Já conhecíamos Andrew Simms de encontros anteriores no think-tank New Economics Foundation, que ele dirigiu por tanto tempo e onde agora atua mais como analista. Em entrevistas, artigos, e palestras, ele há muito bate na tecla de que economistas precisam repensar alguns dogmas básicos da economia, como a noção de que o crescimento é sempre a meta ideal a se perseguir como diretriz básica de produção e distribuição de bens numa sociedade.
Esse culto ao PIB precisa ser reavaliado, sustenta Simms, porque ele não representa apenas atividade produtiva e criação de empregos, mas implica também poluição e destruição dos recursos limitados da natureza, sobretudo via consumo obsessivo. Claro que os pobres precisam de emprego e renda para melhorar de vida, nota Simms, e têm direito de consumir produtos e serviços a um nível mais elevado do que conseguem quando seus recursos são parcos.
O problema é que se todos consumirem ao nível de europeus e americanos hoje, os recursos do planeta não darão conta do recado. Sete bilhões de pessoas no planeta não podem copiar os padrões de compra adotados no mundo rico de hoje, porque a Terra pifa. Compreensível também que os pobres e os de classe média se deixem encantar pelas tentações do consumismo, pois afinal recebem as mesmas mensagens de propaganda que a mídia divulga, incitando as pessoas a comprar mais.
Até os governos, sobretudo em fase de aperto econômico como na crise atual, tentam convencer o público a consumir mais, para assim estimular o comércio, a indústria e os serviços, criando empregos, elevando impostos e assim melhorando a vida de todos. Pouco importa se, ao mesmo tempo, e enquanto abrem as portas para facilitar o crédito, os políticos também preguem aos cidadãos: não gastem mais do que suas rendas permitem. O que economistas como Simms propõem é repensar novos critérios econômicos, não para levar o mundo a um paraíso hippie de pura contemplação da natureza enquanto se vive de jaboticaba, mas que a sociedade reconheça as limitações de recursos e produza levando em conta o meio-ambiente e o bem estar das pessoas.
Daí a implicância desses novos economistas com índices do tipo PIB, que só medem crescimento econômico e computam da mesma coluna positiva gastos com saúde e despesas para limpar um derramamento de petróleo. Preferem novos índices que aos poucos se tornam mais conhecidos, como o de Desenvolvimento Humano (IDH), criado pela ONU, e outros que vêm surgindo, com o objetivo de medir parâmetros de bem-estar como educação, lazer, convivência social. Ou mesmo um “índice de felicidade”, conforme adotado pelo reinado do Butão, no Himalaia, já tema de análises acadêmicas. O próprio estudo de felicidade deixou de ser preocupação apenas de psicólogos e já entrou no currículo de universidades sérias, como a London School of Economics. Foi capa da Harvard Business Review de janeiro último, examinado sob o rigor de princípios estatísticos.
O comportamento do consumidor na sociedade também deixa de ser apenas assunto para especialistas em marketing e passa pelo crivo acadêmico de especialistas como Daniel Kahneman, que ganhou um Prêmio Nobel de Economia justamente por suas pesquisas na área de economia e comportamento. E Zygmunt Bauman, que o examina sob o prisma sociológico. Outros ganhadores do Nobel de economia, como o americano Joseph Stiglitz e o indiano Amartya Sen, propõem métricas mais abrangentes do que o PIB e querem ir mais longe do que o IDH, criação do próprio Sen nos anos 90. Colegas de renome, como Nicholas Stern, da London School of Economics, buscam dar valor monetário às medidas de combate aos danos provocados pelo crescimento desordenado. Outros com experiência de mercado, como o banqueiro Pavan Sukhdev, ex-Deutsche Bank, tentam dar preço a bens naturais tão imponderáveis quanto a evaporação dos rios amazônicos, que permitem irrigar solos férteis na Argentina e no Mato Grosso do Sul. Usuários deviam pagar por esse bem, sustenta Sukhdev.
O Brasil ainda vive a febre e a empolgação com o crescimento a qualquer custo, mas até um economista de linha tradicional como Delfim Neto comentou “nunca tive a ilusão de que esta astronave independente, rodando em torno do Sol, tivesse recursos infinitos“.
por Silio Boccanera