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Uma história de luta pelo direito e pela liberdade das mulheres

qua, 08/01/14
por Equipe Milênio |

 

 

 

Quando foi marcada a entrevista com Zainab Salbi, ela insistiu que fosse no escritório dela em Manhattan em vez do estúdio que usamos com mais frequência. Fica a cinco minutos da minha casa, frequentamos os mesmos restaurantes e vamos à mesma feira no sábado mas nunca havíamos nos encontrado antes. O escritório eh fica num loft bem iluminado com com moveis práticos e poucos quadro. Tem apenas um assistente.

Antes da entrevista ela contou que a primeira viagem no “jato do papai”,como se referia a um 747, um dos primeiros entregues pela Boeing, foi ao Rio de Janeiro. Ficaram hospedados em Copacabana. Tinha uns 11 anos e ficou deslumbrada com a cidade. Isto foi antes do pai se tornar o piloto particular de Saddam Hussein quando a vida da tomou um novo rumo com frequentes visitas e fins de semanas nos palácios do ditador.

Zainab era bonita. Contra a vontade da família, em especial da mãe e das tias, decidiu se casar com o primeiro namorado que conheceu na faculdade. Vinha de família pobre com tradições tribais. Noivaram mas ela rompeu pouco antes do casamento quando percebeu o autoritarismo do futuro marido.

Preocupada com a proximidade de Saddam e dos filhos incontroláveis, a mãe arranjou um casamento com um homem mais velho , rico , de boa família em Chicago. O baú era furado e o senhor de boa família estuprou Zainab pouco depois do casamento. Fez as malas e, sem dinheiro, foi para Washington onde conheceu o terceiro homem de sua vida, um palestino. Foi bom enquanto durou, diz Zainab, que ainda tem boas relações com ele mas não tem filhos.

Um dia, depois de ouvir pela televisão relatos de estupros em massa na Bósnia e na Croácia, ela resolveu fundar uma ONG, Women for Women, para ajudar mulheres vítimas de conflitos. No primeiro ano, tinha 31 mulheres na lista. Hoje, a ONG já distribuiu US$ 102 milhões para 370 mil mulheres em vários países. Zainab foi homenageada pelo presidente Bill Clinton na Casa Branca, e a Women for Women foi reconhecida como uma das organizações mais influentes no socorro de vítimas de abusos em conflitos. Zainab se demitiu da direção para escrever e fazer conferências.

Contei a ela que os números sobre estupros no Brasil tinham acabado de sair e deram um salto, mas os números e o Brasil não estão no radar dela. Hoje, trabalha só com mulheres do Oriente Médio, onde as estatísticas de estupros e abusos sexuais são pouco confiáveis. Mulheres abusadas são ensinadas a se envergonhar de si mesmas e uma denúncia na polícia pode comprometer a honra da família. Nas regiões tribais, pais e irmãos ainda apedrejam filhas violentadas.

Os números sobre estupros são estuprados. Em algumas estatísticas, a Suécia é líder de estupros. As explicações são os imigrantes e os rígidos critérios suecos de definir estupros. O Brasil, com 26,9 estupros por 100 mil habitantes, tem o dobro de estupros do que o México. A pacífica Costa Rica, com 34 por 100 mil, é a campeã de estupros da América Latina. Roraima tem 52 por 100 mil, mas os números no Brasil são pouco confiáveis. O país está dividido em quatro regiões, de 1 a 4. As estatísticas da região 1 são as melhores, as da 4, as piores. Quanto mais pobre, maior a mentira das estatísticas. Nesta violência, a verdade não está nos números e Zainab não trabalha com estatísticas. Nos livros, ela conta histórias de poucas vítimas com fotos que apunhalam.

 

por Lucas Mendes

A estratégia por trás da entrevista

qua, 25/04/12
por Equipe Milênio |

 

A orientação era precisa: o professor Brzezinski dedica apenas 30 minutos a entrevistas, do momento que chega ao momento que sai, portanto, tenham o equipamento pronto na hora marcada, duas e meia da tarde.

