Formulário de Busca

Capitalismo e Desigualdade

qua, 11/06/14
por Equipe Milênio |

 

No romance Le Père Goriot, uma das obras-primas de Balzac, o personagem Vautrin, um criminoso cínico, tenta convencer o jovem Rastignac a se casar com a feiosa Victorine, moradora da pensão onde os dois vivem. Vautrin se propõe a matar o irmão de Victorine, para que ela herde a enorme fortuna do pai. O casamento com uma herdeira, diz Vautrin, seria a única maneira de Rastignac subir na vida, numa sociedade (há 200 anos) totalmente corrompida pela alta concentração da riqueza. Na fala de Vautrin, Balzac detalha os valores em dinheiro que Rastignac ganharia se optasse pelo estudo do Direito e uma carreira de advogado, juiz ou procurador, e a renda que teria imediatamente, muitas vezes maior, se se casasse com a herdeira.

Na juventude, o francês Thomas Piketty, nascido em 1971 numa família modesta de Paris (os pais, trotskistas, eram veteranos da revolução de Maio de 1968), se apaixonou pelos romances da Comédia Humana de Balzac e, especialmente, pelo “dilema de Rastignac”. Doutor em economia pela melhor escola superior da França, a École Normale Supérieure, dedicou-se a estudar a distribuição da riqueza ao longo da História moderna. Em 2001, publicou um estudo detalhado da concentração da renda e do capital na França, desde o século XVIII. Graças à Revolução de 1789, que criou a obrigatoriedade do cadastro das propriedades, a França é o país com o mais completo banco de dados sobre a riqueza. Desde então, Piketty, que em 2006 fundou a Escola de Economia de Paris, se juntou ao eminente economista britânico Sir Tony Atkinson, a outro francês, Emmanuel Saez, radicado nos Estados Unidos, ao argentino Facundo Alvaredo e a dezenas de outros economistas de vários países, para criar o website World Top Income Distribution, que coleta e publica todas as séries de dados sobre renda e patrimônio em mais de 20 países.

Para responder à pergunta de como Rastignac resolveria o dilema colocado por Vautrin (estudar ou se casar com uma herdeira, para vencer na vida), em cada fase da história do capitalismo ao longo dos últimos séculos, Piketty partiu para a construção da obra de 1 mil páginas (na edição francesa) que ganharia o título Capital no Século XXI. Além de Balzac, ele usa os romances de Jane Austen, os filmes Titanic e Aristogatas, e outras referências culturais para pintar o quadro mais completo possível de como a distribuição da riqueza estruturou a sociedade na França, na Grã-Bretanha, nos Estados Unidos, na Alemanha, na Suécia e outros países.

Para encontrar sentido na enorme massa de estatísticas reunidas pelo grupo do WTID, Piketty trabalha com equações simples, que ele ajuda o leitor a entender, e uma série de tabelas e gráficos que dão uma visão muito clara da ordem de grandeza da distribuição por faixas de renda e de patrimônio (as duas hierarquias, a da renda proveniente do trabalho, e a do patrimônio acumulado, são analisadas em separado ao longo do livro, e por fim reunidas numa síntese do quadro de desigualdade de riqueza).

Ele constata que a acumulação da riqueza cresce em função da diferença entre a taxa de rendimento anual do capital (historicamente em torno de 4 ou 5%) e a taxa de crescimento anual da economia. A concentração do capital chegou a níveis extremos na Belle Époque, os anos anteriores à Primeira Guerra Mundial. O período das duas guerras mundiais destruiu o capital acumulado e a desigualdade caiu drasticamente. Em seguida, o forte crescimento da economia no que os franceses chamam de Les Trente Glorieuses, os 30 anos de 1950 a 1980, levou ao surgimento de uma vasta classe média, reduzindo ainda mais a desigualdade. Mas desde a revolução conservadora de Thatcher e Reagan, nos anos 80, o rendimento do capital voltou a crescer bem acima do ritmo de crescimento da economia. No século XXI, com a queda da curva demográfica, o crescimento deverá ficar em torno de 1,5% ao ano, enquanto o rendimento do capital manterá ou superará a taxa anual de 4 ou 5%. Resultado automático: uma concentração do capital comparável à da Belle Époque. Caminhamos, nos próximos anos, se nada mudar, para uma distribuição extremamente desigual na qual o 1% mais rico possuirá 70% da riqueza (no momento, segundo Piketty, em escala mundial o 1% possui 50% do capital, e o que ele chama de “as classes populares”, os 50% mais pobres, não possuem praticamente nada). Será muito difícil a democracia sobreviver a uma desigualdade tão extrema.

