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Um momento suspenso no tempo

qua, 30/01/13
por Equipe Milênio |

 

 

Heinrich Heine, poeta alemão, teria uma vez se referido a Madame de Staël e ao hábito que a escritora tinha de usar vestidos com mangas curtas: “Ela tem braços mais bonitos que os da Vênus de Milo“. Esse é o tipo de história que, no meio de uma conversa despretensiosa, o rabino Adin Steinsaltz conta com sua voz baixa e jeito de quem já viu muita coisa nessa vida. Impossível não se sentir cativado. Se há pessoas — seja qual for o credo, a atividade profissional, a nacionalidade, a ideologia ou time de futebol — que têm o dom de instigar, que conduzem ao riso leve e, ao mesmo tempo, a uma reflexão profunda, posso dizer que Steinsaltz se inclui entre elas.

Gravamos quase uma hora de entrevista numa tarde abafada de verão, na lindíssima Fundação Eva Klabin, no Rio de Janeiro. Em meio ao cenário da casa conservada com todo seu esplendor original, as respostas de Steinsaltz a minhas perguntas — que não raro se transformavam em perguntas por parte dele — conduziram nossa equipe a uma espécie de momento mágico, suspenso no tempo e no espaço. Como se de repente saltássemos da categoria de agentes para a de observadores e pudéssemos ver numa perspectiva mais rica nosso mundo de hoje e o que nos trouxe até aqui.

Como é típico do Milênio, temos a oportunidade de dialogar com cabeças pensantes, o que é necessariamente um desafio — ou não teria a menor graça. Antes de conversar com o rabino, li um bocado sobre suas ideias, sua trajetória e, claro, sobre o Talmud (obra extensa que ele levou mais de quarenta anos traduzindo para o hebraico moderno). Posso dizer que, ao fazer esse dever-de-casa prévio e principalmente ao conhecer Steinsaltz pessoalmente, o que aprendi é que sei muito pouco — e que há muito mais por aprender.

P.S: Depois da causo sobre o comentário ferino de Heine, soltei essa: “Que bom, acabo de perceber que meu rosto é mais bonito que o da Vitória de Samotrácia”. Arranquei uma risada do rabino e ganhei o dia.

por Leila Sterenberg

A dialética para a sanidade

sex, 25/01/13
por rodrigo.bodstein |

 

No próximo Milênio, uma conversa sobre a importância de observar e questionar a realidade. Leila Sterenberg entrevistou Adin Steinsaltz, cientista que virou rabino e, após 45 anos de trabalho, terminou a tradução do Talmude. Segunda-feira, 23h30, na Globo News.

 

Reconhecer a oscilação da vida e navegar por entre as diferentes situações que marcam a nossa existência talvez seja a questão da nossa época. Desde os grandes problemas que afetam milhões de pessoas até as pequenas coisas do nosso cotidiano, conseguir refletir, questionar e ponderar é um desafio. De certa maneira, “o mundo precisa de mais sanidade (…) e sanidade é a habilidade de manter coisas diferentes em equilíbrio sem torná-las imóveis.” como afirmou Adin Steinsaltz, cientista que virou rabino e, após 45 anos de trabalho, terminou a tradução do Talmude.

Equilíbrio e sanidade, realmente, parecem distantes deste mundo. Mais de sessenta mil pessoas morreram na Síria. Assassinos entram em escolas,faculdades e templos religiosos e matam inocentes. De acordo com a FAO, em 2012, mais de oitocentos e setenta milhões de pessoas não conseguiram o mínimo para se nutrir enquanto que 1,3 bilhão de toneladas de alimentos são desperdiçados no mundo. Milhões de estímulos bombardeiam uma sociedade cada vez mais consumista e individualista enquanto que o dano provocado pelo homem no meio ambiente parece jogar o planeta em uma estrada sem volta.

Nunca na história da humanidade as pessoas tiveram tanto acesso à informação, mas como saber o que é realmente importante? Como evitar que a enxurrada informacional não torne a visão turva para o que acontece ao nosso redor? Ou, como coloca Steinsaltz, “quem tem o direito de determinar o que é acessível?” Com a dependência cada vez maior em algoritmos de sites de busca ou em sistemas de relevância, pensar sobre o que é silenciado e o que é reproduzido torna-se imprescindível.