Chegamos com tempo de sobra e eu começo a rir sozinho assim que vejo a sala da entrevista: pequena. Uma das paredes tem um fundo/logo da Johns Hopkins, as outras duas tem estantes. Dennis faz cara feia (reporter cinematográfico Dennis Zanatta). Ele odeia espaços pequenos. Gosta de montar seis, sete fontes de luz em uma entrevista. Dessa vez, além do perfeccionismo habitual, quer trabalhar com três cameras, acrescentando uma Canon 7D para o shot aberto, além das Sonys no plano e contraplano. Começa a remover da sala tudo menos as estantes. Eu continuo rindo sozinho e leio minhas anotações, fingindo que me preparo para a entrevista. Nem sempre é facil escapar dessa disposição de fazer mudança… Vicente e Mayara, por exemplo, esquecem de se abaixar do radar, são convocados sem piedade (Vicente Cinque, produtor e Mayara Lima, estagiária).

Em alguns minutos, Dennis satisfeito, o equipamento começa a ser montado. Mayara está apreensiva, não quer atrapalhar. Vicente manda ela para um lado da sala. Depois para o outro. E outro. Dennis reclama que ela não passou os cabos dos microfones como deveria. Mayara se aflige, demora a entender que é tudo onda. Aí abre um sorriso encantador.

Zbiginiew Brzezinski não faz força para agradar e não tem paciência para bate-papo superficial. Além da inteligência aguda que tem, da experiência que acumulou e da importância do cargo que ocupou, faz parte de uma familia de nobres poloneses. Não é um inseguro, em busca de aprovação. É educado, mas senta-se para a entrevista olhando o relógio. 30 minutos.

Depois de algumas perguntas, ele está relaxado, percebe que tem tempo de completar os seus raciocínios. Entra na boa frequência – a do entrevistado que está contando, não apenas respondendo.

Os 30 minutos vão para o espaço, a entrevista dura 45. Ele se levanta e comenta que extendeu o tempo porque estava gostando da entrevista, normalmente, teria interrompido o papo aos 30. Elogio faz bem, mesmo de escanteio. Ele não disse que eu sou o melhor dos entrevistadores, mas o cara não faz força para agradar, pomba. Apertos de mãos de todos os lados, Zbiginiew Brzezinski vai embora.

Eu olho para o Vicente, ele está furioso. O Vicente lê mais que qualquer pessoa que eu conheço – provavelmente incluindo o Brzezinski – e tem uma expectativa de boas maneiras francamente inalcançável no planeta Terra. Ele achou o comentário inaceitável. “El interrumpiria una entrevista a 30 minutos?”, fulmina o venezuelano/italiano. “Así, no más? Seria capaz de esto? Es un absurdo!”

Minutos depois, enquanto desmontamos o equipamento, ainda impressionados com o duro julgamento contra Brzezinski, vemos que não é um absurdo. É fome. O Dennis pergunta: “vem cá, Vicente, você tomou café da manhã hoje?” (a essa altura são três e meia da tarde) “No, aún no”, responde o taciturno. Ah…

por Luís Fernando Silva Pinto

Os desafios para a ordem geopolítica mundial

sex, 20/04/12
por rodrigo.bodstein |

 

No próximo Milênio, ascensão da China, militarização da Ásia, crise nuclear no Irã, a tragédia no Afeganistão e o erro com o Iraque. Não perca a entrevista que Luís Fernando Silva Pinto fez com Zbigniew Brzezinski, estrategista e ex-assessor para segurança nacional de Jimmy Carter, sobre a crise do poder global e a necessidade de encontrar um novo equilíbrio geopolítico. Segunda-feira, 23/04, às 23h30, na Globo News.

A guerra do Iraque foi um erro e a do Afeganistão, uma tragédia. É assim que Zbigniew Brzezinski, renomado estrategista, resume dois dos principais conflitos atuais. O envolvimento dos Estados Unidos no esforço de “construir” democracias e combater o terrorismo custou caro e o resultado ainda está indefinido. Enquanto isso, a China apresenta um desafio econômico para os norteamericanos e aumenta o orçamento militar. Segundo dados da revista The Economist, os gastos chineses com o setor aumentaram de 30 bilhões de dólares, em 2000, para 160 bilhões, em 2012. Se essa taxa for mantida, a China ultrapassará, à médio-prazo, os Estados Unidos. Isso demonstra o esforço Chinês de se firmar como uma potência e contrabalançar o poder dos Estados Unidos.

