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Clientelismo paquistanês

qua, 10/08/11
por Equipe Milênio |

 

Como se diz “clientelismo” e “fisiologismo” em urdu? Em pashto? Ou em inglês?  Pouco importa a tradução em qualquer desses idiomas usados no Paquistão, pois o que nos chama a atenção naquele país asiático é a versão local da conhecida prática tupiniquim de proteger a família, o clã, os apadrinhados políticos. Conseguir-lhes favores do estado.

Existe lá também o “coronelismo”, aplicado pelos líderes tribais, regionais ou de famílias influentes. Mandam na área mesmo sem ter cargo político formal.

A família Bhutto, por exemplo (Benazir e seu pai Zufikar, ambos mortos, foram presidentes), dominam a região de Sindh há décadas, como os Sarney mandam no Maranhão. Competem por lá com a família Zardari (Asif é o atual presidente). Nada mais conveniente, portanto, do que um casamento para juntar as famílias, como o que uniu Benazir e Asif, para surpresa de muitos que conheceram a mulher liberal, ativa e “liberada” dos tempos em que Benazir estudou na Universidade de Oxford. Ela venceu a forte tradição paquistanesa dos casamentos arranjados pelos pais. Em alguns casos (não foi o dela), os noivos só se conhecem na noite de núpcias.

No Paquistão, como no Brasil, o poder local ainda tem enorme influência. Apesar do impacto da mídia e da urbanização crescente, algumas tradições culturais, históricas e políticas sustentam o exercício de poder no interior. E as regras aplicadas ali não se baseam nas leis herdadas do império britânico após a independência em 1947. Mais frequente é aplicar tradições tribais ou as leis religiosas islâmicas (sharia).

O clientelismo à moda paquistanesa se aplica quando partidos políticos e forças armadas dão prioridade a servir os “seus”. No caso de políticos, isso significa ajudar a família, a tribo, a região ou o distrito que permitiu à pessoa chegar a um cargo com poder. Em troca, espera-se a distribuição de empregos, benefícios e verbas públicas que tragam vantagem para o grupo e, assim, mantenham o apoio político. Se falhar no cumprimento das expectativas, o líder acaba ultrapassado por outro que promete mais favores.

As forças armadas paquistanesas funcionam de forma semelhante, em seu caso levando benefícios não às aldeias de origem de cada oficial, mas privilegiando os militares de forma corporativa, concedendo-lhes terras quando se aposentam ou empregos em estatais.

De certa forma, a prática paquistanesa que choca muitos observadores do Ocidente lembra a chamada “porta giratória” de generais americanos que deixam o Ministério da Defesa para trabalhar na indústria que produz armas para o Pentágono. Na conversa com Anatol Lieven, comentamos que, dois dias antes, os jornais britânicos anunciaram a contratação do ex-ministro da defesa britânico Geoff Hoon (no posto durante a invasão do Iraque em 2003) para dirigir uma fábrica de helicópteros militares.

Não é exatamente a mesma coisa, mas lembrem-se de que Antonio Palocci acabou bombardeado porque aproveitou os contatos adquiridos como ministro da fazenda do governo Lula para benefociar sua consultoria privada, depois de deixar o governo. Não é ilegal, mas não deixa de ser eticamente duvidoso.

Seja no Paquistão, nas Américas ou na Europa, trata-se de uma forma de aproveitar bastidores do poder para conseguir favores pessoais. Durante ou depois de ocupar cargo público. Uma espécie de “Rouba mas Faz” que deixou péssima fama no mundo político de São Paulo.

No caso dos políticos ou líderes civis paquistaneses, acaba sendo uma corrupção custosa para os próprios corruptos, porque quem está por cima é forçado a gastar muito com aqueles sob seu domínio, a fim de se manter lá em cima. Resulta que as diferenças de renda entre ricos e pobres no Paquistão são menores, por exemplo, do que no Brasil. Custa caro ser rico. Lá.

Há exceções, por certo, sobretudo entre os que “passam do ponto” e roubam tanto que provocam espanto. Daí a má fama do atual presidente Asif Zardari que, junto com a ex-mulher Benazir Bhutto (assassinada em 2007) foram acusados formalmente de mega-corrupção, a ponto de comprarem mansões em Dubai e no sul de Londres (esta, ainda em Surrey sob posse da família, tem nove quartos, vale alguns milhões de libras).

