Numa cidade da República Tcheca, em 1842, um cervejeiro alemão criava a primeira cerveja dourada e cristalina de que se tem notícias. Nascia a Pilsner, ou Pilsen, como é chamada no Brasil. Com sua cor dourada e límpida, perfeita para os copos e taças de vidro e cristal que se popularizavam na época, foi sucesso imediato. Hoje, 174 anos depois, esse é o estilo de cerveja mais consumido e copiado no mundo e domina o mercado brasileiro.
Criada na cidade tcheca que lhe concedeu o nome, a história da Bohemian Pilsner começa com a destruição de 36 barris de cerveja ruim nas ruas do município, em 1838. Esse evento fez com que um grupo de moradores decidisse erguer uma cervejaria para ser administrada pelos cidadãos de Plzeň. Para comandar a produção, foi contratado o mestre cervejeiro bávaro Josef Groll, que em 1842 desenvolveu a cerveja famosa até hoje.
Para criar a Bohemian Pilsner, o cervejeiro escolheu levedura lager (de baixa fermentação), e usou os ingredientes locais que até hoje fazem parte da receita da Pilsner Urquell, que ainda é feita no mesmo local. Com maltes da região, adição de lúpulos Saaz e a água macia da cidade, Groll consegui fazer uma cerveja dourada e brilhante, que logo conquistou adeptos. “Até então, as cervejas eram escuras, não havia tanta preocupação com o aspecto visual”, comenta o sommelier de Daniel Wolff.
Resumir a Pilsen a sua aparência, no entanto, é não fazer jus à sua qualidade. “Ela tem um perfil equilibrado, com corpo de baixo para médio, baixos amargor e teor alcoólico”, comenta Daniel. Isso, unido aos toques florais do lúpulo tcheco, torna-a uma cerveja refrescante e fácil de beber. “É uma cerveja para tomar em grandes quantidades, mas não deixa de ser saborosa”, afirma.
Variações pelo mundo
Logo a nova cerveja despertou interesse em outras partes da Europa e começaram a surgir variações. Uma das mais famosas é a German Pilsner, a Pilsen alemã. “O que diferencia uma da outra são os insumos. A alemã tem um caráter mais herbal”, explica Daniel. Em outras cidades da região nasceram outros estilos de lagers douradas inspiradas na Pilsen, como a Munich Helles, de Munique, a Dortmunder Export, de Dortmund, na Alemanha, e a Vienna Lager, em Viena, na Áustria.
Exportadas também para as Américas, as Pilsens ganharam versões e dominaram o novo mundo. “A American Pilsner é parecida com a Bohemian, mas usa lúpulos americanos, com aromas cítricos, resinosos e terrosos, com um amargor um pouco mais intenso”, conta.
Queridinha dos brasileiros
Outras variações mais suaves são também as mais consumidas atualmente, como as Standard American Lager, estilo das Pilsen brasileiras, as Light Lagers e as Premium American Lagers. Por aqui, todas essas costumam ser chamadas só de Pilsen e são a preferência nacional, muito em função do calor que faz na maior parte do país durante boa parte do ano. Como são refrescantes e leves, conquistaram os brasileiros.
Um brinde dourado ao alemão que foi à República Tcheca inventar uma cerveja clara!