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Lembranças de Aleppo

qua, 01/05/13
por rodrigo.bodstein |

 

Nesta semana, excepcionalmente, o texto não será de autoria de Jorge Pontual. Quem assina é Renée Castelo Branco, editora experiente que ficou à frente do programa Sem Fronteiras durante anos e que tem interesse especial pela Síria e pelo Oriente Médio.  Abaixo, o programa com Malek Jandali sobre a música e a história do povo sírio:

 

 

Fecho os olhos a pedido de Malek Jandali. Ele conversa com o correspondente Jorge Pontual, diante de um piano Steinway. Músico e compositor de família síria, Malek Jandali vai tocar “Ecos de Ugarit”. A música nos remete a 3.400 A.C., baseada no que parece ser a primeira música transcrita para uma partitura, gravada em tablitas encontradas numa antiga cidade síria. Na escuridão, revejo o anfiteatro a céu aberto em plena citadela, em Aleppo. Abdel, um dos guias mais velhos da cidade, me fala do amor dos sírios pela música e dos festivais de jazz que ocorrem ali nos meses da primavera. À noite, à luz das estrelas.

Era inverno, então. Frio, sol ameno num céu luminoso. Na Tunísia, uma outra Primavera, a Árabe, iria em poucos dias derrubar o ditador Ben Ali. Mas lá, o regime parecia tranqüilo, conduzindo um processo de abertura econômica que aos poucos trazia também alguma abertura política. Num sistema tão fechado quando o da Síria, pequenos movimentos repercutem demais. A fronteira com a Turquia acabara de ser aberta para incentivar o comércio. Era janeiro de 2011. Por isto, a população passou também a ter acesso pela TV a cabo, aos canais da TV turca. Até pouco tempo, impensável. Os costumes mais liberais da sociedade vizinha invadiam as casas embalados em novelas e filmes ocidentais. Uma reação imediata muito comentada, então, a nova tendência dos jovens a querer desfazer casamentos.

Havia esperança acompanhada de tensão. A iniciativa privada podia agora atuar no setor financeiro e nas universidades. Capital saudita enriquecia o país. A Síria queria fazer parte de um mercado comum dos países do Oriente Médio, que pretendia em bloco comercializar com a União Européia. Os preços dos combustíveis tinham portanto que ser atualizados para se equiparar ao dos vizinhos. Isso começava a provocar uma carestia. Medidas modernizantes também começavam a provocar desemprego. Além deste combustível para o descontentamento popular aflorar, a corrupção incomodava os sírios. Foi assim, que num protesto contra arbitrariedades de um prefeito local, começou o movimento democrático na Síria, que descambou para a guerra.

Claro que o email e os telefones de sua agência de turismo de um homem só não valiam mais. Procurei por ele no hotel onde tinha me hospedado. O Mandaloun. Um lugar simpático, com um pátio interno, como quase todas as construções na Síria, com pé direito alto, uma fonte e tranqüilidade para um chá. Ninguém sabia dele, talvez tivesse ido para a Turquia. Mas prometeram procurá-lo e finalmente consigo contato com ele. Reproduzo para vocês o que ele me respondeu por email, num inglês muito curioso:

“Bom dia,  de Aleppo. Estamos bem, em Aleppo, não 100%, mas estamos vivendo. Em primeiro lugar; nunca diga Primavera Árabe. “Merda delli arabi”. não foi do céu. Primavera, outono, verão, veem do céu. Ok? Mas o que aconteceu na Tunísia, Líbia, Egito e Síria vem do diabo. Vem de satã. Vamos falar da Síria. A Síria era um paraíso. tínhamos o país mais rico e o mais barato. … e agora? A Síria está destruída, a história roubada especialmente no norte em torno de Aleppo. Todos os monumentos foram roubados e levados para a Turquia. Nossas cidades pequenas estão cheias de estrangeiros de todas as partes do mundo. Paquistão, Afeganistão, Europa e outros países. Eles têm barbas muito compridas como as pessoas de 1800 antes de Cristo. São contra todo mundo que não está com eles. Estão ensinando um novo islã. E como matar e como roubar tudo das casas e das mesquitas  e das igrejas. dois dias atrás, destruíram parte da sinagoga mais antiga de todo mundo perto de Damasco, na cidadezinha de Jobar. Quebraram todos os ícones, manuscritos e muito mais … A Mesquita Oamayad, em Aleppo. A mesquita Omayad em Aleppo. Os mercados, os hotéis velhos dentro dos mercados. Estamos com muito medo estas pessoas, eles são milhares e milhares vindos das imensas fronteiras abertas com a Turquia e o Líbano e a Jordânia. Abdel”

