Após erros na correção de provas do Enem, governo estende inscrição no Sisu
O ministro da Educação, Abraham Weintraub, e o presidente do instituto responsável pelo Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), Alexandre Lopes, afirmaram no sábado (18) que houve "inconsistências" na correção dos gabaritos das provas aplicadas em 3 e 10 de novembro do ano passado.
Na segunda-feira (20), durante entrevista à imprensa, Lopes afirmou que o erro ocorreu na gráfica.
Confira abaixo perguntas e respostas sobre o caso:
- Como ocorreu o erro na correção dos gabaritos?
- Todos os gabaritos estão errados?
- Quantas pessoas foram atingidas?
- Que medidas o MEC e o Inep tomaram para resolver o caso?
- O problema foi resolvido?
- Por que a nota é importante para os participantes?
- A data do Sisu está mantida?
- O que os participantes do Enem 2019 relatam?
- É a primeira vez que ocorre erros no Enem?
1. Como ocorreu o erro na correção dos gabaritos?
Em entrevista à imprensa na noite desta segunda-feira (20), o presidente do Inep, Alexandre Lopes, afirmou que o erro ocorreu na gráfica Valid Soluções S.A.
Lopes explicou que a gráfica imprime o caderno de questões do candidato, que é identificado com um código de barras do aluno. Depois, imprime o cartão de respostas (gabarito), que também tem um código. Outra máquina une estes dois documentos. O erro ocorreu nesta união e na geração do código de barras.
"O que acontece? A gráfica imprimiu a prova e um cartão resposta. Tem um código de barras do aluno. Uma outra máquina pega essa prova e faz a associação com o gabarito e grampeia. Neste momento, temos o código de barras da prova e o código de barras do cartão resposta. Há um casamento: a associação entre a prova e o participante. Neste processamento da gráfica foi onde ocorreram estas inconsistências", afirmou Lopes.
"No processamento deles, houve um 'descasamento' em algumas situações entre este código e o código do aluno, o que fez com que este participante tivesse a prova corrigida por outra cor. Foi esse erro, inconsistência, que identificamos", explicou. O Enem aplica provas em 6 cores.
A Valid Soluções S.A. foi contratada pelo MEC, sem licitação, após a falência da empresa anterior. O valor global do contrato é de 151,7 milhões. Procurada pelo G1, a empresa informou que não iria se manifestar.
2. Todos os gabaritos estão errados?
Não houve erro nas respostas dos gabaritos, e sim na impressão dos cadernos de provas e no cartão resposta.
No sábado, Weintraub e Alexandre Lopes afirmaram que houve falhas na correção das provas do segundo dia, o que atingia "um grupo muito pequeno".
No domingo, o Inep informou que estava revisando as notas dos dois dias de provas do Enem 2019.
3. Quantas pessoas foram atingidas?
Quando o problema foi identificado, ainda não estava claro a abrangência do caso.
Ao fim da revisão das notas, foram identificados problemas em 5.974 provas – 96,7% estavam concentrados em 4 cidades: Alagoinhas (BA); Viçosa (MG); Ituiutaba (MG) e Iturama (MG).
Após a revisão dos dados, cerca de 90% dos candidatos com problemas em notas do primeiro dia tiveram a média aumentada e 10% tiveram nota reduzida. Em relação ao segundo dia de provas, 80% dos casos com problemas tiveram a nota aumentada e 20% teve a nota reduzida.
Ao todo, 3,9 milhões de pessoas fizeram o Enem 2019.
4. Que medidas o MEC e o Inep tomaram para resolver o caso?
De acordo com o governo, uma força-tarefa foi montada para revisar as notas. O banco de dados foi reprocessado para identificar "inconsistências" na correção, de sexta até segunda, ininterruptamente.
Além disso, o Inep criou um e-mail para os candidatos que se sentiram prejudicados enviarem os relatos. Segundo Lopes, o endereço [email protected] recebeu 172 mil e-mails.
