SEBRAE — Foto: Divulgação
A vida de Flávia Maria Fiorenza teve duas reviravoltas que transformaram sua carreira. A primeira foi a maternidade e, com ela, a percepção que o mundo do Direito, no qual atuou por 14 anos, já não fazia parte do seu projeto de vida.
A segunda mudança foi a descoberta do café. “Passei mais de 30 anos detestando a bebida, porque todas as minhas experiências com ela foram desastrosas. Não gostava do aroma e o gosto era decepcionante. Ou o café era muito doce, ou era requentado, ou tinha gosto de pó queimado. Confesso que não entendia por que tanta gente era apaixonada por café. Até que fui a uma cafeteria e o barista, pacientemente, entendeu o meu histórico, perguntou do que eu gostava e me serviu um café especial. Foi uma experiência marcante. Os sabores explodiram na minha boca. A cor era diferente, o pó era diferente, a temperatura era adequada e não era tão amargo quanto aqueles que se consomem em casa, no consultório”, conta Flávia, entusiasmada.
Flávia Maria Fiorenza — Foto: Thayane Peters
Tempos depois, ela trouxe a experiência das cafeterias para casa e passou a comprar cafés de produtores, além de moer os grãos na hora de preparar a bebida. Daí, querer levar sua paixão para todas as casas em Florianópolis-SC foi um passo natural e decidiu empreender. Nesse período encontrou o Sebrae Delas, um programa de aceleração para fomentar e profissionalizar mulheres empreendedoras, além de políticas públicas que valorizem suas competências, comportamentos e habilidades.
Ao realizar treinamentos e mentoria, sentiu que estava preparada, tomou coragem e criou o Cafeine-me, um e-commerce de cafés especiais. Flávia conta que desde a abertura da empresa em 2019 até hoje, o Sebrae Delas segue como parceiro do negócio. “Quando entrei para o programa de mentoria, me senti acolhida e percebi que mais mulheres viviam realidades parecidas com a minha. Fui apoiada emocionalmente e desenvolvi competências e conhecimentos fazendo vários cursos oferecidos pela instituição. Hoje, continuo aprendendo e participando da rede de mulheres que nós criamos”.
Renata Malheiros, coordenadora nacional de empreendedorismo feminino do Sebrae, avalia que o valor dessa iniciativa está em reparar aquilo que, historicamente, o preconceito estrutural retirou das mulheres. “As mulheres acabam enfrentando obstáculos adicionais aos que os homens enfrentam. São barreiras invisíveis arraigadas na nossa cultura, construídas por ideias preconceituosas sobre o que e como elas podem empreender.”
Valorizando os sonhos das meninas e o tempo das adultas
Para combater o preconceito e estimular mulheres em suas potencialidades, o Sebrae Delas trabalha em duas frentes: a potencialização dos sonhos das meninas e o tempo das mulheres. Para Renata Malheiros, o primeiro tópico tem a ver com representatividade. “Existe um hiato entre o que as meninas sonham na infância e o que elas se tornam no futuro. Se elas não virem mulheres engenheiras, astronautas, políticas, empreendedoras ou caminhoneiras, vão entender que essas profissões não podem ser exercidas por elas. Por isso, precisamos lançar luz sobre as histórias de mulheres de sucesso em suas profissões.”
Renata Malheiros — Foto: Erivelton Viana
Uma das maneiras de concretizar esse objetivo é por meio da parceria entre o Sebrae e a Maurício de Sousa Produções, que lançou a série de histórias em quadrinhos Donas da Rua do Empreendedorismo. Nela, vemos personagens da Turma da Mônica em profissões e atividades que estimulam meninos e meninas no comportamento empreendedor desde a infância e sem preconceitos.. Além de estimular a capacitação técnica, as histórias abordam temas ligados a liderança, comunicação, autoconfiança e persistência.
A segunda frente, que trata do tempo das mulheres, tem a ver com o resultado de uma pesquisa realizada pelo Sebrae: as mulheres dedicam 17% menos tempo em seus negócios do que os homens. Não por acaso, mesmo tendo 16% mais escolaridade que os homens, faturam 14% menos em quase todos os segmentos. “Como às mulheres sempre foi determinado o papel de cuidadoras e planejadoras dos afazeres e do andamento da casa, falta tempo para se dedicar ao trabalho remunerado. Com a pandemia, isso ficou ainda mais evidente. Com crianças em casa, idosos precisando de mais cuidados e pessoas doentes, as mulheres se sobrecarregaram e as atividades profissionais foram prejudicadas”, explica Renata. Ela complementa que no período, empresas lideradas por mulheres fecharam 1 milhão de portas a mais do que as lideradas por homens
Empreendedorismo com as múltiplas faces das mulheres
Na prática, o programa Sebrae Delas é para mulheres empreendedoras e que desejam abrir seus negócios. Está estruturado em mentorias, treinamentos, apoio para contratação de crédito, estímulo ao networking e inspiração por meio do compartilhamento de histórias.
Para participar da mentoria, que acontece periodicamente, é preciso consultar a abertura de processo seletivo nas unidades estaduais da instituição. As selecionadas recebem apoio de profissionais do Sebrae em todos os aspectos da gestão de um negócio.
Já os treinamentos on-line estão disponíveis no site do Sebrae, na área de Empreendedorismo feminino, e podem ser realizados gratuitamente. Tanto competências quanto conhecimentos técnicos são ensinados e dão direto a certificados.
Quem quer se inspirar nas histórias e lutas de empreendedoras tem à disposição a série Histórias de Poder. São relatos de mulheres inspiradoras que contam seus relatos à frente de negócios. Outro conteúdo imperdível é a websérie Sebrae Delas, que está na segunda temporada. Cada vídeo traz diversas mulheres que contam os “perrengues” que enfrentam diariamente em seus negócios. Síndrome da impostora, finanças, empreender com o companheiro ou companheira são alguns dos temas abordados.
As iniciativas não param. O Prêmio Sebrae Mulher de Negócios, que existe desde 2004, reconhece aquelas que se destacam em pequenos negócios, microempreendedorismo individual e produção rural. As nove vencedoras, escolhidas em âmbito nacional, recebem uma viagem técnica para realização de treinamento, mentoria e gadget de última geração (celular ou tablet).
Para financiar empresas lideradas por mulheres, a Sebrae conta também com o programa Caixa pra Elas. Para obter o crédito, é preciso formalizar a atividade tornando-se microempreendedor individual (MEI) e realizar as capacitações oferecidas. Com esses pré-requisitos, o Caixa pra Elas oferece condições exclusivas de financiamento.
E aí, preparada para empreender ou estimular uma mulher a abrir seu negócio? Então conte com o Sebrae e voe ou estimule uma mulher a voar.