A Coreia do Norte permanece uma incógnita, a Índia testou um míssil capaz de atingir Pequim e o Japão tenta revisar o artigo 9 da sua constituição, que o proíbe de declarar guerra. A Ásia Oriental é um dos centros econômicos mais importantes do mundo e a combinação de nacionalismos, armas e disputas econômicas já se mostrou explosiva em outros períodos da história. Além disso, a crise nuclear no Irã e um potencial desequilíbrio no Oriente Médio também criam desafios para a ordem geopolítica mundial.

Os desafios não estão apenas relacionadas ao campo militar. Hoje, percebe-se que a interdependência ganhou força, estratégias de geometria variável estão cada vez mais presentes e a multipolaridade tornou-se uma das principais características do sistema. Já não está mais presente a impressão que os Estados Unidos seriam a superpotência global e xerife do mundo, que predominou logo após o final da Guerra Fria. A política internacional ficou mais complexa. Segundo Zbigniew Brzezinski, estamos em um momento de crise do poder global e precisamos de um equilíbrio geopolítico que acomode a queda do poder americano e evite maiores tumultos no mundo.

Brzezinski era diretor-executivo da Comissão Trilateral antes de ser chamado por Jimmy Carter para ser assessor para segurança nacional. Durante os anos em que esteve no governo americano, Afeganistão, China e Irã ocupavam as manchetes dos jornais. Brzezinski participou ativamente da estratégia de auxílio aos mujahedins contra os soviéticos no Afeganistão, normalizou as relações com a China – inclusive recebendo Deng Xiaoping em sua casa -, auxiliou no tratado de paz entre Israel e Egito e discutiu os rumos para o Irã antes da revolução e do ataque à embaixada americana. Hoje, esses países voltaram à ordem do dia. O Milênio da próxima segunda-feira foi ouvir o homem que participou desse pedaço da história, que tanto influencia nossos dias.


por Rodrigo Bodstein

Vídeo extra: David Leigh e os segredos do WikiLeaks

ter, 17/05/11
por Equipe Milênio |

Este vídeo extra contém material que não foi ao ar da entrevista do jornalista do britânico The Guardian, David Leigh, ao correspondente Silio Boccanera. Leigh é um dos autores do livro “Wikileaks – a guerra de Julian Assange contra os segredos de Estado” (clique e leia um trecho do livro).
Infelizmente apenas a primeira parte do extra está legendada.

@mileniognews

“Messias-cibernético” obcecado, inseguro e paranóico

seg, 16/05/11
por Equipe Milênio |

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O Milênio conversou com David Leigh na sede do Guardian, e saímos de lá com a mesma impressão que já tínhamos extraído do livro e dos artigos que ele continua a publicar no diário de centro-esquerda onde trabalha há duas décadas.
Pouca ou nenhuma simpatia de Leigh pelo criador do site Wikileaks, Julian Assange, o ex-hacker australiano de 40 anos que passou as informações brutas à imprensa internacional e virou o rosto conhecido (cabelo louro quase branco) do mais recente fenômeno de mídia eletrônica.

David Leigh

Na entrevista ao Milênio e no livro recém-lançado, Wikileaks – a guerra de Julian Assange contra os segredos de Estado, Leigh deixou claras suas restrições a Assange, que considera inteligente e hábil no que faz, mas paranóico e megalômano no comportamento diário. Outros colegas do respeitado diário britânico parecem concordar com Leigh. Assange, por sua vez, cortou relações com o Guardian e o New York Times, que o criticaram.

O repórter Nick Davies, que começou a negociação do jornal com Assange, largou o projeto no meio do caminho porque concluiu que o australiano agiu de forma desonesta quando, antes mesmo da data de publicação acertada em conjunto, cedeu parte do material à emissora britânica de TV Channel 4.