É assim que Abdel se sente, ao contrário de nosso entrevistado, que não mora na Síria, e está muito mais otimista. É certo que não é assim que pensam os jovens, ávidos por mudança. Abdel é um velho senhor, mas foi por intermédio dele que conheci a música de Malek Jandali.

por Renée Castelo Branco

Simples e direto

qua, 03/04/13
por Equipe Milênio |

 

 

 Imagine uma instituição de ensino por onde passaram quase todos os presidentes, além de boa parte dos ministros do seu país nas últimas décadas. Se você vive no Brasil, acho que não é exagero dizer que só pode imaginar mesmo. Não temos uma instituição especializada em formar quadros do primeiro escalão da estrutura do Estado. Mas a França tem. E essa instituição de ensino de elite, é o Instituto de Estudos Políticos de Paris , herdeiro direto da Escola Livre de Ciências Políticas, em francês École Libre des Sciences Politiques, daí o diminutivo pela qual é conhecida, SciencesPo. E para dar uma idéia da importância dessa grife do ensino superior, basta dizer que o atual presidente, François Hollande, o antecessor dele, Nicolas Sarkozy e os ex-presidentes Jacques Chirac e François Mitterrand passaram pela Sciences Po.

Tudo isso só reforça a importância de ouvir com atenção o que tem a dizer sobre a França de hoje um dos responsáveis pelos rumos das aulas e das pesquisas dessa instituição de excelência. No caso, o historiador Jean-François Sirinelli, diretor do departamento de história. E, apesar de toda a carga cultural que carrega, o professor não poderia ser mais simples e direto. Na entrevista gravada no teatro da Aliança Francesa de Botafogo, na Zona Sul do Rio, o que primeiro chamou atenção foi o “bronze”. O professor é um apaixonado por praia e pelas praias do Rio, onde passou alguns dias em visita recente, com uma agenda cheia de compromissos. Mesmo sem abrir mão do paletó e da gravata , ele deixou de lado qualquer traço academicista para ajudar a audiência brasileira a entender um pouco melhor este país.

Se é verdade que em diversos momentos o professor Sirinelli adotou um tom que beira o diplomático, sem abrir espaços para críticas mais profundas, também é verdade que ele não fugiu de temas delicados, como o racismo e as relações com os imigrantes, o fim do sonho de prosperidade francês e os rumos da Europa. E deu muitas informações esclarecedoras sobre a encruzilhada social, política e sobretudo econômica em que se encontra a França e também sobre a nova face, multicultural e multiétnica do país, que ganhou novas cores e matizes, culturais e religiosos. Tudo isso , num tom de conversa que em nada lembrava a proverbial ranzinzice dos franceses.

por Marcelo Lins

Entre a lei divina e a dos homens

sex, 15/03/13
por rodrigo.bodstein |
categoria Programas

 

No próximo Milênio, uma perspectiva histórica sobre o Irã. Marcelo Lins entrevista o intelectual iraniano Touraj Atabaki sobre os processos que moldaram o país nas últimas décadas. Segunda-feira, às 23h30, na Globo News. 
 

O desafio de estabelecer regras para a boa convivência e para o bem comum é algo que acompanha a humanidade desde o início. Em todas as tentativas de organização social há uma busca por distinguir o certo do errado, obrigações individuais e coletivas e, enfim, o padrão de comportamento que cada grupo estabelece como seu. Junto a isso, uma série de valores, tradições, religiões, leis e culturas surgiram e proporcionaram experiências históricas diferentes.

Ao determinar as regras do jogo, define-se também quem faz parte do tabuleiro, o que é justo ou injusto e são formadas as relações de poder que vão moldar as tensões daquela sociedade. Na busca por resolver essas  questões, o embate entre a lei natural – definida pelos deuses em alguns casos – e a lei dos homens, ou direito positivo, perpassou a história.