O Milênio desta semana discute não uma ideia sobre desenvolvimento econômico, filosofia, arte ou outra área específica do conhecimento, mas a capacidade de observar a realidade e questionar, porque é a consciência crítica que constroi a base de qualquer cultura. O programa busca nessa conversa com Adin Steinsaltz trazer um pouco do exercício dialético que pauta o Talmude e discutir, com um olhar um pouco diferente do que estamos acostumados, o mundo a nossa volta. Na próxima segunda-feira, 23h30, na Globo News.

 

por Rodrigo Bodstein

A fornalha Lincoln

qua, 23/01/13
por Equipe Milênio |

Passei uma tarde com um homem que passou a vida com Abraham Lincoln. Harold Holzer tinha 11 anos quando o professor escreveu e colocou vários nomes de líderes históricos num chapéu. Cada aluno tirava um papel. Holzer tirou Lincoln. Tema de redação. Cinquenta anos depois, está no 44º livro, como autor ou editor. Mais de 500 ensaios e milhares de consultorias. Desde 2009, no bicentenário de Lincoln, ele vive num interminável circuito “lincolniano” de palestras e entrevistas.

Holzer foi consultor do filme Lincoln, de Steven Spielberg, sério candidato a Oscar, que estreará no Brasil nos próximos dias. Mais uma baforada na fogueira cultural do presidente assassinado em 1865, numa sexta-feira santa, pouco depois de ser reeleito para o segundo mandato e cinco dias depois do fim da Guerra Civil americana.

Lincoln, o presidente dos presidentes, é uma fornalha no mundo editorial. O nome dele no título vende mais do que o de John Kennedy, o segundo presidente campeão de vendas desde a década de 60. Há 16 mil livros sobre Lincoln, 6 mil biografias. George Washington, pai da pátria, mereceu 3 mil biografias. Segundão. Só no ano do bicentenário foram publicadas 249 biografias de Lincoln e Harold Holzer, que era o coordenador de eventos literários, achou que a fogueira dele viraria um braseirinho. O trabalho mais monumental, publicado em 2009, foi a antologia de mil páginas editada por Holzer com 110 textos de 95 autores. Até Karl Marx tinha opinião sobre Lincoln. Falou bem do capitalista republicano e democrata.

Mas o fogo Lincoln não diminuiu, contou Holzer. Uma das biografias, Killing Lincoln, de Bill O’Reilly, apresentador da rede Fox, no ano passado vendeu 2 milhões de exemplares. O livro de Doris Kerns Goodwill, Team Of Rivals, que serviu de base para o roteiro (do filme Lincoln) de Tony Kushner, foi lançado em 2005, vendeu 1,5 milhão de exemplares. Quando o filme foi lançado, o livro voltou ao 5º lugar na lista dos best-sellers.

Holzer acha que o fenômeno Lincoln está, em parte, “ligado à Guerra Civil e estamos em pleno aniversário de 150 anos“. “Durou de 1861 a 1865. Há milhares de americanos fanáticos sobre o assunto. O tema vende e com o nome de Lincoln no título as vendas multiplicam.” Há uma foto impressionante dos livros sobre Lincoln feita no The Ford’s Theater For Education and Leadership, em Washington. Criaram uma coluna com de mais de um metro quadrado que sobe três andares com os livros sobre o presidente.

E quantos falam mal de Lincoln? “A minoria, mas algumas críticas são fortes e têm credibilidade. Lincoln suspendeu ‘habeas corpus’ e deu ordens que, num país obcecado com a Constituição, pareciam ditatoriais. Uma outra crítica relevante é referente à falta de planejamento sobre o que fazer com os escravos depois da libertação. A solução de Lincoln era recrutar todos os homens para o Exército, mas eram milhares, um número impossível de ser treinado, vestido e alimentado. Muitos lutaram e, contrariando as críticas de militares brancos, de que os negros tinham medo da guerra, lutaram com garra e morreram em percentagens mais altas que os brancos. Um número muito maior, inclusive mulheres e crianças, morreu de doenças e fome”.

Há Lincolns fortes e fracos, há o Lincoln gay do livro The Intimate World of Abraham Lincoln, de C. A. Tripp. Na época, condenado por muitos como um insulto, mas Holzer acha que é “uma declaração de amor, uma tese interessante, mas sem fundamentos sólidos”. Há o Lincoln preguiçoso, desorganizado e incompetente de William Herndon, sócio do presidente durante 17 anos no escritório de advocacia. “Foi baseado em depoimentos que Herndon colheu de centenas de pessoas que conheceram Lincoln e é levado a sério por alguns dos maiores especialistas no 16º presidente, entre eles Douglas Wilson e Rodney Davis”. Há o Lincoln do romance de Gore Vidal, “errático, com permanente prisão de ventre, egomaníaco, que gerou uma minissérie na televisão com enorme audiência”. Eu discordo de quase tudo e tivemos brigas via imprensa e palestras, mas tudo isto só reforça o interesse por Lincoln”. Para Holzer, ótimo.

