09/11/2015 18h42 - Atualizado em 09/11/2015 20h26

Samarco tem que distribuir água e monitorar rio no ES, diz instituto

Mineradora foi acionada pelo Instituto de Meio Ambiente do estado.
Empresa terá que apresentar Plano de Monitoramento e Reparação.

Naiara ArpiniDo G1 ES

Defesa Civil retira comunidades ribeirinhas do Rio Doce, no Espírito Santo (Foto: Divulgação/Defesa Civil)Defesa Civil retira comunidades ribeirinhas do Rio Doce, no Espírito Santo (Foto: Divulgação/Defesa Civil)

O Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Iema) informou, nesta segunda-feira (9), que a mineradora Samarco, em função dos impactos ambientais e socioeconômicos que serão causados no Espírito Santo pela lama de rejeitos que atingiu o Rio Doce, tem que distribuir água aos moradores e monitorar o rio. O Ministério Público Estadual instaurou um inquérito civil para apurar as consequências e os impactos, em municípios capixabas, provocados pelo rompimento da barragem.

Este auto de intimação é possível de ser aplicado pelo Iema por ser por motivos ambientais, segundo a assessoria, o que obriga a empresa a cumprir uma série de medidas, entre elas distribuição de água potável e o monitoramento da água do rio.

O rompimento de duas barragens de rejeitos da mineradora Samarco aconteceu na quinta-feira (5) e causou uma enxurrada de lama no distrito de Bento Rodrigues, em Mariana, na Região Central de Minas Gerais. A lama também chegará ao Espírito Santo e deve afetar o abastecimento de água de municípios.

A determinação do Instituto é para que a empresa promova todo o apoio necessário aos municípios e aos cidadãos capixabas que forem atingidos pela onda de lama. Para isso, a mineradora  deverá realizar ações que minimizem os impactos ambientais decorrentes da impossibilidade do tratamento de água nos locais afetados pelos rejeitos, assim como pelo comprometimento de outros usos que são feitos do Rio Doce como agricultura e a pesca.

Conforme a intimação do Iema, imediatamente, a Samarco deve dar início às seguintes ações: distribuição de água potável para consumo humano e dessedentação animal; monitoramento da qualidade da água do Rio Doce e também do mar a ser atingido pela lama para verificar a presença de contaminantes e identificá-los; disponibilizar aeronave para sobrevoo dos profissionais envolvidos nas ações preventivas e de mitigação da onda de rejeitos;  e disponibilizar uma equipe multidisciplinar para monitorar os impactos na fauna, flora, água e para as pessoas, emitindo laudos técnicos para o Iema com informações que ajudem a minimizar os impactos, inclusive, com avaliações de cenários futuros.

Ainda de acordo com o Iema, após a passagem dos rejeitos, a empresa deve providenciar a limpeza de toda a área afetada pela lama, enquanto for verificada a presença de poluente.

O Instituto também determinou que a empresa apresente um Plano de Monitoramento da persistência dos poluentes nos meios atingidos em até 120 dias, assim como um Plano de Reparação Inicial dos danos no prazo de 30 dias.

Em nota, a Samarco informou que está atenta a qualquer repercussão no Espírito Santo e em constante contato com as autoridades competentes.  A empresa disse que está tomando todas as providências possíveis para mitigar os impactos ambientais gerados e, em caso de necessidade, auxiliar prefeituras e as comunidades em eventuais ocorrências.

"A coleta de amostras de água nos trechos impactados já foi iniciada e terá continuidade até a normalização da situação. É importante mencionar que a empresa está, no momento, concentrando seus esforços no atendimento às pessoas atingidas", diz a nota.

As operações da empresa na Unidade de Germano/Minas Gerais já estão paralisadas. Na Unidade de Ubu, em Anchieta/Espírito Santo, as operações industriais serão paralisadas ao final dos estoques de minério, bem como as operações de embarque, que serão interrompidas ao término dos estoques de produtos.

 

Monitoramento
O secretário de Estado do Meio Ambiente, Rodrigo Júdice, ressaltou as medidas tomadas pelo Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Iema) com relação aos impactos ambientais e sociais que serão causados pela chegada da lama.

“Com relação aos danos ambientais, eles são inevitáveis. Nós temos que monitorar a qualidade da água. Este monitoramento já está sendo feito pela própria empresa e a Cesan também está fazendo este monitoramento. Já entramos em contato com o órgão ambiental que licenciou a barragem no estado de Minas Gerais para analisar os produtos que são manuseados pela empresa e fazer a confrontação com o material que vai ser coletado no rio”, explicou.

Uma equipe da Fiscalização do Iema está em Colatina de plantão desde sábado (7) para acompanhar os impactos ambientais causados pela chegada da lama no Espírito Santo. Além disso, a Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Seama) e também o Instituto estão em contato com os órgãos ambientais de Minas Gerais para trocar experiências e atualizar informações.

