Reportagem que chocou o país completou um ano esta semana. O Fantástico mostra o que aconteceu com as empresas e com as pessoas mostradas na reportagem.
Um ano se passou desde que o Fantástico denunciou, de um jeito que você nunca tinha visto, os mecanismos de corrupção com o dinheiro público.
Autorizado pela direção de um hospital público no rio, o repórter Eduardo Faustini se fez passar pelo gestor de compras, e convidou quatro empresas para uma licitação de emergência.
Os representantes das firmas apresentaram várias artimanhas para fraudar o dinheiro que deveria ser usado para a saúde.
Após um ano, Paulo Renato Soares mostra o que aconteceu com as empresas e as pessoas que você viu naquela reportagem histórica.
Foram cenas indignaram o Brasil. A reportagem que chocou o país completou um ano esta semana. O Fantástico mostra o que aconteceu com as quatro empresas e com as pessoas mostradas na reportagem.
Em 2012, a Locanty, a Toesa Service, a Bella Vista e a Rufollo tinham contratos que somavam quase R$ 23 milhões - apenas com órgãos do Governo Federal.
O levantamento, feito pela ONG Contas Abertas, revela que este ano o valor caiu para pouco mais de R$ 250 mil, porque contratos foram rescindidos ou não renovados.
Todas as empresas estão sendo investigadas pela Controladoria Geral da União.
“No caso desse conjunto de empresas, não é algo episódico. A meu ver isso é um esquema articulado”, afirma Jorge Hage, ministro da Controladoria Geral da União.
“Tu bota, por exemplo, R$ 12 mil serviços num dia, acrescentando mais um real em cada serviço. E projeta isso pra 30 dias. Aí é o diabo, né?”, disse Jorge de Figueiredo, que na época prestava serviço para a Bella Vista Refeições Industriais.
Ao ser recebido pelo repórter do Fantástico, ele deu uma lista de órgãos públicos que contratavam a empresa um ano atrás: “Forneço, por exemplo, para Jardim Zoológico, forneço para a Guarda Municipal, forneço para a Polícia Civil, a gente está em todas”.
Em nota, a prefeitura do Rio afirma que os contratos com a Bella Vista foram suspensos logo depois da reportagem e que não tem contratos com as outras empresas mostradas pelo Fantástico.
Já o governo do estado do Rio informa, também em nota, que três das quatro empresas estão suspensas até o fim deste ano - não podem participar de licitações nem ser contratadas.
Davi Gomes, o presidente da Toesa, disse na reportagem do Fantástico que o pagamento de propina costuma ser rápido.
“Bateu o crédito na conta. No máximo 48 horas depois está na sua mão”, diz
Davi Gomes, presidente da Toesa.
Tanto a Toesa quanto a Rufollo estão no cadastro de empresas não idôneas da Controladoria Geral da União.
Enquanto estiverem nesta lista, as empresas não podem fechar contratos com órgãos federais, nem participar de licitações.
Mas a Toesa conseguiu uma liminar na Justiça para poder disputar concorrências.
“Da mesma maneira que gente vai pedir pra eles formatarem uma proposta acima da nossa, a nossa mais baixa, as três acima da nossa, eles pedem para a gente fazer isso para eles, diz Carlos Sarres”.
Carlos Sarres e Carlos Alberto Silva trabalhavam para a Locanty. Depois da reportagem, a empresa mudou de nome: virou Infornova Ambiental.
Ainda tem contratos em vigor com os governos federal e do estado do Rio.
Fantástico: Por que órgãos públicos federais, estaduais e municipais continuam contratando essas empresas?
“Federais seguramente não. Se houver, você me traz, que nós vamos atrás dele”, afirma Jorge Hage.
O governo do estado, como você viu, suspendeu a Locanty durante um ano. Mas informa que os contratos assinados antes dessa suspensão continuam em vigor.
Um deles, na área da saúde, é de pouco mais de R$ 86 milhões. O Fantástico procurou a Infornova no endereço que consta no site da empresa. Ela não funciona mais lá.
Também não conseguimos contato por telefone com Carlos Alberto Silva, que era diretor, e Carlos Sarres, que era gerente da empresa.
Procuramos a Toesa para falar o dono, Davi Gomes, e o ex-gerente Cassiano Lima.
Não fomos recebidos. Fomos à sede da Rufollo.
“Infelizmente não consta nenhum diretor na casa, tá? A empresa está fechada. A gente está sem cliente, infelizmente”, diz Isaura carvalho secretária.
Procuramos também Renata Carvas, que era gerente da Rufollo.
“Estou desempregada, fui demitida”, disse.
Em nota, o advogado de Renata afirma que ela seguia determinações e procedimentos para fechamentos de negócios da empresa.
A nota diz que se ela não seguisse essas diretrizes, outros profissionais seguiriam e que ela provará que é inocente na Justiça.
Jorge de Figueiredo, que prestava serviço para a Bella Vista, diz que nunca participou de processo com corrupção.
“Nunca, nunca. Jamais, em tempo algum”, disse Jorge de Figueiredo.
Fantástico: Quando o senhor diz assim: "Aí é o diabo". O que isso significa?
“Eu não me lembro disso aí. Aí eu estava ali tirando um sarro dele e que não ia voltar mais lá, como eu não voltei”, continuou Jorge Figueiredo.
Uma diretora da Bella Vista que pediu pra não ser identificada também diz que jamais participou de licitação pagando propina.
Segundo ela, a empresa perdeu 80% do faturamento que tinha um ano atrás e reduziu o número de funcionários.
Além da CGU e do TCE do Rio, a Polícia Federal, a Delegacia Fazendária e o Ministério Público Federal investigam todas as empresas envolvidas.
Um ano depois, segundo o Ministério Público, nenhum inquérito policial foi concluído.
“Passado um ano só é muito pouco tempo para o Brasil. Em geral você tem que esperar mais.
Fica uma sensação de descaso, de desprezo, de cinismo”, avalia Claudio Weber Abramo – diretor da Transparência Brasil.