Piketty, ao contrário do que muitos afirmam (obviamente sem terem lido o livro), não é marxista nem neomarxista, defende o capitalismo e a economia de mercado, e não vê alternativa à globalização da economia. Mas ele aponta para os riscos que a desigualdade crescente acarretará: tensão social, estados mais repressivos, e forças protecionistas (que ele chama de “recuos nacionais”) levando países e regiões a tentarem se isolar da economia global. Ele não chega a especular sobre a possibilidade de novas guerras mundiais, como a de 1918, que resultou em parte da extrema desigualdade da Belle Époque. Mas insiste na urgência de soluções, para obter o “controle do capitalismo pela democracia”.

Uma das saídas, que ele mesmo considera utópica, seria um imposto global sobre o capital, da ordem de 1 ou 2%, que resultaria de uma coordenação entre todos os países e instituições financeiras, pressupondo o fim dos paraísos fiscais. Seria uma forma de reduzir a taxa de rendimento do capital, para que fique mais próxima da taxa de crescimento da economia. Outra ideia é a volta do imposto de renda progressivo de caráter confiscatório (alíquota de 80% para as grandes fortunas) que esteve em vigor nos Estados Unidos entre as décadas de 30 e 80, e não freiou o alto crescimento da época.

Piketty não é dogmático quanto a essas propostas, que ele lança apenas para despertar o debate. Algo tem que ser feito, e essas medidas extremas (mas que, segundo ele, seriam eficazes) servem de balizamento para comparação com outras propostas de controle da acumulação excessiva do capital. O que ele aponta como indispensável é a transparência, no momento inexistente, dos dados sobre a riqueza: para estudar a faixa mais alta, a dos bilionários, só se dispõe dos dados altamente duvidosos da revista Forbes. O debate democrático sobre como enfrentar a crescente desigualdade exige o conhecimento exato da realidade da distribuição da riqueza.

Neste sentido, o Brasil está bastante atrasado. Piketty se diz otimista, e acredita que com a divulgação de suas ideias e a publicação do livro no Brasil, em setembro, a Receita Federal venha a entregar à equipe do WTID a série completa de dados sobre as faixas de renda e de patrimônio no Brasil. Segundo o economista Facundo Alvaredo, encarregado de coletar esses dados, a última publicação completa fornecida pela Receita Federal é de 1989. Há sete anos, Alvaredo solicita formalmente esses dados (anônimos, obviamente) , para que o Brasil possa ser intregrado ao WTID, e sequer obteve resposta. Mas Piketty acredita que isso vai mudar e sua equipe terá acesso às informações brasileiras. Sem o que, nada de definitivo se poderá afirmar sobre a desigualdade da riqueza no Brasil. O resultado das pesquisas domiciliares feitas pelo IBGE, e que mostram uma acentuada queda da desigualdade nos últimos anos, não incluem as faixas mais altas de renda e de patrimônio. Por isso, não servem para o levantamento mundial do WTID. Mais de 20 países, entre eles Argentina, Colômbia e Uruguai, estão no banco de dados porque seus governos liberam essas informações, que o Brasil não fornece. Sem transparência, não há como conhecer a extensão da desigualdade.

