No 6º ano, a estudante de Pindamonhangaba (SP) Letícia Pereira de Souza, hoje com 17 anos, participou de sua primeira olimpíada científica e ganhou bronze na prova de astronomia. De lá para cá, não só aumentou a coleção de cerca de vinte medalhas em áreas que vão de física a robótica como alcançou seu objetivo de ser aprovada em uma universidade fora do país.
Stanford, nos Estados Unidos, foi a primeira das 13 instituições no exterior a dar a resposta dos processos seletivos pelos quais Letícia passou. Se decidir por ela, embarca em setembro deste ano e encerra a jornada que começou há dois anos, quando se mudou para Fortaleza (CE) após receber uma bolsa integral em um colégio que incentiva pesquisa e atividades extracurriculares, como as olimpíadas.
No Ceará, passou a morar com outras 30 pessoas com objetivos parecidos com os dela em um pensionato pago pela bolsa. Entrou em uma turma que se preparava para os vestibulares militares e sentiu a diferença no foco dos alunos. “Estar em um ambiente desses já foi um grande ganho para mim e ajudou bastante”, diz.
No pensionato, afirma, o foco é o mesmo. Boa parte dos seus colegas de sala mora na pensão e também busca o conteúdo da escola, mais voltado à química, matemática, física e biologia. De acordo com Letícia, muitos moradores da pensão estudam para vestibulares de medicina e outros colegas aguardam o resultado de vestibulares em outros países, que devem sair em março.
DECISÃO
No primeiro ano do ensino médio e depois de algumas experiências fora do país com as olimpíadas científicas, Letícia decidiu que iria estudar fora. “Vi que era algo possível e não uma coisa só de filme.Tinha alguns receios e pensei muito, até que chegou em um ponto em que não tinha como não ir pra fora. Para ela, o apoio à pesquisa no Brasil é “muito limitado, ao contrário dos outros países”.
Segundo Letícia, que quer ser pesquisadora na área de biologia, a opinião de pais, alunos e até mesmo alguns pesquisadores com quem conversou é de que a pesquisa no país é muito atrelada à situação financeira do momento, o que a atrapalharia a encontrar seu espaço nos estudos do câncer e células tronco, sua área preferida. “Eu acho incrível como nossos genes agem e nos influenciam tanto. Quero entender como eles funcionam porque até hoje é uma área da qual se sabe muito pouco”, conta.
PREPARATIVOS
Para conseguir uma vaga na área de biologia, que segundo ela é “a ciência com uma aplicação social”, Letícia passou por um ano intenso de preparativos. Além dos dois simulados semanais já aplicados pelo colégio, fazia um estágio no laboratório da Universidade de Fortaleza (Unifor), ia para a escola, e, nos fins de semana, revisava simulados.
Precisou fazer quatro provas e cerca de 20 redações diferentes para se inscrever nas 13 universidades - 12 nos Estados Unidos e uma em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes. Recebeu a resposta de Stanford no pensionato. “Comecei a pular, a abraçar as pessoas. Não conseguia digitar o telefone dos meus pais de tanto que eu tremia. Precisei contar por áudio”, afirma.
Segundo ela, dos resultados restantes, o único que seria capaz de fazê-la repensar Stanford seria a Universidade Duke, mas também torce pela resposta dos Emirados Árabes. “Eles dão a viagem pros aprovados conhecerem a faculdade antes de fazerem a decisão, então eu não ligaria de ser aprovada”, diz.