O tempo para as notícias
Sou fã de Alain de Botton há muitos anos, desde o primeiro livro dele, Como Proust Pode Mudar Sua Vida. Eu tinha lido Proust, mas a leitura do filósofo foi mais profunda e me ajudou muito numa fase de depressão. Outro livro essencial dele é As Consolações da Filosofia. Ele tem efeito terapêutico, é melhor que antidepressivo e sem efeitos colaterais. Os cínicos o comparam a Paulo Coelho. Mas eu, que sou fã, tenho muita gratidão pela popularização da filosofia que ele faz com tanta inteligência e delicadeza.
O último livro, The News, a User’s Manual, veio para mim na hora certa. Por vício profissional me tornei um dependente da notícia, ligado 24 horas. Cheguei ao extremo de, à cata de notícia, checar as redes sociais da Internet a cada minuto. Aí encontrei a reflexão de de Botton sobre essa praga, pandemia mesmo, que atacou a humanidade: o excesso de notícia, de informação, e a falta de conhecimento e sabedoria. Foi um bálsamo. Parei de acessar as redes sociais (por enquanto até julho, 90 dias). E segui a sugestão dele: quando estou de folga no fim de semana não entro mais na Internet, nem leio jornal ou vejo TV. Nem sei o que fazer com tanto tempo livre, que maravilha.
Eu não sabia qual era a origem de Alain de Botton. Ele me contou que é de família sefaradim, judeus que sairam da Espanha na expulsão de 1492 e se radicaram no Egito, de onde foram novamente expulsos na onda anti-judaica do nacionalismo árabe. A família se estabeleceu em Londres, onde o filósofo vive, com a mulher e dois filhos pequenos, e onde fundou a Escola da Vida (School of LIfe), que oferece cursos populares sobre aplicações práticas da Filosofia. Um dos professores, David Baker, mudou-se para o Brasil, onde abriu com uma prima de Alain, Jackie de Botton, a sucursal brasileira da escola, numa casa em Ipanema. Vale a pena frequentar as aulas, para pensar na vida com um pouco mais de sabedoria – e de vez em quando desligar as notícias.
por Jorge Pontual