Nick Davies

As relações pioraram mais ainda quando Davies foi a Estocolmo e conseguiu documentos confidenciais da polícia sueca com detalhes de uma acusação de estupro contra Assange. Davies publicou a reportagem no Guardian e abalou a imagem de heroismo e retidão que cercava o responsável pelo site.
Assange alega que, se perder no Reino Unido o processo de extradição para a Suécia, pode acabar extraditado em seguida aos Estados Unidos, onde ele acha que corre o risco de processo por traição e, num caso extremo, condenação à morte.

“Besteira”, diz Leigh. “Os acordos de extradição entre Estados Unidos e Reino Unido são até de aprovação mais fácil do que ele enfrentaria na Suécia, e os americanos não pediram extradição dele à Justiça britânica. E se ele for daqui para Estocolmo por causa de uma acusação sexual, os americanos não podem legalmente pedir extradição depois por outros motivos”.

O editor-chefe do Guardian, Alan Rusbridger, escreveu que a mídia internacional tende a tratar o criador do Wikileaks ou como messias-cibernético ou como vilão de James Bond, quando na verdade se trata de uma pessoa insegura, paranóica e obcecada em não perder o controle de tudo que o cerca.

Reação semelhante teve o editor-chefe do New York Times, Bill Keller, também obrigado a lidar com Assange e hoje convencido de que o australiano se deixou transformar pela própria fama de bandido-celebridade. “Ele virou uma figura de culto para europeus jovens e de esquerda, além de um ímã para mulheres”, disse Keller.

Bill Keller

O editor do Times acrescenta que, ao contrário do papel que Assange gosta de se atribuir no projeto, como comandante da operação conjunta Wikileaks-mídia, ele foi tratado apenas como uma fonte de informação, em posse de farto material que oferecia potencial mas precisava ser avaliado por critérios jornalísticos.

Quando o Times publicou um perfil crítico de Assange, o australiano ameaçou vetar a participação do jornal americano no projeto. Leigh reagiu indignado: “Se você fizer isso, o Guardian também cai fora!” Mesma reação teve o editor da revista semanal alemã Der Spiegel, parte do grupo inicial de imprensa reunido para avaliar e publicar a massa de material bruto em mãos do Wikileaks. Assange recolheu as armas e aceitou prosseguir com o acordo previamente acertado.

Julian Assange

Quando decidiu ceder o material bruto guardado online, Assange simplesmente passou aos jornalistas a senha de 58 dígitos: “AcollectionOfDiplomaticHistorySince_1966_ToThe_PresentDay#”
Estava tudo lá.

Após a publicação dos documentos secretos pelos jornais, Assange se tornou alvo de ataques, sobretudo nos Estados Unidos, o que incluiu protestos (moderados) do Departamento de Estado e do Pentágono, condenando a divulgação de documentos secretos e privados. Mas envolveram também reações histéricas, como os da extrema-direita americana, cujos militantes ofereceram até sugestões de matar Assange como terrorista ou prendê-lo como traidor. A sempre estridente Sarah Palin disse que ele deveria ser caçado como um talibã ou militante da Al-Qaeda.

Por outro lado, seus defensores, inclusive celebridades como Bianca Jagger e Michael Moore, passaram a tratá-lo como herói e guerrilheiro da liberdade, perseguido pelas forças ocultas do Establishment.

A fama de Assange como vítima de perseguição internacional ganhou mais fôlego quando autoridades suecas reabriram um caso policial em Estocolmo, onde duas mulheres o acusam de estupro, resultado de encontros íntimos em que ele se recusou a usar camisinha e foi em frente apesar da insistência das parceiras casuais em que ele usasse proteção.

Leigh nos explicou que as mulheres tentaram convencer Assange depois a fazer um teste de Aids, mas como ele se recusou, só então elas apelaram à polícia.

Os suecos pedem ao Reino Unido a extradição de Assange para que vá depor em Estocolmo. Juízes em Londres concordaram, mas advogados dele entraram com recurso e Assange agora aguarda sob fiança uma decisão final da justiça britânica. Foi acolhido por um simpatizante milionário numa mansão no campo e não pode deixar o Reino Unido, mas tem autorização para viagens internas, se avisar a polícia e não remover a tornozeleira eletrônica que permite localizá-lo via GPS.

