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Próximos Milênios: Terry Eagleton

sex, 29/10/10
por Equipe Milênio |
categoria Notas, Programas

fotos: Walter Craveiro - Flip

Gravado na Flip, a Festa Literária de Paraty, a conversa do correspondente Silio Boccanera com o polêmico crítico literário Terry Eagleton já começou incendiária. Ao ler um artigo do Sunday Times que apresenta Eagleton como “marxista, religioso, velho e punk”, o entrevistado rebateu: “Depois dessa apresentação sensacionalista, na qual eu pareço um boxeador peso-pesado, não espere que eu pule em volta do palco como um gorila! Espero que sejamos intelectualmente sérios aqui!”

É por essas e outras que Eagleton mantém a fama de polêmico e combativo, já que transita pelos dois lados do balcão: o da produção e da crítica lietrária. Autor de mais de 40 livros que falam desde Shakespeare até Walter Benjamin – o livro mais conhecido aqui no Brasil é “Teoria da literatura: uma introdução”, em que fala dos românticos do século XIX até os autores pós-modernos – Eagleton lançou recentemente “Reason, faith, and revolution: reflections on the God debate” (Razão, fé e revolução: reflexos no debate sobre Deus), no qual critica severamente o ateísmo e autores como o biólogo evolucionista Richard Dawkins (clique aqui e assista ao Milênio em duas partes gravado com Dawkins na Flip de 2009) e o jornalista Christopher Hitchens. Os dois são conhecidos pelas obras em que negam a existência de Deus e pelas críticas às religiões.

Nesse Milênio especial em duas partes (01/11 e 08/11), Terry Eagleton despeja toda a sua ironia sobre Dawkins e Hitchens, explica por que Deus se tornou ainda mais importante nas discussões contemporâneas, defende Marx das interpretações preconceituosas e das críticas mais comuns e ainda revela como as elites transformaram o futebol no novo “ópio do povo”, evitando que a classe trabalhadora lute por mudanças sociais.

Tudo isso, claro, regado a críticas e ironias constantes a Dawkins e Hitchens.

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por Alexandre dos Santos

Vídeo extra: Frank Rich

qua, 27/10/10
por Equipe Milênio |

 

Como de praxe, quarta-feira é dia de publicar o vídeo com o material inédito que não foi ao ar.
Neste trecho da conversa, o colunista do NY Times Frank Rich explica ao correspondente Jorge Pontual como a web modificou os hábitos de leitura dos cidadãos e está fazendo com que as empresas de comunicação se ajustem a essa nova realidade. Ele também dá um conselho aos jovens jornalistas: “avaliem sempre qual é a trama.”

Leitura diária

seg, 25/10/10
por Equipe Milênio |
categoria Bastidores, Notas

(Re)veja a entrevista a conversa do correspondente Jorge Pontual com o jornalista e colunista de política do New York Times, Frank Rich.

Por problemas envolvendo direitos autorais de exibição na web, infelizmente não podemos publicar a matéria completa que antecede a entrevista, com as imagens da Sarah Palin, dos Republicanos em campanha e das manifestações do Tea Party.

Mais abaixo você confere o texto de bastidores do Jorge Pontual.

Desde que vim morar em Nova York, em 1996, leio o The New York Times toda manhã e meu colunista preferido é Frank Rich.

foto: Damon Winter - NYT

No início ele escrevia sobre cultura, agora sobre política – sua coluna aparece no Week in Review todo domingo. Não cheguei a pegar a fase de Rich como crítico de teatro, nos anos 80 e 90, mas no livro Hot Seat tive o prazer de degustar as críticas dele.

Li também seu livro de memórias, Ghost Light, e temos muito em comum. Sabe aquele garoto que na escola é o último a ser escolhido pra jogar no time? É ele, sou eu. Ambos crescemos nos anos 50, ouvindo discos em 78 rotações. E por gostarmos de escrever, viramos jornalistas.

foto: Megan Wilson

Ao finalmente encontrá-lo em seu escritório no Times para gravar este Milênio, conversamos sobre uma paixão comum, Stephen Sondheim, o maior gênio contemporâneo do musical theatre. Rich contou que vai dirigir um documentário sobre Sondheim que, aos 80, está muito ativo e acaba de publicar um livro sobre suas letras, Finishing the Hat.