Há o Lincoln Obama. As semelhanças e conexões são fortes. Dois políticos de Illinois, não nascidos no Estado, com origens humildes e que chegaram a Presidência. Lincoln nasceu num mato, mudou para outro mato, perdeu a mãe cedo, tinha um pai que não acreditava em educação e, se não fosse pela madrasta, talvez nem aprendesse a ler. A educação formal dele foi quase nula, mas se educou à noite, à luz de vela. De dia, trabalhava com o pai no campo. Detestava. A única experiência como politico, antes de chegar à Presidência, foi como deputado estadual. Qual era a força dentro dele que despertou e impulsionou esta determinação que o levou à Presidência? Vários presidentes saíram do nada, como ele, mas quantos transformaram o país?

Lincoln e Obama assumiram o poder com um país profundamente dividido. No país de Obama, não há possibilidade de guerra civil, diz Holzer, mas “a imobilidade política é pior do que no Congresso de Lincoln, onde houve brigas físicas, com sangue e ossos quebrados entre deputados no plenário, mas conseguiam legislar. Hoje não”. Há também grandes diferenças. A excelente educação universitária de Obama é uma delas. A outra é óbvia. A cor. Holzer acha que Obama marca a complementação do “trabalho não terminado” da democracia americana, à qual Lincoln se referiu no discurso de Gettysburg, cemitério e cenário de uma das batalhas mais brutais e decisivas da Guerra Civil.

O filme de Spielberg joga luz num período essencial na vida de Lincoln, os cinco meses que marcam a luta pela passagem, na Câmara, da emenda que libertou os escravos e o fim da Guerra Civil. Holzer: “O filme ilumina, mas não revela quem foi o verdadeiro Lincoln. Os 16 mil livros, inclusive os meus 44, as 6 mil biografias e os filmes vão gerar outros livros e outros filmes, vão aumentar ou diminuir o presidente, mas não vão desvendar o homem”.

 

por Lucas Mendes

 

 

Um país dividido

sex, 18/01/13
por rodrigo.bodstein |
categoria debate, Programas

 

Na próxima segunda-feira, Lucas Mendes entrevista o historiador Harold Holzer sobre a influência de Abraham Lincoln na cultura política dos Estados Unidos e os paralelos entre os dias de hoje com um dos períodos mais divididos da história norteamericana: A Guerra Civil.

 

Republicanos e Democratas pegam suas bandeiras e entram no campo de batalha. A National Rifle Association, ou NRA, anunciou que Obama enfrentará a “luta do século” por ter dito que usaria todo o poder que o cargo permite para implementar as reformas para maior controle das armas de fogo. Ano passado, o debate sobre a Lei dos Cuidados Acessíveis, ou Obamacare, colocou os dois lados em pé de guerra e, há poucas semanas, o país viveu um dos momentos mais difíceis da sua história com a negociação sobre o teto da dívida.

Harold Holzer, um dos maiores especialistas em Abraham Lincoln, afirmou que “apenas durante a Guerra Civil os Estados Unidos estiveram tão divididos.” De certa maneira, o Azul e o Cinza, cores que tomaram conta do país entre 1861 e 1865 e que dividiram os estados entre Norte e Sul, hoje são representados pelo Azul e pelo Vermelho. A batalha, naquele tempo, teve como uma das razões a divergência de opinião quanto à escravidão – vista como contraproducente pelo Norte, mas base da economia sulista – e causou a morte de 750.000 soldados.

A divisão continua em termos econômicos, mas, de certa forma, se inverteu. Os republicanos, que controlam a maior parte do sul do país, entendem que as políticas propostas pelo norte, de maioria democrata, são contraproducentes economicamente. Livre-mercado e liberdade individual são argumentos que ecoam pelo país contra a intervenção do governo, quase demonizada e personificada em temas como impostos ou na compra de armas. Uma crença quase cega na predominância do indivíduo sobre a comunidade.

A Guerra Civil americana produziu um dos personagens mais estudados da cultura política dos Estados Unidos: Abraham Lincoln. Descrito como tirano por uns, principalmente, por suas decisões de impor a censura e o serviço militar obrigatório e por ter suspendido os direitos civis, visto, por outros, como a realização do sonho americano – nasceu no meio do nada, virou um advogado e depois presidente – Lincoln, sem dúvida, moldou a cultura política norteamericana.

