“Depois que bate na prisão, você não tem esperança em mais nada.” A afirmação de Osvaldino Jesus Santos, 50, reflete a vida de muitos detentos que cumprem pena nos presídios do Espírito Santo. Osvaldino foi condenado a 53 anos de prisão por homicídio e já cumpriu 13 anos da pena. Em entrevista ao G1, o detento contou ter enxergado a vida de outra forma depois que passou a integrar um projeto de ressocialização e ter sido contratado como jardineiro por uma empresa, há dois anos e três meses.
Atualmente, a população carcerária do estado é de cerca de 15,7 mil presos, de acordo com a Secretaria de Estado da Justiça (Sejus). Parte desse número cumpre pena pelo regime semiaberto e tem a oportunidade de trabalhar durante o dia e voltar para a prisão apenas para dormir.
"Eu já cheguei a pensar que não teria mais jeito na prisão. A cadeia não ressocializa ninguém, o trabalho sim. Eu encontrei a felicidade, tenho uma nova vida. As pessoas me dão carinho e não me olham pelo que eu fiz e sim pela situação de melhora. A cada dia eu melhoro mais como pessoa", orgulha-se.
Osvaldino também demonstra arrependimento. "A vida de crime não é fácil. Depois que bate na prisão você não tem esperança em mais nada. O erro não tem tamanho. Depois que erra, tudo é erro. Eu acho que esse período que eu passei na prisão foi por falta de conhecimento. A ignorância estava no meu coração. Depois que você comete um crime, tem que pagar por ele e as conseqüências são pesadas”, diz.
Colega de trabalho de Osvaldino, Igor Geraldi da Silva, 23, responde na justiça por assalto à mão armada e passou dois anos e sete meses na prisão. "É uma vida distante da família, uma vida de muito transtornos", lembra Igor.
Igor ressalta a importância da ressocialização na vida de um detento. “Todo mundo tem o seu momento de fraqueza. Às vezes se você comete um crime e não é punido, continua naquele mundo, naquela realidade. A empresa dá muitas oportunidades. Não existe diferença entre os funcionários e os detentos. Aqui, conquistei liberdade e confiança", revela.
Além da socialização, na empresa onde os detentos trabalham, todos recebem lições de cidadania e conscientização ambiental. "Nos preocupamos muito com isso. Trabalhamos com aterros sanitários e aqui desenvolvemos ações importantes de preservação do meio ambiente, como reciclagem, reaproveitamento de óleo usado e produção de biodiesel. A nossa ideia é integrar todos em um bem comum. Temos outros detentos diretamente ligados à segregação de resíduos e percebemos que é possível agregar a preservação da natureza com a socialização dessas pessoas, o que é um ganho para todo mundo", conta a gestora de comunicação da Marca Ambiental, Mirela Chiapani.
Segundo a diretora de ressocialização da Secretaria de Estado da Justiça (Sejus), Regiane Kieper, todos os detentos do Espírito Santo têm a oportunidade de fazer parte de projetos de reintegração à sociedade. "O trabalho de ressocialização é pautado no tripé trabalho, educação e capacitação profissional", conta.
Ainda de acordo com Regiane, no sistema prisional capixaba, 3,6 mil presos estudam da alfabetização ao ensino médio pelo Programa de Educação de Jovens e Adultos. "A taxa de analfabetismo entre os homens é de 0,2%. Já entre as mulheres esse índice é zero", completa a diretora. Ainda são oferecidos capacitação profissional e emprego aos detentos.