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26/01/2016 10h14 - Atualizado em 16/09/2016 15h42

Entre uma reza e outra, monges mergulham no universo cervejeiro

Para os religiosos, cerveja faz parte da alimentação e é chamada de pão líquido.

porSomos Todos Cervejeiros

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Pão líquido é como os antigos egípcios chamavam a cerveja. É assim também que a bebida é tratada no Mosteiro Cisterciense Nossa Senhora de Nazaré, em Rio Pardo, interior do Rio Grande do Sul, de tão importante que ela é na alimentação dos religiosos. Os monges são cervejeiros assumidos (calma, sempre tomando com moderação). Eles fazem degustações de várias marcas e estilos, servem em festas religiosas, estudam o assunto e também fabricam a própria cerveja, doada à comunidade que ajuda na construção do mosteiro.

A relação dos monges de Rio Pardo com a bebida está ligada à alimentação, devido as suas propriedades benéficas para a saúde, e às celebrações. “Para nós, a cerveja é como um alimento, especialmente nas festas de Natal, Páscoa e de São Bento”, explica o padre Bernardo Maria. Ele comenta que mesmo nesses momentos a bebida é consumida com parcimônia. “Tentamos coincidir com as comemorações para criar aquele ambiente de festividade. A cerveja contribui para a alegria de uma festa”, diz.

Há cerca de dois anos, os seis monges resolveram tentar uma coisa nova para ajudar no sustento da congregação, que até então vivia dos pães e velas que produzem, do pomar de nogueiras, de palestras e doações. “Meu superior fazia cerveja com o avô, nos anos 1960. As pessoas perguntavam se nós não produzíamos e ele comentou 'Acho que eu sei fazer', e começamos a tentar”, lembra o padre Bernardo. “Agora, temos o pão liquido e o pão sólido”, brinca.

cervejeiros_monges (Foto: Estúdio Zanchetti/Divulgação)Produção é usada em festividades e como presente para quem ajuda na construção do mosteiro.


No começo, a aventura não deu muito certo, até ele resolver fazer um curso de cervejeiro caseiro. “O método de antigamente não estava funcionando. Quando fiz o curso, vimos que dava pra fazer”, explica.

Além do conhecimento teórico das aulas e de pesquisas na internet, também foi necessário uma análise empírica. “Não tem como escapar da degustação, ter uma experiência sensorial. Então unimos o útil ao agradável. Uma vez por semana, trazíamos uma garrafinha nova, alguém dizia, 'olha, descobri essa aqui'”, lembra. As degustações seguem, só que agora mensalmente.

Cerveja para a comunidade
Como é comum em mosteiros, ele precisa ser autossustentável e a cerveja é uma alternativa para arrecadar fundos. O problema é que a produção caseira dos padres ainda é muito pequena, com 50 litros por brassagem, e não pode ser comercializada por questões legais. A solução é dar de presente para quem ajuda na construção do mosteiro, ainda não finalizado. No futuro, é possível que a Rotunda, nome dado para a cervejaria e que significa “redonda”, vire uma realidade.

Atualmente, os padres produzem dois estilos, uma Belgian Ale, da tradição belga – país onde até hoje as cervejas produzidas por monges são famosas – e uma Hop Weiss, variação mais lupulada da cerveja de trigo alemã. “Apesar de sabermos que existem receitas de abadia, ainda não nos sentimos seguros para desenvolver uma receita própria”.

Religião e cerveja, uma ligação milenar
A religiosidade está presente na cerveja desde a criação da bebida, milênios atrás na região do Crescente Fértil, que englobava lugares como a Suméria – atual Iraque e Kuwait - e o Egito. Na Europa, mosteiros e abadias sempre foram responsáveis pela fabricação da bebida. Até hoje, é comum encontrar cervejas feitas nesses ambientes, como as trapistas, produzidas por monges cistercienses e consideradas algumas das melhores do mundo.

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