Roosevelt, Woodrow Wilson, Kennedy, Bush, Obama, democratas e republicanos, todos lutaram pelo legado deixado por Lincoln e, segundo Holzer, “todos se identificaram com ele de alguma forma e foram inspirados por partes diferentes da sua presidência e de seus discursos”. No dia da posse de Barack Obama, o Milênio conversa com Harold Holzer sobre a vida do “presidente dos presidentes norteamericanos” e sobre os paralelos que podemos fazer com os dias de hoje em um momento em que as palavras que Lincoln proferiu em Illinois ao aceitar sua candidatura não poderiam ser mais atuais: “Uma casa dividida contra si mesma, não pode permanecer de pé”

por Rodrigo Bodstein

O mainstream e as culturas locais

qua, 16/01/13
por rodrigo.bodstein |

 

Frédéric Martel viaja tanto pelo mundo, em pesquisa para seus livros e artigos, que apesar de vivermos a duas horas de trem um do outro, ele em Paris, eu em Londres, acabamos nos encontrando em Olinda, Pernambuco. Lá se realizava mais uma Fliporto, a festa literária que ganha destaque maior a cada ano (desta vez, foi transmitida ao vivo pelo programa Literatura, da Globonews).

Frédéric foi convidado para falar de seu livro Mainstream, lançado no Brasil com este mesmo título original em inglês. Descreve a cultura de massas pelo mundo, sob domínio ainda considerável da produção popular americana – do cinema à música, dos seriados de TV aos videogames. Ele tratou também da noção (que acha equivocada e preconceituosa) de alta e baixa cultura. Falou do papel secundário dos europeus no setor, inclusive seu próprio país a França, ainda resistente em aceitar que sua cultura não repercute mais no resto do mundo, como ocorria no passado.

Frédéric discutiu ainda a predominância da língua inglesa (que optamos por usar na entrevista) na produção da cultura mainstream internacional. Ele acaba de concluir um livro (que já tem editora no Brasil, mas ainda não foi lançado), sobre a cultura gay no mundo. Mais um exemplo – diz ele – de um assunto em que os americanos ocupam posição de vanguarda e servem de exemplo para homossexuais em outros países. Frédéric entrevistou gente da comunidade gay em locais tão improváveis quanto Teerã e Soweto. Nota que Rio e São Paulo são grandes polos de atração gay no mundo e que um dos maiores e mais interessantes clubes gay que conheceu foi em Jacarepaguá, subúrbio pobre do Rio. Seu livro seguinte ainda está em fase de pesquisa e Frédéric passou parte de sua visita ao Brasil entrevistando especialistas no assunto: a internet e o impacto do mundo digital.

por Silio Boccanera

A geopolítica da cultura

sex, 11/01/13
por rodrigo.bodstein |
categoria Programas

 

Na próxima segunda-feira, a geopolítica da cultura. O jornalista e sociólogo Fréderic Martel fala ao Milênio sobre a guerra mundial pelo conteúdo nos meios de comunicação. 23h30, na Globo News

 

Entre todos os conflitos, seja na Síria, no Congo, no Mali, ou em qualquer outro lugar, um talvez esteja mais próximo de nós do que imaginamos. A guerra pela cultura e pelos conteúdos nos meios de comunicação está em nossas casas, no que lemos, no que assistimos e, até mesmo, no que vestimos e falamos. De um lado, temos a hegemonia cultural norteamericana, construída ao longo deste século, que exporta formatos televisivos, filmes, livros, música, todo um pacote que pode ser moldado para o mundo ou para nichos específicos. Do outro, blocos regionais que tentam ganhar espaço e, ao mesmo tempo, reforçar alguns traços da cultura local.

A disputa por influência e pelo público, que mobiliza indústrias, governos e microempresas, criou o que o sociólogo e jornalista francês Frédéric Martel chama, em seu livro Mainstream, de “capitalismo hip”, ou seja, “um capitalismo cultural global muito concentrado, muito descentralizado, ao mesmo tempo força criadora e destruidora.” Concentrado pela hegemonia, descentralizado pelas redes de produção que se formaram e não mais dependem do espaço, força criadora pelo volume de produtos e pelo discurso que promove e destruidora por silenciar também outras formas de cultura.