O livro de Piketty, muito bem traduzido para o inglês e publicado em abril, tornou-se um hit imediato. Já vendeu mais de 100 mil exemplares de capa dura e está no topo dos mais vendidos da Amazon.com. Piketty foi recebido pelo Secretário do Tesouro em Washington e pelo Conselho Econômico da Casa Branca, lotou auditórios em Nova York, discutindo suas ideias com economistas, e desencadeou uma verdadeira Pikettymania. Apareceu nas principais redes de TV e seu sotaque carregado foi ridicularizado (com simpatia) pelo comediante Steve Colbert. De uma hora para outra, os americanos descobriram, através de um francês, que sua desigualdade de riqueza alcançou níveis estratosféricos, bem mais altos que os da Europa, e cresce sem controle. Em represália, surgiu o que o prêmio Nobel de Economia Paul Krugman chama de “a indústria de negação da desigualdade”.

O jornal britânico Financial Times publicou com grande alarde uma análise do livro de Piketty acusando-o de errar nas contas. Segundo o jornal, pelo menos na Grã-Bretanha a desigualdade teria diminuído em vez de crescer nos últimos anos, o que, afirma, lança dúvidas sobre toda a obra do francês. O artigo teve repercussão enorme. Piketty publicou uma resposta detalhada, na qual mostra que, no caso britânico, o jornal comparou dados históricos obtidos por métodos diferentes – foi como comparar alhos e bugalhos. Mas o economista considera muito positivo esse debate. É exatamente o que ele quer, levantar uma discussão mundial sobre a desigualdade.

por Jorge Pontual

Entre o poder público e o privado

qua, 02/04/14
por rodrigo.bodstein |

 

 

No final dos anos setenta, David Rothkopf tinha dois caminhos pela frente: a imprensa ou a política. Ele tinha acabado o mestrado na Universidade de Columbia, uma das melhores escolas de jornalismo dos Estados Unidos e o país, com Jimmy Carter presidente, estava no rumo político que ele prefere: liberal. Confrontado com a escolha, Rothkopf, seguiu a cartilha do over-achiever: optou… por ambas as coisas.
Na década seguinte, ele se tornou um editor de revistas financeiras em Washington. Teve sucesso, fez contatos valiosos e, na administração Clinton, foi nomeado sub-secretário de Comércio, encarregado da balança internacional.

Rothkopf é um intelecto sólido e tem um texto claro, soma valiosa. Ele se sente à vontade no campo de assessoria estratégica, que exige informação de proprietário, contatos de político, discurso de marqueteiro e diplomacia de cardeal. Durante anos, ele usou essas habilidades na Kissinger Associates, uma das mais requisitadas companhias de assessoria de Washington. Hoje, Rothkopf tem a sua própria companhia, a Garten Rothkopf, que analisa tendencias em energia, segurança e mercados para clientes exigentes e dispostos a pagar bem.  Ele não abandonou o jornalismo. É o editor da Foreign Policy Magazine, uma publicação sobre relações internacionais respeitada em Washington, posição dificil de manter, já que a cidade tem centenas de publicações de primeira linha.

Apesar da experiência e da capacidade intelectual que tem, Rothkopf não é um entrevistado dificil, daqueles que demoram para tirar o ego do caminho das respostas. Falando sobre o livro Power Inc., ele se refere ao crescimento do poder empresarial em termos claros, simples, como quem descreve as mudanças climáticas de um período geológico. Há uma certa tranquilidade na conversa, porque Rothkopf nunca perde a confiança na capacidade humana de buscar soluções para o quebra-cabeças complexo que é a sociedade. Mesmo que as soluções sejam necessárias porque o quebra cabeças é bagunçado… pela capacidade humana de bagunçar.

por Luis Fernando Silva Pinto

Bauman e as ruas

qua, 24/07/13
por Equipe Milênio |

 

entrevista exibida em 16.01.2012

 

Manifestações explodem pelas ruas de várias cidades no mundo, com uma mistura de causas e reivindicações nos gritos de protesto. Incluem do trivial custo da passagem de ônibus no Brasil à revolucionária derrubada de governos no mundo árabe. Alcança do desemprego na Europa em recessão aos abusos do sistema financeiro em Wall Street. Em comum, exala das ruas uma insatisfação generalizada com a sociedade moderna, globalizada, altamente competitiva, de pouca solidariedade e uma reverência quase religiosa ao consumo como fórmula mágica de se obter felicidade.