Recebeu autorização em março para dar uma palestra na Universidade de Cambridge, onde voltou a ser notícia ao alertar que a internet pode ser usada como “a maior máquina de espionagem que o mundo já viu”. Disse que embora a rede permita melhor cooperação entre ativistas e maior transparência das atividades do governo, pode também dar às autoridades a capacidade de capturar dissidentes.

Quase como endosso das palavras de Assange, poucos dias após o alerta dele em Cambridge, o Pentágono anunciou o desenvolvimento de um software que vai permitir aos militares americanos manipular a mídia social, usando falsas identidades online para influenciar conversas na internet e espalhar propaganda pro-americana.

Enquanto Assange aguarda o processo de extradição (advogados dizem que pode se arrastar durnte meses), bem pior é a situação do soldado americano Bradley Manning, de 22 anos, preso numa base militar americana, sob a acusação de ter repassado os documentos secretos ao Wikileaks, quando servia no Afeganistão como especialista em computadores, com acesso a redes internas de alta confidencialidade.

Bradley Manning

Na entrevista ao Milênio, Leigh, que mantém contato com os advogados de Manning, contou da situação precária do soldado na primeira prisão para onde foi levado, onde alegou sofrer privações e tortura, sem ter sido julgado ou muito menos condenado pelo que teria feito. Diante de manifestações públicas contra o tratamento a Manning (uma inclusive na presença do presidente Obama), o soldado foi transferido para outra prisão, sob promessas de melhores cuidados.

Em Washington, o principal porta-voz do Departamento de Estado, Philip Crowley, perdeu o emprego quando criticou o Pentágono pelo tratamento “ridículo, contraproducente e estúpido” ao soldado-hacker Manning na primeira prisão.

Manning foi identificado e preso devido ao vazamento dos documentos secretos porque ousou contar sua proeza a outro hacker americano, que em seguida o denunciou.

A se confirmar a história que o próprio Manning revelou ao hacker-delator, ele levava todo dia um CD com o título “Lady Gaga” à sua área de trabalho em computadores supostamente protegidos por alta segurança, em Bagdá. Frente à tela, inseria o CD na máquina e fingia ouvir a música enquanto trabalhava nos sites protegidos do governo americano (JWICS e SIPRNet), a que ele tinha acesso. Na verdade, porém, estava fazendo um download do material, que saía dali no CD Lady Gaga mas em vez de música pop da cantora moderninha, continha uma fonte imensa de segredos oficiais, que Manning enviou depois ao Wikileaks.

Lady Gaga

Passada a fase inicial de reportagens impactantes publicadas com material extraído do Wikileaks, o volume de revelações diminuiu. Mas não cessou, porque há tanto documento bruto ainda a analisar, que muita pérola ainda pode surgir. De vez em quando, sai algo novo em algum canto do mundo. Um deles, publicado na Índia em março, denunciou o governo daquela país por comprar votos e provocou escândalo nacional.

Em abril, vários jornais publicaram revelações sobre o (mau) tratamento de detidos na base americana de Guantánamo, onde é comum a prática de tortura contra suspeitos de terrorismo e outros que os documentos mostram nada ter a ver com essa atividade. O Pentágono criticou a publicação dos segredos que deixam mal os militares americanos, mas não conseguiu conter a publicação.

Além de detalhes sobre a guerra, inclusive inúmeras mortes não divulgadas de civis, as mensagens diplomáticas confidenciais revelavam informações de bastidores. Por exemplo, que o ex-ditador da Tunísia, Ben Ali, roubava mais dos cofres públicos do que se desconfiava. Meses depois, ele foi deposto, na primeira das revoluções de rua qua ainda sacodem o mundo árabe.

Também as família de Muamar Kadafi na Líbia e de Hosni Mubarak no Egito tiveram segredos revelados de corrupção e abuso de poder. O rei Abdullah, da Arábia Saudita sunita, apareceu a favor de um ataque militar americano ou israelense ao Irã xiita.