Sófocles – um dos mais importantes dramaturgos da Grécia Antiga – explorou esse conflito na tragédia de Antígona. Na peça, o rei Creonte determina que um dos irmãos de Antígona fosse jogado aos abutres – algo impensável para a tradição grega, que pedia um sepultamento apropriado para que a alma fizesse a travessia – e ela decide desafiar a ordem do rei. Na visão dos Gregos, não se podia enfrentar os deuses sem sair impune e Creonte acaba perdendo toda sua família.

Milhares de anos depois, a escolha entre as leis naturais e positivas continua. Enquanto alguns países priorizam o direito no âmbito do Estado, outros escolheram – como no caso dos países muçulmanos – resolver suas disputas com base na lei antiga. No Irã, a Revolução de 1979, liderada por aiatolá Khomeini e com grande apoio popular, derrubou o governo ocidentalizado do Xá Reza Pahlevi e decidiu que o caminho era retomar a lei natural e islamizar a política, mas, segundo o historiador Touraj Atabaki, o resultado foi uma politização do Islã e, curiosamente, um distanciamento entre as pessoas e a religião.

O Irã tem uma cultura tão antiga e rica quanto a grega, mas, recentemente, nos acostumamos a ver um Irã às vezes agressivo e, quase sempre, em discussões sobre o destino do seu programa nuclear. Este ano pode ser um ano crucial para o país de Ahmadinejad. Em junho, ocorrerão eleições presidenciais – que, em 2009, despertaram protestos e conflitos com a oposição -, além disso a saúde do aiatolá Khamenei pode levar a uma disputa interna feroz pelo poder e influenciar a relação do país com o mundo. Por último, a crise nuclear está próxima de seu ponto crítico.

Compreender o Irã e ter uma perspectiva histórica sobre os processos que moldaram o país nas últimas décadas torna-se imprescindível. Para isso, o Milênio de segunda-feira conversa com o acadêmico iraniano Touraj Atabaki, professor do departamento de História da Universidade de Amsterdã e pesquisador do Instituto Internacional de História Social. Segunda-feira, 18 de março, às 23h30, no Milênio.

 
por Rodrigo Bodstein 

 

Um visionário com os pés no chão

qua, 20/02/13
por Equipe Milênio |

 

 

Angels in America” é um obra-prima. Na peça de Tony Kushner, em duas partes (Millennium Approaches e Perestroika, num total de 7 horas) adaptada para o cinema (disponível em DVD) sob a direção de Mike Nichols, com Al Pacino e Meryl Streep, e que continua a ser encenada mundo a fora (no Brasil, em 1995), o teatro de Bertold Brecht e o de Tennessee Williams se casam para gerar algo novo, o que o autor descreve como uma fantasia homossexual sobre temas políticos. Os personagens traem uns aos outros e traem a si mesmos, mas resgatam sua própria humanidade em meio à crise da AIDS.

Lincoln“, quer ganhe ou não o Oscar, é também uma obra-prima. O diretor Steven Spielberg usou o roteiro de Tony Kushner para criar algo novo, um filme nos melhores padrões do cinema espetáculo de Hollywood, mas com uma abordagem brechtiana, que subverte a mitologia em torno de Abraham Lincoln para revelar a realidade do político que suja as mãos para garantir o fim da escravidão.

Confesso que além de ter Angels in America como uma das peças que me tocaram mais fundo, tenho um amor imenso por Brecht, e me deixa muito feliz ver em Tony Kushner um Brecht do nosso tempo, um artista que olha os dramas do momento com as lentes da História, um visionário com os pés no chão, materialista e dialético. Como é bom saber que esses termos que pareciam tão vitais quando eu era jovem, e que andaram por tanto tempo desacreditados e traídos, estão de volta, revigorados, na obra de um escritor que alcança o grande público e inspira os jovens.

