Conheci Adam Kaufmann pessoalmente em NY.
Foi no mês passado, quando aproveitei a viagem para a entrega do Emmy Internacional, no Lincoln Center. Aliás, cerimônia inesquecível, pontuada de homenagens a grandes jornalistas americanos, apresentações e depoimentos de repórteres que fizeram história.
Viagem curta de apenas 3 dias e meio. Saí do Brasil duplamente feliz: pela participação do Emmy acompanhado de amigos de longa data na Globo. E pelo compromisso com o Kaufmann, confirmado por ele no dia do meu embarque.
Nosso encontro foi no lobby do Sofitel. Meio-dia em ponto lá estavam eu e Mr. Kaufmann, que chegou visivelmente suado. Fazia 30 graus em Manhattan.
Uma segunda-feira linda, sem uma única nuvem no céu.
Combinamos de almoçar e dali caminhamos até um restaurante grego vizinho ao hotel. Excelente, por sinal. Pedimos o mesmo prato, recomendação do chef: peixe ao forno com batatas e legumes. E uma taça de sauvignon blanc francês, suave e na medida.
Adam Kaufmann só aceitou me atender depois de muita insistência e de pedir credenciais a meu respeito para o promotor paulista Silvio Marques, amigo dele e não menos conceituado e respeitado.
Reservado como manda o figurino para um promotor criminal do seu estofo, Mr. Kaufmann mais ouviu do que falou. Perguntou detalhes sobre minha vida na Globo, sobre minha vida pessoal. Queria saber como era trabalhar com jornalismo investigativo em um país cheio de escândalos e falcatruas para todos os lados e a todo momento.
Nos poucos intervalos em que eu era bombardeado de perguntas, revidei com questões sobre a dinâmica do seu trabalho à frente de investigações na promotoria de NY.
Estava curioso para saber se ele tinha noção da importância que havia adquirido para as grandes apurações criminais conduzidas “in my country” (nosso amado Brasil, abençoado por Deus e bonito por natureza).
Adam foi muito gentil o tempo todo. Respondia à medida que ia se sentindo à vontade, sem perder de vista, um segundo sequer, o cuidado para não avançar o sigilo profissional e dar detalhes de casos em andamento.
Mr. Kaufmann é casado, tem dois filhos e uma amante: o Brasil.
É namoro antigo, de pleno conhecimento e consentimento da esposa, justiça seja feita com ele. Anos atrás, Mr. and Mrs. Kaufmann fizeram expedição de seis meses pela América do Sul.
A metade dessa aventura foi desfrutada em nossas terras.
Ele conhece o Brasil melhor que eu! Foi a todos os lugares. Foz do Iguaçu, Bonito, sertão nordestino, selva amazônica, sem falar na costa brasileira de norte a sul.
Voltou para NY bem impressionado e extasiado. “Pena que haja tanta corrupção no Brasil”, lamentou. Eu emendei: “e tanta impunidade também”…
Bem, continuemos a falar das coisas boas.
Namorico à parte, Mr. Kaufmann também tem um pouquinho de Brasil no sangue. Contou que – durante a perseguição nazista – sua família fugiu da Polônia. Parte seguiu para os Estados Unidos. Parte rumou em direção ao sul, para recomeçar a vida no Brasil.
São parentes distantes, que ele mal conhece e quase não tem contato algum.
De qualquer forma, é uma história de vida que aguça nele respeito e carinho por nossa pátria amada idolatrada. Salve, salve!
Terminamos a refeição com a esperança de que eu o veria novamente.
E assim foi em Curitiba, no começo deste mês de outubro. O bate e volta dessa vez coube a ele. Veio falar sobre cooperação internacional para juízes federais.
Convite feito pelo juiz Sérgio Moro e prontamente aceito. Os dois se conhecem dos tempos de escândalo do Banestado. A quebra do sigilo de contas ilegais em NY levou muitos doleiros para a cadeia por aqui. E muitos outros ainda são réus em processos por evasão e sonegação.
Pobre Kaufmann.
Mal pisou em Curitiba e eu logo cheguei para perturbá-lo. Repórter é um bicho chato. Vence pelo cansaço.
Na mesma noite do desembarque, ele foi chamado para um jantar no restaurante Barolo. E lá fui eu de bicão… Fiquei na minha, claro. È preciso entender limites para não provocar indigestão.
Depois do jantar, continuei minha missão paparazzo.
Segui Mr. Kaufmann e seus anfitriões até o bar Taj, na agitada avenida Batel. Mudança completa de cenário.
Aproveitei a muvuca para sair à francesa. Estava exausto. Não é fácil essa vida de pegar no pé de autoridade.
Madruguei para preparar a entrevista. Mr. Kaufmann madrugou para correr em um parque. Foi o que ele me disse logo que me encontrou impecável para nossa entrevista exclusiva!
E às dez da manhã, cheio de gás, começamos a falar de coisa séria. Ficou nítido ali para mim o grau de entusiasmo dele pelo trabalho que exerce. Bonito de ver. Com tantas contas para investigar na vida, a crise americana não abalou este super herói da resistência.
Muito obrigado Mr. Kaufmann.
The End.
por César Tralli