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Um sopro de criatividade na internet

sex, 03/02/12
por Equipe Milênio |

 

 

entrevista:

Quando a Internet se rebelou contra o Congresso americano, agora em janeiro, organizações como Wikipedia sairam do ar, e no total 60 mil sites participaram do protesto organizado por Google, Facebook e Cia. Foi aí que o cientista da computação Jaron Lanier publicou um artigo no New York Times defendendo uma terceira posição: contra os projetos de lei antipirataria que o Congresso acabou abandonando, e que ele via como restritivos demais e mal pensados, mas também contra o modelo de Internet defendido pelos que se insurgiram, o modelo da Internet gratuita, onde todo conteúdo deve ser acessado de graça, e os sites são sustentados por publicidade. Lanier defende um modelo diferente, em que todo produtor de conteúdo (ele, por exemplo, é músico nas horas vagas) receba micropagamentos toda vez que alguém acessar seu produto. No modelo que impera, artistas, escritores, músicos, criadores em geral, vêm sua produção intelectual ser apropriada sem que eles recebam um centavo.

Os projetos antipirataria eram defendidos pelos conglomerados de midia, que detêm direitos sobre filmes, programas de TV, música, e que estão perdendo bilhões de dólares por causa da pirataria. Mas Lanier está mais preocupado com o artista independente, como ele, que no atual modelo não pode contar com a Internet como meio de vida. Mas a crítica que ele faz ao modelo conhecido como Web 2.0, o das redes sociais e da Internet gratuita, é mais profunda. Jaron vem da época pioneira em que a Internet era caótica e criativa, em que talentos individuais e idéias inovadoras pipocavam. Hoje, ele acha que está tudo muito homogeneizado, uniforme e obtuso. Os “senhores da Nuvem”, Google e Facebook, dominam a rede e a receita dos anunciantes, e os usuários fornecem conteúdo de graça, sem qualquer incentivo para serem remunerados pela criação.

São idéias que ele desenvolveu em seu excelente livro “Você não é um aplicativo”, publicado no Brasil.

Eu sou fã do Jaron desde os anos 80 quando ele inventou os primeiros sistemas de realidade virtual. É um autodidata que aprendeu computação sem frequentar universidades, e hoje é doutor honoris causa de várias delas, além de ser cientista consultor da Microsoft, onde ajudou a criar o sistema de jogos Kinect.

Com seu cabelo rasta e visual contracultura, Jaron é um sopro de contestação e criatividade no mundo massificado da Internet. Ele mora em Oakland, perto de San Francisco, na Califórnia, e esteve no estúdio da Globo para gravar este Milênio, numa visita a Nova York.

por Jorge Pontual

extras:

Jaron Lanier: Por uma internet mais humana

sex, 27/01/12
por rodrigo.bodstein |


No Milênio de segunda-feira, 30/01/2012, às 23h30, Jorge Pontual entrevista Jaron Lanier, um dos críticos da Web 2.0 e defensor de uma internet aberta, mas não completamente gratuita.

 

Precisamos de uma internet mais antropocêntrica, menos focada em algoritmos.” A afirmação é de Jaron Lanier, precursor da realidade virtual e um dos críticos da Web 2.0. Ele quer não apenas a liberdade de trocar informação, mas a liberdade de pensar e de ser criativo em um modelo que, atualmente, anestesia, cada vez mais, os usuários, com a ilusão de acesso a um conteúdo ilimitado. Hoje, baixar filmes, discos, livros e encontrar pessoas, quase que instantaneamente, parece natural, mas nem sempre foi assim. Há pouco tempo atrás, até mesmo discos eram objetos raros e era preciso bons contatos e um certo grau de logística para conseguir o material em primeira mão. As mudanças no dinamismo dos fluxos e a estruturação da legislação dos direitos autorais aconteceu, gradualmente, a partir da década de 60.

Naquela época, o mundo estava em ebulição, com revoluções, golpes de Estado, ditaduras, guerras, feminismo, descolonização, bossa nova, rock n´roll e crises nucleares. O governo dos EUA, então, decidiu estabelecer um mecanismo para que a troca de informações cruciais não fosse afetada, caso um ponto da cadeia fosse destruído por um ataque inimigo. Surgiu a ARPANET. Não chegava perto da rede que temos hoje, mas definiu o princípio básico de dividir a informação em pacotes. Assim, os dados percorriam diferentes rotas e eram reagrupados na máquina de destino, compondo a mensagem original. Aos poucos, ganhou os contornos atuais. Em 1989, surgiu o hipertexto. Na década de 1990, os navegadores. Nos anos 2000, a rede saiu dos computadores e ganhou os celulares, televisores, tablets e outros aparelhos. A cada nova etapa, o nível de fluxos e trocas aumentava exponencialmente e, com o maior acesso à informação, surgiam novos desafios para a defesa da propriedade intelectual.