Na fluidez dessa sociedade de consumo, não se valoriza o permanente, mas o temporário. Nada é sólido ou conserva a forma por muito tempo. Tudo em mudança, vive-se inconstância, o que provoca insegurança e medo. Até as relações pessoais geram perplexidade, sofrem de fluidez. Assim se caracteriza a “modernidade líquida”, na definição do veterano sociólogo Zygmunt Bauman, beirando seus 90 anos, prolixo na produção de artigos, conferências e livros. Suas obras correm mundo, inclusive o Brasil, onde tem uma dúzia de livros publicados e bem vendidos. Bauman sobreviveu ao nazismo em sua Polônia natal, onde caiu em seguida sob jugo do comunismo, até que, 40 anos atrás, ele escapou para o Reino Unido e passou a ensinar Sociologia na Universidade de Leeds, onde ocupa hoje uma cadeira de Professor Emérito.

 

por Silio Boccanera

O local da globalização

sex, 19/04/13
por rodrigo.bodstein |

 

No próximo Milênio, A relação entre o nacional e o global. Leila Sterenberg entrevista a socióloga Saskia Sassen. Segunda-feira, às 23h30, no Milênio.  

O que uma calça jeans, as peças de um Boeing e o seu celular têm em comum? Todos eles passaram por inúmeros países antes de chegar no mercado-alvo. Fazem parte de uma cadeia de produção que transcende fronteiras, cria dinâmicas próprias e movimenta milhares de navios, aviões e pessoas a cada dia. Assim como no mercado financeiro, os fluxos do comércio internacional parecem funcionar em um tempo quase instantâneo e estão em constante adaptação. Um perpetuum mobile econômico.

À primeira vista, o global parece estar além do nacional. Para o indivíduo fora desses fluxos, o poder das empresas transnacionais e o ritmo quase frenético do mundo globalizado parece estar engolindo as cidades e os países como um tsunami neoliberal. Competitividade, realocação de empregos, migração de mão de obra especializada, tudo parece caminhar para essa força que paira sobre o antigo mapa mundi dividido em fronteiras e estabelece novas relações entre os espaços.

Se olharmos com mais cuidado, porém, acreditar na supremacia e no determinismo da subjugação das nações ao poder global pode ser algo ingênuo. Como lembra a socióloga Saskia Sassen, “o global é feito dentro do nacional.” Para tudo isso existir, governos precisam aprovar os padrões e as regras que vão determinar a importância e a capacidade de determinados locais para lidar com esses movimentos supranacionais. Os motivos e a direção da globalização começam dentro das próprias fronteiras que tentam ultrapassar.

As escolhas que foram feitas para construir essas vias globais hoje, aparentemente, precisam ser repensadas. Milhões de pessoas desalojadas por hipotecas nos Estados Unidos, o custo social da crise do Euro é está cada dia maior – uma rápida busca por Grécia, Itália, Espanha, Portugal e Chipre na internet pode dar uma dimensão do problema –, é como se as regras de exclusão do sistema estivessem sendo redefinidas e o poder ganhasse desdrobamentos mais sutis.