Para Rich, e pra mim também, o melhor de todos os musicais da Broadway é Sunday in the Park with George, de Sondheim, sobre o quadro La Grande Jatte do francês Georges Seurat. Um fracasso de público. Mas o primeiro musical totalmente moderno, revolucionário. Finishing the Hat é o nome da principal canção.

Un dimanche après-midi à l'Île de la Grande Jatte - Georges Seurat

Mas não nos encontramos para falar de teatro, infelizmente. Vem aí as midterm elections, as eleições para o congresso e governos estaduais que serão um plebiscito do governo Obama. Foi sobre esse teatro que conversamos. Os personagens, Obama, Sarah Palin, Glenn Beck, o Tea Party.

Frank Rich escreveu um livro excelente, The Greatest Story Ever Sold, sobre como o presidente vendeu a guerra do Iraque ao público americanoGeorge W. Bush com a ajuda da mídia. Outro tema que por falta de tempo ficou de fora. Mas um livro que recomendo a quem se interessa pela política dos dias de hoje, na qual vence a melhor história, contada pelo melhor ator.

por Jorge Pontual

Próximo Milênio: Frank Rich

sex, 22/10/10
por Equipe Milênio |
categoria Notas, Programas

foto: Damon Winter - NYT

Frank Rich, já foi crítico de TV, cinema e de artes cênicas. Hoje é um dos comentaristas políticos mais influentes nos EUA. Sua coluna semanal no NYT é lida por mais de 5 milhões de pessoas (nas versões impressa e digital).

O correspondente Jorge Pontual foi até a redação do NYTimes para conversar com Rich sobre a importância das eleições legislativas nos EUA (que acontecem no dia 2 de novembro) e um fenômeno em particular: o fortalecimento da extrema direita conservadora, representada pelo “Tea Party” (que ganhou esse nome por causa de um movimento de protesto em fins do século XVIII), e o que esse movimente pode vir a representar para o futuro imediato pós-eleitoral nos EUA. Rich foi um dos primeiros analistas políticos a chamar a atenção para o fenômeno de ascenção dessa nova direita conservadora dentro do Partido Republicano.

Frank Rich também analisou o delicado momento político pelo qual passa o presidente Obama e comenta como os políticos nos EUA estão agindo cada vez como atores canastrões de TV. E fazem sucesso assim!

Segunda (25/10) às 23h30.

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por Alexandre dos Santos

Vídeo extra: Célestin Monga

qua, 20/10/10
por Equipe Milênio |

Como já virou tradição, quarta-feira é dia de publicarmos o material que não foi ao ar.

Neste vídeo extra, o economista-chefe do Banco Mundial, Célestin Monga, explica à repórter Elizabeth Carvalho os motivos do exílio fora dos Camarões e os planos de voltar ao país.

Siga o programa em: @mileniognews

África: um olhar pragmático e sem preconceitos

ter, 19/10/10
por Equipe Milênio |
categoria Programas, Vídeos

Nesta entrevista à repórter Elizabeth Carvalho, o economista-chefe do banco Mundial, o camaronês Célestan Monga revela uma África real e longe dos estereótipos.

Conheça a equipe do Milênio

seg, 18/10/10
por Equipe Milênio |

Conheça a equipe do Milênio

ELIZABETH CARVALHO

O Milênio é um recordista na quebra de tabus da nossa mídia contemporânea. Provou que, no tempo acelerado em que vivemos, prevalece ainda o desejo de andar mais devagar de vez em quando – tanto que os 23 minutos de uma boa e consistente entrevista (“uma eternidade” no tempo tradicional da tevê) costumam em geral provocar a frustração de que “o programa passou muito depressa”. Mostrou que é possível privilegiar a palavra num veículo visual por excelência; que ideias novas e desafiadoras para o nosso presente e o nosso futuro são capazes de multiplicar as imagens em corações e mentes.

Desfez o mito dos “temas difíceis”, revelando a fome das pessoas em refletir de forma mais aprofundada sobre nosso mundo cada vez mais intrincado e complexo, do atraso dos países periféricos à convergência tecnológica, do fundamentalismo nas religiões ao fundamentalismo do mercado, da violência das cidades à organização da sociedade civil, da guerra da água à guerra do petróleo, da crise financeira à crise dos modos de produção e consumo; do fim do caráter sagrado da morte à recuperação do sentido do perdão e da reconciliação.

