Por Júlia Nunes, g1


  • Profissionais de estética e podólogos estão conseguindo clientes e uma renda extra publicando vídeos dos procedimentos nas redes sociais.

  • Os conteúdos são considerados satisfatórios de assistir por muitos usuários, e tem até quem fature (muito) apenas reagindo a essas publicações.

  • Por outro lado, alguns criadores de conteúdo afirmam que a divulgação desse tipo de vídeo prejudica o engajamento, por causa de restrições das próprias plataformas digitais.

Vídeos de cravos e unha encravada fazem profissionais faturarem mais

Vídeos de cravos e unha encravada fazem profissionais faturarem mais

Tem quem ame e quem odeie, quem ache nojento ou satisfatório (ou os dois). De qualquer forma, é fato que vídeos de extração de cravos e espinhas, e de tratamento de unhas encravadas, fazem o maior sucesso nas redes sociais.

E, claro, tem gente lucrando com isso 🤑. Profissionais de estética e podólogos têm usado as plataformas digitais para expandir seus negócios, conquistar clientes e até obter uma renda extra, monetizando os tais vídeos satisfatórios (veja os relatos abaixo).

A podóloga Cristiane Batista, de Bonito (MS), tem 1,4 milhão de seguidores no TikTok e diz que a internet foi fundamental para “dar um boom” na venda do curso dela de podologia. “É um relato uníssono: te conheci pelo TikTok”, conta.

E, mesmo em perfis menores, como o da esteticista Fernanda Oliveira, de Gama (DF), que tem 33 mil seguidores no Instagram, dá para perceber o impacto das redes sociais nos negócios, segundo ela.

“O Instagram, hoje, é minha porta de entrada para trazer clientes: 90% vêm por lá e só 10% por boca a boca", diz.

Esse sucesso na web fez até quem não é profissional da área aproveitar para faturar. Daniella Fernandes é dona de uma loja de eletrônicos em Goianésia (GO) e diz que ganha até R$ 14 mil por mês do TikTok por reagir a vídeos de cravos e unhas encravadas.

“É até engraçado porque tem muitos podólogos que entram em contato comigo para eu reagir aos vídeos deles para eles também ganharem visibilidade”, relata.

Vídeos de cravos e unha encravada fazem profissionais faturarem mais — Foto: Arquivo pessoal

Por outro lado, alguns criadores de conteúdo afirmam que a divulgação desse tipo de vídeo tem prejudicado o engajamento, pois as plataformas digitais restringem a entrega aos usuários de conteúdos considerados sensíveis.

Segundo João Finamor, professor de marketing digital da ESPM, a dica é não mostrar sangue, evitar publicações longas somente com as imagens dos procedimentos e incrementar os vídeos com narrações (entenda mais ao fim da reportagem).

‘A podologia transformou a minha vida financeira’

Os milhares de comentários comprovam o sucesso do conteúdo: “Me traz calma ver a unha ficando bonita”, “nunca me senti tão presa num vídeo assim, nem senti o tempo passar”, “a sensação depois de ter terminado é muito boa”.

Em seu vídeo mais visto do TikTok, com 60 milhões de visualizações, a podóloga Cristiane Batista narra os procedimentos que fazia para tirar um bicho do canto da unha da cliente.

Durante a narração, a profissional mistura explicações técnicas da podologia e comentários engraçados, como ao dizer que, no fim, o que estava na unha era “uma formiguinha com crise existencial, achando que era um bicho de pé”.

Cristiane Batista, de Bonito (MS), começou a graduação em podologia em 2020, aos 45 anos — Foto: Arquivo pessoal

Cristiane começou a graduação em podologia em 2020, aos 45 anos, e diz que a decisão transformou a vida financeira dela. Até então, ela trabalhava como manicure e pedicure, além de realizar outros serviços de beleza.

Ao começar a atuar como podóloga, Cristiane afirma que as redes sociais a ajudaram a conseguir a nova clientela em Bonito (MS) e, mais tarde, a vender seu curso livre de podologia.

"Hoje eu tenho alunas na Europa, nos Estados Unidos, no Japão, em vários lugares, e a maioria veio pelo TikTok”, diz.

A profissional conta que também chegou a ganhar dinheiro monetizando os vídeos na plataforma. No entanto, ela passou a postar com menos frequência após receber denúncias por conteúdo sensível (leia mais sobre isso abaixo).

TikTok vs. Instagram 🤼

A esteticista Fernanda Oliveira diz que consegue utilizar o TikTok como ferramenta para ganhar uma renda extra: de R$ 1,5 mil a R$ 2 mil por mês. “Me ajuda muito. Já sei mais ou menos quanto vai dar, e conto com isso”, afirma.

Ela postou os primeiros conteúdos na plataforma, sobre limpeza de pele, há cerca de um ano em meio. E conseguiu milhões de visualizações. “Nossa, como eu queria trabalhar espremendo cravos” e “dá até água na boca” são alguns dos comentários.

