Cerveja é refrescante, sacia a sede, reforça o convívio social, mas todos esses predicados de pouco valeriam não fosse um em especial: o sabor apaixonante. É por isso que vem crescendo mundo afora o consumo da versão sem álcool da bebida. Os motivos para isso variam, seja por questões religiosas, pela prudente obediência às leis de trânsito ou pelo mero desejo de dar uma diminuída na bebida alcoólica. O fato é: se você não quer ou não pode beber, não precisa mais abrir mão daquela gelada para bridar com os amigos.
Na Bélgica, um dos paraísos cervejeiros graças à diversidade da indústria local e onde se bebe em média 10 litros de álcool por pessoa ao ano, cerca de 2,1% do mercado já pertence às cervejas sem álcool. No topo do ranking global estão Alemanha e Espanha, segundo dados da multinacional de bebidas AB-Inbev. Na Alemanha, 10,4% das vendas são de cerveja sem álcool ou de baixo teor alcoólico. Na Espanha, um case mundial, índice é ainda maior, 17,7%.
O país ibérico alcançou estes índices graças a campanhas fortes como as da associação Cerveceros de España, que desde 2000 promove o consumo responsável, com foco especial nos motoristas. Além da conscientização, o diretor-geral da entidade, Jacobo Olalla Marañon, destaca que os espanhóis consideram a bebida uma opção saborosa, por manter o sabor da tradicional. “O consumidor de cerveja sem álcool é uma pessoa que realmente desfruta da bebida e aprecia as múltiplas nuances de seu sabor”, argumenta.
A região norte da África e o Oriente Médio, onde essas cervejas são procuradas muito por causa da proibição ao consumo de álcool pelas religiões muçulmanas, o pedaço do mercado é de 6,6%. No Brasil, conforme dados do anuário 2015 da Associação Brasileira da Indústria da Cerveja (CervBrasil), esse segmento ainda é pequeno, cerca de 1% da produção total (era de 0,5% em 2011), mas o aumento é exponencial: 5% ao ano desde 2010. Já nas cervejas tradicionais, o crescimento foi de 3%.
“Trata-se de um mercado potencial. Há as questões da Lei Seca, de restrições no trânsito, mas há também gente que prefere cerveja sem álcool. Ela é necessária para as pessoas manterem o prazer de beber cerveja sem o consumo do álcool”, afirma o sommelier de cervejas e consultor cervejeiro Luís Celso Júnior.
Em todo o planeta, esse mercado movimentou cifras milionárias – foram US$ 123,4 milhões somente em 2013. Somando as cervejas não alcoólicas às de baixo teor de álcool (entre 0,5% e 3% de ABV), tem-se um nicho de 2,8% da produção mundial do setor – 0,6% das sem álcool e 2,2% da de teor reduzido.
Mais saborosa
Para atender a essa procura crescente, a indústria tem cada vez mais sofisticado os métodos de produção. Antigamente, as cervejas sem álcool tinham gosto de mosto, um dulçor muito presente por causa da forma como era fabricada. Para tentar evitar a formação de álcool, a fermentação era interrompida, fazendo com que o açúcar não fosse plenamente consumido pela levedura. Além deixar a bebida com um forte aroma de grãos, e não erradicar por inteiro o álcool, cujo índice ficava abaixo de 1%, o gosto da cerveja ficava muito diferente de uma cerveja da mesma marca, mas cujo processo de produção era concluído normalmente.
Esse problema começou a ser resolvido com uma nova técnica: a desalcoolização. Neste caso, a cerveja é fabricada normalmente e o álcool é retirado depois. Isso é feito por meio de um processo chamado destilação a vácuo à baixa temperatura, que altera as condições de pressão até que o álcool evapore. O novo método mantém o sabor original da bebida.
“Quem desenvolve esse processo terá um grande posicionamento e vai expandir ainda mais o mercado, pois os números atuais são relativamente pequenos”, projeta Luís Celso Jr.
Não bastasse a manutenção do sabor e a supressão do álcool, a cerveja feita dessa forma ainda pode ser benéfica à saúde. Nutricionistas são unânimes em afirmar que as cervejas sem álcool funcionam como isotônicos, por serem rica em vitaminas e sais minerais. Enquanto os polifenóis encontrados no lúpulo são antioxidantes, ajudando na prevenção do envelhecimento precoce, o ácido fólico presente nas leveduras é fundamental para a manutenção das funções cognitivas. Tá esperando o que pra abrir uma?