Finalmente, pelas vozes de sua enorme, variada e inquieta constelação de filósofos, historiadores, cientistas sociais, políticos, economistas, escritores, o Milênio abriu espaço para outros sotaques, outras culturas e outras interpretações da realidade com as quais não estávamos muito acostumados. De Dakar a Londres, de Nova York a Beijing, de Paris a La Paz ou ao Rio de Janeiro, a gente vai encurtando as distâncias e revelando um novo século cheio de indagações, mas com certeza cada vez mais multipolar.

Eu simplesmente adoro fazer o Milênio.

JORGE PONTUAL

Em 1996, quando Paulo Francis e Edney Silvestre (então correspondente de O Globo em NY) me convenceram a fazer um programa semanal de entrevistas do Paulo produzidas pelo Edney, chamado Millennium, e a Globo News comprou a ideia (eu chefiava a Globo em NY e a GNews estava estreando), eu não imaginava nem de longe que um dia seria um dos entrevistadores do programa. Não demorou muito. Estreei no Milênio (aportuguesamos o nome) em 1998 e nunca mais parei. Me deu grandes alegrias, como conhecer meus queridos Margaret Atwood, Wim Wenders, Harold Bloom, Douglas Hofstadter, Benoit Mandelbrot, e mais um batalhão de gente inteligente e instigante.

E quanta gente assim ainda tem pra entrevistar!

Duas coisas surpreendem meus entrevistados: que um programa assim exista numa TV comercial do Brasil; e que eu tenha de fato lido os livros deles. Parece que isso não é muito comum. Não vejo outro jeito de dar conta do recado, senão mergulhar na obra da pessoa. Nem sempre dá tempo, nem sempre dá certo, mas em geral funciona. Só espero que seja minoria o meu amigo carioca que me diz: “Jorge, adoro as suas entrevistas. Pena que eu não entenda nada”.

Nada se compara ao prazer de, com minha mulher Angela, ter acompanhado a vida dos nossos filhos André e Teca, aqui e no Brasil, ver os dois formados, com suas carreiras, maduros, independentes e felizes.

LUCAS MENDES

Eu sei o que é uma entrevista chata porque já fiz, vi e dei várias, inclusive uma para o Paulo Francis no início da Globo News, para um programa que nem existe mais: Entrevista Especial. Tenho quase certeza que o Pontual estava junto, como diretor. Sei que saiu frouxa, por culpa minha, claro. Sempre gostei de fazer entrevistas, nunca de ser entrevistado. Sempre preferi ouvir do que falar, mas confesso que não descobri uma fórmula de entrevista. Cada uma tem sua química.

Como a Barbara Walter se tornou a entrevistadora mais famosa e bem paga dos Estados Unidos? Como ela consegue tirar confissões e revelações tão íntimas e às vezes tão patéticas? Com certeza ela faz o dever de casa mas uma das perguntas clássicas das entrevistas dela é “se você fosse uma árvore, qual seria?”

Para provocar o Francis perguntei a ele no programa : se você fosse um peixe, o que seria? Achei que fosse reagir com deboche mas ele respondeu animado: “Seria um peixe espada”. O troco da Barbara dá certo mas infelizmente ela tirou patente.

É muito difícil fazer um Milênio sem estar bem preparado com as perguntas e a construção ideal da entrevista mas nunca sai como você planeja. A partir da segunda ou terceira resposta seu roteiro vai pro lixo e a entrevista toma seu próprio rumo, ganha vida.

Como entrevistador para o Milênio, minha primeira – e saiu boa – foi com Milton Friedman, Nobel de 76 em economia, um assunto que consumo todos os dias e continuo boiando mas isto não é um defeito. Nós da bancada somos jornalistas e não especialistas nem justiceiros. Num programa de investigação de ideias e noções como o Milênio o importante não é impressionar nem acuar o entrevistado mas é deixá-lo à vontade e tirar dele o melhor possível.

SILIO BOCCANERA

Quando converso sobre o Milênio com amigos ou desconhecidos que me abordam sobre o programa, costumo dizer que é um privilégio realizar entrevistas que pressupõem inteligência no telespectador e não o tratam como um imbecil que só quer ver na tela algo que o distraia ou não o faça pensar. Brinco até que é bom poder usar palavras com mais de três sílabas, mesmo em idioma estrangeiro e com legenda.

Quero dizer com isso apenas que é um privilégio, após trinta anos de jornalismo de correria atrás de encrenca pelo mundo, dedicar meia hora a uma discussão de idéias. O telespectador já tem uma oferta até exagerada de entretenimento e apelo emocional na programação geral da tevê e não custa abrir-lhe uma opção de uma discussão de conceitos, propostas, estudos, assuntos que o público menos exigente considera “chatos”, mas o fã do Milênio aprecia.