Anatol Lieven nos explica que é indispensável conhecer essas tradições para entender o Paquistão que domina as manchetes e parece uma rede de políticos civis sem poder, militares simpáticos ao extremismo e terroristas agindo impunement. Lieven se dedica a esse trabalho de esclarecimento há vinte anos, por meio de contribuições para a mídia britânica, da BBC ao Times e escrevendo livros. Trata não apenas de Paquistão mas também Afeganistão e Chechênia (sua origem familiar é russa).

Lieven se dedica atualmente ao mundo acadêmico, faz palestras pelo mundo e dá aulas no Departamento de Estudos de Guerra do King’s College, de Londres, onde orienta teses de mestrado e doutorado sobre questões de terrorismo, extremismo e segurança internacional.

Seu livro recém-lançado – Pakistan, a Hard Country (Paquistão, um país difícil) – tem sido bem recebido por analistas e especialistas na conturbada região asiática, hoje abalada por terrorismo. Uma ilustração dramática da crise no país foi a morte de Osama Bin Laden, chefe da Al-Qaida, em mãos das forças especiais americanas em ataque secreto a um vilarejo, Abbottabad, a pouca distância da capital, Islamabad, sem avisar ao governo ou às forças armadas do Paquistão.

Levamos a Lieven a especulação de curiosos no mundo inteiro sobre a operação que matou o terrorista internacional mais conhecido: os militares paquistaneses sabiam que Bin Laden estava escondido naquela casa-fortaleza há cinco ou seis anos, a menos de um quilômetro da maior academia militar do país?

– Alguns deviam saber – responde Lieven.  Na entrevista, ele discute detalhes.

por Silio Boccanera

programa

extras

O risco de um Paquistão fundamentalista

sex, 05/08/11
por Equipe Milênio |

Na próxima semana, o Milênio entrevista o professor Anatol Lieven, do King’s College de Londres, especialista em Paquistão. Lieven acredita que o governo civil paquistanês não sabia da presença de Bin Laden no país e que as forças armadas, cientes da presença do terrorista, o protegiam. Em conversa com Sílio Boccanera, o professor acha pouco provável que os fundamentalistas se unam e tomem o poder. Lieven acaba de lançar “Paquistão – um país difícil” que foi bem recebido pela crítica. Não perca, no Milênio de segunda-feira, 08/08, às 23h30.

Vídeo extra: Jon Lee Anderson – parte 2

qua, 01/06/11
por Equipe Milênio |

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Como os nossos internautas já estão acostumados, as quartas-feiras são dias de publicarmos os extras das entrevistas da semana. E a segunda parte da entrevista do repórter Tonico Ferreira com o colega jornalista Jon Lee Anderson também gerou um bom material que não pôde ser aproveitado no programa que foi ao ar na segunda-feira.
Neste vídeo extra, Lee Anderson analisa um pouco mais a violência na Guatemala, em El Salvador e no México, arrisca falar um pouco sobre o futuro imediato de Cuba, critica profundamente a comunidade internacional por falhar com o Haiti e apresenta suas propostas de como deveria ser a ajuda humanitária ao país caribenho.

O alto preço do jornalismo

seg, 30/05/11
por Equipe Milênio |

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Jon Lee Anderson é uma pessoa muito tranquila – estranho para um correspondente de guerra, não? É também amável e fala com uma sonoridade primorosa. Fala tão bem quanto escreve – disse isso a ele ao final da entrevista.

fotos: Wilson Garcia

Durante todo o processo de gravação da entrevista, que é bem cansativo, não demonstrou qualquer contrariedade. Só reclamou do trabalho de desligar os celulares, porque tem três: um de operadora britânica, outro americana e mais um para usar no Brasil.

Anderson sempre se estende nas respostas, o que nos obrigou a dividir a entrevista em dois programas, para deleite de quem gosta de um bom papo. Foi possível perceber que, em alguns momentos, ele se deixa levar pela emoção: quando fala das mortes em El Salvador, das catástrofes no Haiti e, principalmente, quando lembra de seus colegas correspondentes, mortos no exercício da profissão.