Dirigentes da gigante de petróleo anglo-holandesa Shell se gabaram de infiltrar gente em todos os ministérios da Nigéria. Laboratórios farmacêuticos apelaram ao suborno para escapar de processos.

O governo americano mandou seus diplomatas bisbilhotarem os telefones celulares e até dados biométricos de diplomatas estrangeiros na ONU, ação que viola as garantias de neutralidade oferecidas à organização em Nova York.

Entre cabeças que rolaram em consequência do Wikileaks, o embaixador americano no México, Carlos Pascual, deixou o cargo que ocupou durante quase dois anos porque uma de suas mensagens vazadas dizia que o exército mexicano sofria de “aversão a riscos” no combate ao tráfico de drogas.

Carlos Pascual

A embaixadora dos Estados Unidos no Turcomenistão foi transferida para a Sibéria porque escreveu que o presidente do país onde servia era meio obtuso.

por Silio Boccanera

Próximo programa: David Leigh e os segredos do Wikileaks

sex, 13/05/11
por Equipe Milênio |

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fotos: The Guardian

Há poucos meses, milhares de documentos secretos e a correspondência diplomática do governo americano – grande parte deles relativos às guerras no Iraque e Afeganistão – começaram a ser divulgados pelo jornal britânico The Guardian, pelo norte-americano The New York Times, e pela revista alemã Der Spiegel, numa parceria com o site Wikileaks.

Um dos maiores furos jornalísticos das últimas décadas.

Revelaram detalhes das comunicações sem censura entre soldados e oficiais na frente de luta, bem como troca de mensagens entre diplomatas americanos pelo mundo e seus chefes em Washington.

Há anos o australiano Julian Assange, o criador do Wikileaks, se especializou em receber e dar publicidade a informações proibidas ao público. No ano passado o site tornou público uma filmagem secreta do Pentágono, mostrando disparos de um helicóptero americano contra civis em Bagdá. Uma operação desastrosa, que resultou na morte de 18 pessoas, entre elas dois jornalistas da agência Reuters.

Os jornalistas do Guardian, do NY Times e da Spiegel auxiliaram Assange a analisar, triar, checar e publicar o que acharam mais relevante.

O correspondente Silio Boccanera foi até a redação do The Guardian para conversar com um dos autores do livro “Wikileaks, a guerra de Julian Assange contra os segredos de Estado”, o jornalista David Leigh, que foi o editor de investigações e coordenador do projeto Wikileaks no jornal britânico.

@mileniognews

Mudança de planos: especial 11 de setembro

seg, 02/05/11
por Equipe Milênio |

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Rreapresentamos trechos de duas entrevistas que revelam detalhes e bastidores do atentado de 11 de setembro e das ações militares dos EUA no Afeganistão e no Iraque.

Richard Clarke, que era responsável pelo combate ao terrorismo na Casa Branca quando os atentados aconteceram. (clique aqui e reveja a íntegra da entrevista com Clarke e o vídeo extra)

foto: David Leal

Chalmers Johnson, ex-integrante da CIA e historiador aposentado. Pouco antes do 11 de setembro, ele publicou o livro Blowback (retalição), no qual previa que algum tipo de represália estava sendo desenvolvida em resposta à presença militar cada vez mais frequente dos Estados Unidos no mundo. (clique aqui e reveja toda a entrevista com Johnson)

foto: Emmanuel Bastien

foto: Emmanuel Bastien

@mileniognews

P.S.: A entrevista com Peter Frey, editor-chefe do canal de televisão alemão ZDF vai ao ar na próxima segunda-feira (09/05), às 23h30.

Vídeo-extra Richard Clarke

qua, 02/03/11
por Equipe Milênio |

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Como em todas as quartas, abaixo segue o vídeo com trechos inéditos da entrevista de Richard Clarke.

Aqui, ele explica ao correspondente Jorge Pontual como seria um hipotético ataque cibernético aos EUA e comenta por que os governos ainda não levam tão a sério esse tipo de ameaça.

