Uma fortaleza às margens do Mar Morto
O Egito, o único país árabe a assinar um tratado de paz com Israel, vivenciou, em 2013, a derrubada pelas ruas do primeiro presidente eleito democraticamente e uma retomada dos militares. O suposto risco de um Irã nuclear continua a rondar a pauta da agenda internacional. A guerra civil na Síria se alonga por mais de dois anos e ameaça se espalhar pela região, principalmente para o Líbano. Enquanto isso, uma pequena “fortaleza”, detentora de um arsenal nuclear considerável e com um dos exércitos mais fortes do Oriente Médio, observa com atenção os desdobramentos dos conflitos vizinhos e está disposta a fazer de tudo para proteger seu território.
A preocupação territorial de Israel é uma consequência da sua história. Antes da formação do país houve uma tentativa, em 1919, de um acordo entre Faisal I do Iraque e Chaim Weizmann, da Organização Sionista Mundial, para establecer uma Terra de Israel na Palestina. Não deu certo. Gradualmente, a compra de terras e a exclusão dos árabes do processo produtivo criava polarização e oponência entre os dois lados. Nacionalismo árabe, sionismo judeu, pressão internacional após o Holocausto, colonialismo europeu na região, pobreza, exclusão, foram alguns fatores que contribuíram para o aumento da violência. A abordagem militarista ficou vinculada à questão de sobrevivência e os objetivos territoriais tornaram-se estratégicos.
Em 1948, logo após Ben Gurion declarar a independência de Israel em Tel Aviv, os árabes atacaram. Depois de décadas de ocupação britânica sobre aquele território e de uma declaração que não reconheceram, parecia ser o momento certo, mas Israel saiu vitorioso. Os sabras, judeus nascidos nos Kibutz e nas fazendas tornaram-se símbolo da força do novo país. O termo se refere a uma fruta que cresce nos cactos da região e que é dura e espinhosa por fora, mas doce por dentro.
Nas décadas seguintes, o país manteve os espinhos afiados e voltados para fora enquanto se tornava um oásis de desenvolvimento e tecnologia na região. Quase uma dezena de guerras depois – e alguns esforços de acordos de paz – Israel ainda briga por seu território e mantém uma relação conturbada com os palestinos. Em 2013, sessenta e cinco anos depois da fundação do país, o governo deciciu retomar os assentamentos na área E1 em Jerusalém Ocidental em uma tentativa de evitar que fosse formado um Estado Palestino contíguo.
Patrick Tyler, um veterano correspondente do New York Times e do Washington Post que passou boa parte da vida profissional no Oriente Médio, considera que o maior desafio para a paz em Israel é superar esse militarismo e que “desde o início havia uma ambição entre os líderes que precisariam de mais terra e que haveriam fases de guerra. O primeiro seria em 1948, mas logo haveria outros.” As Colinas de Golan, o Rio Jordão, a Galileia, o Negev, o território do Líbano até o Rio Latani, esses eram alguns dos territórios-chave para as lideranças que moldaram o Estado de Israel.
Mesmo com guerras, Intifadas, ataques preemptivos, foguetes cruzando os céus, muros dividindo a população, elementos presentes na relação entre palestinos e israelenses, Tyler afirma que a paz é possível. Sugere, como caminho, o desenvolvimento de instituições, em paralelo ao establishment militar, que busquem a negociação e a acomodação dos interesses para resolver um dos mais importantes conflitos do nosso tempo localizado no centro de uma das regiões mais instáveis do planeta. Em entrevista ao Milênio, Tyler oferece uma análise sobre as linhas de força que moldaram a percepção dos governantes de Estado de Israel – uma fortaleza às margens do mar morto – e sobre as perspectivas de paz na região.
por Rodrigo Bodstein