Conheça a equipe do Milênio
ELIZABETH CARVALHO
O Milênio é um recordista na quebra de tabus da nossa mídia contemporânea. Provou que, no tempo acelerado em que vivemos, prevalece ainda o desejo de andar mais devagar de vez em quando – tanto que os 23 minutos de uma boa e consistente entrevista (“uma eternidade” no tempo tradicional da tevê) costumam em geral provocar a frustração de que “o programa passou muito depressa”. Mostrou que é possível privilegiar a palavra num veículo visual por excelência; que ideias novas e desafiadoras para o nosso presente e o nosso futuro são capazes de multiplicar as imagens em corações e mentes.
Desfez o mito dos “temas difíceis”, revelando a fome das pessoas em refletir de forma mais aprofundada sobre nosso mundo cada vez mais intrincado e complexo, do atraso dos países periféricos à convergência tecnológica, do fundamentalismo nas religiões ao fundamentalismo do mercado, da violência das cidades à organização da sociedade civil, da guerra da água à guerra do petróleo, da crise financeira à crise dos modos de produção e consumo; do fim do caráter sagrado da morte à recuperação do sentido do perdão e da reconciliação.
Finalmente, pelas vozes de sua enorme, variada e inquieta constelação de filósofos, historiadores, cientistas sociais, políticos, economistas, escritores, o Milênio abriu espaço para outros sotaques, outras culturas e outras interpretações da realidade com as quais não estávamos muito acostumados. De Dakar a Londres, de Nova York a Beijing, de Paris a La Paz ou ao Rio de Janeiro, a gente vai encurtando as distâncias e revelando um novo século cheio de indagações, mas com certeza cada vez mais multipolar.
Eu simplesmente adoro fazer o Milênio.
JORGE PONTUAL
Em 1996, quando Paulo Francis e Edney Silvestre (então correspondente de O Globo em NY) me convenceram a fazer um programa semanal de entrevistas do Paulo produzidas pelo Edney, chamado Millennium, e a Globo News comprou a ideia (eu chefiava a Globo em NY e a GNews estava estreando), eu não imaginava nem de longe que um dia seria um dos entrevistadores do programa. Não demorou muito. Estreei no Milênio (aportuguesamos o nome) em 1998 e nunca mais parei. Me deu grandes alegrias, como conhecer meus queridos Margaret Atwood, Wim Wenders, Harold Bloom, Douglas Hofstadter, Benoit Mandelbrot, e mais um batalhão de gente inteligente e instigante.
E quanta gente assim ainda tem pra entrevistar!
Duas coisas surpreendem meus entrevistados: que um programa assim exista numa TV comercial do Brasil; e que eu tenha de fato lido os livros deles. Parece que isso não é muito comum. Não vejo outro jeito de dar conta do recado, senão mergulhar na obra da pessoa. Nem sempre dá tempo, nem sempre dá certo, mas em geral funciona. Só espero que seja minoria o meu amigo carioca que me diz: “Jorge, adoro as suas entrevistas. Pena que eu não entenda nada”.
Nada se compara ao prazer de, com minha mulher Angela, ter acompanhado a vida dos nossos filhos André e Teca, aqui e no Brasil, ver os dois formados, com suas carreiras, maduros, independentes e felizes.
LUCAS MENDES
Eu sei o que é uma entrevista chata porque já fiz, vi e dei várias, inclusive uma para o Paulo Francis no início da Globo News, para um programa que nem existe mais: Entrevista Especial. Tenho quase certeza que o Pontual estava junto, como diretor. Sei que saiu frouxa, por culpa minha, claro. Sempre gostei de fazer entrevistas, nunca de ser entrevistado. Sempre preferi ouvir do que falar, mas confesso que não descobri uma fórmula de entrevista. Cada uma tem sua química.
Como a Barbara Walter se tornou a entrevistadora mais famosa e bem paga dos Estados Unidos? Como ela consegue tirar confissões e revelações tão íntimas e às vezes tão patéticas? Com certeza ela faz o dever de casa mas uma das perguntas clássicas das entrevistas dela é “se você fosse uma árvore, qual seria?”
Para provocar o Francis perguntei a ele no programa : se você fosse um peixe, o que seria? Achei que fosse reagir com deboche mas ele respondeu animado: “Seria um peixe espada”. O troco da Barbara dá certo mas infelizmente ela tirou patente.
