O local da globalização
No próximo Milênio, A relação entre o nacional e o global. Leila Sterenberg entrevista a socióloga Saskia Sassen. Segunda-feira, às 23h30, no Milênio.
O que uma calça jeans, as peças de um Boeing e o seu celular têm em comum? Todos eles passaram por inúmeros países antes de chegar no mercado-alvo. Fazem parte de uma cadeia de produção que transcende fronteiras, cria dinâmicas próprias e movimenta milhares de navios, aviões e pessoas a cada dia. Assim como no mercado financeiro, os fluxos do comércio internacional parecem funcionar em um tempo quase instantâneo e estão em constante adaptação. Um perpetuum mobile econômico.
À primeira vista, o global parece estar além do nacional. Para o indivíduo fora desses fluxos, o poder das empresas transnacionais e o ritmo quase frenético do mundo globalizado parece estar engolindo as cidades e os países como um tsunami neoliberal. Competitividade, realocação de empregos, migração de mão de obra especializada, tudo parece caminhar para essa força que paira sobre o antigo mapa mundi dividido em fronteiras e estabelece novas relações entre os espaços.
Se olharmos com mais cuidado, porém, acreditar na supremacia e no determinismo da subjugação das nações ao poder global pode ser algo ingênuo. Como lembra a socióloga Saskia Sassen, “o global é feito dentro do nacional.” Para tudo isso existir, governos precisam aprovar os padrões e as regras que vão determinar a importância e a capacidade de determinados locais para lidar com esses movimentos supranacionais. Os motivos e a direção da globalização começam dentro das próprias fronteiras que tentam ultrapassar.
As escolhas que foram feitas para construir essas vias globais hoje, aparentemente, precisam ser repensadas. Milhões de pessoas desalojadas por hipotecas nos Estados Unidos, o custo social da crise do Euro é está cada dia maior – uma rápida busca por Grécia, Itália, Espanha, Portugal e Chipre na internet pode dar uma dimensão do problema –, é como se as regras de exclusão do sistema estivessem sendo redefinidas e o poder ganhasse desdrobamentos mais sutis.
No próximo Milênio, Saskia Sassen nos fornece uma maneira de enxergar a relação entre o global e o local que coloca o Estado liberal, os centros urbanos e os territórios no centro da análise e oferece instrumentos para pensarmos criticamente os rumos da globalização. Segunda-feira, às 23h30, na Globo News.
por Rodrigo Bodstein