Pesquisa com participação da comunidade descobre novas espécies no Sul do ES
Imagina ser o responsável pela descoberta de um de réptil ou anfíbio? É essa experiência que alguns produtores rurais do Sul do Espírito Santo vivem por meio do projeto "Ciência Cidadã". A iniciativa estimula moradores da região e pesquisadores a observarem e fotografar os bichos existentes no Monumento Natural Serra das Torres (Monast). Ao todo, seis novas espécies já foram catalogadas.
Localizado entre os municípios de Mimoso do Sul, Atílio Vivácqua, e Muqui, o Monast tem 10.458,90 hectares e trata-se da maior Unidade de Conservação da categoria Proteção Integral criada pelo governo do Espírito Santo. Como a desapropriação de terras não é obrigatória para monumentos naturais, a unidade é composta integralmente por áreas particulares.
Monumento Natural Estadual Serra das Torres (Monast)
Servidor do Instituto de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Iema) e gestor do Monast, Guilherme Carneiro disse que o projeto Ciência Cidadã foi criado há cerca de três anos e cerca de dez moradores já fazem parte da iniciativa.
“Considerando que o Monast é constituído de áreas particulares e que as comunidades lidam com a biodiversidade a todo momento. Desenvolver a ciência cidadã é fundamental para que eles possam contribuir com a geração de conhecimento e com a promoção de pertencimento, fazendo com que eles participem efetivamente da conservação do Monumento”, disse o gestor do Monast, Guilherme Carneiro.
O gestor disse ainda que os produtores ficam animados quando sabem que descobriram uma espécie nova de um animal.
"Às vezes, a gente acha que biodiversidade é algo só da academia, para os pesquisadores. E, quando eles [produtores rurais] descobrem novas espécies, percebem que eles são atores importantes para a ciência", acrescentou.
Espécies já descobertas
Calango-Rabo-de-Espinho (Strobilurus torquatus), descoberta no Monast. — Foto: Reprodução/TV Gazeta
A descoberta mais recente foi realizada no Monast foi feita pelo estudante Luan Cordeiro. Trata-se de um Calango-Rabo-de-Espinho (Strobilurus torquatus).
"É empolgante porque descobre uma espécie e depois quer descobrir outra e outra. Isso acaba contribuindo para a ciência", disse Luan.
Sobre a descoberta desta espécie, Guilherme Carneiro disse que o registro feito pelo estudante foi inédito para o monumento.
"Acredito na Ciência Cidadã como caminho de transformação e produção de conhecimento”, enfatizou. Carneiro.
Produtor expõe espécies encontradas na propriedade onde mora na varanda de casa. — Foto: Reprodução/TV Gazeta
Morador da comunidade do Farol, em Mimoso do Sul, a propriedade do produtor rural Jussi de Almeida está localizada ao em torno do Monast. Participante do projeto, o trabalhador deixa na varanda de casa as fotos de espécies encontradas no local.
"A gente tá trabalhando, capinando, aí a gente vê o animal encostadinho numa pedra. Aí a gente filma, fotografa, manda para o biólogo", disse o produtor.
Jussi explicou ainda que, a partir do registro fotográfico ou por vídeo, o biólogo já diz se aquela espécie está catalogada na ciência ou não. Às vezes, o próprio pesquisador vai à propriedade para fazer o registro após o acionamento do produtor.
Uma das espécies descobertas pelo produtor foi uma cobra, encontrada enquanto o trabalhador colhia café.
Espécie de cobra registrada pelo produtor rural Jussi de Almeida. Espírito Santo — Foto: Reprodução/TV Gazeta
"Nós já encontramos cerca de seis espécies aqui. Essa cobra a gente viu uma vez. Depois, já conseguimos ver o filhote também", disse.
Como se tornar um colaborador?
Para se tornar um colaborador do projeto, basta ter um smartphone ou máquina fotográfica para realização de registros fotográficos de animais, plantas, fungos da unidade. As postagens publicadas na rede social do colaborador devem ser compartilhadas na página do Instagram do Monast, ou enviadas para o e-mail [email protected].
Monumento Natural Estadual Serra das Torres (Monast). — Foto: Danielle Reis
O Monast já recebeu seis registros de novas espécies encaminhados pela comunidade. "Dois moradores do entorno do Monast compartilharam conosco esse belo registro de um Calango-Rabo-de-Espinho (Strobilurus torquatus). Apesar de o grupo dos lagartos ter sido bem estudado por pesquisadores no Monast, esse registro dos moradores foi inédito para o Monumento. Acredito na ciência cidadã como caminho de transformação e produção de conhecimento", afirmou Carneiro.