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Louis Begley, escritor e advogado, mora em Manhattan com a mulher Anka Muhlstein, também escritora, a empregada Samanta, uma brasileira, e as gatas Kasha, Misha e Sasha. Logo na entrada ele me diz que sempre teve uma afeição especial pelos brasileiros e, mais tarde, na entrevista, quando perguntei de onde vinha essa afeição pelo Brasil ele disse que somos uma gente muito educada.
Boas maneiras não estão na minha lista de virtudes da burguesia brasileira e, vindo de Begley, me surpreendeu porque ele é fino à primeira vista e sem nenhuma afetação. Nunca entrevistei uma pessoa que falasse mais baixo do que ele – e falar baixo não é uma das nossas virtudes. Begley confirma que um bom argumento não precisa de voz alta.
foto: Luiz Novaes
Quando eu o conheci, em 1990, tinha terminado seu livro mais lido e premiado, “Wartime Lies” (que ganhou o título de “Infância de Mentira” na edição brasileira”) sobre um garoto judeu na Polônia ocupada pelos nazistas.
Fui convidado para jantar na casa dele pela mulher Anka, uma escritora prolífica, autora de livros históricos, entre eles um sobre Manhattan. Ela buscava informações sobre a colônia brasileira. Eu tinha sido demitido naquele mês e ele, Begley, era o advogado da família da empresa onde eu trabalhava. Mas, em nenhum momento falamos sobre nossas profissões. Não é assunto para mesa de jantar no primeiro encontro, mas jamais gostaria de ter Louis Begley como adversário num tribunal.
O homem da voz baixa, neste momento, está em destaque no Brasil pelo seu livro “O Caso Dreyfus – Ilha do Diabo, Guantánamo e o pesadelo da história” (clique aqui para ler um trecho do livro), onde ele faz conexões entre a França traumatizada do fim do século XIX e os Estados Unidos traumatizado no começo do século XXI. Na França, o trauma da derrota para os alemães e prussianos provocou varios escândalos, entre eles a terrível injustiça contra o oficial francês, judeu – Alfred Dreyfus – que acabou na abominável Ilha do Diabo. Nos Estados Unidos, mais de cem prisioneiros, muito deles já inocentados, continuam na Base de Guantánamo onde sofreram torturas durante o governo Bush.
Um dos principais críticos literários americanos acha que Begley é dos melhores, senão o melhor escritor americano vivo sobre modos e costumes. E as descrições dele sobre os ricos e suas conexões com os pobres são preciosas. Um dos pontos que exploramos na entrevista foi o rico americano. Quem é ele? Por que se preocupa tanto com os próprios interesses e é cada vez mais distante e menos solidário com os pobres? Begley me disse que os ricos americanos, ao contrário dos europeus, vêm em vários sabores. Mas o problema maior está num grupo conservador republicano que desfigurou o partido.
Ele era um dos escritores favoritos do Paulo Francis e, num dos livros deles que mais gosto, “About Schmidt” (que ganhou o título em português de “Sobre Schimdt” e virou filme “As confissões de Schmidt“, com Jack Nicholson no papel principal), o personagem adora sardinhas. Achei que ele também gostasse e levei para ele a minha favorita, do Marrocos, raríssimas. Ele ficou super agradecido: adora sardinhas, mas Sasha – ou seria a Misha? – a gata, estava de olho na caixinha. Será que ele gostou das sardinhas ou foi só educado em aceitá-las?
Por Lucas Mendes
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