5. O problema foi resolvido?
Segundo o Inep, sim. As falhas foram identificadas e as notas foram atualizadas para os candidatos que tiveram problemas na correção.
6. Por que a nota é importante para os participantes?
O desempenho no Enem é critério para concorrer a vagas em universidades públicas e particulares – incluindo instituições em Portugal –, e também para ter acesso a programas de apoio ao estudante, com financiamento e bolsas de estudo.
Entre eles, está o Sistema de Seleção Unificada (Sisu), que oferece 237 mil vagas em universidades federais em todo o país.
Além do Sisu, a nota do Enem pode ser usada no Programa Universidade para Todos (Prouni), que oferece bolsas de estudo parciais e integrais em universidades particulares, e o Financiamento Estudantil (Fies), que financia o pagamento de mensalidades.
7. A data do Sisu está mantida?
Sim. As inscrições abriram na terça-feira (21) e foram prorrogadas até as 23h59 do próximo domingo (26).
8. O que os participantes do Enem 2019 relatam?
Quem levou o rascunho do caderno de provas para casa pode conferir os acertos quando o Inep divulgou o resultado oficial, ainda em novembro. Com base no número de acertos, eles estimavam a nota.
Na sexta-feira (17), assim que as notas individuais do Enem 2019 foram divulgadas, relatos de avaliações diferentes entre candidatos que tiveram o mesmo número de acertos ou notas próximas a zero com número alto de acertos começaram a aparecer nas redes sociais.
Questionado pela TV Globo, o Inep informou que as notas eram calculadas com base na Teoria de Resposta ao Item (TRI). Esta metodologia avalia se o estudante acertou as questões fáceis e difíceis ou só as difíceis, por exemplo – uma espécie de método "antichute" – em vez de só contabilizar o número de acertos.
Mas, candidatos ouvidos pelo G1 afirmam que o erro extrapola a variação de notas da TRI: houve quem acerou 36 questões entre as 45 e teve nota 350 – algo próximo ao mínimo do Enem. Outra participante disse que acertou 35 das 45 questões e teve nota 386,9. Confira aqui os relatos.
9. É a primeira vez que ocorre erros no Enem?
Não. Além do erro nas correções, a edição de 2019 teve também o vazamento de uma das páginas da prova durante o dia do exame, em 3 de novembro. De acordo com o MEC, um aplicador de provas vazou a foto da folha de redação do Enem 2019 antes do final das provas. O ministro da Educação disse que o fato não interferiu no exame, porque o vazamento ocorreu quando todos os candidatos já estavam dentro das salas de aulas.
Em 2009, a prova chegou a ser roubada e o Enem teve que ser remarcado. Em 2010 e 2011 houve erros de impressão, com perguntas repetidas. Em 2012, com a divulgação dos espelhos da redação (digitalização dos textos), pode ser comprovado que os estudantes inseriam trechos que fugiam do tema – como o hino do Palmeiras ou a receita de miojo. A partir de então, "fuga do tema" passou a ser critério para zerar a nota.
Em 2014, houve vazamento do tema da redação pelo menos uma hora e 13 minutos antes do início do exame. Naquela edição, o tema foi "Publicidade infantil no Brasil". Em 2015 houve boatos de vazamento das provas, mas sem comprovação. Em 2016, a Polícia Federal prendeu duas pessoas flagradas com materiais de apoio para produzir uma redação sobre o tema cobrado no Enem daquele ano. Em 2017, duas pessoas saíram do local de provas com o caderno de questões antes do horário permitido.
Em 2019, a gráfica que imprimia a prova do Enem, a RR Donnelley, faliu, e o Inep constrou uma substituta sem licitação. A Valid Soluções S.A., foi contratada pelo valor global de R$ 151,7 milhões. Ela se tornou responsável pela diagramação, manuseio, embalagem, impressão, rotulagem e entrega dos cadernos de provas para os Correios. De acordo com o governo, o erro na correção da prova neste ano foi na transmissão de informações da gráfica.
Provas do segundo dia do Enem 2019 — Foto: Ana Carolina Moreno/G1
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