Para entrevistar Tony Kushner reli Angels, revi o filme de Mike Nichols, e li outras peças dele, Homebody/Kabul, Calorine or Change, A Dibbuk, The Intelligent Homosexual’s Guide to Capitalism and Socialism with a Key to the Scriptures, A Bright Room Called Day, e Slavs. Li as excelentes traduções que ele fez de Brecht: Mother Courage (vi a montagem com Meryl Streep) e The Good Person of Szechuan. E vi os documentários Theatre of War e Wrestling with Angels. Li também livros de ensaios e entrevistas de Kushner. E isso foi só uma fração do que ele produziu nos últimos 25 anos, quando se tornou uma presença constante e prolixa no universo intelectual e artístico dos Estados Unidos. Uma entrevista de 23 minutos é muito pouco para refletir sequer um milésimo de tanta criatividade. Mas espero conseguir que quem assistir sinta o mesmo prazer e entusiasmo que eu tive ao trocar idéias com Tony Kushner.

por Jorge Pontual

Um porto de ideias

sex, 15/02/13
por Equipe Milênio |

 

 

 

O plano era ir até o cais do porto, coração do Festival do Rio, um dos grandes acontecimentos, talvez o maior, da cidade. Lá, num dos imensos armazéns de frente para o mar, as mercadorias não são mais fardos, sacos e contêineres. Deram lugar a idéias e imagens. E nesse contexto, o objetivo era encontrar um dos expoentes do cinema de Israel atual, o diretor Eran Riklis. Instigante e bem-humorado na obra e carrancudo na imagem. Pelo que eu conhecia de filmes dele como “Noiva síria” , “Lemon tree” e “A missão do gerente de recursos humanos” e das entrevistas pescada pela internet, achei as definições razoavelmente adequadas, era como eu via o homem. Ao encontrar o sorridente careca, mais para o rechonchudo e com cara de bonachão, logo vi que “carrancudo”  não se aplicava. Riklis foi uma simpatia do início ao fim do nosso papo. E pude, aí sim, reparar em outra característica evidente: a veemência e assertividade na defesa de um certo tipo de cinema, no caso o dele. Autoral, por vezes ácido, político, sem medo de meter o dedo em feridas várias.

O diretor israelense aparenta bem menos do que os 58 anos que tem e demonstra ser apaixonado pelo que faz. E o que faz é levantar grandes questões, do Oriente Médio, do ser humano, da fraternidade, do amor, a partir de histórias de pessoas. Do micro ao macro, na ótica de um cidadão de Israel que viveu em vários países mas mantém Tel-Aviv como base, lutou na Guerra do Yom Kippur. Um quase sessentão que tem esperança em soluções para questões delicadas, como a relação com os palestinos e o mundo árabe, e que entre muitas dúvidas, tem pelo menos uma grande certeza: não devemos nos levar sério demais.

Estava lá na biografia do Riklis “viveu alguns anos no Rio de Janeiro..”. E ele confirma, foram três esses anos, na virada dos anos 60 para os 70, com o Brasil em plena ditadura militar e o mundo de olho na Guerra do Vietnã. Ele é, com orgulho, ex-aluno de uma excelente professora de literatura da Escola Americana, estabelecimento caro que reúne filhos da elite carioca e de diversas comunidades estrangeiras na cidade. E diz que ali, no convívio com essa mistura, ao lado da Favela da Rocinha, foi se formando o cineasta que ele se tornou. Além dessa informação fundamental, daquela época sobraram algumas palavras arranhadas num português carregado de sotaque e a mudança de uma percepção: Riklis disse que na juventude o Rio, o Brasil, parecia um lugar bom, que tinha tudo para ser excelente e dá a entender que hoje, há avanços importantes. A impressão sobre o conturbado Oriente Médio confirma um otimismo esperançoso. O isralense acha que com algum entendimento, a região pode bombar. E não no sentido bélico.

Na tarde calorenta do cais do porto, Eran Riklis, que teve formação cinematográfica na Inglaterra, diz que acha seu cinema mais parecido com o que se faz na França. Lembra que a discussão política está no centro da atividade cultural, mas não rejeita fazer uma superprodução hollywoodiana. E encerra o papo enaltecendo a importância do humor, mesmo quando se fala de coisa séria.

 por Marcelo Lins

A dimensão humana do conflito

sex, 08/02/13
por rodrigo.bodstein |

 

Na próxima segunda-feira, Marcelo Lins entrevista o cineasta israelense Eran Riklis que, em seus filmes, promove um olhar que estimula a reflexão e o diálogo sem perder a profundidade da dimensão humana das tensões políticas no Oriente Médio. Dia 11 de fevereiro, às 23h30, na Globo News.