A propaganda americana e a indústria de Hollywood não são elementos novos para a geopolítica mundial. Desde a criação do Office for Commercial and Cultural Relations between the American Republics, em 1940, depois rebatizado de Office for Inter-American Affairs, em 1945, que os Estados Unidos desenvolvem a capacidade de produzir e de vender, em mercados distintos, conteúdo que misture e incorpore aspectos locais em um produto que seria supostamente global, mas essencialmente norteamericano. Essa prática, iniciada na política de Boa Vizinhança, desenvolveu, segundo Martel, uma “diversidade padronizada” em que “as palavras são em hindi ou mandarim, mas a sintaxe é americana.” e que, hoje, faz circular bilhões de dólares.

O que é interessante na análise do sociólogo francês não é que exista uma dominação norteamericana, mas apenas uma predominância. A emergência de outros atores, como a Al-Jazeera, a indústria de Bollywood, entre outros, reflete o que vimos acontecer na economia e na política. Pouco a pouco, atores regionais ganharam força e, o que antes era um contexto de unipolaridade, liderado pelos Estados Unidos, hoje é um ambiente multipolar e com relações complexas em diferentes níveis e, como ele escreve, “a diversidade cultural transforma-se na ideologia da globalização”. O trabalho de Martel nos lembra que cada ato nosso é um ato político. Cada ingresso que compramos, cada programa que assistimos ou livro que lemos está imbuído de uma história e que, por estarmos inseridos no meio desta batalha silenciosa, nossas escolhas influenciam o discurso e a cultura que queremos em nossas vidas. Não perca a entrevista que Silio Boccanera fez com Frédéric Martel no Milênio da próxima segunda-feira, 14/01, na Globo News.

por Rodrigo Bodstein

Uma conversa com Werner Herzog

qui, 10/01/13
por Equipe Milênio |

 

 

Do sonho enlouquecido de um apaixonado por ópera na selva amazônica, a uma produção em 3D sobre pinturas pré-históricas numa caverna da França. Das conversas com um condenado no corredor da morte de uma prisão americana à produção glauberiana sobre um conquistador na américa colonial. Temas – à primeira vista – tão distantes uns dos outros – condição humana, as fraquezas e os sonhos. Os limites, os questionamentos e os riscos a correr.

O diretor alemão, ou como ele mesmo prefere, bávaro, Werner Herzog, aos 70 anos, e com mais de 60 filmes realizados, entre ficção e documentários, é ao mesmo tempo um workaholic, um  viciado em trabalho. Só em 2011 fez 6 filmes. É um artista como os do Renascimento, com todas as suas infinitas possibilidades. Além de diretor, já foi também roteirista, montador, técnico de som, ator e escritor.

Está sendo lançado no Brasil o livro com as anotações que fez durante as filmagens de seu mais ambicioso projeto, Fitzcarraldo, de 1982, que teve a participação de atores brasileiros como Grande Otelo e José Lewgoy e do maior parceiro do diretor, o ator Klaus Kinski. A filmagem foi uma epopeia feita para contar outra, a da tentativa de um barão da borracha de levar uma ópera para a  Amazônia peruana, no início do século XX. E de Ópera Herzog entende também, já dirigiu várias em alguns dos mais prestigiados teatros do mundo, mas paixão mesmo, além do cinema, só uma, o futebol, e nesse universo, o futebol brasileiro, e nele, Garrincha.

Entre um compromisso e outro numa agenda lotada, embevecido pela presença de alunos de escolas públicas para uma exposição de arte e destruindo a fama de mal-humorado. Simpático e solícito, Werner Herzog conversou com o Milênio no Centro Cultural Banco do Brasil, no Rio.

 

por Marcelo Lins

O cinema e as relações de Herzog com o Brasil

sáb, 05/01/13
por maria.beatriz |

 

O programa de estreia do Milênio é uma deliciosa conversa do repórter Marcelo Lins com o cineasta alemão Werner Herzog. Segunda, às 23h30. 

 

 

A equipe do Milênio foi ansiosamente conhecer a grande figura de Werner Herzog no Centro Cultural Banco do Brasil, em novembro do ano passado. Ele veio a convite do festival de cinema 4+1, em meio a exposição do Impressionismo francês no local. O diretor, roteirista, montador, técnico de som, escritor e até ator parece ter uma magia que cativa todos a sua volta. Até mesmo as crianças que foram visitar a exposição ficaram encantadas com a simpatia surpreendente do alemão.

Aos 70 anos e com mais de 60 filmes realizados – entre ficção e documentário – Herzog parece incansável. Só em 2011 fez seis filmes. Agora no início do ano, aparece atuando no filme “Jack Reacher” junto de Tom Cruise, e também vai ter o diário lançado (“Conquista do Inútil”) no Brasil.