No próximo Milênio, Saskia Sassen nos fornece uma maneira de enxergar a relação entre o global e o local que coloca o Estado liberal, os centros urbanos e os territórios no centro da análise e oferece instrumentos para pensarmos criticamente os rumos da globalização. Segunda-feira, às 23h30, na Globo News.

por Rodrigo Bodstein

Simples e direto

qua, 03/04/13
por Equipe Milênio |

 

 

 Imagine uma instituição de ensino por onde passaram quase todos os presidentes, além de boa parte dos ministros do seu país nas últimas décadas. Se você vive no Brasil, acho que não é exagero dizer que só pode imaginar mesmo. Não temos uma instituição especializada em formar quadros do primeiro escalão da estrutura do Estado. Mas a França tem. E essa instituição de ensino de elite, é o Instituto de Estudos Políticos de Paris , herdeiro direto da Escola Livre de Ciências Políticas, em francês École Libre des Sciences Politiques, daí o diminutivo pela qual é conhecida, SciencesPo. E para dar uma idéia da importância dessa grife do ensino superior, basta dizer que o atual presidente, François Hollande, o antecessor dele, Nicolas Sarkozy e os ex-presidentes Jacques Chirac e François Mitterrand passaram pela Sciences Po.

Tudo isso só reforça a importância de ouvir com atenção o que tem a dizer sobre a França de hoje um dos responsáveis pelos rumos das aulas e das pesquisas dessa instituição de excelência. No caso, o historiador Jean-François Sirinelli, diretor do departamento de história. E, apesar de toda a carga cultural que carrega, o professor não poderia ser mais simples e direto. Na entrevista gravada no teatro da Aliança Francesa de Botafogo, na Zona Sul do Rio, o que primeiro chamou atenção foi o “bronze”. O professor é um apaixonado por praia e pelas praias do Rio, onde passou alguns dias em visita recente, com uma agenda cheia de compromissos. Mesmo sem abrir mão do paletó e da gravata , ele deixou de lado qualquer traço academicista para ajudar a audiência brasileira a entender um pouco melhor este país.

Se é verdade que em diversos momentos o professor Sirinelli adotou um tom que beira o diplomático, sem abrir espaços para críticas mais profundas, também é verdade que ele não fugiu de temas delicados, como o racismo e as relações com os imigrantes, o fim do sonho de prosperidade francês e os rumos da Europa. E deu muitas informações esclarecedoras sobre a encruzilhada social, política e sobretudo econômica em que se encontra a França e também sobre a nova face, multicultural e multiétnica do país, que ganhou novas cores e matizes, culturais e religiosos. Tudo isso , num tom de conversa que em nada lembrava a proverbial ranzinzice dos franceses.

por Marcelo Lins

Uma potência em ascensão

sex, 22/02/13
por rodrigo.bodstein |

 

No próximo Milênio, William Waack entrevista Dmitri Medvedev. O primeiro-ministro russo concedeu entrevista em Brasíla, durante visita oficial. Saiba o que pensa um dos principais homens na busca por devolver para a Rússia o papel de protagonista no cenário internacional. Segunda-feira, 23h30, na Globo News.

Ivan Nazarov teve sua prisão por fraude e suborno considerada ilegal, mesmo com ele admitindo a culpa e confirmando todas as contravenções. A razão: a condenação do dono de cassino levaria à prisão daqueles que seriam responsáveis por prendê-lo. Uma história que parece enredo de filme foi notícia no Financial Times no início de fevereiro.

De 176 países, a Rússia ficou com o 133º lugar no ranking sobre corrupção da Transparência Internacional, mas o país se esforça para melhorar. Vladimir Putin, quando assumiu o governo em 2000, atacou duramente a corrupção no lado empresarial, mas não conseguiu atingir a parte judicial e de polícia. Medvedev formou o comitê anti-corrupção para combater a prática dentro do governo, pouco antes de deixar a presidência e assumir o cargo de primeiro-ministro.

O desafio é colocar uma das principais economias emergentes do mundo nos trilhos. Segundo reportagem do Global Times, cerca de metade do orçamento do governo russo foi alvo de algum tipo de desvio, um terço dos gastos militares foi para as mãos erradas e 30% dos gastos das empresas se destinaram a subornos. Ainda assim, o país é a 11ª economia mundial, teve um crescimento do PIB de 3,6% em média, possui abundância de petróleo, gás, carvão e minerais preciosos e fornece armamentos para oitenta e oito países – inclusive o Brasil, que, recentemente, começou a negociar a compra de um sistema de defesa antiaéreo. Na visão do Banco Mundial, o baixo nível de desemprego, aliado ao consumo, vão contribuir para um bom desempenho econômico em 2013.