Mas, para entendermos um pouco da relação entre a internet e os direitos autorais, precisamos responder a uma questão: O que significa propriedade intelectual? Segundo as informações disponíveis no site da WIPO (World Intellectual Property Organization) podemos sistematizar, dividindo em dois troncos principais. O primeiro envolve a propriedade industrial, soluções para problemas técnicos. O segundo, os direitos autorais que protegem a forma de expressão das ideias e não as ideias em si. Um exemplo: podemos fazer um poema sobre a saudade, filmes, livros, etc, mas não podemos ter direitos sobre o sentimento “saudade”. Nesse segundo tronco, é importante a distinção entre direitos econômicos e morais. A parte financeira, ligada a reprodução e comercialização, pode ser distribuída entre autores, produtores e difusores da obra, mas os direitos morais sobre o conteúdo permanecem com os autores. Em geral, duram até 70 anos depois da morte do autor. A proteção desses direitos começou na Convenção de Berna, em 1883, mas, apenas em 1967, a Organização Mundial de Propriedade Intelectual foi criada para sistematizar e controlar essas questões no âmbito internacional.

Internet, direitos, e, agora, o consumidor. Ele, que na década de 60, dependendo do que buscasse, precisava de amigos no exterior para conseguir discos e livros específicos, cerca de 50 anos depois, consegue tudo o que quer quase instantaneamente e, algumas coisas, baixa de graça. É uma mudança considerável. Podemos ver um show de qualquer parte do mundo, recortar e compartilhar o que queremos. A informação passsou a ser organizada e reorganizada em cada ponta da rede. Podemos dizer que o acesso tornou-se mais aberto, mas as empresas que baseiam sua renda no antigo sistema de royalties estão em crise. Como atingir um sistema que equilibre flexibilidade e dinamismo com o controle sobre a reprodução e comercialização dos produtos culturais? Até que ponto esse conflito afeta nossa sociedade?

É um debate que vem se intensificando nos últimos anos e, em janeiro de 2011, ganhou as manchetes do mundo com a tentativa de passar duas leis no Congresso dos Estados Unidos: SOPA (Stop Anti-Piracy Act) e PIPA (Protect IP Act). São esforços para bloquear o acesso a sites que comercializam conteúdo, como música, filmes e livros, de maneira ilegal. Duas posições ficaram claras. Por um lado, as grandes gravadoras e estúdios apoiaram os projetos de lei e, por outro, sites como Google, Facebook e Wikipedia, além de 10 milhões de americanos, se colocaram contra o maior controle. O Milênio de segunda-feira, dia 30/01, acrescenta mais uma posição para pensar o futuro do mundo virtual. Em entrevista a Jorge Pontual, Jaron Lanier, defende uma internet aberta, mas não completamente gratuita.

A questão levantada por Lanier é estrutural. O problema é que a rede, gradualmente, direciona e agrupa os usuários em blocos. As informações “sugeridas para o seu perfil” escondem uma variedade enorme de outras possibilidades e, ao categorizar por “gostos”, tornam o usuário um produto bem definido para publicitários, por exemplo. Segundo ele, a estrutura atual cria uma “agência de espionagem privada” que desvirtua o propósito inicial de permitir que cada usuário possa trocar seus bits com outros, como em um grande mercado, e tudo seja acessível a uma taxa razoável. Esse fluxo permitiria que a criação individual fosse devidamente remunerada e estimularia o trabalho intelectual. De certo modo, muito além de direitos autorais, a necessidade de reformar o sistema é o que está nas entrelinhas de toda essa discussão.

É o momento de repensarmos a forma como estamos nos constituindo como sociedade e no efeito desses mecanismos virtuais que estão virando parte essencial da vida cotidiana. Cada dia que passa, estamos mais presos em um sistema que direciona o acesso a informação e promove uma identidade linear aos seus usuários. Segundo Jaron, “precisamos pensar contra as ferramentas disponíveis na internet para sermos livres“. A liberdade é o eixo principal do debate, mas qual é a melhor maneira de exercê-la? Qual é o preço do acesso completamente gratuito? Como evitar a censura?

 

Deixe seu comentário e veja a entrevista dia 30/01/2012, às 23h30, no Milênio. Só na Globo News.

 

Para saber mais sobre SOPA e PIPA: Não perca o Globo News Especial deste domingo, às 20h30.

por Rodrigo Bodstein



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