Qual telescópio comprar? — Foto: Bernardo Soares; g1
Escolher um telescópio para alimentar o hobby de observar os céus pode ser um desafio, especialmente se for seu primeiro aparelho desse tipo.
Entram em cena critérios técnicos como o tamanho da lente objetiva e saber se o telescópio é do tipo refletor ou refrator.
Refletores, por exemplo, são melhores para visualizar nebulosas e galáxias, enquanto os refratores (também conhecidos como lunetas) são mais adequados para ver planetas e satélites, como a Lua.
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Até a experiência prévia de quem vai usar o aparelho faz diferença. Para iniciantes, por exemplo, são mais indicados os instrumentos com menor nível de ampliação.
Abaixo, conheça alguns modelos de telescópios com especificações diversas que custavam, no fim de março, entre R$ 540 e R$ 3.760 nas lojas consultadas.
No fim da reportagem, leia mais sobre como funcionam os telescópios e o que você deve saber na hora da compra, com recomendações de especialistas.
Telescópios refletores
Greika F900
O F900 da Greika é um telescópio do tipo refletor, com espelho de 114 mm de diâmetro (saiba mais sobre o que isso significa no fim da reportagem).
Tem montagem azimutal, o que significa que pode ser regulado vertical e horizontalmente (mais simples que a equatorial).
Vem com tripé de altura mínima de 80 cm e máxima de 1,35 m. A ampliação máxima é de 675 vezes.
Acompanha buscador (peça com menos zoom que ajuda a localizar os objetos de interesse).
O aparelho custava R$ 1.290, no fim de março, nas lojas on-line consultadas.
Uranum Andrômeda-1 refletor
O telescópio Andrômeda-1, da Uranum, é do tipo refletor, com espelho de diâmetro de 130 mm.
A ampliação máxima vai até 130 vezes e a montagem é do tipo equatorial, que, além de ajustar na vertical e na horizontal, também regula no eixo da Terra. A marca não informa as dimensões do tripé.
Acompanha adaptador para celular e buscador com ponto vermelho de laser (com bateria inclusa).
Em março, custava R$ 1.850 nas lojas consultadas.
Telescópios refratores
Greika Tele 40070M refrator
Também da Greika, o Tele 40070M é do tipo refrator e tem lente objetiva com diâmetro de 70 mm.
Sua montagem é azimutal. A altura do tripé começa em 40 cm e pode chegar a até 1,30 m.
O zoom máximo é de até 200 vezes e o modelo vem com um buscador.
O preço do produto era de R$ 540, em março, nas grandes lojas da Internet.
Inspire 70AZ refrator
O 70AZ é o telescópio refrator com abertura de 70 mm da Inspire.
Tem posicionamento azimutal e tripé com altura máxima de 1,20 m. A altura mínima não foi informada pela fabricante.
A ampliação dele chega a até 165 vezes. Vem com um buscador e com adaptador de smartphone, para fazer fotos com o celular.
Em março, era encontrado por R$ 3.760 nas principais lojas on-line.
Lorben 90060 refrator
O modelo 90060 da Lorben é um telescópio refrator com lente objetiva de 60 mm de diâmetro.
Com o tripé regulável, o instrumento atinge a altura mínima de 62 cm e máxima de 1,05 m. Seu posicionamento é azimutal.
Tem capacidade de ampliação de até 675 vezes. Acompanha buscador.
O produto custava R$ 550, em março, nas lojas on-line consultadas.
No que prestar atenção na hora da compra
REFLETORES X REFRATORES A principal diferença entre esses dois tipos é que os refletores são compostos por espelhos e os refratores, por lentes objetivas. Cada um tem vantagens e desvantagens.
Os refletores, por exemplo, costumam ter uma abertura maior e permitir maior entrada de luz e, por isso, são melhores para ver corpos celestes mais tênues, como nebulosas e estrelas mais fracas.
No entanto, podem desalinhar facilmente (já que a imagem depende do alinhamento de dois ou mais espelhos), requerendo manutenção regular. São também mais pesados e difíceis de transportar.
Os refratores, que também são chamados de lunetas, são formados por uma lente objetiva em uma ponta (a que aponta para o céu) e uma ocular na outra (onde você apoia o olho). Por conta desse design, são instrumentos mais fáceis de manter alinhados.
Porém, a passagem da luz através da lente pode causar a aberração cromática, um fenômeno em que os raios de luz de diferentes cores são refratados para diferentes pontos focais.
Na prática, isso quer dizer que há uma distorção nas cores observadas, visível principalmente na forma de uma “aura” de cores ao redor dos objetos.
Alguns telescópios mais modernos (e mais caros) vêm com uma lente chamada acromática, que busca minimizar ou corrigir esse efeito.