Na entrevista a Marcelo Lins, ele falou do amor pelo Brasil, onde já esteve inúmeras vezes, e o quanto se identifica com os brasileiros. Apesar de ter nascido na Alemanha, cresceu na Bavária, onde o povo tem um espírito alegre e caloroso como o nosso.

Herzog também contou sobre como foi fazer um dos seus projetos mais ambiciosos: “Fitzcarraldo” e trabalhar com um ator temperamental como Klaus Kinski. O filme entrou para a história com a ousadia de tentar levar uma ópera para a Amazônia Peruana – e os brasileiros José Lewgoy, Grande Otelo, e até Milton Nascimento fizeram parte do elenco. Sobre o trabalho com eles, Herzog expressou a admiração pela energia de Grande Otelo - ”ao mesmo tempo caótico e selvagem”.

A paixão pelo Brasil levou críticos a o compararem a Glauber Rocha. E Herzog não nega que existe um sincronismo entre a vontade de criar uma identidade própria no cinema dos dois. O cineasta também nos contou das influências da Segunda Guerra Mundial em sua vida – aos 2 anos teve o berço coberto de lama por conta dos bombardeios próximos a onde morava – e foi enfático ao afirmar que lutaria bravamente caso existisse a possilidade de volta do regime Nazista: ”Enquanto eu estiver vivo, nós não veremos um regime nazista na Alemanha novamente”.

O futebol, e nele, a paixão por Garrincha também foram tema do programa – leve e extremamente rico – que abre o ano de estreia do Milênio. Não perca!

 por Maria Beatriz Mussnich

 

“Qual será o 11 de setembro da mudança climática? Um furacão atingindo Wall Street?”

qui, 03/01/13
por Equipe Milênio |

 

 O último programa da temporada de reprises do Milênio é com Paul Gilding. Se você ainda não viu, não perca!

Com a bolsa de Nova York fechada por dois dias por causa do furacão Sandy, dá até arrepio reler este trecho do livro de Paul Gilding. Ainda não parece ser este o momento do “Grande Acordar” (Great Awakening) que ele anuncia como inevitável, mas quase.
Este furacão não destruiu nem paralisou Nova York como poderia (estávamos 200 kms ao Norte do centro) mas serviu para trazer a discussão do aquecimento global de volta, senão na disputa pela Casa Branca (de onde está totalmente ausente), pelo menos nos círculos mais esclarecidos e nas redes sociais.

Desastres como este, diz Gilding baseando-se nas previsões dos meteorologistas, se tornarão cada vez mais freqüentes e levarão ao “Grande Acordar”. Ele acha que é inevitável. Pode não estar correto, acho impossível prever, mas merece ser ouvido e discutido.
Gilding não acredita em mudanças lentas e paulatinas. Para ele, o investimento em fontes renováveis de energia é louvável mas sozinho não resolve nada. Só mesmo uma revolução política radical que crie uma “economia de guerra” para enfrentar o aquecimento da atmosfera poderá ter sucesso, e por isso ele diz que essa revolução será inevitável, e bem sucedida.
Não sabemos. Mas levamos Gilding a Times Square para conversar sobre isso. No livro, ele conta que foi em Times Square que percebeu que a mudança não seria gradual. Que a sociedade de consumo é forte demais para mudar gentilmente. Só mesmo um furacão para derrubá-la.

Gilding estava de passagem por Nova York, de férias com a família. Vive com a mulher e os três filhos numa fazenda num lugar remoto da Austrália, a ilha da Tasmânia. Produz seus próprios alimentos e fontes de energia e acredita que sua família será auto-sustentável quando, num futuro não muito distante, acontecer a “Grande Ruptura”.

Aproveitamos a entrevista com Gilding e essa locação para experimentar um novo formato no Milênio : gravar a conversa enquanto andamos por um lugar que tem a ver com o assunto, e acho que deu certo. Os repórteres cinematográficos Gui Machado e Rob Langhammer e o operador de áudio Guihermo Pena-Sapia andavam, de costas, na nossa frente, enquanto Paul e eu conversávamos.
Foi pra mim bastante desconfortável, prestar atenção ao mesmo tempo na conversa e nessa megaoperação televisiva.

E Times Square, mesmo num domingo de manhã, é um lugar barulhento e tumultuado. Mas Gilding tirou de letra. E gostou da conversa. Espero que você também goste.

por Jorge Pontual



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