 

As notícias que chegam do Oriente Médio, em geral, mostram uma região dividida e, quase sempre, a um fio de um conflito. Pouco antes de ser reeleito, em janeiro, Benjamin Netanyahu determinou a retomada da construção dos assentamentos em Jerusalém Oriental  e na Cisjordânia. Essa medida compromete o estabelecimento de um Estado Palestino contíguo e veio acompanhada de um corte nas transferências de recursos à Autoridade Palestina e de um protesto das Nações Unidas.

Esse foi apenas mais um capítulo da difícil convivência entre israelenses e palestinos em um território do tamanho do estado de Sergipe. As dimensões pequenas e a proximidade com países que não necessariamente querem a existência de Israel foram argumentos usados para a postura de constante defesa e militarização da relação com os vizinhos. A sobrevivência, normalmente, é um argumento aceito e útil na política.

Pouco tempo depois de retomar os assentamentos, um ataque aéreo preemptivo israelense contra um centro de pesquisa militar no território Sírio, levou a ameaças de retaliação por parte do Irã e da Síria, o que torna ainda mais presente o risco do conflito se alastrar pela região. E, após três anos de pesquisa, foi divulgado esta semana um estudo mostrando que a divisão chega até mesmo aos livros escolares. Israelenses e Palestinos são educados para reconhecer o outro como inimigo.

Teorias políticas, discursos religiosos, ideologias, tudo isso funciona como óculos para enxergar a realidade. O mesmo fato pode ser contado e interpretado de acordo com a lente que se usa, que, por sua vez, é escolhida com um interesse específico e traz conseqüências distintas. Da mesma forma, no cinema, é possível filmar a mesma cena ou contar a mesma história de, pelo menos, 7 bilhões de maneiras diferentes, já que cada pessoa enxergará e interpretará o texto de um jeito.

E, em meio a tantos olhares tomados pelo radicalismo, o cineasta Eran Riklis nos oferece, com seus filmes, uma visão otimista e humana que, com um toque de humor, nos conduz em um mergulho profundo nesse mar turbulento das relações políticas e pessoais daquela parte do Oriente Médio ou, como ele mesmo diz,“não faço filmes políticos, faço observações de situações políticas e sobre pessoas presas em situações políticas.”

O Milênio da próxima semana conversa com o diretor israelense Eran Riklis e tenta mostrar um outro lado para este debate polarizado. Um olhar que promove a reflexão e o diálogo e que acredita ser possível encontrar um caminho para, nas palavras de Riklis “criar talvez não o paraíso, mas algo bem próximo disso no Oriente Médio.” Segunda-feira, 11 de fevereiro, às 23h30, na Globo News.

 

por Rodrigo Bodstein

Um momento suspenso no tempo

qua, 30/01/13
por Equipe Milênio |

 

 

Heinrich Heine, poeta alemão, teria uma vez se referido a Madame de Staël e ao hábito que a escritora tinha de usar vestidos com mangas curtas: “Ela tem braços mais bonitos que os da Vênus de Milo“. Esse é o tipo de história que, no meio de uma conversa despretensiosa, o rabino Adin Steinsaltz conta com sua voz baixa e jeito de quem já viu muita coisa nessa vida. Impossível não se sentir cativado. Se há pessoas — seja qual for o credo, a atividade profissional, a nacionalidade, a ideologia ou time de futebol — que têm o dom de instigar, que conduzem ao riso leve e, ao mesmo tempo, a uma reflexão profunda, posso dizer que Steinsaltz se inclui entre elas.