Programas como o Milênio e o Sem Fronteiras, para citar os dois de que participo na Globo News, visam alcançar um grupo mais exigente da audiência, gente habitualmente insatisfeita com a oferta regular na tevê. Em vez de desligar o aparelho para ouvir música ou ler um livro (nada contra…), o insatisfeito pode ver um programa que um dia vai achar interessante, outro nem tanto, depende do assunto, mas no conjunto sempre terá um conteúdo que evita o superficial.

Pessoalmente, extraio vantagem imensa ao preparar cada entrevista, pois é a oportunidade de me informar sobre as idéias de alguém. O convidado percebe logo se o entrevistador se preparou para a conversa. Fica satisfeito – e nos diz isso com frequência – quando nota que o jornalista leu seus livros ou seus trabalhos e, mesmo não sendo especialista, discute o tema sem apelar para banalidades.

Por isso mesmo, não hesito em levar anotações para as entrevistas e de consultá-las abertamente na hora, sinal de respeito ao entrevistado, demonstração de interesse pelo assunto dele e busca de esclarecimento. As anotações são pontos de referência, resultado de pesquisas que permitem fazer perguntas pertinentes. Há sempre lugar para improvisação, mas com base em preparo prévio.

Como meus colegas nos programas também constatam em suas entrevistas, é comum o entrevistado se admirar com a linha dos programas e agradecer pela oportunidade de discutir seu assunto com mais profundidade.

Em meio a tudo isso, tenho até conseguido aprender uma coisa ou outra.

ALEXANDRE DOS SANTOS

No meio de tanta gente importante o mínimo que eu posso fazer é me apresentar.
Cheguei por aqui em 1996 – junto com uma leva de jornalistas recém-saídos da faculdade – para algo que até então se chamava “projeto do canal de jornalismo 24 horas da TV Globo”. De lá para cá, venho acumulando um punhado de experiências importantes na Globo News: um curto período na reportagem e edição e, depois, mais ou menos sete anos na produção para o Jornal das Dez e os Em Cima da Hora. Tempos interessantes, quando acumulava o trabalho com o mestrado no Instituto de Relações Internacionais da PUC-Rio, onde atualmente sou professor de História da África.

Depois de dois anos ajudando a produzir e editar o Sem Fronteiras, integrei a equipe responsável pelo programa Cidades e Soluções, onde fiquei por dois anos e meio. Em 2008 participei da produção e edição da série Os Retornados, que mostrou a saga dos ex-escravos brasileiros que retornaram para os países do Golfo da Guiné, na África.

Chego ao Milênio com a responsabilidade de não deixar a bola cair e com o desafio de dar todo apoio a um time de repórteres e correspondentes que é o sonho de qualquer editor. Lá vamos nós!

Próximo programa: Célestin Monga

sex, 15/10/10
por Equipe Milênio |
categoria Notas, Programas

Uma discussão diferente sobre África, fora dos estereótipos, do etnocentrismo e do olhar geralmente preconceituoso do ocidente.

Foto: acervo pessoal de Célestin Monga

Célestin Monga, camaronês, economista-chefe do Banco Mundial e um dos mais importantes pensadores africanos da atualidade, faz uma análise crítica e desapaixonada do continente depois de cinco séculos de tráfico, escravidão e colonialismo.

Cinquenta e três anos após a independência do Gana, o primeiro país africano a se livrar do jugo colonial, Célestin Monga apresenta à repórter Elizabeth Carvalho sua interpretação pragmática a respeito das causas que ainda mantêm o continente como campeão de vários índices negativos: percentual de miseráveis, líderes autoritários e déspotas e elites corruptas. Para ele, os povos africanos sofrem de um isolamento crônico por parte da mídia e da comunidade internacional, mas também não conseguiram se desenvolver com eficácia por causa da falta de interesse da sociedade civil e do caráter das lideranças políticas.

Monga se tornou uma personalidade em toda a África Ocidental ao ser preso após criticar o presidente do Camarões, Paul Biya (no poder há 28 anos), em um artigo no jornal francês Le Messager.

Célestin Monga, que vive há quase vinte anos em Washington, nos EUA, veio ao Brasil para lançar seu livro mais recente “Niilismo e Negritude”, em que trata os problemas africanos sem exotismo.

