Ambas são fermentadas, estão entre as mais antigas do mundo e são produzidas com ingredientes naturais. Mas por que, para algumas pessoas, o vinho é considerado uma bebida “superior”. Essa pergunta incomodava o cientista Charlie Bamforth, presidente do Institute of Brewing and Distilling da Universidade da Califórnia. Foi por isso, para derrubar alguns mitos, que ele escreveu o livro Vinhos versus Cervejas – Uma comparação histórica, tecnológica e social, obra que vendeu exemplares em todos os continentes e tem versão em português.
Bamforth, um respeitado cientista da fermentação e referência em cerveja, estava insatisfeito com jeito como as bebidas eram vistas. Para ele, as pessoas foram levadas a acreditar que o vinho é mais sofisticado em seus materiais, complexidade, dificuldade de produção, harmonização e saúde. “A realidade é completamente o oposto”, afirma Bamforth. A cerveja, sim, pode estar em momentos elegantes e em jantares refinados.
Para entender o motivo dessa visão distorcida, é preciso voltar milhares de anos. “Isso provavelmente começou com os Romanos. Possivelmente, vinhos eram mais fáceis de beber (mais doces) e as cervejas teriam muitas coisas boiando nelas, como cascas de grãos”, comenta. Além disso, cultivar grãos sempre era mais fácil do que uvas. “Assim, na época, uvas faziam um produto mais caro, que as classes mais altas da sociedade podiam pagar, enquanto as massas oprimidas não podiam”.
Complexidade na fabricação
Ao contrário do que muitos pensam, Bamforth afirma que a cerveja passa por um processo de fabricação mais complexo do que o vinho, este focado somente na vinicultura, variedades de uvas e como e onde elas crescem. Na produção de cerveja há vários outros fatores envolvidos, como a forma de plantio dos grãos e como eles são maltados, a plantação de lúpulos (tão importante e muito similar ao cultivo de uvas), entre outros. “Cervejeiros são mais cuidadosos com o controle da água e muito mais atentos sobre leveduras”, garante. “A produção de cerveja tem mais estágios do que a de vinho”, completa.
superioridade do vinho em relação a cerveja.
Uma bebida diversa
Para o cientista, não há dúvida sobre a complexidade: a cerveja é muito mais rica. O que faz dela uma bebida com tantas possibilidades de diferentes cores, sabores, aromas e texturas é a variedade de ingredientes. Há pelo menos quatro ingredientes chaves (água, malte, lúpulo e levedura) e uma possibilidade enorme de variações. E cada estágio de produção pode levar a diferenças no produto. “E o que você tem com o vinho? Um limitado alcance de cores e então é tudo sobre o sabor. Com a cerveja nós temos a espuma e como isso se comporta. Nós temos a clareza. E nós temos mais cores e sabores complexos”.
Essas variedades na cerveja fazem com que ela também seja um acompanhamento ideal para uma grande gama de pratos. “Há uma diversidade de sabores e pontos fortes que oportunizam a harmonização com uma gigantesca variedade de comidas”. Bamforth cita o queijo, que para ele combina melhor com cerveja do que com vinho. “Há pouco tempo fui a um jantar em que cada prato foi harmonizado com cerveja e vinho. Para todos, a cerveja foi preferida”, comenta.
Benefícios à saúde
Outro mito que o cientista derruba em seu livro é a relação das bebidas com a saúde. Ele diz que a cerveja, pela variedade dos ingredientes, tem mais nutrientes do que o vinho. E, bebida com moderação, pode trazer benefícios à saúde, como aumento na concentração no sangue de HDL, conhecido como “colesterol bom”, que transporta o excesso de colesterol das artérias de volta para o fígado. Ele também rebate a tese de que cerveja engorda. Uma lata de cerveja de 350 ml tem cerca de 130 calorias, praticamente o mesmo de uma taça de vinho tinto seco.
Agora que você já conheceu um pouco mais do universo da cerveja comparado ao do vinho, escolha a gelada que mais agrada seu paladar? Pilsen, IPA, Stout? Navegue no nosso canal e conheça mais sobre o mundo cervejeiro.