Na política, a Rússia não tem a mesma influência da antiga União Soviética, mas sua voz tem peso. Membro do Conselho de Segurança, se opôs sistematicamente a sanções ou intervenções no conflito Sírio e, na última quarta-feira, dia 20, firmou posição contra a solução militar para a Síria e que há sinais para um diálogo. O maior país do planeta e fornecedor de energia para a Europa também tem se voltado para a Ásia, com seus gasodutos e oleodutos passando pela fronteira chinesa e indo a caminho do Japão.

Império, depois superpotência e, hoje, economia emergente, por mais que tenha se transformado e esteja distante do Brasil, a Rússia é um país que não pode ser ignorado e que ainda tem influência para afetar o tabuleiro da política internacional. Na próxima segunda-feira, saiba o que um dos principais homens à frente do maior país do mundo tem a dizer. Durante visita ao Brasil, Dmitri Medvedev concedeu entrevista ao repórter William Waack. Dia 25/02, às 23h30, no Milênio.

 

por Rodrigo Bodstein

A geopolítica da cultura

sex, 11/01/13
por rodrigo.bodstein |
categoria Programas

 

Na próxima segunda-feira, a geopolítica da cultura. O jornalista e sociólogo Fréderic Martel fala ao Milênio sobre a guerra mundial pelo conteúdo nos meios de comunicação. 23h30, na Globo News

 

Entre todos os conflitos, seja na Síria, no Congo, no Mali, ou em qualquer outro lugar, um talvez esteja mais próximo de nós do que imaginamos. A guerra pela cultura e pelos conteúdos nos meios de comunicação está em nossas casas, no que lemos, no que assistimos e, até mesmo, no que vestimos e falamos. De um lado, temos a hegemonia cultural norteamericana, construída ao longo deste século, que exporta formatos televisivos, filmes, livros, música, todo um pacote que pode ser moldado para o mundo ou para nichos específicos. Do outro, blocos regionais que tentam ganhar espaço e, ao mesmo tempo, reforçar alguns traços da cultura local.

A disputa por influência e pelo público, que mobiliza indústrias, governos e microempresas, criou o que o sociólogo e jornalista francês Frédéric Martel chama, em seu livro Mainstream, de “capitalismo hip”, ou seja, “um capitalismo cultural global muito concentrado, muito descentralizado, ao mesmo tempo força criadora e destruidora.” Concentrado pela hegemonia, descentralizado pelas redes de produção que se formaram e não mais dependem do espaço, força criadora pelo volume de produtos e pelo discurso que promove e destruidora por silenciar também outras formas de cultura.

A propaganda americana e a indústria de Hollywood não são elementos novos para a geopolítica mundial. Desde a criação do Office for Commercial and Cultural Relations between the American Republics, em 1940, depois rebatizado de Office for Inter-American Affairs, em 1945, que os Estados Unidos desenvolvem a capacidade de produzir e de vender, em mercados distintos, conteúdo que misture e incorpore aspectos locais em um produto que seria supostamente global, mas essencialmente norteamericano. Essa prática, iniciada na política de Boa Vizinhança, desenvolveu, segundo Martel, uma “diversidade padronizada” em que “as palavras são em hindi ou mandarim, mas a sintaxe é americana.” e que, hoje, faz circular bilhões de dólares.