É muito difícil fazer um Milênio sem estar bem preparado com as perguntas e a construção ideal da entrevista mas nunca sai como você planeja. A partir da segunda ou terceira resposta seu roteiro vai pro lixo e a entrevista toma seu próprio rumo, ganha vida.
Como entrevistador para o Milênio, minha primeira – e saiu boa – foi com Milton Friedman, Nobel de 76 em economia, um assunto que consumo todos os dias e continuo boiando mas isto não é um defeito. Nós da bancada somos jornalistas e não especialistas nem justiceiros. Num programa de investigação de ideias e noções como o Milênio o importante não é impressionar nem acuar o entrevistado mas é deixá-lo à vontade e tirar dele o melhor possível.
SILIO BOCCANERA
Quando converso sobre o Milênio com amigos ou desconhecidos que me abordam sobre o programa, costumo dizer que é um privilégio realizar entrevistas que pressupõem inteligência no telespectador e não o tratam como um imbecil que só quer ver na tela algo que o distraia ou não o faça pensar. Brinco até que é bom poder usar palavras com mais de três sílabas, mesmo em idioma estrangeiro e com legenda.
Quero dizer com isso apenas que é um privilégio, após trinta anos de jornalismo de correria atrás de encrenca pelo mundo, dedicar meia hora a uma discussão de idéias. O telespectador já tem uma oferta até exagerada de entretenimento e apelo emocional na programação geral da tevê e não custa abrir-lhe uma opção de uma discussão de conceitos, propostas, estudos, assuntos que o público menos exigente considera “chatos”, mas o fã do Milênio aprecia.
Programas como o Milênio e o Sem Fronteiras, para citar os dois de que participo na Globo News, visam alcançar um grupo mais exigente da audiência, gente habitualmente insatisfeita com a oferta regular na tevê. Em vez de desligar o aparelho para ouvir música ou ler um livro (nada contra…), o insatisfeito pode ver um programa que um dia vai achar interessante, outro nem tanto, depende do assunto, mas no conjunto sempre terá um conteúdo que evita o superficial.
Pessoalmente, extraio vantagem imensa ao preparar cada entrevista, pois é a oportunidade de me informar sobre as idéias de alguém. O convidado percebe logo se o entrevistador se preparou para a conversa. Fica satisfeito – e nos diz isso com frequência – quando nota que o jornalista leu seus livros ou seus trabalhos e, mesmo não sendo especialista, discute o tema sem apelar para banalidades.
Por isso mesmo, não hesito em levar anotações para as entrevistas e de consultá-las abertamente na hora, sinal de respeito ao entrevistado, demonstração de interesse pelo assunto dele e busca de esclarecimento. As anotações são pontos de referência, resultado de pesquisas que permitem fazer perguntas pertinentes. Há sempre lugar para improvisação, mas com base em preparo prévio.
Como meus colegas nos programas também constatam em suas entrevistas, é comum o entrevistado se admirar com a linha dos programas e agradecer pela oportunidade de discutir seu assunto com mais profundidade.
Em meio a tudo isso, tenho até conseguido aprender uma coisa ou outra.
ALEXANDRE DOS SANTOS
No meio de tanta gente importante o mínimo que eu posso fazer é me apresentar.
Cheguei por aqui em 1996 – junto com uma leva de jornalistas recém-saídos da faculdade – para algo que até então se chamava “projeto do canal de jornalismo 24 horas da TV Globo”. De lá para cá, venho acumulando um punhado de experiências importantes na Globo News: um curto período na reportagem e edição e, depois, mais ou menos sete anos na produção para o Jornal das Dez e os Em Cima da Hora. Tempos interessantes, quando acumulava o trabalho com o mestrado no Instituto de Relações Internacionais da PUC-Rio, onde atualmente sou professor de História da África.
Depois de dois anos ajudando a produzir e editar o Sem Fronteiras, integrei a equipe responsável pelo programa Cidades e Soluções, onde fiquei por dois anos e meio. Em 2008 participei da produção e edição da série Os Retornados, que mostrou a saga dos ex-escravos brasileiros que retornaram para os países do Golfo da Guiné, na África.
Chego ao Milênio com a responsabilidade de não deixar a bola cair e com o desafio de dar todo apoio a um time de repórteres e correspondentes que é o sonho de qualquer editor. Lá vamos nós!