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Um otimista bem informado

qui, 28/06/12
por Equipe Milênio |

 

 

Um exercício de reflexão: pense na última vez em que você conversou com um interlocutor que tivesse convicções firmes, e defendesse essas convicções com argumentos pertinentes e raciocinio lógico. Pois eu tive essa oportunidade há alguns dias. Escalado pelo Milênio para entrevistar o cientista social Ignacy Sachs, tive ali a oportunidade de estar frente a frente com um grande pensador do século XX. Mais do que isso, com um homem que não apenas viu boa parte das transformações do século passado, como também participou delas.

Nascido na Polônia, numa família judia abastada, Sachs veio para o Brasil em 1941, fugindo do nazismo. Formou-se em economia no Rio, voltou nos anos 50 para Varsóvia, onde trabalhou no governo comunista. No final da década foi para a Índia , onde concluiu um doutorado em economia com viés social. De lá seguiu para Paris, onde ajudou a criar a Escola de Altos Estudos em Ciências Humanas. Durante toda essa trajetória, Sachs nunca se afastou dos princípios humanistas, sempre associado ao que se convencionou chamar de pensamento de esquerda.

Neste sentido, defende avanços da economia planificada e uma análise crítica do que funcionou e do que fracassou no antigo bloco comunista. Também é um pioneiro do que hoje parece o senso comum, as idéias ligadas á sustentbilidade. Defensor de um desenvolvimento baseado num tripé – econômico, social e ambiental, Sachs nos recebeu na casa de amigos onde estava hospedado em São Paulo, um dia depois de chegar de Paris. E, aos 85 anos, se mostrou mais firme do que nunca em suas convicções. Na conversa, com câmera ligada ou não, nem um mísero traço do esnobismo acadêmico que acomete com freqüência especialistas de importância bem menor do que a dele.

Aqui e ali, a reafirmação da admiração e da esperança no Brasil, e a reverência explícita a um brasileiro, muitas vezes esquecido entre nós: o geógrafo Josué de Castro, autor da “ Geografia da fome “e um ícone do humanismo. Sobraram elogios também para outro brasileiro, José Graziano, diretor da FAO, a Agência das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura. Da entrevista que rendeu um programa e do papo informal, ficam a lembrança de um homem extremamente educado, que fez questão de cumprimentar com a mesma deferência todos os integrantes da equipe e não reclamou dos pedidos para gravar imagens extras, e de um intelecual antenado com seu tempo, inquieto e proativo e, principalmente, que não se permite ser pessimista mesmo com todos os muitos problemas do mundo atual. Como ele mesmo disse “Pessimista é um otimista bem informado. E eu me recurso a me considerar tão bem informado a ponto de olhar para o mundo de forma pessimista.”

por Marcelo Lins

Um Milênio verde

ter, 19/06/12
por Equipe Milênio |

 

 

Seria difícil tornar mais verde a entrevista com Gro Brundtland. Menos até pelas credenciais incontestáveis dela como ambientalista e mais pelo local onde nos encontramos no Rio de Janeiro: mata Atlântica, alto da Gávea. Trata-se de um cantinho elevado da cidade que permite ver de um lado o Corcovado não muito distante e, de outro, bem próxima, a conhecida elevação de granito conhecida como Pedra da Gávea, fundo de cenário obrigatório em fotos do por-do-sol em Ipanema e Leblon.

Ali estávamos no que foi uma velha residência, agora transformada em um dos muitos hotéis-butique da cidade: pequeno e charmoso, voltado para poucos hóspedes de bom gosto, que preferem fugir da agitação de hotéis vastos e luxuosos.

– Tirei foto do Corcovado pela janela de meu quarto e já mandei para o meu marido, que adora essa imagem do Cristo na montanha do Rio – comenta Gro quando chega ao terraço onde armamos câmeras e microfones para nossa conversa do Milênio.

Assim que se senta, ela encara um ângulo novo da paisagem no lado oposto, ainda não percebido.

– Que maravilha esta pedra imensa logo aqui atrás.

O que ela não notou, do ponto onde se sentou, foi que a rica vegetação tropical à nossa volta escondia um cenário ainda mais carioca: a favela da Rocinha, uma das maiores da América Latina, derramada por aquele lado da montanha vizinha, por onde se expandiram os barracos a partir do outro pedaço do morro onde a comunidade começou, em São Conrado.