Gravamos quase uma hora de entrevista numa tarde abafada de verão, na lindíssima Fundação Eva Klabin, no Rio de Janeiro. Em meio ao cenário da casa conservada com todo seu esplendor original, as respostas de Steinsaltz a minhas perguntas — que não raro se transformavam em perguntas por parte dele — conduziram nossa equipe a uma espécie de momento mágico, suspenso no tempo e no espaço. Como se de repente saltássemos da categoria de agentes para a de observadores e pudéssemos ver numa perspectiva mais rica nosso mundo de hoje e o que nos trouxe até aqui.

Como é típico do Milênio, temos a oportunidade de dialogar com cabeças pensantes, o que é necessariamente um desafio — ou não teria a menor graça. Antes de conversar com o rabino, li um bocado sobre suas ideias, sua trajetória e, claro, sobre o Talmud (obra extensa que ele levou mais de quarenta anos traduzindo para o hebraico moderno). Posso dizer que, ao fazer esse dever-de-casa prévio e principalmente ao conhecer Steinsaltz pessoalmente, o que aprendi é que sei muito pouco — e que há muito mais por aprender.

P.S: Depois da causo sobre o comentário ferino de Heine, soltei essa: “Que bom, acabo de perceber que meu rosto é mais bonito que o da Vitória de Samotrácia”. Arranquei uma risada do rabino e ganhei o dia.

por Leila Sterenberg

O mainstream e as culturas locais

qua, 16/01/13
por rodrigo.bodstein |

 

Frédéric Martel viaja tanto pelo mundo, em pesquisa para seus livros e artigos, que apesar de vivermos a duas horas de trem um do outro, ele em Paris, eu em Londres, acabamos nos encontrando em Olinda, Pernambuco. Lá se realizava mais uma Fliporto, a festa literária que ganha destaque maior a cada ano (desta vez, foi transmitida ao vivo pelo programa Literatura, da Globonews).

Frédéric foi convidado para falar de seu livro Mainstream, lançado no Brasil com este mesmo título original em inglês. Descreve a cultura de massas pelo mundo, sob domínio ainda considerável da produção popular americana – do cinema à música, dos seriados de TV aos videogames. Ele tratou também da noção (que acha equivocada e preconceituosa) de alta e baixa cultura. Falou do papel secundário dos europeus no setor, inclusive seu próprio país a França, ainda resistente em aceitar que sua cultura não repercute mais no resto do mundo, como ocorria no passado.

Frédéric discutiu ainda a predominância da língua inglesa (que optamos por usar na entrevista) na produção da cultura mainstream internacional. Ele acaba de concluir um livro (que já tem editora no Brasil, mas ainda não foi lançado), sobre a cultura gay no mundo. Mais um exemplo – diz ele – de um assunto em que os americanos ocupam posição de vanguarda e servem de exemplo para homossexuais em outros países. Frédéric entrevistou gente da comunidade gay em locais tão improváveis quanto Teerã e Soweto. Nota que Rio e São Paulo são grandes polos de atração gay no mundo e que um dos maiores e mais interessantes clubes gay que conheceu foi em Jacarepaguá, subúrbio pobre do Rio. Seu livro seguinte ainda está em fase de pesquisa e Frédéric passou parte de sua visita ao Brasil entrevistando especialistas no assunto: a internet e o impacto do mundo digital.

por Silio Boccanera

A geopolítica da cultura

sex, 11/01/13
por rodrigo.bodstein |
categoria Programas

 

Na próxima segunda-feira, a geopolítica da cultura. O jornalista e sociólogo Fréderic Martel fala ao Milênio sobre a guerra mundial pelo conteúdo nos meios de comunicação. 23h30, na Globo News

 

Entre todos os conflitos, seja na Síria, no Congo, no Mali, ou em qualquer outro lugar, um talvez esteja mais próximo de nós do que imaginamos. A guerra pela cultura e pelos conteúdos nos meios de comunicação está em nossas casas, no que lemos, no que assistimos e, até mesmo, no que vestimos e falamos. De um lado, temos a hegemonia cultural norteamericana, construída ao longo deste século, que exporta formatos televisivos, filmes, livros, música, todo um pacote que pode ser moldado para o mundo ou para nichos específicos. Do outro, blocos regionais que tentam ganhar espaço e, ao mesmo tempo, reforçar alguns traços da cultura local.