A esteticista Fernanda Oliveira, de Gama (DF), usa o TikTok para ganhar uma renda extra — Foto: Arquivo pessoal

A maior parte da clientela da Fernanda, no entanto, não vem do TikTok, e sim do Instagram. Ela argumenta que, na primeira rede social, onde tem mais de 80 mil seguidores, o público só se interessa pelos vídeos de limpeza de pele.

Já no Instagram, Fernanda divulga outros serviços, tira dúvidas e posta sobre a própria rotina. E, mesmo com uma quantidade menor de seguidores (33 mil), consegue converter mais clientes.

A esteticista Isabelle Santiago, de São Paulo (SP), ainda não monetiza suas postagens na internet, mas percebe a mesma situação: “O Instagram me traz cliente, e o TikTok é mais para visualização”, diz.

Com 21 mil seguidores no TikTok, a profissional está em busca de fazer suas redes sociais crescerem, mas explica que só grava clientes com quem tem mais intimidade. "Tem gente que não gosta. E, quando eu vejo que a pessoa está com a autoestima baixa, não peço.”

Isabelle Santiago é esteticista em São Paulo (SP) e tem 21 mil seguidores no TikTok — Foto: Arquivo pessoal

Reações monetizadas 🫰

Para a tiktoker Daniella Fernandes, que tem 690 mil seguidores, conseguir clientes a partir dos vídeos de cravos e unhas encravadas não é um objetivo. A profissão dela nada tem a ver com estética ou podologia.

Mas, mesmo assim, os chamados conteúdos satisfatórios são uma forma de ela ganhar dinheiro. “Eu caí de paraquedas nisso. Eu reagi a um vídeo e o pessoal gostou muito por causa do sotaque”, conta.

"Eu já tirei até R$ 18 mil no TikTok e atualmente está de R$ 10 mil a R$ 14 mil por mês", afirma Daniella.

O sucesso a fez incentivar a irmã a também gravar reações e, hoje, Kellen Soares já soma 250 mil seguidores na plataforma. “Tem mês que tiro bem, tem mês que já não tiro, mas sou monetizada”, diz Kellen.

Kellen Soares e Daniella Fernandes, de Goianésia (GO), reagem a vídeos de cravos no TikTok — Foto: TikTok/Reprodução

Cuidado, conteúdo sensível ✋

Com mais de 4,8 milhões de seguidores no TikTok e 800 mil no Instagram, Dennis Sloboda, de Curitiba (PR), usa as redes sociais para divulgar seu trabalho como cabeleireiro e postar vídeos de humor, sobre assuntos variados.

Mas ele teve problemas quando passou a publicar reações à extração de cravos e unhas encravadas. “Fui silenciado porque as plataformas não permitem que esses conteúdos apareçam, é um conteúdo meio aterrorizante, tem pessoas que têm aversão, então não é indicado”, diz.

Ele conta que ficou três meses impedido de publicar no Facebook, com a página restrita, e que, quando postava esse tipo de conteúdo no YouTube, era automaticamente bloqueado para monetização.

“A estratégia foi mudar o perfil dos vídeos para que as plataformas percebessem que deixei de produzir os conteúdos, e o meu público teve que se adaptar”, relata. “No Instagram, ganhei quase 100 mil seguidores depois que parei de postar sobre isso.”

Dennis Sloboda parou de postar vídeos sobre cravos no TikTok — Foto: TikTok/Reprodução

O especialista João Finamor, professor de marketing digital da ESPM, explica que o TikTok e o Instagram não têm restrições específicas quanto à publicação de vídeos de cravos, espinhas e unhas encravadas, mas que esses procedimentos podem ter elementos que dificultam a entrega aos usuários, como sangue, por exemplo.

Segundo o TikTok, em suas Diretrizes da Comunidade, consta que vídeos com “sangue humano ou animal” e materiais que podem “causar repugnância, como funções e fluidos corporais” ficarão inelegíveis ao feed “Para você”, ou seja, não serão recomendados pela plataforma.

“A partir do momento em que [o TikTok] coloca aquela tarja preta [de conteúdo sensível], já desqualifica para monetização. Então, eu edito o vídeo. Se aparece conteúdo com sangue, unha encravada com buraquinho, coloco em preto e branco, ou às vezes corto essa parte”, conta Daniella, dos vídeos de reações.

Em nota ao g1, o YouTube informou que não vincula anúncios em vídeos considerados chocantes, como “apresentações repulsivas, repugnantes ou sangrentas de partes, fluidos ou resíduos corporais com pouco ou nenhum contexto”.

Também não são monetizadas publicações de “extração de cera do ouvido ou espinhas sem explicação explícita do procedimento”, entre outras que tenham “unicamente a intenção de chocar”.

Assim, a orientação do professor de marketing é “não trabalhar um vídeo inteiro, longo, de um minuto, só com a imagem” e “trazê-lo em caráter educacional, explicando o que está acontecendo, pedindo para não fazer em casa, levando em conta que é um procedimento que deve ser feito por profissionais qualificados”.

Procurada, a Meta, dona do Facebook e Instagram, disse que não comentaria as possíveis restrições das plataformas a vídeos de remoção de cravos, espinhas e unhas encravadas.

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