O que é interessante na análise do sociólogo francês não é que exista uma dominação norteamericana, mas apenas uma predominância. A emergência de outros atores, como a Al-Jazeera, a indústria de Bollywood, entre outros, reflete o que vimos acontecer na economia e na política. Pouco a pouco, atores regionais ganharam força e, o que antes era um contexto de unipolaridade, liderado pelos Estados Unidos, hoje é um ambiente multipolar e com relações complexas em diferentes níveis e, como ele escreve, “a diversidade cultural transforma-se na ideologia da globalização”. O trabalho de Martel nos lembra que cada ato nosso é um ato político. Cada ingresso que compramos, cada programa que assistimos ou livro que lemos está imbuído de uma história e que, por estarmos inseridos no meio desta batalha silenciosa, nossas escolhas influenciam o discurso e a cultura que queremos em nossas vidas. Não perca a entrevista que Silio Boccanera fez com Frédéric Martel no Milênio da próxima segunda-feira, 14/01, na Globo News.

por Rodrigo Bodstein

Duas gerações tentando compreender a desigualdade

qui, 18/10/12
por Equipe Milênio |

 

 

Quando se esbarra em alguém de sobrenome famoso por causa de um parente com a mesma profissão, boas maneiras recomendam não fazer comparações e até evitar menções ao outro. E assim fizemos no encontro com James Galbraith, um economista filho de um dos mais famosos economistas do século XX. Resisti até a relatar ao filho uma história nada comprometedora, mas que envolvia o nome do pai: John Kenneth Galbraith me arruinou uma peça de teatro em Londres. Isso ocorreu pelo simples fato de John sentar-se exatamente à minha frente na plateia, com seus mais de 2 metros de altura. Por mais que eu entortasse o pescoço para ver o palco pelo lado, a movimentação da enorme figura à frente criava uma cortina impenetrável.

Quase bastou para destruir minha admiração pelo velho, que vinha desde os tempos da faculdade de Economia, quando ainda não tinham despontados estrelas com visão semelhante, como Paul Krugman e Joseph Stiglitz, contestadores do endeusamento do mercado light, sem regulamentação vigorosa pelo estado. E quando muitos ainda preferiam rezar pelo oráculo de Karl Marx e suas propostas de abolição completa do mercado. Galbraith pai e filho defendem um capitalismo regulamentado e atento aos abusos de minorias, que em nome de uma suposta liberdade das forças econômicas, acabam permitindo a criação de privilégios para uns poucos, apertos para muitos. E acham que nada é mais natural, chegando a sugerir que criticar o topo dessa pirâmide constitui “política de inveja”.

O pai combatia Milton Friedman e o monetarismo promovido pela Universidade de Chicago, com alcance mundial, inclusive no Chile do regime militar e no Reino Unido de Margaret Thatcher. O filho resiste às receitas do neoliberalismo que vê no estado o pecador supremo quando tenta interferir na economia, melhor deixada – dizem seus defensores – só nas mãos do setor privado, que ao competir por seus interesses produziriam o bem comum. Só que alguns acabam muito “mais comuns” do que outros, denuncia James, porque tiram vantagens de regras pouco rigorosas. Dessa falta de um estado atento aos excessos do mercado livre surgem as crises econômicas como a atual, aponta ele, enquanto denuncia uma consequência grave que motiva suas pesquisas: a desigualdade social.

James dirige um Projeto de Desigualdade, na Universidade do Texas, onde sua equipe desenvolveu um índice amplo para medir essa condição, em troca do padrão que vem sendo utilizado com mais frequência, o Gini, criado há muitos anos por um italiano.
Nos dois índices, Brasil e Estados Unidos têm nota baixa. Mas enquanto as diferenças no Brasil caminham na direção de mais equilíbrio (ainda é longo o caminho a percorrer), nos Estados Unidos elas marcham em direção oposta, para mais desigualdade e irritação de James.

por Silio Boccanera

A desigualdade é necessária?

sex, 12/10/12
por rodrigo.bodstein |
categoria Programas

 

No próximo Milênio, uma análise sobre a desigualdade de renda na sociedade contemporânea. Silio Boccanera entrevista o economista James Galbraith para o Milênio. Segunda-feira, 23h30, na Globo News.