@mileniognews

O brinde que não houve

seg, 28/02/11
por Equipe Milênio |

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Eu ia dar a Richard Clarke uma garrafa de malte escocês Balvenie, mas não consegui achar uma para comprar. Quando ele me recebeu para gravar o Milênio em seu escritório em Virginia, perto de Washington, vi uma garrafa de Balvenie numa mesa e comentei sobre o presente que não aconteceu. Ele agradeceu a intenção. Nos dois romances que escreveu, The Scorpion’s Gate e Breakpoint, os personagens tomam Balvenie e a bebida serve para quebrar o gelo quando as coisas não vão bem.

foto: David Leal

Clarke é extremamente simpático e acessível, não foi preciso quebrar o gelo. Ele não é muito bom para escrever thrillers, os dois livros deixam a desejar, embora as tramas sejam interessantes e bem atuais. No primeiro, islamistas derrubam a monarquia saudita; no segundo, o mundo é ameaçado por uma guerra cibernética.

Os livros mais relevantes de Clarke são de não-ficção: Against All Enemies conta a experiência dele na Casa Branca, onde era o responsável pelo combate ao terrorismo, nos governos Clinton e Bush, e como tentou sem sucesso alertar Bush para o risco de um ataque em território americano. O último, Cyber War, é o melhor estudo sobre guerra cibernética, e o tema da nossa entrevista.

Depois de deixar o governo, em 2003, Clarke foi perseguido por Bush e seus asseclas, por ter deposto à comissão que investigou os atentados de Onze de Setembro, revelando a omissão da Casa Branca no combate ao terrorismo, e a obsessão em buscar desculpas para invadir o Iraque. Clarke foi a única autoridade que pediu desculpas às famílias das vítimas dos atentados, pelo fracasso do governo em impedir os ataques.

O governo Bush chegou ao extremo de tentar difamar Clarke, espalhando rumores de que ele, um solteirão hoje com 60 anos, é gay. O que não é da conta de ninguém e não tem nada a ver com nada, mas fez parte do arsenal de fofocas que a turma de Bush usou para se vingar dele.

Hoje, além de escrever thrillers, Clarke tem um lucrativo negócio de consultoria de segurança, que atende a empresas e governos interessados em se defender contra ataques via Internet. Ele foi o responsável pela defesa contra ataques cibernéticos na Casa Branca, ainda no governo Bush, e se tornou um dos maiores especialistas no assunto.

Acabei não provando o Balvenie, mas a entrevista foi muito reveladora.

por Jorge Pontual

Próximo Milênio: Richard Clarke e a guerra cibernética

sex, 25/02/11
por Equipe Milênio |
categoria Notas, Programas, Vídeos

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A guerra cibernética já começou. Quem faz o alerta é Richard Clarke, o homem que foi o chefe da segurança antiterrorista de quatro presidentes dos EUA (Reagan, Bush pai, Clinton e Bush filho) e o autor do livro “Cyber War: The Next Threat to National Security and What to Do About It” (em tradução livre: “Guerra Cibernética: a próxima ameaça à segurança nacional e o que fazer a respeito disso”).

Foi por causa dos estudos de Clarke que o presidente Barack Obama criou o “Comando Cibernético”, em Washington, para defender os Estados Unidos contra ataques através da internet. Ou o que o governo norte-americano teme como um possível “Pearl Harbor eletrônico”.

Para Clarke, os EUA vivem hoje um paradoxo: são o país mais desenvolvido nas análises das tecnologias e contramedidas de proteção, mas são os mais vulneráveis a ataques cibernéticos.

Richard Clarke era o responsável pelo combate ao terrorismo na Casa Branca quando aconteceram os atentados de 11 de setembro. Depois passou a cuidar do terrorismo cibernético e deixou o governo por discordar do presidente George W. Bush, a quem acusa de ter feito “um péssimo trabalho no combate ao terrorismo”, subestimando a Al-Qaeda e acobertando a informação de que muitas pessoas dentro da CIA tinham a informação de que um ataque terrorista aos EUA era iminente, porém nada fizeram para evitá-lo.

Clarke recebeu o correspondente Jorge Pontual e a equipe do Milênio em sua consultoria de segurança em Arlington, perto da capital americana.

O programa vai ao ar na próxima segunda (28/02) às 23h30.

@mileniognews



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