Especialista alerta sobre os riscos dos encontros marcados por aplicativo
Marcar um encontro por aplicativo é algo comum nos dias de hoje. Mas criminosos estão se aproveitando da facilidade dos encontros para aplicar golpes e cometer crimes.
No último domingo (23) o profissional de saúde Luciano Martins, de 46 anos, foi encontrado morto em um lixão na Serra, Grande Vitória. Luciano marcou um encontro por aplicativo antes de ser considerado desaparecido. O caso foi registrado como latrocínio e a polícia investiga se o assassinato tem alguma relação com o encontro.
Nesta reportagem você vai conferir:
Como funcionam as armadilhas
De acordo com o delegado da Delegacia Especializada Antissequestro (DAS), Alysson Pereira Pequeno a polícia percebeu que a partir de um encontro por aplicativo marcado, os seguintes crimes tem acontecido com frequência :
- Estelionato: o crime consiste em tentar tirar vantagem em proveito próprio, enganar alguém, levá-la ao erro ou causar prejuízo a outra pessoa. Nesse caso, a vítima pode sofrer inúmeros golpes, como ter o cartão de crédito utilizado ou ser induzido a transferir dinheiro para a pessoa que marcou o encontro;
- Tortura: para conseguir obter o dinheiro, o criminoso utiliza de tortura física e psicológica;
- Vítima de estupro: caso durante o encontro a pessoa não concorde em ter relações sexuais, ela pode ser abusada sexualmente, principalmente se o encontro for marcado fora de locais públicos;
- Extorsão mediante sequestro: a vítima pode ser mantida em cárcere privado até que o criminoso consiga os bens e valores que deseja. Em alguns casos, o suspeito faz com que familiares ou terceiros sejam contatados para obter mais dinheiro;
- Homicídio e latrocínio: em alguns casos, o encontro pode acabar com a morte de um dos envolvidos após um encontro malsucedido, ou até mesmo a vítima pode ser atraída para um falso encontro que já poderia estar premeditado pelo criminoso e o caso pode acabar em latrocínio, que é o roubo seguido de morte.
"Essa ferramenta é uma via de mão dupla e pode ser utilizada para o crime. Com esse aumento da procura também houve exponencial aumento de crimes voltados para esse meio. Crimes patrimoniais, contra a vida, que acabam ocorrendo em virtude de um encontro marcado. São casos registrados como homicídio, dentre outros, o que traz uma dificuldade estatística de levantamento de dados", comentou o delegado.
Shoppings são boa opção para marcar primeiro encontro — Foto: Divulgação
Além disso, o delegado afirmou que em diversos casos, a investigação precisa avançar muito até que se descubra que o crime aconteceu durante um encontro marcado por aplicativo.
"Diversos casos na antissequestro começaram por encontros de aplicativo, foi só o meio que o criminoso utilizou para conseguir. Muitas vezes depois do encontro a pessoa sofre tortura, extorsão, e por medo de se expor, faz a transferência de valores e não faz o registro de ocorrência. Fica um caso subnotificado. E quanto mais isso ocorre, esses grupos se sentem a vontade para praticar os crimes. Então é importante a polícia saber, e a gente sempre recomenda registrar o boletim de ocorrência", disse.
No caso ocorrido no domingo (23), foi um amigo da vítima que contou a polícia sobre o encontro que o profissional de saúde tinha marcado, o que deu um direcionamento as investigações da polícia.
"O Luciano era homossexual e usava muitos aplicativos de encontro. E infelizmente tem acontecido muitos casos disso, de usarem esse aplicativo para cometerem crimes. Ele marcou esse encontro com a pessoa, trouxe esse desconhecido para dentro de casa", comentou um amigo da vítima que não quis se identificar.
As estratégias utilizadas pelos criminosos são variadas e por isso não a polícia diz não ser possível identificar se os casos são cometidos por apenas uma pessoa ou por quadrilhas.
"Na maioria das vezes é uma intenção de ganho de valores, retirar valores da vítima ou terceiros. A vítima tenta reagir, e o suspeito, muitas vezes sob efeito de entorpecente, fica mais violenta, agredindo a vítima e podendo levar a óbito. Temos diversos casos de pessoas que foram torturadas com ferro de passar, líquido inflamável cortes de facas, além de todas as agressões psicológicas", acrescentou o delegado.
Na maioria dos casos que o g1 relembrou nessa reportagem, os suspeitos confessaram o crime e foram presos.
Especialistas em segurança pública dão dicas sobre como se proteger de situações de risco ao marcar encontros por aplicativo — Foto: Reprodução/TV Gazeta
Dicas para se prevenir
Alguns cuidados importantes que o delegado Alysson destaca são:
- Tentar fazer uma videochamada para tentar conferir se a pessoa é quem ela diz ser;
- Ter cautela nas informações passadas nas conversas;
- Na hora que marcar um encontro, sempre tentar avisar um familiar ou um amigo mais próximo;
- Marcar sempre encontros em locais públicos que tenham monitoramento de câmeras pelo menos no primeiro encontro.
Casos de repercussão
Instrumentador cirúrgico é encontrado morto no ES
Em 2023 e 2024, alguns casos que aconteceram no Espírito Santo envolvendo encontros por aplicativo e terminaram em morte, tiveram grande repercussão.
No início de junho, uma mulher identificada apenas como Marly foi assassinada a facadas em Normília da Cunha, em Vila Velha. Edilson Cardeal da Silva confessou o crime. Os dois tinham se conhecido quatro meses antes, em um aplicativo de relacionamento, e estavam namorando.
Em fevereiro, Gilberto Ferraz de Sena Júnior, de 59 anos, foi assassinado dentro de uma casa alugada por aplicativo em Jockey de Itaparica, Vila Velha. Ele foi atraído ao local depois de marcar um programa sexual por meio de uma outra ferramenta digital.
O delegado Tarik Souki foi responsável pela investigação e explicou que o grupo chegava em uma cidade e alugava imóveis onde para se estabelecer.
Gilberto Ferraz de Sena Júnior, de 59 anos, foi morto em Vila Velha, no ES — Foto: Divulgação/PC
Em seguida, por meio de aplicativos, os integrantes ofereciam programas sexuais por valor menores do que o habitual, como no caso de Vila Velha, que o valor acordado era de R$ 100.
Segundo a polícia, cinco pessoas estão envolvidas no crime, quatro foram presas e uma mulher trans de 25 anos do estado de Santa Catarina segue foragida.
Em julho do ano passado o empresário David Del Rio da Silva, de 34 anos, foi enforcado até a morte com um fio de carregador de celular, dentro do próprio apartamento em Jardim Camburi, Vitória.
Breno Ribeiro Freire, de 26 anos, foi preso dias depois e confessou o crime. Câmeras de segurança registraram ele chegando com a vítima e, horas depois, saindo sozinho. Os dois se conheceram no mesmo dia do crime em um aplicativo de relacionamento.
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Também foi por um aplicativo que o médico Aloísio Vieira da Silva marcou um encontro com Carlos magno Santos Santana, sem saber que ele o mataria.
O assassino confessou o crime, que ocorreu em março do ano passado em Montanha, no Norte do estado. Carlos ainda roubou o celular, notebook e carro da vítima e ainda postou vídeos em redes sócias ostentando os objetos.