TAMANHO DA ABERTURA O tamanho da abertura se refere ao diâmetro do espelho ou lente objetiva do telescópio.
Não tem a ver com o aumento, que é definido pela lente ocular e distância focal, mas sim com a definição e clareza do que é observado.
“A abertura é decisiva naquilo que poderemos observar. Mesmo os telescópios menores já nos permitem observar a Lua com uma série de detalhes, Júpiter e alguns de seus satélites, anéis de Saturno e outros corpos”, exemplifica Ramachrisna Teixeira, professor do Instituto de Astronomia da USP.
“Telescópios maiores vão nos dar melhores imagens, mais detalhes e nos permitir melhor observar objetos mais fracos como nebulosas e galáxias”, diz Teixeira.
Para iniciantes, os especialistas sugerem instrumentos que permitam uma curva de aprendizado intuitiva.
“A melhor opção para começar é um telescópio de 115 mm de abertura por 700 mm de distância focal”, recomenda João Fonseca, diretor do Planetário Ibirapuera.
Outra dica para os iniciantes é investir em um instrumento de montagem azimutal (ou altazimutal), que permite regulagem de altura, na vertical, e de azimute, na horizontal.
A outra opção são os aparelhos de montagem equatorial, que, além dos dois tipos de regulagem mencionados, também podem ser ajustados conforme o eixo da Terra.
Ambos os tipo precisam ser alinhados com os polos do planeta para que o ajuste fino dos instrumentos funcione e você consiga acompanhar o movimento dos planetas mesmo com a rotação da Terra.
A diferença entre os dois não fica muito visível na aparência, já que o que muda é a forma de montar e ajustar o apontamento do aparelho.
O telescópio equatorial acaba sendo mais complicado, pois requer montagem em uma base fixa, o que, por outro lado, ajuda na precisão.
O azimutal é mais versátil e fácil de transportar, mas não é tão bom para observações em longos períodos, como para fazer vídeos.
PRECISO DE MUITO ZOOM? A resposta curta é não; o mais importante é o nível de definição dos objetivos, que é ditado pela abertura (como explicado acima).
Além disso, quanto mais a imagem é ampliada, mais difícil é localizar objetos pela lente do aparelho. “Quanto menor o nível de aumento, mais confortável ficará a observação”, diz João Fonseca.
Vale lembrar que, mesmo com muito aumento, não se pode esperar ver os objetos imensos como nas imagens feitas por profissionais.
“Na Internet, trata-se de um processo fotográfico e com ampliações. No visual, ou seja, via telescópio, os astros ficam pequenos, mas com muita definição e contraste”, explica Fonseca.
TELESCÓPIO OU BINÓCULO? Quem quer adquirir seu primeiro telescópio precisa antes considerar o próprio nível de experiência em observação.
Especialistas recomendam que, antes de pensar no telescópio, o interessado se familiarize com técnicas básicas de reconhecimento de objetos no céu por pelo menos dois anos.
“A pessoa deve passar por um período mínimo de estudo a olho nu e com binóculo”, opina Tasso Napoleão, coordenador do grupo de pesquisa e estudos astronômicos Alfa Crucis.
“Comprar um telescópio sem ter essa experiência mínima previamente pode acabar desmotivando muitos jovens que poderiam até se tornar futuros cientistas”, diz Tasso Napoleão.
A localização de corpos no céu é mais fácil com o binóculo, enquanto que o uso de telescópio costuma exigir conhecimento do mapa celeste (ou seja, o mapa de constelações).
“Binóculos oferecem pouco aumento e são mais indicados para ficar vagando pelo céu em busca de objetos de interesse. Com o telescópio, normalmente definimos o alvo a ser observado antes”, explica João Fonseca.
Agora se você já tem algum conhecimento e paciência para aprender a usar o instrumento, pode partir para o telescópio.
“Os binóculos podem ajudar e são mais simples de manuseio, mas os resultados também não são os mesmos”, diz Ramachrisna Teixeira.
MANUTENÇÃO Por fim, para que o produto dure, é preciso ter alguns cuidados especiais.
Instrumentos ópticos, no geral, não se dão bem com umidade. Também não é recomendado esfregar nada em suas lentes e espelhos.
"Os cuidados básicos são: não bater, evitar umidade excessiva e, quando for limpar, saber o que está fazendo. Alguns danos podem ser irreversíveis e às vezes até inutilizam instrumentos por coisas simples", alerta João Fonseca, diretor do Planetário Ibirapuera.
Caso não tenha certeza de como limpar ou realinhar o aparelho, o mais indicado é buscar um técnico especialista para vistorias regulares.
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