 

Em um mundo com culturas e paisagens tão distintas, a desigualdade talvez seja uma das poucas coisas que podem ser consideradas universais. Em todo o planeta, o contraste é evidente. De um lado, milhões de pessoas vivem abaixo da linha de pobreza, precisam andar quilômetros para conseguir um pouco de água potável e trabalham dezesseis horas para ganhar alguns trocados e manter a oferta de produtos a preços competitivos para mercados distantes. Enquanto isso, do outro lado, estão aqueles que podem consumir, que dispõem de tempo para si e que usufruem dos benefícios da tecnologia e infraestrutura modernas.

Pensar esses desequilíbrios é uma questão de justiça e, além disso, é indispensável para o bom funcionamento da sociedade. James Galbraith, economista de Harvard, faz comparação com a pressão sanguínea e afirma que “quanto mais alta a desigualdade em determinado país, maiores as chances de você ter problemas” mas, ainda assim, “é um elemento indispensável para a motivação dos indivíduos e para estabelecer recompensas diferenciadas.” O desafio está em como manter o equilíbrio entre a distância que separa os mais ricos dos mais pobres.

O Brasil, embora, desde 2001, tenha promovido políticas eficazes no combate à pobreza, permanece entre os países mais desiguais do mundo com mais de 16 milhões de pessoas abaixo da linha de pobreza. Falta de acesso a educação de qualidade, política fiscal injusta, baixos salários, problemas de acesso a serviços básicos e concentração de renda são apenas alguns dos obstáculos que o país enfrenta. A sexta economia do planeta ainda não encontrou um caminho para equacionar o bem-estar da população e a necessidade de fechar o ano com bons números para o mercado.

Nos Estados Unidos, a situação vem se deteriorando nos últimos trinta anos. Segundo Galbraith, “o setor bancário nos Estados Unidos, chegou a pagar cerca de 10% de todos os salários e ganhou aproximadamente 40% de todos os lucros corporativos”. Além disso, Joseph Stiglitz, recentemente, estimou que, na última década, 90% do aumento da renda ficou entre os 1% mais ricos, o que reduziu a circulação de dinheiro na economia e dificultou a recuperação do país.

O Milênio desta semana oferece uma reflexão sobre a desigualdade de renda na sociedade. Qual é a relação entre desigualdade e pobreza? Como lidar com essa questão em um contexto de crise? Qual é a perspectiva de mobilidade social na economia contemporânea? Não perca a entrevista que Silio Boccanera fez com o economista James Galbraith na próxima segunda-feira, 23h30, na Globo News.
 
por Rodrigo Bodstein

Duas vezes Hobsbawm

qua, 03/10/12
por Equipe Milênio |

 

Como é de praxe, toda quarta-feira publicamos em nosso Blog o vídeo com um texto do repórter. Desta vez, vai ser um pouco diferente. Em vez de um texto de bastidores, vamos usar esse espaço para colocar as duas entrevistas que temos em nosso acervo com Eric Hobsbawm. A primeira, feita por William Waack, em 1997, foi voltada para a visão que Hobsbawm tinha sobre a história e sobre o papel do historiador, mas também sobre o que ele achava que aconteceria com o Brasil e a situação do Estado de Bem-Estar Social, no ápice do neoliberalismo. A segunda, exibida em 09/09/2002 e feita por Silio Boccanera, mostra um pensador que olha um mundo diferente. Um ano depois dos ataques de 11 de setembro, o contexto era de crítica ao livre mercado – depois de uma década de crises financeiras sucessivas -, de um Terceiro Mundo que ganhava cada vez mais espaço e de uma política americana mais beligerante. Veja, abaixo, dois momentos de um dos maiores historiadores do século XX.

 

09/09/2002 – Silio Boccanera e Eric Hobsbawm:

 

16/02/1997 – William Waack e Eric Hobsbawm:



Formulário de Busca


2000-2015 globo.com Todos os direitos reservados. Política de privacidade