Segunda 18/10 às 23h30.

Acompanhe também: @mileniognews

por Alexandre dos Santos

Vídeo extra: Jessye Norman

qua, 13/10/10
por Equipe Milênio |
categoria Sem Categoria

Como já se tornou tradição, hoje, quarta-feira, publicamos o vídeo extra com trechos inéditos da entrevista da semana.

Aqui, Jessye Norman fala ao correspondente Jorge Pontual sobre cuidados com a voz, dá conselhos ao jovem cantor e comenta a bela declaração de amor que “Widmung” representa para Schumann e Clara.

Diva? Temperamental?

seg, 11/10/10
por Equipe Milênio |
categoria Sem Categoria

(Re)veja a entrevista que a soprano Jessye Norman concedeu ao correspondente Jorge Pontual e, mais abaixo, veja texto e fotos com os bastidores da conversa.

Jessye Norman é uma dessas personalidades públicas, cada vez mais raras, que conseguem manter sua vida pessoal totalmente fora dos holofotes da mídia. Quase nunca dá entrevistas. Nenhum repórter jamais entrou na mansão White Gates onde ela mora no vale do rio Hudson ao Norte de Nova York. Por isso foi uma bênção ganhar a oportunidade de entrevistá-la para o Milênio, às vésperas da viagem que a leva à Colômbia e ao Brasil, onde esteve pela última vez em meados dos anos 90.

fotos: Alexandre Gazio

Ms. Norman veio a Nova York especialmente para a entrevista, gravada no Café Carlye, a casa noturna na qual Bobby Short brilhou durante anos e onde a jazz band de Woody Allen se apresenta regularmente.

Nossa equipe (Luiz Novaes e os irmãos Anderson e Alexandre Gazio) levou uma hora preparando o cenário. Mas o manager da cantora chegou e mandou mudar tudo, trocando até as cadeiras. Nervoso, ele avisou que assim mesmo ela provavelmente não aceitaria a arrumação e mandaria mudar tudo de novo. Criou o clima para a entrada de uma diva insuportável e impossível de agradar.

Mas quando Ms. Norman entrou, pontualmente, sorriso aberto e atitude totalmente profissional, ela não mudou nada, foi extremamente agradável e mergulhou na entrevista sem se distrair com detalhes. Ao contrário do que seu entourage gostaria, Jessye Norman não é uma diva. Não tem nada de temperamental. É apenas uma das maiores artistas do nosso tempo, pela competência, não pela pose e publicidade.

Pedi que ela autografasse o DVD “Jessye Norman, a portrait” para Michael Hanko, meu professor de Técnica de Alexandre e voice coach, o que ela fez com muita simpatia. Contou-me que, como muitos cantores e músicos, é treinada nessa técnica, que permite ao artista se libertar de hábitos nocivos e inibições. Jessye Norman foi abençoada com recursos vocais inigualáveis, quase milagrosos, mas além disso trabalha constantemente para manter e desenvolver esse dom. Tudo na carreira dela foi conquistado com muito esforço, consciência, dedicação e colaboração com outros grandes artistas.

Coincidência ou não, o repertório de Ms. Norman é exatamente a música que eu prefiro ouvir: Mozart, Schubert, Schumann, Brahms, Wagner, Strauss, Mahler, Bizet, Berlioz, Gounod, Duparc, Debussy, Ravel, Poulenc. Ela nunca se interessou pelo Bel Canto italiano, nem eu. Até as cantoras de jazz que ela prefere, e que homenageia nos recitais desta tournée, Ella Fitzgerald, Nina Simone, são as minhas preferidas. Assim como os compositores americanos, Bernstein, Gershwin, Duke Ellington e Harold Arlen, que completam o programa. Como diz Baudelaire no poema L’Invitation au Voyage, que ela gravou musicado por Duparc, somos “almas irmãs”.

Ela se apresentará acompanhada pelo pianista Mark Markham nos dias 15 de outubro, em Salvador, 19 no Rio, 22 em São Paulo e 24 em Paulínia. O programa é parte do CD duplo Roots, que ela lançou este ano, gravado ao vivo em Berlim. Para surpresa geral, Ms. Norman swinga, com um quinteto de jazz, e faz o público alemão bater palmas para marcar o ritmo. É um desafio arriscado para uma cantora lírica, mas ela se sai muito bem.

por Jorge Pontual



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