Na Rocinha vivem muitos dos que trabalham no asfalto em baixo, prestando serviços como empregadas domésticas, porteiros, motoristas, garçons. Poucos meses atrás, seria até perigoso se instalar na vizinhança, como constataram vários moradores de mansões próximas, alguns levados a se mudar ao longo dos anos, outros a vender por preço baixo suas casas tão próximas de uma comunidade dominada tanto tempo pela violência e o tráfico de drogas.

Só que o perigo acabou e a região volta a ter valorização e prestígio. Não mudou por milagre e sim por iniciativa do poder público, que instalou na Rocinha uma Unidade de Proteção Policial (UPP), programa do governo carioca que vem obtendo resultados. Contrariou as expectativas de uma população que andava descrente na capacidade das autoridades em expulsar traficantes e se fincar no local para restabelecer uma vida razoável em áreas pobres e degradadas, mas agora pelo menos sem violência. A pacificação tem facilitado a implantação de programas sociais para os milhares de habitantes da Rocinha, bem como em uma dezena de outras favelas cariocas.

Assim, em torno de seu próprio hotel, nossa entrevistada, uma das pioneiras do movimento ecológico mundial testemunha um exemplo de como o poder público, com apoio local, pode interferir para melhorar a qualidade de vida das pessoas. Nada mais animador para alguém que teve papel-chave em lançar, nos anos 80, o conceito de “desenvolvimento sustentável”, hoje base das discussões sobre meio-ambiente, como a Rio+20.

Ela veio ver de perto a conferência no Rio, desta vez como co-autora de novos estudos da ONU sobre meio-ambiente e inclusão social. Veio também como membro do seleto grupo The Elders, formado por veteranos líderes (Fernando Henrique Cardoso, Jimmy Carter, Desmond Tutu, entre outros), convocados pelo sul-africano Nelson Mandela para aplicarem sua experiência e sabedoria na busca de soluções para problemas mundiais.

O calor da primavera-verão carioca não parece perturbar essa nórdica criada nas promidades de geleiras. Mas um copo d’água não seria má ideia, propõe. Vem a água em jarra, tirada de filtro.

– Não se deve beber água assim fora de casa, pois nunca se sabe há quanto tempo não se limpa o filtro.

Ouve-se a voz de quem, além de viajante pelos cantos remotos do mundo, ex-primeira-ministra, ex-diretora da Organização Mundial de Saúde, é formada em Medicina.

por Silio Boccanera

Teremos um futuro?

seg, 11/06/12
por rodrigo.bodstein |

 

 

As condições para a vida na Terra estão em risco. Como resolver esse desafio com lideranças divididas por fronteiras e soberanias? Saiba mais na entrevista que Sonia Bridi fez com o ex-secretário-geral da Rio92, Maurice Strong, que, há mais de quarenta anos, luta para incluir o meio ambiente na agenda global.


Os olhares do mundo estão voltados para o Rio de Janeiro. Delegações chegam à cidade para discutir como equacionar desenvolvimento econômico com uma relação sustentável com o meio ambiente. Em meio a maior crise econômica desde mil novecentos e vinte e nove, com bilhões de pessoas querendo atingir níveis de consumo que apenas um sétimo da população mundial possui e uma ameaça cada vez mais real de mudança climática, a questão, agora, talvez não seja o futuro que queremos, mas se teremos um futuro.

O planeta entrou na agenda internacional na Conferência sobre Meio Ambiente Humano, em Estocolmo, em mil novecentos e setenta e dois, mas foi na Rio noventa e dois que o debate ganhou os contornos atuais. Na economia, gradualmente, o desenvolvimento se tornou sustentável e, hoje, discute-se a necessidade de uma economia verde e de inclusão dos custos ambientais no preço final dos produtos. Na política, o desafio continua o mesmo: como resolver um problema global por meio de lideranças divididas por fronteiras e soberanias.

Para compreender o que aconteceu nesses vinte anos e a necessidade de irmos além do que fizemos até agora, o Milênio entrevistou o canadense Maurice Strong. Embora tenha começado sua a carreira no setor de petróleo e gás, Maurice se dedica a transformar a percepção das lideranças globais sobre a importância do meio ambiente há mais de 40 anos. Foi responsável pelo primeiro relatório sobre a situação ambiental no planeta e que preparou a discussão da Conferência de Estocolmo de mil novecentos e setenta e dois. A partir de então, virou consultor do governo Chinês, participou da Comissão Mundial para o Meio Ambiente e Desenvolvimento e teve um papel decisivo como secretário-geral da Rio92, liderando o esforço por um maior compromisso dos líderes com o que foi acordado e para a consolidação de uma estrutura para a proteção do planeta.

por Rodrigo Bodstein



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