Biólogos do ES dizem que filmar e falar alto atrapalha desova da tartaruga
Um pequeno cercado na praia de Itaparica, em Vila Velha, na Grande Vitória, indica a presença de um ninho de tartarura gigante ou de couro (Dermochelys coriacea), que está em extinção. Apesar da curiosidade para ver os ovos que vão gerar as novas tartarugas, da beleza do animal e da cena da postura dos ovos, segundo o analista ambiental, Giovani Danbroz, a aproximação, filmagem ou importunação às tartarugas no momento de desova pode colocar em risco os animais.
O especialista explicou que a presença incômoda de seres humanos na praia durante a postura dos ovos pode afastar as tartarugas daquela região e, por consequência, diminuir a presença da espécie no local.
"O que pode acontecer é um desequilíbrio na população e haver uma redução do número de ninhos naquela região, e aí a gente vai ter menos filhotes sendo devolvidos ao mar. Menos tartarugas no meio ambiente", disse o analista.
Cercado de proteção do ninho de tartaruga em Vila Velha, no Espírito Santo. — Foto: Reprodução/TV Gazeta
Ainda segundo o analista, até a luz do celular por incomodar o animal.
"O ideal é manter a distância e não se aproximar, não ligar a luz de celular que possa vir incomodar o animal, deixar o animal seguir o percurso dele e observar de longe pra que o animal consiga fazer o seu papel na natureza, desovar e se reproduzir o seu eu", comentou.
ES registrou primeira desova de tartaruga em 2021 — Foto: Reprodução/TV Gazeta
De acordo com o pesquisador da Fundação do Projeto Tamar, Rafael Kuster Gonçalves, cinco espécies de tartarugas marinhas existem no Brasil desovam no Espírito Santo. No entanto, nunca é orientado a aproximação ou o toque.
"Lembrar sempre que os animais são lindos, mas são selvagens. São lindos, são carismáticos, dá vontade de tocar, mas o ideal é observar à distância esses animais", explicou.
Tartarugas recém-nascidas vão em direção ao mar em Guriri, São Mateus, ES — Foto: Reprodução/TV Gazeta
O aposentado Euler Nogueira estava caminhando pela praia e parou para observar o ninho da tartaruga, mas sabe que a aproximação deve ser responsável.
"A natureza sabe o que faz, né? Ela se orienta, ela se vira. Quando a gente se intromete, atrapalha o desenvolvimento natural das coisas", disse.
Projeto Tamar
Tartaruga do projeto Tamar, em Regência — Foto: Ari Melo/ TV Gazeta
Quem quiser ver as tartarugas marinhas de perto e sem atrapalhar o animal, pode visitar o Projeto Tamar, localizado na Enseada do Suá, em Vitória.
De acordo com Rafael, além de ver os animais, os visitantes aprendem sobre a preservação das tartarugas.
"Aqui é passado um pouco da biologia das espécies, os hábitos que elas possuem, curiosidades, as ameaças que, infelizmente, ação humana impacta diretamente", disse.
De acordo com o Tamar, tartarugas desovam à noite por causa da temperatura da areia — Foto: Reprodução/TV Gazeta
No local, existem três tanques com indivíduos de tartarugas marinhas em diferentes estágios de vida, de filhotes à adultos, abarcando quatro espécies:
- Tartaruga verde (Chelonia mydas);
- Tartaruga cabeçuda (Caretta caretta);
- Tartaruga oliva (Lepidochelys olivacea);
- Tartaruga de pente (Eretmochelys imbricata).
O projeto funciona de quarta-feira a domingo, das 10h às 17h. Os ingressos podem ser adquiridos na bilheteria.