Além dos monitoramentos realizados pela Cesan e pela Samarco, o Iema está contratando uma empresa especializada para promover coletas para análise com o intuito de produzir contranálises. As coletas realizadas pela Samarco estão sendo acompanhadas por fiscais do Instituto. Outra ação do órgão é buscar parceria com a academia no intuito de intensificar o monitoramento no mar.

Ministério Público
O Ministério Público do Espírito Santo (MPES), por meio do Centro de Apoio Operacional da Defesa do Meio Ambiente (Caoa) e das Promotorias de Justiça dos municípios afetados, informou que instaurou nesta segunda-feira (9) um inquérito civil para apurar as consequências e os impactos sociais e ambientais provocados em municípios capixabas.

Uma equipe técnica do MPES foi para Colatina para monitorar e avaliar os efeitos da lama na água do Rio Doce.

O Ministério informou também que realizou, nesta segunda, uma reunião preliminar com a Samarco para discutir o assunto. A reunião será retomada nesta terça-feira (10) e, na ocasião, a mineradora deverá apresentar ao MPES um plano concreto de ações emergenciais e um plano de abastecimento de água para os municípios de Baixo Guandu e Colatina.

Abastecimento
O abastecimento de água tratada na cidade de Colatina, no Noroeste do Espírito Santo, vai ser fornecido pelo município de Linhares, na região Norte, segundo informou, nesta segunda-feira (9), o prefeito de Colatina, Leonardo Deptulski. Após a passagem dos rejeitos vindos do rompimento da barragem em Mariana, Minas Gerais, carros-pipa irão buscar a água tratada para abastecer hospitais, asilos, abrigos e presídios.

De acordo com o prefeito, as equipes que vão realizar o transporte estiveram no local de captação e já acertaram a parte operacional. “Acho que vai ser possível manter entre 20% e 30% do que a gente trata normalmente quando capta no Rio Doce”, falou Deptulski.

Ainda não há uma previsão do tempo que o município de Colatina vai ter o abastecimento suspenso. “A primeira cidade que passou por isso foi Governador Valadares e nós ainda não sabemos o que aconteceu. Em Ipatinga, onde houve análise, a qualidade da água piorou. Se essa tendência se confirmar, vamos ficar entre 24 e 48 horas com o risco de não tratar”, destacou o prefeito.

Apesar disso, as duas barragens existentes no percurso da lama podem reduzir o tempo de suspensão do abastecimento. “Passando pelas barragens, diminui a concentração de partícula. Assim que a mancha de lama estiver mais próxima, nós já vamos coletar amostra para fazer análise e, a partir daí, é que nós vamos dizer se vamos continuar tratando a água ou não”, falou Deptulski.

Defesa Civil retira comunidades ribeirinhas do Rio Doce, no Espírito Santo (Foto: Divulgação/Defesa Civil)Defesa Civil retira comunidades ribeirinhas do Rio Doce, no Espírito Santo (Foto: Divulgação/Defesa Civil)

Reservatórios
Moradores do município de Baixo Guandu, por onde a lama também vai passar, começaram a se prevenir com reservatórios de água. Sem caixa d'água em casa, o jeito foi improvisar uma piscina com quase 5 mil litros no quintal.

“Nem todo mundo tem condições de ficar comprando água. Aqui e na outra casa não tem caixa d'água, então a gente tomou a iniciativa de encher a piscina para não ficar sem”, falou a dona de casa Jéssica Gomes.

Segundo o diretor do Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae) de Baixo Guandu, Luciano Magalhães, o abastecimento vai ser interrompido para análise.

“Vamos esperar pelo menos aquela primeira água mais densa passar, para, aí sim, com a água toda normal, dentro dos parâmetros, a gente volta a tratar. O importante é armazenar o máximo que der e economizar, porque, pelo menos, durante essas 48 horas, a gente não tem previsão de retomar a captação”, afirmou.

Doação de água
Por conta da suspensão do abastecimento de água em Baixo Guandu e Colatina em decorrência da onda de rejeitos das barragens de Mariana, em Minas Gerais, o governo do Espírito Santo anunciou neste domingo (8) uma campanha de doação de água mineral para auxiliar os moradores das cidades que serão afetadas.

As doações deverão ser feitas a partir desta segunda-feira (9) diretamente no quartel do Corpo de Bombeiros Militar, situado na rua tenente Mário Francisco de Brito, na Enseada do Suá, em Vitória.

As empresas que quiserem ajudar com carros-pipa devem entrar em contato com a Defesa Civil, pelo telefone 9 9904-5736.

Comunidades ribeirinhas
A Defesa Civil realizou, neste domingo (8), uma ação para retirar pescadores, banhistas e moradores das comunidades próximas ao Rio Doce, em Baixo Guandu e Colatina.
Segundo a Defesa Civil, a prioridade é resguardar a população que pode sofrer com o aumento da vazão do Rio Doce. O órgão atua ainda no monitoramento e em ações para a chegada da onda de rejeitos.

Mais uma escavadeira será enviada ao local (Foto: Kaio Henrique/ TV Gazeta Norte)Mais uma escavadeira será enviada ao local (Foto: Kaio Henrique/ TV Gazeta Norte)