Muito triste, mas Anderson sabe que é alto o preço a pagar por um jornalismo correto e independente.

por Tonico Ferreira

Próximo programa: Jon Lee Anderson (2ª parte)

sex, 27/05/11
por Equipe Milênio |
categoria Notas, Programas

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fotos: Wilson Garcia

O jornalista norte-americano Jon Lee Anderson é um cronista de crises políticas e sociais. Adepto do jornalismo de imersão, esteve no Afeganistão, em 2001, durante os bombardeios norte-americanos ao país. Dois anos depois estava em Bagdá, no meio da zona de guerra, reportando o fim do regime de Saddan Hussein pelos olhos dos iraquianos.

Para realizar as pesquisas e escrever a elogiada biografia de Che Guevara, lançada em 1997, mudou-se com a família para Cuba.

Nesta segunda parte da entrevista, Jon Lee Anderson conversa com o repórter Tonico Ferreira sobre algumas questões presentes nos seus primeiros livros e reportagens recentes: o papel das guerrilhas e o surgimento do narcotráfico na América Latina, a comparação com o tráfico de drogas no Rio de Janeiro, ameaças à liberdade de imprensa e a arriscada – e mortal – atividade do jornalismo de guerra.

Segunda-feira (30/05) às 23h30.

@mileniognews

Vídeo extra: Jon Lee Anderson (parte 1)

qua, 25/05/11
por Equipe Milênio |

Abaixo algumas das pensatas de Jon Lee Anderson que não foram ao ar na primeira parte da entrevista concedia ao repórter Tonico Ferreira.

Na próxima segunda-feira (30/05), a segunda parte da conversa com Jon Lee Anderson às 23h30.

Siga-nos também pelo @mileniognews.

A verdade em tempos de guerra

ter, 24/05/11
por Equipe Milênio |

Abaixo a primeira parte da conversa com o jornalista Jon lee Anderson, entrevistado pelo repórter Tonico Ferreira.

Nesta quarta publicaremos, aqui no blog, os extras dessa primeira parte, com trechos que não foram ao ar.

A segunda parte da entrevista vai ao ar na próxima segunda (30/05), às 23h30.

Próximo programa: Jon Lee Anderson (parte 1)

sex, 20/05/11
por Equipe Milênio |
categoria Notas, Programas

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fotos: Wilson Garcia

Jon Lee Anderson é jornalista, americano e filho de diplomata. Com uma bagagem cultural extensa, morou em países tão diversos como Coreia do Sul e Peru, Colômbia e Taiwan e Indonésia e Libéria. Hoje mora na Inglaterra com a mulher e três filhos.

Quem lê seus livros não se depara somente com o jornalista Anderson, mas com o um dos mais acurados e completos cronistas das crises sociais e políticas mundiais.

Conhecido por mergulhar profundamente nas realidades que retrata em seus artigos na New Yorker e em seus livros, Jon Lee Anderson desembarcou em 2001 no Afeganistão cerca de dez dias antes dos bombardeios norte-americanos. O livro “The Lion´s Grave” é o relato detalhado de uma nação em convulsão. Anderson havia trabalhado lá cobrindo a luta dos mujahedin contra as tropas soviéticas na virada entre as décadas de 1970 e 1980.

Para escrever seu primeiro livro, “Guerrillas: Journeys In the Insurgent World”, de 92, esteve em El Salvador, no Afeganistão, em Mianmar, no Saara Ocidental e na Faixa de Gaza.

Em 2003, durante a ocupação do Iraque, deixou seus editores enlouquecidos quando decidiu permanecer em Bagdá e na zona de perigo. Dessa experiência saiu o livro “A Queda de Bagdá”, em que relata o fim do regime de Saddam Hussein através de histórias de gente comum.

Anderson ficou conhecido mundialmente quando escreveu uma elogiada biografia de Che Guevara, lançada em 97. Para isso, mudou-se com a família para Cuba e teve acesso a documentos inéditos.

O Milênio aproveitou a presença de Jon Lee Anderson em São Paulo, onde participou do Terceiro Congresso de Jornalismo Cultural, para uma conversa em duas partes sobre guerras, guerrilhas, Osama e gangues de traficantes com o repórter Tonico Ferreira.

A primeira parte vai ao ar nesta segunda (23/05) às 23h30.

@mileniognews



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