contar a mesma história de, pelo menos, 7 bilhões de maneiras diferentes, já que cada pessoa enxergará e interpretará o texto de um jeito.

E, em meio a tantos olhares tomados pelo radicalismo, o cineasta Eran Riklis nos oferece, com seus filmes, uma visão otimista e humana que, com um toque de humor, nos conduz em um mergulho profundo nesse mar turbulento das relações políticas e pessoais daquela parte do Oriente Médio ou, como ele mesmo diz,“não faço filmes políticos, faço observações de situações políticas e sobre pessoas presas em situações políticas.”

O Milênio da próxima semana conversa com o diretor israelense Eran Riklis e tenta mostrar um outro lado para este debate polarizado. Um olhar que promove a reflexão e o diálogo e que acredita ser possível encontrar um caminho para, nas palavras de Riklis “criar talvez não o paraíso, mas algo bem próximo disso no Oriente Médio.” Segunda-feira, 11 de fevereiro, às 23h30, na Globo News.

 

por Rodrigo Bodstein

Um momento suspenso no tempo

qua, 30/01/13
por Equipe Milênio |

 

 

Heinrich Heine, poeta alemão, teria uma vez se referido a Madame de Staël e ao hábito que a escritora tinha de usar vestidos com mangas curtas: “Ela tem braços mais bonitos que os da Vênus de Milo“. Esse é o tipo de história que, no meio de uma conversa despretensiosa, o rabino Adin Steinsaltz conta com sua voz baixa e jeito de quem já viu muita coisa nessa vida. Impossível não se sentir cativado. Se há pessoas — seja qual for o credo, a atividade profissional, a nacionalidade, a ideologia ou time de futebol — que têm o dom de instigar, que conduzem ao riso leve e, ao mesmo tempo, a uma reflexão profunda, posso dizer que Steinsaltz se inclui entre elas.

Gravamos quase uma hora de entrevista numa tarde abafada de verão, na lindíssima Fundação Eva Klabin, no Rio de Janeiro. Em meio ao cenário da casa conservada com todo seu esplendor original, as respostas de Steinsaltz a minhas perguntas — que não raro se transformavam em perguntas por parte dele — conduziram nossa equipe a uma espécie de momento mágico, suspenso no tempo e no espaço. Como se de repente saltássemos da categoria de agentes para a de observadores e pudéssemos ver numa perspectiva mais rica nosso mundo de hoje e o que nos trouxe até aqui.

Como é típico do Milênio, temos a oportunidade de dialogar com cabeças pensantes, o que é necessariamente um desafio — ou não teria a menor graça. Antes de conversar com o rabino, li um bocado sobre suas ideias, sua trajetória e, claro, sobre o Talmud (obra extensa que ele levou mais de quarenta anos traduzindo para o hebraico moderno). Posso dizer que, ao fazer esse dever-de-casa prévio e principalmente ao conhecer Steinsaltz pessoalmente, o que aprendi é que sei muito pouco — e que há muito mais por aprender.

P.S: Depois da causo sobre o comentário ferino de Heine, soltei essa: “Que bom, acabo de perceber que meu rosto é mais bonito que o da Vitória de Samotrácia”. Arranquei uma risada do rabino e ganhei o dia.

por Leila Sterenberg

A dialética para a sanidade

sex, 25/01/13
por rodrigo.bodstein |

 

No próximo Milênio, uma conversa sobre a importância de observar e questionar a realidade. Leila Sterenberg entrevistou Adin Steinsaltz, cientista que virou rabino e, após 45 anos de trabalho, terminou a tradução do Talmude. Segunda-feira, 23h30, na Globo News.

 

Reconhecer a oscilação da vida e navegar por entre as diferentes situações que marcam a nossa existência talvez seja a questão da nossa época. Desde os grandes problemas que afetam milhões de pessoas até as pequenas coisas do nosso cotidiano, conseguir refletir, questionar e ponderar é um desafio. De certa maneira, “o mundo precisa de mais sanidade (…) e sanidade é a habilidade de manter coisas diferentes em equilíbrio sem torná-las imóveis.” como afirmou Adin Steinsaltz, cientista que virou rabino e, após 45 anos de trabalho, terminou a tradução do Talmude.

Equilíbrio e sanidade, realmente, parecem distantes deste mundo. Mais de sessenta mil pessoas morreram na Síria. Assassinos entram em escolas,faculdades e templos religiosos e matam inocentes. De acordo com a FAO, em 2012, mais de oitocentos e setenta milhões de pessoas não conseguiram o mínimo para se nutrir enquanto que 1,3 bilhão de toneladas de alimentos são desperdiçados no mundo. Milhões de estímulos bombardeiam uma sociedade cada vez mais consumista e individualista enquanto que o dano provocado pelo homem no meio ambiente parece jogar o planeta em uma estrada sem volta.

Nunca na história da humanidade as pessoas tiveram tanto acesso à informação, mas como saber o que é realmente importante? Como evitar que a enxurrada informacional não torne a visão turva para o que acontece ao nosso redor? Ou, como coloca Steinsaltz, “quem tem o direito de determinar o que é acessível?” Com a dependência cada vez maior em algoritmos de sites de busca ou em sistemas de relevância, pensar sobre o que é silenciado e o que é reproduzido torna-se imprescindível.

O Milênio desta semana discute não uma ideia sobre desenvolvimento econômico, filosofia, arte ou outra área específica do conhecimento, mas a capacidade de observar a realidade e questionar, porque é a consciência crítica que constroi a base de qualquer cultura. O programa busca nessa conversa com Adin Steinsaltz trazer um pouco do exercício dialético que pauta o Talmude e discutir, com um olhar um pouco diferente do que estamos acostumados, o mundo a nossa volta. Na próxima segunda-feira, 23h30, na Globo News.

 

por Rodrigo Bodstein



Formulário de Busca


2000-2015 globo.com Todos os direitos reservados. Política de privacidade