A disputa por influência e pelo público, que mobiliza indústrias, governos e microempresas, criou o que o sociólogo e jornalista francês Frédéric Martel chama, em seu livro Mainstream, de “capitalismo hip”, ou seja, “um capitalismo cultural global muito concentrado, muito descentralizado, ao mesmo tempo força criadora e destruidora.” Concentrado pela hegemonia, descentralizado pelas redes de produção que se formaram e não mais dependem do espaço, força criadora pelo volume de produtos e pelo discurso que promove e destruidora por silenciar também outras formas de cultura.

A propaganda americana e a indústria de Hollywood não são elementos novos para a geopolítica mundial. Desde a criação do Office for Commercial and Cultural Relations between the American Republics, em 1940, depois rebatizado de Office for Inter-American Affairs, em 1945, que os Estados Unidos desenvolvem a capacidade de produzir e de vender, em mercados distintos, conteúdo que misture e incorpore aspectos locais em um produto que seria supostamente global, mas essencialmente norteamericano. Essa prática, iniciada na política de Boa Vizinhança, desenvolveu, segundo Martel, uma “diversidade padronizada” em que “as palavras são em hindi ou mandarim, mas a sintaxe é americana.” e que, hoje, faz circular bilhões de dólares.

O que é interessante na análise do sociólogo francês não é que exista uma dominação norteamericana, mas apenas uma predominância. A emergência de outros atores, como a Al-Jazeera, a indústria de Bollywood, entre outros, reflete o que vimos acontecer na economia e na política. Pouco a pouco, atores regionais ganharam força e, o que antes era um contexto de unipolaridade, liderado pelos Estados Unidos, hoje é um ambiente multipolar e com relações complexas em diferentes níveis e, como ele escreve, “a diversidade cultural transforma-se na ideologia da globalização”. O trabalho de Martel nos lembra que cada ato nosso é um ato político. Cada ingresso que compramos, cada programa que assistimos ou livro que lemos está imbuído de uma história e que, por estarmos inseridos no meio desta batalha silenciosa, nossas escolhas influenciam o discurso e a cultura que queremos em nossas vidas. Não perca a entrevista que Silio Boccanera fez com Frédéric Martel no Milênio da próxima segunda-feira, 14/01, na Globo News.

por Rodrigo Bodstein

Uma conversa com Werner Herzog

qui, 10/01/13
por Equipe Milênio |

 

 

Do sonho enlouquecido de um apaixonado por ópera na selva amazônica, a uma produção em 3D sobre pinturas pré-históricas numa caverna da França. Das conversas com um condenado no corredor da morte de uma prisão americana à produção glauberiana sobre um conquistador na américa colonial. Temas – à primeira vista – tão distantes uns dos outros – condição humana, as fraquezas e os sonhos. Os limites, os questionamentos e os riscos a correr.

O diretor alemão, ou como ele mesmo prefere, bávaro, Werner Herzog, aos 70 anos, e com mais de 60 filmes realizados, entre ficção e documentários, é ao mesmo tempo um workaholic, um  viciado em trabalho. Só em 2011 fez 6 filmes. É um artista como os do Renascimento, com todas as suas infinitas possibilidades. Além de diretor, já foi também roteirista, montador, técnico de som, ator e escritor.

Está sendo lançado no Brasil o livro com as anotações que fez durante as filmagens de seu mais ambicioso projeto, Fitzcarraldo, de 1982, que teve a participação de atores brasileiros como Grande Otelo e José Lewgoy e do maior parceiro do diretor, o ator Klaus Kinski. A filmagem foi uma epopeia feita para contar outra, a da tentativa de um barão da borracha de levar uma ópera para a  Amazônia peruana, no início do século XX. E de Ópera Herzog entende também, já dirigiu várias em alguns dos mais prestigiados teatros do mundo, mas paixão mesmo, além do cinema, só uma, o futebol, e nesse universo, o futebol brasileiro, e nele, Garrincha.

Entre um compromisso e outro numa agenda lotada, embevecido pela presença de alunos de escolas públicas para uma exposição de arte e destruindo a fama de mal-humorado. Simpático e solícito, Werner Herzog conversou com o Milênio no Centro Cultural Banco do Brasil, no Rio.

 

por Marcelo Lins



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